As Máscaras Nossas de Cada Dia

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Algo no comportamento de Adam Lambert sempre suscita um tema polêmico que acaba refletindo na personalidade de cada um de nós. Cada fã sabe exatamente onde ele o toca mais, claro que a música de uma maneira geral, mas existem facetas especiais para cada coração, como o jeito que ele se veste, a maneira como ele fala, até a maneira como ele se relaciona ou a maquiagem que usa, o medo que ele parece não possuir, os rebolados sensuais… ou mesmo Adam como um todo. Perfeito, na sua maneira de ser.

Nessa semana é comemorado o Halloween, o “Dia das Bruxas”, não tão divulgado no Brasil como é nos EUA, onde existem rituais típicos para esse dia, quando as crianças saem às ruas fantasiadas e pedindo doces de porta em porta. Cada americano guarda seu estoque próprio de doces nessa data, para os “duendes” que vêm procurar, e batem às portas com a famosa frase: “Trick or Treat”? [Doces ou Travessura?]

Halloween é o dia comemorativo predileto de Adam, como ele já divulgou em diversas entrevistas.

Creio que deve ter sido a partir do Halloween que a personalidade teatral de Adam começou a se manifestar. O fato de ter que se fantasiar e desempenhar um personagem no “Dia das Bruxas” desde tenra idade e o gosto que ele tomou por isso, foi fator desencadeante para mais tarde descobrir em plena adolescência que ele ainda gostava de se fantasiar, mesmo fora do Halloween. Esse gosto aliado ao comportamento hiperativo de Adam, fez com que seus pais o inscrevessem na escola de teatro.

O resto, é história, como todos nós sabemos.

Mas, nesse dia de se fantasiar, analogicamente comparo às máscaras que cada um de nós têm que usar no dia a dia para não ser engolido pela vida. Venhamos e convenhamos, nesse mundo não há como ser verdadeiro o tempo todo, principalmente nessa sociedade que cobra tanto das pessoas, que dita modelos e estereótipos a serem seguidos, metas a serem atingidas e se você não se encaixar, corre o risco de ser deixado de lado. Fora que se se mostrar vulnerável demais, é considerado como uma pessoa fraca, incapacitado para os estudos ou mais tarde, para a vida profissional.

Principalmente para as pessoas mais sensíveis, o mundo parece cobrar um imposto mais alto.

Há pessoas que pressentem o tamanho da nossa fragilidade, já parou para pensar nisso? Um chefe ou professor abusivo sempre sabe com quem gritar e com quem é melhor não gritar. Muitos são como cães de caça farejando sua presa, inclusive no que diz respeito ao amor. Quem subjuga sente o faro de quem quer ser subjugado. O que é uma pena. Daí nascem as relações abusivas.

Muitas pessoas criam personagens para se defender e na pele de pessoas aparentemente insensíveis, passam a viver.

É fato que não há uma única verdade para cada um de nós, existem várias verdades que coexistem e são contraditórias, sem que necessariamente sejamos pessoas “falsas”. As circunstâncias exigem como teremos que agir e nosso instinto de preservação dita esse modo na prática.

Existem aquelas pessoas, por exemplo, que vestem a máscara de autênticas e que chegam a ser muito agressivas. Essas pessoas dizem coisas chocantes, se arriscam no estilo, gostam de fazer piada com o ponto fraco dos outros, podem ser o exemplo dos praticantes de “bulliyng”. Vivem dando gargalhadas, batendo nas costas de sua vítima e assim que alguém reclama, seus amigos partem em sua defesa dizendo: “é o jeito dele”.

Hã-hã.

Há aquele tipo bonzinho demais, que sempre veste a máscara de vítima. Essa pessoa pode fazer coisas horríveis de vez em quando e ser bem dissimulada, mas continua com aquela carinha do “gatinho do Shrek”, que consegue convencer a todos de que foi sem querer.

Também existe a máscara da mulher frágil. De tão aparente, parece querer quebrar a qualquer sinal de uma crítica mais eloquente. No fundo, ela manipula gentilmente seus agressores, e desencadeia os mais primitivos instintos de proteção. Ai de você se resolver falar-lhe umas verdades. Você será a megera sem precisar vestir máscara nenhuma.

Hoje em dia, uma das máscaras mais famosas é a de “mulher alfa”, aquela que é esculpida na ponta das lâminas Louis Vuitton mais afiadas, vestida com sapatos de grife e terninhos bem talhados, tentando convencer meio mundo de que hoje em dia, o melhor que a mulher tem a fazer, é se tornar um cliché de homem. Essa também faz o estilo “periguete patricinha” da escola.

Pode reparar que ela não é uma mulher que conquista um homem, ela é uma mulher que caça um homem. Mas à noite, ela chora sozinha em seus travesseiros se indagando porque ainda não conseguiu seu amor verdadeiro.

Mulheres, não neguem sua essência. Nós precisamos de romance de qualidade.

Adam defende atitude sim, mas atitude baseada no que é verdadeiro ou autêntico para cada um.

Ele defende aquele “eu essencial” , que se só se despe na frente dos amigos e familiares mais íntimos. Afinal, com eles, nós podemos guardar nossas máscaras na bolsa e respirar aliviados. Com eles e conosco. Nunca devemos esquecer de quem somos.

O que mais nos fascina em Adam Lambert (e se você não parou para pensar nisso, experimente) é a “desnecessidade” natural que ele possui, em não precisar usar máscaras. Ele é o seu “eu essencial” nas 24 horas do dia, doa a quem doer, fascine a quem for digno do seu fascínio.

Não que ele seja um protótipo de semi deus, mesmo que cada fã o queira nesse patamar, mas porque justamente ele prescinde da necessidade de colocar máscaras porque o seu encanto reside justamente aí, na desfaçatez de ser Adam Lambert.

Mesmo possuindo medos e desejos como todos nós, ele parece lidar muito mais fácil com isso.

Ele possui aquele jeito de não ter vergonha de beijar outro homem em público porque foi apenas movido por um impulso momentâneo [ver nota 1], é aquele jeito de não ter a vergonha de se expor numa revista para homens heterossexuais [ver nota 2], (cobiçada pelos gays e compradas às pencas pelas mulheres) cobrindo com a própria mão, o seio da modelo ou lambendo-lhe a boca e movimentando todas as fantasias pansexuais [ver nota 3].

É ainda não ter vergonha de beijar homem ou mulher na boca, em pleno show. Afinal se ele beijou, foi porque isso é simplesmente muito sexy e não tem nada a ver com sua orientação sexual. Ele não tem que dar satisfações, porque ele é Adam. [ver nota 4]

É não ter a vergonha, mas principalmente ter o orgulho, de desfilar no tapete vermelho de mãos dadas com o seu homem.

Existe uma inveja (no bom sentido, claro) dentro de cada fã de Adam, de querer possuir a mesma prerrogativa que ele possui, que é a de se sentir tão confortável na própria pele, quanto possa um ser humano se sentir e não se culpar depois. É a vontade de cada fã de Adam de possuir aquela fisionomia de menino travesso-sensual–descarado ao mesmo tempo angelical que ele tem, e carregá-la com tanta leveza e beleza que faz tudo parecer natural.

Ele inventa, se desinventa e se reinventa. Nisso, ele é diferente da maioria e talvez por isso ele ainda não tenha atingido o sucesso que merece, porque os detentores das indústrias musicais são grandes usuários de máscaras e precisam fabricar músicas para outros usuários de máscaras, músicas que de preferência, deêm muito lucro e deixem as pessoas confortáveis.

O único “conforto“ que Adam proporciona, é o de deixar cada pessoa confortável em sua própria pele, independentemente do quão desconfortáveis as outras pessoas possam ficar diante da originalidade e verdade de cada um.

Será que um renomado diretor musical, por exemplo, pode ter em sua viodeoteca particular, uma “Glam Nation Live” para expor em suas festas particulares e não se preocupar em ser tachado de “gay”? (Garanto que na prateleira não, meus caros, mas tenho certeza que ele esconde o DVD no cofre, junto com seu rico dinheirinho).

Será que “esse homem” é feliz ?

Conclui-se que o principal problema do ser humano, é a tentação de querer transformar aquela máscara que mais se deu bem, a mais eficaz no embate cotidiano, a que mais ganhou dinheiro, ou a que mais conquistou garotas ou garotos, no seu rosto definitivo, porque depois de tão usada, essa máscara vai se fundindo à própria pele e depois aos ossos e sangue. E ela não vira ferro, como naquele clássico de Alexandre Dumas, ela vira carne mesmo [ver nota 5]. Podem perceber que na primeira tentativa desse tipo de pessoa para arrancá-la, dá-lhe overdose de antidepressivos e calmantes, dá-lhe inúmeras doses de poderoso aguardente, ou mesmo uma janela convidativa chamando-a a pular para baixo do 21º andar.

Por isso que muitos não entendem porque essas personalidades famosas que parecem ter de tudo, pulam de suas janelas. Elas mesmas não conseguem conviver com as pessoas em que se tornaram.

Muita gente se agarra a um personagem com medo de que, se a máscara for arrancada, venha a descobrir a ausência da face.

Aí está algo que nunca aconteceria com uma pessoa chamada Adam Mitchell Lambert, aquariano, nascido em 29 de janeiro de 1982. Mesmo que ele nunca venha a ser Frank Sinatra, Beatles ou Elvis Presley, (não por falta de talento, porque tem esse patamar de magnitude artística) mas porque não pode ficar em cima das prateleiras ou Ipods das pessoas que tem medo de mostrar quem de fato são.

Esperemos que o mundo ainda se dê conta disso.

NOTAS:

[1] Fato ocorrido no American Music Awards de 2009 quando Adam beijou seu baixista Tommy Joe Rattlif.

[2] Photoshoot realizado para a revista “Details” em nov/2009, veja aqui várias fotos deste ensaio e aqui a tradução do artigo.

[3] Pansexual: “A pansexualidade é caracterizada por atração estética potencial, amor romântico e desejo sexual por qualquer um, incluindo aquelas pessoas que não se encaixam na binária de gênero macho/fêmea implicado pela atração bissexual. Algumas vezes é descrito como a capacidade de amar uma pessoa de forma romântica, independente do gênero.” (Wikipédia)

[4] Adam beijou um homem e uma mulher durante o mesmo show, na Glam Nation Tour (cuja apresentação se deu em 2010), ato que ele então chamou de “tongue diving”, ou mergulho de língua. Veja aqui o depoimento da fã Erica que foi beijada por Adam [no show ocorrido em Providence (RI), em 17 de agosto de 2010] na sua primeira incursão no “Tongue Diving”.

[5] “O Máscara de Ferro” é um texto adaptado de uma das narrativas de mosqueteiros que Alexandre Dumas escreveu, inspirado na história de seu país. Os mosqueteiros eram guardas pessoais do rei francês, que o autor transformou em heróis de muitas narrativas como, por exemplo, “Os Três Mosqueteiros”. No Brasil a história é conhecida no filme em que Leonardo de Caprio protagonizou, “O Homem da Máscara de Ferro”. Outro famoso romance escrito pelo autor é “O Conde de Monte Cristo”.

Texto e Criação & Arte: Mônica Smitte

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13 Comments

  1. Parece que tudo isso é o que as vezes tentamos dizer e não conseguimos. Quero falar que amei o texto e que acho que todos deveríamos mostrar às pessoas que podemos ser ‘livres’ como Adam e que ele nos inspira a sempre mostrar o que somos. Eu já passei por péssimas experiências e em uma delas, achei que colocaria um fim na minha própria vida, mas quando conheci o Adam ,ele simplesmente me salvou! Sou grata por ele existir e mostrar que somos quem somos!

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  2. Gabi! Fico tão feliz por receber um elogio! Eu sempre penso, ao começar a escrever um ensaio: “Será que alguém vai gostar, vai ser afetado por esse texto?” Aí sempre concluo que se UMA e apenas UMA pessoa gostar já é ótimo. É um privilégio poder tocar na vida, sentimentos de UMA pessoa que seja e com ela estabelecer uma sintonia, ainda mais através desse artista maravilhoso que é o Adam. Lembre-se que não foi o ADAM que te salvou, mas foi você mesma ATRAVÉS dele. Afinal, se você não tivesse um coração tão lindo, não se permitiria ser tocada pela originalidade e sensibilidade desse artista. Espero sinceramente, que nunca mais você passe por uma experiência ruim e que te leve a ter maus pensamentos. Um grande beijo! (:

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  3. “A vida está cheia de desafios que, se aproveitados de forma criativa, sincera e honesta, transformam-se em oportunidades.”
    😀

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  4. eu me emocionei a ler seu texto MONICA parabéns,está maravilhoso!

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  5. “A vida está cheia de desafios que, se aproveitados de forma criativa, sincera e honesta, transformam-se em oportunidades.” CONCORDO!!!!!

    Infelizmente muita gente usa tais “máscaras”… e muitas vezes com isso prejudicam outras pessoas além de si mesmas!!

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  6. Mônica querida, obrigada por mais este lindo ENSAIO!!!!!!!!!!!

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  7. Texto perfeito.
    Sem palavras para descrever o quão perfeito é esse texto (:

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  8. Esse foi o principal motivo de eu ter me tornado uma GLAMBERT, Adam é nu diante da vida. A sua honestidade como pessoa e como artista é fundamental para ele e foi assim que conquistou uma legião de admiradores mesmo aqueles q não tem AINDA a coragem de admitir. Mooo como sempre arrasou texto perfeito, montagem incrível …

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  9. Ah, Moniquinha, que delícia matar saudades de seus textos! Só você pra transcrever tão bem tudo aquilo que gostaríamos de expressar sobre o Adam e tudo que é pertinente a ele..achei pequenininho o texto,de repente acabou!kkkkk
    Acho que devagarinho o Adam vai ajudando as pessoas a não precisarem de máscaras para serem felizes!E com certeza tudo volta pra ele em forma de energia positiva, transformando-o cada vez mais no ser maravilhoso que ele já é!!! <3

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  10. Por isso que me Orgulho de ser Fã desse Cara *–*

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  11. Jô, Alê,, Gra! Adoro vcs gatas glams! Adoro todos os glamberts…e essa sintonia gostosa que o Adam desencadeou entre a gente, assim, como se já nos conhecêssemos há tempos! Algumas eu já tive o prazer de conhecer mesmo e faço votos que um dia nos encontremos

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  12. Oops! Todos num show do Adam! (:

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  13. Estou lendo pouco a pouco seus ensaios, Monica. Confesso que adoro ver seus textos. Esse nao é diferente. Emocionado… que bom q Adam nao precisa e nunca precisara fingir ser ou parecer outro alguem para agradar. A honestidade q ele deposita em tudo é mto linda…É ISSO. *chorando*

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