Tradução da Entrevista na Revista Attitude – Jul/2018

Conforme já publicamos amplamente em nosso site, Adam é capa da Revista Attitude (imagem acima), da edição do mês de Julho. Confira aqui as fotos já publicadas deste belo ensaio, e a seguir a tradução completa da entrevista. E caso queira adquirir seu exemplar clique aqui para comprar a versão impressa e aqui a versão online.

O herdeiro legítimo do Queen

Ele alcançou a fama no American Idol em 2009, mas agora Adam Lambert calçou os sapatos do maior artista de todos os tempos, possivelmente. Ele conta para a Revista Attitude sobre sua primeira lembrança de Freddie Mercury, como é estar no palco com lendas do rock e como eles inspiraram a sua nova música.

Na primeira vez que Adam Lambert se voltou a seu pai e perguntou sobre o Queen, ele tinha apenas 10 anos. Era 1992 e, junto com seu irmão, eles foram ver “Wayne’s World” [Quanto mais idiota melhor]. “‘Bohemian Rhapsody’ estava neste filme e me lembro de perguntar a meu pai: ‘Quem canta essa música?’ Esta foi minha primeira exposição real a eles”, ele lembra, enquanto nos preparamos para nossa entrevista em uma elegante Suíte Musical no lendário Hotel Millennium Biltmore, em Los Angeles.

“Meu pai me respondeu, ‘Bem, você já ouviu ‘We Will Rock You’ e ‘We Are The Champions’, e eu disse: ‘Oh, sim, já ouvi’. Essa é uma das coisas que eu adoro na música do Queen. Tem sido meio que onipresente mesmo se eu não sabia quem eles eram. Mesmo antes de eu entender quem eles eram como banda, eu já tinha ouvido as músicas deles.”

Adam chegou ao conhecimento do público pela primeira vez como o jovem roqueiro com o impressionante par de pulmões, quando ele terminou em segundo lugar no American Idol em 2009. Desde então, ele se tornou uma das histórias de sucesso do programa, e em 2012 o seu segundo álbum de estúdio, “Trespassing”, foi o primeiro de um artista abertamente gay a alcançar o “Número Um” nas paradas da Billboard.

Neste verão, ele retorna à Europa, junto de Brian May e Roger Taylor do Queen, para apresentar algumas das maiores canções de rock já escritas. Enquanto no começo a parceria pareceu estranha – o vice-campeão de um reality show de TV cantando as músicas de uma das bandas de rock mais lendárias do mundo -, Adam rapidamente provou que merecia seu posto ao lado de Brian e Roger. É um papel que ele tem representado com mundo orgulho, e realiza com confiança e dignidade na mesma medida, ganhando os mais dedicados seguidores da banda enquanto traz uma nova legião de fãs.

Mesmo que o vocalista do Queen, Freddie Mercury, tenha morrido de uma doença relacionada a Aids em 1991, seu legado continua. Tanto Freddie quanto Adam são artistas conhecidos por terem identidades extravagantes sem desculpas, e não há dúvidas de que Freddie teria orgulho de ter inspirado seu “sucessor”.

Que conselho o Queen te deu sobre apresentar essas músicas?
Ser eu mesmo e não tentar imitar o Freddie. Inicialmente, eu tentava alcançar as mesmas notas e floreios, então eu aprendi a apenas cantar as músicas como elas funcionavam para mim, e no meu estilo.

É intimidador estar na frente dessas multidões?
Com certeza é uma responsabilidade. Acho que o primeiro show que fizemos juntos foi à frente de uma plateia muito grande, e eu logo fiquei intimidado por muitas razões: o fato de estarmos na Ucrânia na frente de… acho que umas 250 mil pessoas. Havia todo tipo de pressão. Eu pensei: “Oh, meu Deus, essa é a primeira vez que estou fazendo um show completo com eles. Músicas que eu nunca cantei antes na frente de pessoas e eles me dão uma plateia desse tamanho? Ótimo!”. Então, sim, houve momentos em que eu fiquei intimidado. Mas na altura em que nos apresentamos no Rio, já estávamos acostumados, então foi bem mais sólido. Eu me senti mais centrado. Brian e Roger estavam muito relaxados e isso ajudou.

Você ficou preocupado com a reação dos fãs do Queen?
Não muito, porque eu não estava tentando ser o Freddie. Eu estava cantando as músicas dele e do Queen, mas acho que fui claro desde o início que eu não estava tentando substituir o Freddie. É ótimo poder me apresentar e os fãs poderem ouvir essas músicas em um show, e em uma arena, como elas devem ser ouvidas.

Foi fácil se conectar com os fãs, e com Brian e Roger?
Mesmo no primeiro show eu vi que havia uma conexão com os rapazes e com a plateia. Para ser franco, as músicas são tão incríveis, e fazem a maior parte do trabalho. Essas músicas são tão icônicas e tem feito parte da vida das pessoas por tanto tempo, e as pessoas atribuem tantas lembranças pessoais a elas. Então, se eu fizer uma apresentação desastrosa, as músicas a salvam. Eu nem preciso aparecer!

Quais são suas músicas favoritas de apresentar?
Nós apresentamos “Save Me” algumas vezes, que tem uma mensagem muito bonita. “Somebody To Love” também tem uma mensagem ótima. Muitas das músicas que Freddie escreveu, especialmente aquelas antes de ele estar totalmente claro com sua sexualidade, são sobre, eu acho, suas explorações e questionamentos. Então quando você realmente as analisa, elas são sobre o seu processo de descobrimento de quem ele era exatamente, e quem ele queria ser. Eu consigo me relacionar com isso. Consigo entender isso.

Qual a coisa mais surpreendente que você soube ao pesquisar sobre o Freddie?
Eu penso sobre a bissexualidade do Freddie. Ele foi casado por um longo tempo e eu soube que ele realmente amava a esposa.

O que o Brian e o Roger disseram sobre isso?
Eles não aprofundaram muito sobre isso porque acho que era algo que Freddie mantinha privado. Mas eu com certeza acho que eles entendiam que ele sempre foi muito, muito apaixonado pela sua esposa e muito próximo dela, pois ele manteve contato com ela próximo ao fim. Ela meio que cuidou dele, eu acho, no final também, então havia algo muito comovente ali. Mas então, ao mesmo tempo, eu acho que no final de sua vida ele também estava com o Jim, que era seu parceiro. Para mim, há algo sobre a sexualidade de Freddie que ia além de gênero e focava em suas conexões com o espírito.

Como você mais se relaciona ao Freddie?
Através da música que ele deixou para trás, e as apresentando. Então para mim, interpretar as letras ou pedir ao Brian ou ao Roger alguma história por trás delas, é sempre interessante – tentar injetar às músicas alguma verdade e algum conhecimento interno do que ele poderia estar passando com o que ele estava explorando.

Quando você soube da sua morte?
Eu era bem jovem quando aconteceu. Eu soube tudo sobre isso depois, quando virei fã. Não sei se eu realmente entendia o que era Aids aos 10 anos, e eu não sabia quem ele era nesse ponto, então isso veio depois quando eu mergulhei no catálogo do Queen e entendi quem eles eram como uma banda de rock. Acho que foi aos meus 20 anos, quando me mudei para Los Angeles e estava vivendo sozinho e me apaixonando pelo rock n’ roll, que eu realmente descobri quem eles eram e comecei a me aprofundar. Foi quando a conexão com a alma e a história do Freddie se solidificaram para mim pela primeira vez, pois eu assisti a vídeos dele e o escutei. Eu li uma biografia e vi um documentário e pensei: “Esse cara era incrível como escritor, como cantor, como artista. Wow”. Ele era realmente à frente de seu tempo.

Você se relacionou de algum modo com ele estando no armário como um artista gay?
Eu não sei o quão “no armário” Freddie realmente estava. Quero dizer, foi em um outro tempo quando era tabu até discutir sobre isso na mídia. Acho que pode ter sido interpretado como se ele estivesse sendo irônico, mas… ele reconheceu isso desde o início. Houve entrevistas nas quais perguntaram se ele era gay e ele ficou tipo, “Sim, como uma flor narciso… gay como uma flor narciso”. E não sei se pensaram que como ele estava sendo irônico, ele não estava sendo sério. Mas ele nunca disse realmente, “Não, eu não sou”. Ao ver artistas se assumindo enquanto eu estava começando minha carreira, quando eu descobri que eles eram gays, fiquei muito animado porque pensei: “Isso significa que há pessoas na indústria, estrelas que as pessoas amam, que são gays. Significa que eu posso fazer isso”. Isso verdadeiramente me deu muita coragem, descobrir que alguns desses artistas eram LGBT.

Que idade você tinha quando se assumiu?
Eu tinha 18 anos.

E então você se assumiu pela segunda vez – na frente de milhares pessoas na TV.
O que é sempre muito interessante para mim: “Você se assumiu ao público”. Significa para a mídia, certo? Então foi apenas por oito meses que eu nunca permaneci na mente do público como gay. Sempre foi engraçado para mim as pessoas ficarem tipo, “Oh, então você se assumiu”, e eu respondo, “Bem, eu já era assumido”. Não era uma questão até que eu tive que me assumir outra vez. Como foi estar sob os olhos do público? Foi uma experiência muito interessante. Nunca me pareceu que eu estava no armário. Eu estava sendo apresentado às pessoas nesse ponto. No American Idol, você não tem realmente que dar entrevistas fora do show, então de certa maneira eu sempre senti que estava assumido. Eu apenas não havia sido inteiramente introduzido às pessoas ainda.

Você se sentiu pressionado a não falar sobre a sua sexualidade? Ou era óbvio para você quem você era?
Foi um tipo de reflexão tardia. Eu fiquei tipo, “Sim, sim é claro que sou gay”. Eu não sentia na época que era uma grande declaração. Foi interessante para mim, porque foi a primeira vez que eu percebi que havia essa desconexão entre o público olhando para alguém e então ser esse alguém. Eu sei que isso soa um pouco abstrato e é um jeito meio confuso de descrever, mas quando você está no centro disso e você é essa pessoa, com certeza há um ajuste entre o conhecimento do público e vida pessoal. Olhando para trás agora, eu não havia percebido que havia tal declaração a ser feita, e sou realmente grato por ter tido a oportunidade de fazer isso o mais cedo possível.

Houve alguma retaliação da gravadora?
Não, nunca houve algo como alguém coçando a cabeça e pensando: “Isso vai se conectar com as pessoas? Isso vai funcionar?”. Dito isso, com certeza houve uma aversão a “ser gay demais”. Isso causou uma perturbação porque, e isso é um pouco verdade, há uma espécie de ideia que você pode se identificar como você quiser, mas do minuto que você passa a mostrar tudo isso, passa a ser uma situação diferente.

Houve algo que você não era autorizado a fazer, para se relacionar mais com um público maior?
Isso é interessante, porque nunca foi algo tão claro assim. Nunca foi: “Essas são as regras”. Ninguém nunca disse: “Você pode fazer isso, você não pode fazer isso”. É mais sobre a luta e o estresse na minha própria cabeça, tipo: “O que eu quero expressar agora, o que eu quero dizer, o quanto eu posso impulsionar isso antes que alguém se sinta desconfortável?”. Como um artista pop, você quer que as pessoas se identifiquem a você, e você começa a se perguntar: “Isto é algo relacionável? Quem são os meus fãs?”. E então em algum ponto você também tem que apenas equilibrar tudo isso com essa sensibilidade, a sensibilidade de um artista, com sua própria personalidade e com quem eu realmente sou, e quem eu sou como artista, como alguém que quer expressar a si mesmo. É um equilíbrio interessante. No começo, foi complicado descobrir, porque no Idol tudo o que eu tinha de fazer era escolher uma música e cantar com tudo o que eu tinha, me apresentar por 90 segundos – e isso é muito simples, na verdade. Então, ao sair do Idol e me tornar alguém que lança músicas, que eu co-escrevi e que ninguém havia ouvido antes, e criando vídeos para elas, e fazendo ensaios fotográficos, e dando entrevistas e sendo “alguém”, de repente isso tudo é muito, muito mais uma experiência interativa.

Você está trabalhando em músicas novas. O Queen as inspirou?
Obviamente, o Queen realmente me inspirou. Há algumas coisas sobre os anos 70 e 80 que eu amo, mas, mais do que nunca, eu acho que estou sendo influenciado pelos meus favoritos, pelas pessoas que me fizeram querer fazer música desde o início.

Tem um estilo específico?
Não. Eu não acho que esse álbum tenha um gênero específico. Eu não acho que você deva permanecer em uma caixa. Isso é perigoso. Eu acho que há muitas influências diferentes nele. Tem rock, punk, soul, disco. Tem umas coisas do tipo cantor-compositor pop dos anos 70, e alguns toques dos anos 80 também. Dito isso, também tem muitas influências modernas, então é meio que uma fusão.

Qual música do Queen você gostaria de apresentar com um artista pop atual?
Há alguns anos, na Austrália, a Lady Gaga se juntou a nós para apresentar “Another One Bites The Dust”. Eu sou inspirado por ela, ela é forte. Eu gravei uma música que ela escreveu, chamada “Fever”, para o meu álbum de estreia. Ela é uma mulher brilhante e muito movida pela criatividade. Espero que possamos nos apresentar juntos novamente, algum dia.

Se você tivesse tido a chance, qual música você gostaria de ter cantado com Freddie?
“Save Me”.

Qual outro artista gay teve mais impacto na sua vida quando eles se assumiram?
O George Michael foi um vocalista incrível com alguns sucessos realmente sexys. Ele manteve sua classe, manteve sua cabeça erguida, e continuou criando músicas ótimas que refletiam a sua verdade. Ele realmente incorporou o seu orgulho na sua arte.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Bruna Martins
Fontes: Male Fashion Trends e Attitude Magazine

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