Entrevista by Revista Rock Classics – 2020

No ano passado Adam foi entrevistado para uma edição especial de colecionadores da Revista Rock Classics. Confira a seguir:

Um toque de Freddie
Uma entrevista com Adam Lambert

Surfando em uma enorme onda de sucesso, o QUEEN estava pronto para embarcar em uma turnê de 27 datas no Reino Unido e na Europa, a “Rhapsody Tour” com o frontman convidado Adam Lambert, que acabou sendo remarcada para 2021 [e remarcada novamente para 2022] por causa do coronavírus. Mas, por causa do filme vencedor do Oscar “Bohemian Rhapsody,” estes heróis das décadas de 70 e 80 estão mais na moda do que nunca, atraindo toda uma nova audiência e experimentando uma nova fase. E com razão, como Lambert enfatiza enquanto promove seu mais novo álbum, “Velvet:” Freddie ainda é contemporâneo.

Adam, o que você quer alcançar com este álbum? Você diria que finalmente encontrou seu som?
O objetivo era encontrar o som que fosse mais autêntico para mim como artista, como cantor e como amante da música. E sabe, com todo meu trabalho com o Queen – que ainda está acontecendo, o álbum é algo que talvez esteja mais próximo disso do que meus trabalhos anteriores.

Então o Queen é uma grande influência para você?
Sim, com certeza. Acho que nem foi conscientemente, só um tipo de osmose. Estar na estrada com eles pelos últimos seis anos e perceber que canções atemporais tem certas qualidades e elas não perseguem tendências. É, isso era algo que eu queria fazer; eu não queria perseguir nada. Eu queria fazer um álbum que poderia resistir ao teste do tempo e que não estaria fora de moda em um ano, sabe? E eu acho que consegui isso. (risos)

Por que somente uma pequena participação no filme “Bohemian Rhapsody,” já que você tem saído em turnê com Brian e Roger pelos últimos seis anos?
Bem, eles me convidaram de última hora. Nós estávamos ensaiando em Londres e o diretor Bryan Singer disse: “Sabe, nós estamos fazendo essa cena”, e é a cena em que Freddie está na parada de caminhão falando ao telefone e ele vê esse caminhoneiro e o cara dá uma checada nele e entra no banheiro, e eles disseram: “Você quer fazer isso?” E eu fiquei: “Bom, isso parece apropriado (risos), eu adoraria ser esse caminhoneiro.” Então foi muito divertido, eu gostei muito.

Eles nunca convidaram você para fazer o papel principal?
Não, veja bem, isso não faria sentido nenhum, porque eu canto com a banda e nós levamos cinco anos para explicar para todo mundo que eu não sou um imitador do Freddie; que eu sou eu mesmo enquanto artista, e que eu canto como Adam e não imito o Freddie. Então, ir interpretar Freddie no filme não faria sentido. E também, eu não sou um ator tão talentoso quanto Rami (Malek). Quer dizer, Rami foi incrível. Não acho que eu gostaria de ter essa responsabilidade. Eu não me pareço nada com ele.

Ok, os dentes seriam um problema…
(risos) Os dentes, é. Sim, quer dizer, a música ganha vida no filme. Nós tivemos um ressurgimento de fãs para a banda, agora. A turnê que vamos fazer em Julho, se esgotou em minutos, literalmente. É uma loucura.

Eu acho que o Queen está mais famoso na América do que nunca.
Acho que você tem razão. Desde o começo dos anos oitenta, provavelmente.

Existe alguma música do Freddie que você não cantaria. Que você se recusa?
Não, tudo é uma decisão em conjunto. Sabe, nós colaboramos e é muito importante tocarmos todos os hits que as pessoas precisam ouvir e nós temos uma quantidade de minutos limitada nos shows e ficamos sem tempo para tocar coisas mais obscuras. Então… é, eles têm muitos hits (risos), então já temos todos esses na lista e sobram o que? Uns 20 minutos extras, talvez? Então…

Isso leva à pergunta se essa será uma colaboração de longo prazo.
Não há um final a vista, por enquanto. Quer dizer, nós gostamos de trabalhar juntos e temos demanda pra isso e nós todos amamos tocar juntos para estas plateias. E honestamente, como performer, é o trabalho dos sonhos, porque eu estou cantando canções que todo mundo ama, eles cantam junto e conhecem cada palavra. São canções nostálgicas, talvez de outra época da vida das pessoas, ou elas estão tendo um momento em família, sabe, são duas, três gerações que vão aos shows. Quer dizer, é especial. É muito especial. E além de tudo, é muito empolgante ser o catalisador que permite que Brian e Roger toquem ao vivo, sabe? Isso é a vida deles. Esse é o legado deles e do Freddie. E eles precisam de um cantor para as músicas deles. (risos)

Você se preocupou em ser aceito pela plateia?
É claro, no começo – especialmente no começo. Foi tipo: Como isso vai funcionar? Eu estava definitivamente intimidado, com certeza. Dá para ver nas filmagens da época o quanto eu estava nervoso e meio inseguro. Uma das coisas mais legais nesta colaboração é que nós evoluímos dentro dela. Eu fiquei muito mais confortável e encontrei… tem sido uma experiência de aprendizado tão grande encontrar o ritmo certo, encontrar o conforto, novas maneiras de interpretar as canções e fazer experiências com elas e tem sido uma ótima experiência para mim. Me deixou mais experiente, sabe?

Gravar um álbum com o Queen está fora de questão…
Bem, isso nunca foi discutido, sabe? As únicas pessoas que falam disso, são os jornalistas. (risos)

Brian está sempre compondo, então é só uma questão de…
É, eu não acho que seja tipo: “Não.” A resposta não é: “Não, eu não quero isso.” Não é algo que tenha se apresentado. Acho que se acontecesse, teria de ser pelo motivo certo e na hora certa. Estaríamos abertos a isso. Ao mesmo tempo, não sei se poderíamos chamar isso de Queen. Porque Queen é, tipo, a música original do Queen é daqueles quatro caras. Na minha cabeça, isso é Queen. E é por isso que quando estamos em turnê, somos Queen + Adam Lambert. Eu não faço parte do Queen, eu sou um convidado. Estou lá para ajudar com a performance ao vivo.

O que você aprendeu sobre Freddie cantando as músicas dele?
Acho que algumas das letras dele eram muito esotéricas – tipo, o que elas querem dizer? E eu tive conversas muito interessantes com Brian e Roger, perguntando coisas como: “Bem e sobre o que é esta?” Tipo “Lap Of The Gods”, por exemplo. “Essa música é sobre o que?” E Brian acha que muitas delas era Freddie entendendo sua sexualidade e dizendo: “É tão fácil dizer, mas eu não posso fazer isso e eu vou deixar com a sorte” e a letra é basicamente isso. E isso me deixou tipo “Uau, ok.” E quando eu fui cantar essa música sabendo disso, me fez lembrar da minha adolescência, antes de me assumir. Então, quando eu encontro essas coisas nas letras com que consigo me identificar, me ajuda muito a apresentá-las melhor, é claro. Até “Bohemian Rhapsody” potencialmente é sobre a mesma questão.

Ele veio de um panorama muito conservador e ao assistir ao filme, percebemos que ele estava preso. Ele não podia se abrir sobre sua sexualidade. E você nunca teve esse tipo de problema, não é?
Sim, eu venho de um tipo muito diferente de família, eles são muito abertos e solidários e os tempos eram diferentes para mim. E eu adoro isso, eu adoro o fato de que estamos em um momento diferente, em que isso não é mais tabu, como era nos anos 70 e 80 e eu posso viver uma vida autêntica e honesta e representar esse espírito sabe, o espírito queer. Que é inegável, sabe? E é uma situação interessante, porque eu acho que a maioria dos fãs do Queen não é queer. A maioria dos fãs são provavelmente uma base de fãs hétero e comum. E isso é interessante, que ele estivesse tão a frente de seu tempo. Um tempo em que não se falava sobre isso.

Veja uma banda como Judas Priest: Demora para você perceber que Rob Halford é gay. Mas ninguém notou isso em 30 anos.
Sim, aconteceu o mesmo com Freddie. Quer dizer, nos anos 80 Freddie parecia saído de um leather bar – um leather bar gay [bar frequentado por homens gays que geralmente vestem roupa de couro]. Era assim que ele se vestia. Com o bigode e o couro, e tipo, esse era o visual dele. E é, ninguém percebia isso. Foi antes das redes sociais (risos)

Pode ser por isso, ou porque rock era domínio dos homens.
E também, o ponto crucial de que astros do rock dos anos 70 e 80 usavam maquiagem independente da sua sexualidade. Então, olhando para o Freddie, especialmente nos anos 70, quando ele usava cabelo comprido, maquiagem e esmalte; e Prince também fazia isso. Michael Jackson, todas aquelas bandas de hair-metal, Bowie, Boy George… todo mundo estava brincando com a moda e androginia. Mick Jagger usou maquiagem por um tempo, batom e tudo. Eu acho muito interessante quando olhamos para a juventude de hoje, em 2019, e uma expressão parecida está acontecendo. Tem muitos jovens – todo o movimento gênero fluido, tanta coisa do que está acontecendo agora remete ao começo dos anos 70 e isso é muito empolgante de observar.

De certa forma, estamos nos rebelando por estarmos vivendo em uma época conservadora?
Acho que é por causa do desassossego político e meio que um choque de culturas; subculturas X cultura mainstream. Com certeza há algo acontecendo. E então, temos o novo ângulo das redes sociais meio que conectando as pessoas de um jeito diferente, sabe? Há tanta coisa disponível para os jovens, bem ali na palma da mão deles, opções para quem eles querem ser, que as pessoas não tiveram por muito tempo. É muito interessante.

É o momento para termos uma mulher na presidência ou um homem gay?
Com certeza! (risos) Uma mulher gay. Isso seria muito legal. A primeira presidente lésbica. Seria incrível. Acho que seria a coisa mais legal e progressiva de todos os tempos. E ela seria negra. Quer dizer, vamos fazer acontecer, sabe? Seria ótimo.

Você acha que a América toparia isso?
Quem sabe? Acho que quando Obama foi eleito, foi tão lindo e a atmosfera de comunidade foi muito empolgante. As pessoas diziam: “Isso é incrível. É mudança, progresso, este é o próximo nível.” Mas acho que se você tivesse me perguntado há dez anos se eu achava que um dia teríamos um presidente negro, a resposta seria “Eu não acho que isso seja possível.” Não que eu achasse que um negro… eu acho que ele foi um dos melhores presidentes que tivemos em muito tempo, mas eu simplesmente presumi que o país não embarcaria nessa como um todo. Mas nós embarcamos. Então agora nós temos um presidente que é ridículo e uma tragédia total. Então, quer dizer, eu não poderia ter adivinhado isso também. As coisas das quais ele está se safando, são chocantes. Como estamos tolerando isso? Então eu acho que a essa altura, tudo é possível na política americana.

Ele está fazendo campanha para 2020, o que é assustador.
Muito assustador. Eu acho que as pessoas… parecido com o que aconteceu com o Brexit, que simplesmente aconteceu e as pessoas ficaram tipo “Espera, o que?” Eu acho que o fato dele estar no poder meio que está estimulando as pessoas a mudar. Acho que o pêndulo vai voltar e o barco vai corrigir seu curso.

O que aconteceu com aquele movimento em Wall Street onde as pessoas estavam tão frustradas que começaram a entrar para a política elas mesmas?
Bem, nós temos mais mulheres do que nunca no Senado hoje em dia. Muito progresso foi feito nas últimas eleições de meio de mandato, porque as pessoas pensaram: “Quer saber? A situação não é boa, pessoal, temos que agir, vamos mudar as coisas.” E eu acho que isso chama as pessoas à ação. E isso é bom. Isso pode ser muito positivo a longo prazo.

E finalmente: Eu notei que você estava usando vários anéis ontem e ainda mais hoje… O que eles significam?
Eu adoro joias. Este é um pequeno Rei Tut [Tutankamon]. Eu sou um nerd total com arte egípcia e iconografia. Não sei por que, não consigo entender. Eu simplesmente acho muito interessante. Então eu tenho meu Rei Tut, algumas cobras e, sei lá, eu gosto de joias. (risos) Gosto de coisas bonitas.

A cultura egípcia é muito interessante, porque ninguém sabe como eles conseguiram fazer todas aquelas construções icônicas. O mesmo acontece com os Maias. Mas é interessante: De onde eles obtiveram tanto conhecimento?
Alienígenas? Eu adoro essa teoria da conspiração. Nós tivemos os maias, e os egípcios foram meio que um paralelo e eles estão no mesmo plano, talvez os continentes tenham se encontrado… quer dizer, existe todo tipo de teorias estranhas. É muito interessante.

Mas então, por que eles nos deixaram há dois mil anos?
Oh, eu não sei. Provavelmente porque eles viram o futuro e pensaram: “Essa merda vai ficar estranha, vamos cair fora.” (risos.)

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Stefani Banhete
Fonte: @Riaaanna

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