Review de “Trespassing” Por Muso’s Guide (Reino Unido)

A sexualidade é atualmente um tema quente na música popular. “Frank Ocean” anunciou que é bissexual, o que coincidiu com o seu muito aguardado álbum “Channel Orange”, um lançamento que está meramente sendo analisado por revistas de música e fãs para ver se há algum indício nele sobre a vida privada de Frank. Parece que “Channel Orange” está sendo julgado sob um novo critério, como revisões que rebatem repetidamente cada canção, os ouvintes tentando cavar em busca de pistas sobre se cada música é cantada por um cara, ou por uma garota.

Alguns disseram que a declaração de Frank foi valente, outros o acusaram de usar sua sexualidade para vender o álbum, para obter sucesso lá fora. Quando Adam Lambert era um concorrente no “American Idol”, ele terminou em segundo lugar para o arrumadinho heterossexual Kris Allen. No meio da temporada, americanos conservadores foram confrontados com a possibilidade de um vencedor gay no “American Idol”. Todos especularam – ele é ou não é?

Para Adam Lambert, durante a competição provavelmente isso não tinha importância. Lambert, como tantos outros que competiram em shows de talento desse tipo, tinha que fazer valer cada segundo no palco, eles não podiam se dar ao luxo de serem distraídos por falar sobre sua sexualidade, sobre “sair do armário”. Isso não parecia importante naquele tempo porque havia muito mais em jogo. Será que Adam precisaria do fardo de se tornar um porta-voz dos direitos dos homossexuais, enquanto em uma missão para mudar sua vida e viver o sonho de se tornar um popstar?

A eventual “saída do armário” de Adam foi relatada pela primeira vez na revista Rolling Stone. Lambert, em entrevista exclusiva, afirmou: “Eu não acho que deveria ser uma surpresa para ninguém ouvir – Eu sou gay”. Não foi, e o mundo continuou girando. A sexualidade não deve ser um segredo reprimido, e eu acho que foi por isso que “Frank Ocean” fez questão de abordar o tema, e tornar sua sitção pública.

Isso não importa. “Judas Priest” é uma banda de metal gay? Será que Freddie Mercury torna Queen uma banda de rock gay? Elton John é um artista solo gay? Não, a história não se baseou pela sexualidade do artista, mas pela força das canções. Provavelmente, a história verá Ocean e Lambert dessa mesma maneira.

Certo, agora que isto está fora do caminho, vamos nos concentrar na música…

Como muitos ex-participantes de shows de talentos, seja ele fator “X Factor”, “American Idol”, ou “The Voice”, Lambert se beneficiou da exposição na televisão, na frente de um público nacional, e ainda pelo fato de, depois de meses cantando ao vivo em um ambiente de alta pressão, seus vocais adquirirem uma certa legitimidade. Lambert tem um alcance vocal insano, e extende seus pulmões em sua plena capacidade, projetando uma onda sônica através dos alto falantes por todo o álbum “Trespassing”.

Ao contrário de seu primeiro álbum, que se esforçou em capturar Adam Lambert em seus próprios termos, “Trespassing” tem caráter. É divertido, hedonista e em busca do prazer – uma mistura de baladas sinceras, músicas que arrasam na pista de dança. O álbum é bombástico e extravagante, tudo o que você esperaria de Adam Lambert. A faixa-título representa o que poderia acontecer se você fosse capaz de invadir a entrada do iPod de Lambert e mexer em seus componentes, a canção é uma mistura inebriante de linhas de base dos clássicos do Queen, produção de “Neptunes”, antes de “Hollaback Girl”, e com a marca brilhante da teatralidade vocal de Lambert. Faixas como “Kickin’ In” giram em torno de um bronzeado artificial e hairspray, arremetendo a batidas eletro tropical (provavelmente isso é apenas o sabor das doses consumidas no bar). Produção de Pharrell Williams, embora em declínio, é ainda sobre o que acontece em um ambiente suado e inspirado de bar. “Pop That Lock” é provavelmente o melhor ritmo para as pistas, porque é uma louca mistura da forma como a maioria das músicas dance pop está dominando as rádios em 2012.

Existem trilhas que lidam com o pessoal, como “Broken English”, por exemplo, que parece abordar o relacionamento de Adam com a celebridade da TV finlandesa Sauli Koskinen – a música fala sobre pessoas de origens culturais diferentes que não partilham a mesma língua nativa e, portanto, lutam para expressar seus sentimentos verdadeiros, embora sugira que este problema possa ser resolvido através da comunicação física (sexual?). A orgulhosa marcha “Runnin'”, o enorme apelo emocional em “Outlaws Of Love” e a comovente “Underneath” mostram as habilidades de Lambert em deixar seus vocais realizarem o show em vez de, despropositadamente, lamentações sobre excessivas batidas eletrônicas.

O que você quer de Adam Lambert como popstar é que ele te surpreenda. Apesar deste lançamento ter sido aguardado por bastante tempo, ele não soa como um artista que ficou enterrado em estúdios tentando criar algo fora desse mundo. Ele nos deixou querendo mais, mas somente no sentido de – era isso? A maior crítica a “Trespassing” é que o álbum não é marcante o suficiente. Quando você pensa em alguns dos melhores álbuns pop de artistas masculinos da última década, tais como “FutureSex/LoveSounds” de Justin Timberlake, “F.A.M.E.” de Chris Brown, e “Confessions” de Usher, falta ao álbum a quantidade definida de singles para fazer o tipo de impacto mundial esperado. Apesar do álbum ter colocado Lambert como nº 1 nos Estados Unidos, ainda resta saber se ele vai passar pelo verão, e ser considerado um dos lançamentos de destaque do ano.

Fontes: gelly14/Adamtopia e Muso’s Guide

Tradução: Graça Vilar

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