The Sunday Times: “Hey, Scaramouche, will you do the fandango?”

Lisa Verrico, da Revista The Sunday Times do Reino Unido, recentemente entrevistou Adam Lambert. A entrevista focou principalmente no relacionamento de Adam com a banda Queen, da sua performance com eles na final do American Idol em 2009 até sua recente performance no EMA 2011, como também na probabilidade deles trabalharem juntos novamente. Adam também conversou sobre seu novo álbum “Trespassing”. Confira aqui o artigo completo publicado online, caso queira ler em inglês e aqui um scan do próprio artigo. E a seguir confira a tradução completa:


Uma Visão [ver nota 1]: Adam Lambert e Brian May dominam o palco (Leon Neil)

Hey, Scaramouche, Scaramouche, will you do the fandango?
[Hey, Scaramuccia, você vai dançar o Fandango?] [ver nota 2]

Adam Lambert é o escolhido de Brian May para vocalista do Queen – será que o Americano está pronto para ser Freddie em tempo integral? [ver nota 3]

Estar na pele de Freddie Mercury deve ser uma das situações mais assustadoras do Rock. Liderar uma performance do Queen, para ser assistido por um público de milhões na TV e na Internet, com apenas uma semana de aviso é certamente um desafio que poucos cantores consagrados estariam dispostos a aceitar. Manche a memória de Mercury e do Queen e os fãs nunca o perdoarão; Tente ultrapassar o extravagante frontman e você falhará.

No European Music Awards (Prêmio da Música Européia) em Belfast, no mês passado, o ex-participante do American Idol, Adam Lambert, não somente aceitou o desafio, mas também se apresentou com um desempenho tão perfeito que planos já estão a caminho para apresentações futuras. Ambos, Roger Taylor e Brian May, têm falado regularmente sobre o seu apreço por Adam. Recentemente, Taylor o descreveu como “um artista fenomenal com um alcance vocal inigualável”. Brian May, entretanto, tem comparado o californiano com Mercury desde a final do American Idol, em 2009, quando Queen tocou para Lambert cantar “We Are The Champions” com uma voz que invocou o espirito de Freddie.

“Depois do American Idol, nós discutimos sobre nos apresentar juntos novamente”, disse Lambert, 30 anos, no próximo mês, que terminou em segundo no concurso de talentos e passou a vender mais de 1 milhão de cópias do seu álbum de estréia, For Your Entertainment. “Toda vez que vejo Brian, a mesma conversa surge. Uma semana antes do EMA, ele ligou para dizer que a banda Queen ia receber um prêmio e se eu poderia cantar com eles. Se eu estava com medo? Com toda a certeza! O lugar de Freddie é de uma responsabilidade do c******””. [ver nota 4]

Perversamente, os “sapatos” [ver nota 5] se mostraram a menor das preocupações de Adam. Para a apresentação, ele optou por um par de botas com salto “Anabela” (uma espécie de salto plataforma) feitas por Rick Owens. Combinado com seus 1 metro e 85 na câmera e um cabelo com um grande topete, ele ultrapassou May na altura quando os dois caminharam pela passarela e posaram costa a costa. Mas não foram os sapatos de Lambert que roubaram a cena. Ou sua capa de couro preto de Batman-a-paisana. Ou, graças a Deus, qualquer tentativa de imitar as atitudes e movimentos de Mercury. Desde o começo da música de abertura, “The Show Must Go On”, Lambert tinha o público aos seus pés por conta da sua confiança e a voz que parecia atordoar até mesmo Brian May. Ele não conseguia parar de sorrir, como se revelasse que a procura de 20 anos por um sucessor adequado de Freddie tivesse finalmente acabado.
Lambert compartilha não só o grande alcance vocal de Mercury, mas uma apresentação teatral que vem em partes de crescer ouvindo Queen – ele cantou “Bohemian Rhapsody” em sua audição para o American Idol – e em partes de uma década dedicada a estrelar em musicais.

Aquele Lambert ofuscou até mesmo Lady Gaga e seu cenário caro e cheio de artifícios no EMA, o que foi particularmente incrível, considerando que a maioria na multidão não fazia idéia de quem ele era. Desse lado do atlântico, Lambert ainda tem que ter um hit e sua aparição na noite não tinha sido anunciada. Conforme a apresentação acabava com uma magnitude, braços levantados, as palmas acompanhando “We Will Rock You”, você podia ouvir vozes atônitas perguntando quem ele era.

A conexão com o Queen ajudaria Adam a “invadir” a Grã-Bretanha com o seu segundo álbum, “Trespassing”, previsto para Março, mas isso pode se mostrar problemático. A banda Queen está declaradamente interessada a se apresentar em turnê com o cantor, e, se ele aceitar, Lambert ganharia milhões. Primeiro, ele insiste, ele vai ver como irão as vendas de “Trespassing”.

“Brian e Roger entendem que eu tenho minha música e minha própria carreira pra cursar, e eles apóiam isso”, disse Adam diplomaticamente. “Mas nós vamos definitivamente nos apresentar de novo. Substituir Freddie parece natural pra mim. Eu adoro as músicas do Queen e, tanto como artista quanto cantor, Freddie é um dos meus ídolos. Eu também me identifico com ele, sendo gay. Não é uma coisa fácil no ramo da música, ser gay. Na Europa, ninguém se importa, mas nos Estados Unidos ainda é um grande problema. Eu tive que pular vários obstáculos e segurar muito ódio em casa. Eu nem consigo imaginar como seria para Freddie, sendo o vocalista da maior banda de Rock do mundo, lá pelos anos 70, se preocupar com o jeito que as pessoas o tratariam se elas descobrissem”.

É justo dizer que a carreira de Lambert sofreu com isso. Quando ele se assumiu durante o American Idol, houve muitas ofensas [ver nota 6]. Sua confissão quase certamente o fez perder o título – assista a apresentação com a banda Queen e veja Adam “demolir” o vencedor, um cara fofo, mas muito “boyband” chamado Kris Allen. Quando Lambert beijou seu baixista no palco do American Music Awards em 2009, uma campanha da mídia foi montada contra ele, onde a primeira fase foi bani-lo do canal ABC depois de 1.500 reclamações por telefone.

A orientação sexual de Lambert, contudo, não impediu que uma impressionante série de escritores quisesse trabalhar com ele. For Your Entertainment incluiu músicas compostas por Muse, Lady Gaga e Sam Sparro, e, de uma forma bizarra, Justin Hawkins do The Darkness. O porquê de nenhum de seus singles, particularmente “Whataya Want From Me”, se tornou um hit na Grã-Bretanha é difícil de entender, sobretudo porque Lambert parece ser um sucessor natural de Robbie Williams.

Enquanto o seu álbum de estreia foi montado em 6 semanas, para o Trespassing, Lambert pôde agir com calma. Depois de quase um ano em turnê, ele alugou uma casa em Los Angeles, viu a família e os amigos – e, o mais decisivo de tudo, se apaixonou.

“Quando a turnê acabou, eu estava exausto e um pouco deprimido”, ele admitiu. “Eu estava definitivamente em uma fase obscura quando eu comecei a escrever. Minhas músicas eram mal-humoradas, introspectivas e depressivas. Eu decidi fazer um álbum honesto, orgânico e sem máscaras. Então, graças a Deus, eu encontrei meu namorado. Eu fiquei tão feliz que comecei a escrever músicas mais divertidas, mais festivas.”

Metade do álbum Trespassing foi co-escrito com Bonnie McKee, a mulher responsável por “Teenage Dream” e “California Gurls” da Katy Perry. Duas músicas – incluindo a extrovertida faixa título do Álbum, cujo baixo foi pego emprestada de “Another One Bites The Dust” [ver nota 7] – foram gravadas em Miami, com Pharrel Williams produzindo. “Curiosamente, meses antes de eu conseguir a apresentação com o Queen, Pharrel ficava me chamando de Freddie”, diz Lambert. “Ele me disse para procurar o Freddie nas minhas músicas dançantes. Freddie e a era Off The Wall [ver nota 8] de Michael Jackson, essa é a mistura que estamos procurando.”

O estilo funk [ver nota 9] de Jackson é um dos ingredientes chave de Trespassing, sobretudo na música-chiclete chamada “Shady”, na qual Nile Rodgers da banda Chic surge tocando baixo. Lambert contactou o guitarrista pelo Twitter, e os seus pouco mais de milhares de seguidores assistiram aos dois, twittando um para o outro por dias antes de se encontrarem em Nova York. Rodgers depois twittou que “trabalhar com Adam Lambert foi um dos mais orgânicos e perfeitos Jams [ver nota 10] que fiz desde David Bowie”.

Em outras partes de Trespassing podemos encontrar o rock cheio de batidas dos anos 80, Eurotechno [ver nota 11] e música eletrônica, junto com alguns hinos cheios de emoção e um ritmo médio, incluindo o primeiro Single, “Better Than I Know Myself”. A característica que define cada música, entretanto, é a voz surpreendente de Adam Lambert. Ao invés do eletro-pop sem personalidade, como nas músicas da Lady Gaga, a música de Adam depende somente de sua voz teatral e versátil.

Criado em San Diego no meio da coleção de CD’s dos anos 70 de seu pai (que já foi DJ), Lambert se juntou a um grupo de teatro quando tinha 8 anos e começou a se apresentar em espetáculos musicais profissionais com 10 anos de idade. Ele se matriculou em uma universidade para estudar Teatro Musical, mas não durou mais que 5 semanas – “Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de salas de aulas”, ele disse.

Aos 20 anos, já abertamente gay, Lambert passou seis meses na Alemanha se apresentando no musical Hair, uma experiência que ele afirma ter mudado sua vida. “Ser levado para fora dos Estados Unidos, em um país progressista, ficando nu no palco, todas as noites, me abriu ‘violentamente’”, ele conta. “Eu me senti livre e encontrei minha identidade. Esse foi um ponto de grandes mudanças para mim”.

Ainda havia muitos pontos baixos por vir, contudo. Ele conseguiu um trabalho atuando junto com Val Kilmer em “Os 10 Mandamentos – O Musical”. Enquanto seu desempenho como Joshua, líder do exército hebreu, foi aclamado pela crítica, o show afundou.

Depois de 2 anos em uma turnê nacional com o musical “Wicked”, Lambert decidiu sair do teatro e começar a fazer música. Por um breve momento ele foi vocalista de uma banda de garagem, fez algumas sessões de canto e trabalhou com produtores que voltariam para processá-lo quando se tornasse famoso.

Frustrado por sua falta de sucesso, e depois de dois anos analisando cuidadosamente, Lambert fez o teste para o American Idol. “Eu era um fã do programa e eu queria fazer parte dele, mais eu sei que não é bacana”, ele conta. “Existe sempre um estigma entre os formadores de opinião se você vem de um desses shows de talento de televisão, mas eu fiz o que eu tinha que fazer para me colocar no mapa. Eu quero dizer, eu era um cara branco de 27 anos que usava maquiagem e salto alto. Nenhuma grande gravadora me contrataria. O fato é que 30 milhões de pessoas assistem o American Idol a cada semana – você não pode comprar esse tipo de publicidade”.

No começo desse ano, Lambert deixou a produtora 19 de Simon Fuller (criador e produtor do American Idol) e assinou com o time por trás da Katy Perry. Enquanto ele afirma que se arrependeu de alguns de seus comportamentos “estranhos” depois do Idol, você duvida que ele quisesse dizer isso. “Olhando pra trás, de forma objetiva”, ele disse, “para um público americano que me conheceu em um programa de TV, alguns dos meus primeiros passos com a minha música talvez tenham sido um pouco erotisados demais. Mas eu estava apenas sendo eu mesmo, e eu realmente não posso me arrepender disso”.

Assim como os seus saltos – e seu cabelo – eles vão ficando ainda maiores.

“Eu acabei de comprar um par de creepers [ver nota 12] azul claro que me fazem parecer ridiculamente alto”, Lambert ri. “Freddie aprovaria. Nenhum homem recusa alguns centímetros a mais”.

NOTAS:

[1] Em alusão à música “One Vision”, um dos maiores sucessos de Queen na década de 80, que abriu o CD “A Kind Of Magic” e praticamente todos os shows da “Magic Tour” na época.

[2] Em alusão um verso da música “Bohemian Rhapsody” da banda Queen – “Hey, Scaramouche, Scaramouche, will you do the fandango?” – No caso, Scaramouche é um personagem da Commedia dell’arte, assim como o Alerquimn e a Colombina. O Scaramouche representava o fanfarrão, o artista que animava o Rei com danças populares, como o Fandango, por exemplo.

[3] Adam Lambert não foi escolhido para vocalista do Queen. O pessoal da Banda e Adam apenas conversaram mas nada foi confirmado. Lembrando que a escolha daqueles músicos no concurso, foi para fazer uma banda cover oficial, não para escolher o novo vocalista da banda. A banda ainda está sem vocalista. O que pode acontecer é que, depois da turnê Extravaganza, o escolhido como vocalista para a banda cover possa fazer parte da banda mesmo. O caso é, Brian está a procura de algum cantor já consagrado [ou vários] para fazer futuras apresentações com a Banda Queen.

[4] Freddie’s are f***in’ big shoes: No texto original, Adam fala que “Freddie Mercury calça uns sapatos grandes pra c******”, fazendo uma alusão ao ditado “Try to be in someone’s shoes”, que significa “Tente estar na pele de fulano”, mas ao pé da letra seria algo como “Tente calçar os sapatos de fulano”.

[5] Os “sapatos” que ela coloca é fazendo referência novamente ao ditado “Try to be in someone’s shoes”, descrito na nota 4.

[6] Adam não se assumiu durante o American Idol. Ele se assumiu quando passou a morar sozinho em Los Angeles. O fato é que ele nunca quis comentar sobre sua vida pessoal durante o programa, pois queria todo o foco na música. Além disso, ele não poderia dar entrevistas enquanto estivesse no programa, o que fez muitos pensarem que ele estava “se escondendo”.

[7] “Another One Bites The Dust”: música do 8º álbum do Queen, “The Game”. A música foi um hit mundial, ficando entre as 10 melhores em várias partes do mundo. Essa música é considerada a de melhor vendas da banda, com mais de 7 milhões de cópias vendidas. A música foi composta pelo baixista da banda, Jhon Deacon. O interessante é que, além de o baixo ser o instrumento principal da música, ela foi inspirada por sua vez pela música “Good Times” da banda de disco music “Chic”. Na época, Jhon passava muito tempo nos estúdios com o pessoal da banda “Chic”. Essa música também inspirou muitas bandas, alguns inusitados, como “Pussycat Dolls”, por exemplo. (Wikipedia)

[8] Era Off The Wall: a música que os Glamberts provavelmente mais conhecem desse álbum é a “Rock With You”, que Adam cantou em sua audição para o American Idol, junto com “Bohemian Rhapsody”. Esse álbum está junto com Thriller, Bad e Dangerous como responsável por tornar Michael na lenda em que se tornou. “Don’t Stop Til’ You Get Enough” é outro clássico notável desse álbum.

[9] Funk: É um estilo que se confundiu através dos tempos com o movimento hip-hop, mas que na verdade nasceu com outras motivações, em outra região, mas no mesmo contexto – dança de rua (Wikipédia). “Play That Funky Music”, cantada por Adam no American Idol, é uma perfeita referência desse estilo para os Glamberts.

[10] Jam: – Como se é chamado uma forma de improviso no Jazz. (Dicionário Virtual Linguee)

[11] Eurotechno: mais conhecida como Eurodance. É um estilo próprio europeu dos anos 90 que mistura várias formas de música eletrônica, como o Trance e a House. As músicas costumavam ser bem alegres e positivas, com uma batida agitada. As letras falavam de amor e paz, festas e danças, ou expressavam uma superação de dificuldade emocional. (Wikipedia)

[12] Brothel Creepers: Sapato com estilo clássico de oxford com uma plataforma mais grossa na sola. O sapato foi criado na segunda guerra mundial, mas durou não só por ser resistente, mas também pela sua reputação. Depois da guerra acabada, os soldados iam para os bordéis com seus “sapatos de guerra” como se fossem provas da batalha. Desde então foi usado por roqueiros e punkers. (Blog It Up). Esse sapato voltou com tudo atualmente em um desfile da Prada do ano passado. Depois desse desfile, dentro dessa onda Vintage, todos os olhos voltaram-se para o modelo, que chegou até em passarelas brasileiras. Adam usou os seus creepers no tapete rosa do EMA 2011.

Fontes: stardust / Adamtopia, @terra_zephead, The Sunday Times, Adam Lambert Fan Club, Gather e gelly12 / Adamtopia

Tradução: Rodrigo Ferrera

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11 Comments

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