A Agonia e o Êxtase de Cantar

A parte óbvia de se admirar um cantor como Adam Lambert resume-se em adjetivos que estamos cansados de escutar e falar: que ele é lindo, talentoso, sexy, amável etc. Mas o que existe por trás disso é muito mais intenso. Não podemos deixar de falar no instrumento que fez de Adam o que ele é hoje: a sua VOZ. Saiba o que uma cantora de ópera famosa e fã incondicional de Adam tem a falar sobre isso e como ela explica a empatia que ele consegue estabelecer com o público. Vale a pena conferir.

Broken Open – Adam Lambert e a agonia e o êxtase de cantar

Por “Starlight”, convidada
14 de outubro

Nós não podemos negar o fato de que cada um de nós nasce com habilidades inatas, que quando florescem nos transformam, na melhor das hipóteses, no objetivo do nosso interesse ou no mínimo, competentes. Nossos interesses podem frequentemente recair sob o que mais nos faz sentir apaixonados. Assim atletas, escritores, pintores, advogados, médicos, professores, são todos exemplos de pessoas que podem ter aperfeiçoado suas habilidades na área de maior interesse, aquela que mais os cativaram.

Cantores não são diferentes. Como cantora, posso testemunhar que nós nascemos assim. A conexão que temos com nossa voz se manifesta numa necessidade urgente e poderosa de cantar, normalmente desde pequenos, o que nos leva, inexoravelmente, a desenvolver nossas habilidades e encontrar o repertório mais adequado para a exteriorizarmos.

Adam Lambert é um perfeito exemplo de alguém que já nasceu cantor. Ele só não nasceu com esse instrumento vocal excepcional, como começou a usá-lo desde pequeno. No seu site, NegativeNeil.com, seu irmão Neil fala de maneira hilária sobre o relacionamento de irmãos, e como foi chato para ele escutar Adam improvisar selvagemente em cima das canções que ouvia no rádio, durante todo o dia. Neil achava que Adam estava apenas se exibindo. Como um não cantor ele não poderia entender a necessidade que Adam tinha de fazer aquilo. Agora, no entanto, Neil entende perfeitamente.

Para os cantores esse anseio de cantar é tão intenso que nós sentimos quase como que não tivéssemos escolha alguma, a música de fato nos escolheu e não poderia ser de outra maneira, nós temos que atender o seu chamado, ou sofrer de maneira excruciante. A necessidade de cantar é maior do que uma paixão. É uma necessidade tão grande e forte que se ignorada pode causar dores físicas para as quais não há analgésico, pois a dor é emocional e espiritual e se manifesta no nosso corpo físico, através de nossa voz.

Durante uma conversa que tive on line com Juneau (uma das donas deste blog) ela me perguntou o que eu gostaria de escrever sobre isso e eu mencionei que eu gostaria que esse tópico abrangesse a incontrolável e inexplicável urgência que os cantores têm de cantar e o que acontece se ignorarmos esse desejo admirável. – “Oh”, ela disse – “é como a incontrolável e inexplicável urgência que sentimos em passar os nossos dias no computador tentando achar tudo que se relacione ao Adam?” – Eu tive que rir. Mas ela tinha chegado a um ponto em comum: de alguma maneira é similar, mas multiplique esse desejo pelo Adam por mil, e você terá a idéia do que é sentir a necessidade de cantar.

Uma das minhas professoras de canto, uma tenor renomada mundialmente, costumava dizer que o chamado da nossa voz a cantar é como uma doença incurável, que só oferece alívio quando estamos de fato praticando o canto. Talvez isso seja o que Adam é para nós? Ele é uma “doença incurável” e o único alívio que sentimos é tê-lo em nossas vidas o máximo que pudermos. E a única maneira de fazer isso é poder olhar para ele, ouvi-lo, e saber que ele se encontra em algum lugar e continua a espalhar a sua essência mágica em nossos corações. E de agora em diante ele terá que continuar a cantar para nós – e para ele mesmo. Minha velha professora de canto me dizia também que você pode ouvir a alma de uma pessoa através de sua voz, e se isso for verdade, a alma de Adam é mais do que maravilhosa!

É claro que nós sabemos que Adam é uma pessoa extremamente dotada, inteligente, versátil, desinibida, artista destemido, talentoso e extremamente criativo, que ele é fisicamente e espiritualmente belo e de talento sobrenatural, que ele é um dos seres humanos mais charmosos, carismáticos, corajosos e sensuais que já pisou nesse planeta Terra, mas para mim é o seu espantoso instrumento vocal que não me faz cansar de ouvi-lo e quando ouço, nunca é o suficiente. Quando escuto a sua voz, eu me sinto absolutamente cativa, eu tenho que parar o que estou fazendo e dar à sua voz minha total atenção – Eu não ouso escutar o seu CD no carro! Eu experimento a sua voz como um “banho de música”. Ela lava cada fibra do meu ser, e sinto como se a harmonia e freqüência de sua voz me massageasse inteira, desde a ínfima molécula que compõe meu corpo físico até atingir os limites da minha alma. Eu nunca tive esse tipo de experiência ao escutar qualquer outra voz – E eu já escutei vozes muito boas e tive o privilégio de estar bem perto de algumas das mais renomadas vozes no mundo atualmente, e continuo atordoada com o efeito e o poder que a voz de Adam tem sobre mim.

Mas porque nós todos temos uma voz, mesmo que não a usemos como um instrumento musical que é, nós damos atenção especial à voz dos cantores, que, pela mesma razão de quando um instrumento é bem tocado, rouba a nossa atenção imediatamente e nós nos sentimos envolvidos pela voz do cantor.

Para nós cantores, a importância da voz é duplamente real, porque nós estamos constantemente conscientes do fato de que nosso instrumento precioso e a nossa ligação com ele precisa ter uma certeza física, emocional, espiritual e sensual. A voz expõe tanto quem realmente somos, que muitas vezes é difícil deixar-se levar e estabelecer uma conexão real e completa com a platéia. Eu acho que todos nós desejamos esconder esse “eu” vulnerável dos olhos dos curiosos e possíveis julgamentos das outras pessoas. No entanto, não podemos negar a necessidade que nos leva ao palco, especialmente se você foi escolhido para isso, porque a dor associada à não realização, é insuportável.

Aparentemente, todos os cantores, em algum ponto de sua carreira, experimentam essa dor associada à sua voz. Alguns, a acham intolerável e procuram calar-se e acreditar que não são bons o suficiente, enterram a sua voz e procuram outra forma de preencher os seus dias. No entanto, isso não é uma boa idéia, porque “o chamado da voz” eventualmente o achará! Já outros passam por essa fase de uma outra forma, então esse timbre triste dá um tom belo, sensível, profundo, forte e se abre para a paixão. Isso soa parecido com alguém que conhecemos? Com esse conhecimento acumulado sobre a voz e tendo cantado profissionalmente por tantos anos que já não consigo mais lembrar e ensinando canto por 25 anos, eu sinto que o motivo da voz de Adam ser tão excepcional, elegante e única, é porque ele mesmo também teve que passar pela barreira da dor, que chegou a um ponto de achar que se encontrava em um beco sem saída. É claro que Adam experimentou outras dores na sua vida. Isso também transparece no som e textura da sua voz, porque se de um lado essas experiências são penosas e estressantes, por outro enriquece a voz de um cantor. Eu posso estar errada, mas isso soa como se a angústia que se tivesse vivido em algum momento, talvez possa ser associada a uma frustração por não se ter tido a capacidade de “voar com a voz”, ou seja, cantar em sua plena capacidade e talvez por não ter sido dada a oportunidade para que seu instrumento vocal pudesse chegar a essa plena capacidade, algo que todos os cantores desejam, e que certamente se não achar o repertório certo, se tornará a causa de uma crise na vida dessa pessoa. Adam mencionou várias vezes o inconformismo por não ter sido escolhido como o cantor principal em “Wicked”, por exemplo, o que teria trazido a ele esse tipo de frustração e teria trazido esse tipo de crise em sua vida. Mas por outro lado, eu fico muito feliz por tudo ter acontecido como aconteceu, não somente para nós, mas para ele também. O agora é apenas o seu começo: ele se encontrou como artista – e eu não me aguento de excitação para testemunhar os altos vôos que ele ainda estará pronto para realizar!

Quando nós nos achamos na presença de um cantor como Adam, que apenas não só se deu a permissão para se conectar com sua voz em qualquer nível, mas que é também excepcionalmente corajoso para mostrar-se como um ser vulnerável (como qualquer pessoa pode ser) e ainda assim se doar cem por cento cada vez que ele aparece em público, ele torna-se esse ser, cuja presença esmagadora se eleva nos níveis mais profundos de autenticidade e sensibilidade. E porque ele faz isso parecer tão fácil, nós também achamos que também podemos conseguir, que somos capazes. Esse poder, essa empatia que ele tem, é a sua arte. E em todos aqueles momentos em que o assistimos, nós nos tornamos como ele, e nós também experimentamos nossa maneira livre de querer ser, sem se preocupar com o que os outros pensarão de nós – porque ele torna isso seguro para nós. E através disso ele nos cura, cura nossos sonhos despedaçados, nossos “eus” despedaçados, negligenciados e limitados.

Existem poucos cantores hoje em dia, que se deram permissão para fazer o que Adam está fazendo e desse modo ficar tão vulnerável. Um que me vem à mente é o tenor espanhol Plácido Domingo, outro cantor incrível, inovador, um artista sem medo e um ser humano maravilhoso. Aliás, muita coincidência que ele, como Adam, seja um aquariano.

É claro que Adam trabalhou duro em seu instrumento vocal para ser capaz de produzir os sons maravilhosos que ele produz, para cantar em tantos shows quantos forem possíveis, em ser capaz de se comunicar de maneira tão única e emocional com a sua platéia, mas o que faz a sua voz tão espetacular, é que Adam tem conhecimento e entendimento a respeito dela como se ela fosse um instrumento musical. Ele usa técnicas puras de respiração para dar suporte, algo que, sem sombra de dúvida, ele pôde aperfeiçoar durante esses anos todos, pois ele usa sua voz como um pianista ou violoncelista usaria o piano e o violino. É claro que ele tem habilidade para usá-la em diferentes estilos, – isso faz parte de quem ele é, – mas ele também é extremamente inteligente em usar as técnicas clássicas fundamentais que suportam sua voz tão perfeitamente.

Quando escutamos uma música que nos afeta profundamente, não prestamos atenção às técnicas envolvidas porque somos transportados pela própria música. Adam tem consciência de que a sua voz tem esse poder também. Ele sabe que o que faz sua voz soar como música, são as notas longas e ininterruptas (legato lines) que ele canta, em tons alongados de vogais abertas, bastante difíceis de dominar. Mas o que faz dele um cantor tão espetacular e único na música pop atual, é que ele canta com as técnicas de um cantor de ópera, ele não só se estende nas notas altas na música, como ele também se estende nas letras, ligando uma palavra à próxima e mesmo assim sem perder a clareza, dicção ou tom. Essa é uma habilidade muito difícil de aprender, mesmo para os cantores de ópera, muitos dos quais podem fazer uma, mas não a outra técnica e se fizer as duas coisas, você não consegue entender o que eles estão cantando. Isso é um testemunho a mais para a compreensão de como Adam se dedica ao usar a sua voz como um instrumento. É essa técnica ou habilidade que ele tem de deixar a platéia atônita, porque ele nos apresenta a experiência de um “muro de som” cujos efeitos fazem com que sua voz não precise de nenhum acompanhamento, que ela por si se baste. E é o que de fato acontece!

Para demonstrar a influência que nossa voz tem sobre nós, incluindo quem não canta, nós podemos lembrar das vezes em que a perdemos, talvez devido a uma laringite, ou por termos berrado num estádio ou show de rock – até mesmo num show do Adam? Os próximos dias, enquanto nossa voz está se recuperando, nós temos uma sensação surreal de “perda de experiência própria”, semelhantes àquelas que temos quando parece que ninguém nos nota, uma vez que perdemos a capacidade de nos expressar para o mundo, mesmo que momentaneamente. Essa experiência nos dá dicas de como a nossa voz é importante para nós, como ela está atada à nossa identidade, mesmo para as pessoas que não cantam. Por isso Adam deve percorrer esse longo caminho, para nos ajudar a compreender o quão magnífico, generoso e corajoso é, dando-nos tanto da sua voz e tanto de si mesmo. Porque não é tão fácil como ele faz parecer. Ele realmente “se quebra ao se abrir” (“Broken Open”) toda vez que ele compartilha seu dom conosco.

Eu acho que a letra da música “Broken Open” no diz muito a respeito da voz de Adam.

Broken pieces, break into me
So imperfectly what you should be
I don’t want you to go, don’t want to see you back out in the cold
Air you breathing out, fades you to grey
Don’t run away, find me

I know the battles of chasing the shadows
Of who you wanna be
It doesn’t matter, go on and shatter
I’m all you need

Broken pieces, break into me
So imperfectly what you should be
Lay here it’s safe here, I’ll let you be broken open
Hide here, confide here, so we can be broken open

Let’s enlighten the night
We can fall away, slip out of sight
When you drop your guard, melt into time
So intertwined, quiet

I know the battles of chasing the shadows
Of who you wanna be
It doesn’t matter, go on and shatter
I’m all you need

Broken pieces, break into me
So imperfectly what you should be
Lay here it’s safe here, I’ll let you be broken open
Hide here, confide here, so we can be broken open

E a seguir reveja a performance de Broken Open:

Sobre a autora: Apesar do seu nome não ter sido divulgado, (ela denomina-se virtualmente como “Starlight”), sabe-se que é uma soprano inglesa que já cantou pelo mundo todo, tendo sido convidada inclusive pela própria rainha Elizabeth II a cantar no Palácio de Buckingham, em reconhecimento à sua contribuição para a música, economia e cultura do Reino Unido.

Fonte: On The Meaning of Adam Lambert

Tradução: Mônica Smitte

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5 Comments

  1. demaaaaaaaaais
    sempre achei essa musica mais a mais espiritual do album, perdendo para cant let you go (se contando os bonus deluxes)

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  2. “Atordoada com o efeito e o poder que a voz de Adam tem sobre mim.”

    É isso, exatamente isso!

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  3. Esse artigo foi um dos que eu mais me identifiquei e gostei de traduzir. Os sentimentos que temos em relação a ele como grande artista que é, também é devido à sua capacidade de empatia com os fãs. Ele é muito especial e gostaria que o mundo inteiro soubesse disso!!!

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  4. Owww… chorei!!!!!!!!!

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