Adam Lambert discute sobre a homofobia na indústria da música em encontro com outros artistas

Há alguns dias atrás publicamos aqui e aqui, que Adam participou em 20/05 de um evento especial intitulado “Out to Brunch” com um grupo de artistas, cujo objetivo foi para falarem sobre a representatividade no mundo da música e discutir a homofobia no meio. Adam contou que o processo “foi como ser jogado em uma panela de água fervente”. Confira abaixo o que alguns dos convidados como o próprio Adam (em destaque), Troye Sivan, Justin Tranter, entre outros, contaram a Variety sobre o tema discutido:

“Há espaço para todas as pessoas LGBTQ terem sucesso, não apenas uma”, disse o compositor Justin Tranter no evento inaugural “Out to Brunch”, apresentado por Lucas Keller do Milk & Honey.

“Estamos em West Hollywood, onde o brunch é definitivamente uma coisa de domingo”, observou Parson James, referindo-se à primeira reunião do “Out to Brunch”, que celebrou alguns dos mais bem-sucedidos compositores gays, artistas e outros criadores, ontem no restaurante Cecconi’s. “Os domingos são para os brunches regados a bebida, sabe? Todo mundo está super deprimido nas noites de sábado, então aos domingos você precisa continuar bebendo”, brincou Lucas Keller, presidente e fundador da empresa de gerenciamento Milk & Honey, que co-organizou o evento com os cantores e compositores James “JHart” Abrahart e Brett “Leland” McLaughlin. Então ele secou um Bloody Mary.

“Estou muito animado por estar aqui”, disse o garoto-propaganda gay da indústria da música, Troye Sivan, enquanto trocava beijos de ar com admiradores. “Eu fico constantemente tão estarrecido pelo talento e influência que a comunidade LGBTQ tem, especificamente na música. Você sabe, pessoas queer têm escrito suas músicas favoritas desde sempre; o talento sempre esteve lá. Ser capaz de reconhecê-lo publicamente e encontrar a comunidade nele é tão incrível. E ver isso celebrado nesta sala e todos se unindo e se misturando, convivendo, criando estratégias e organizando encontros para compor música? É tão divertido. Nada me traz mais alegria do que ver meus amigos queer terem sucesso.”

“Eu me ressinto do fato de que tendo 34 anos eu não vivi a era David Geffen-Barry Diller”, disse Keller sobre sua inspiração para o encontro. “Foi nos primeiros dias de Hollywood, antes de qualquer um desses caras terem se assumido, e ninguém disse as suas esposas que eles eram gays. Eles eram a máfia gay – a ‘máfia de veludo’, por assim dizer – as pessoas que mandavam na cidade. Então, a ideia era: podemos juntar essa comunidade das pessoas LGBTQ no entretenimento – música, TV e cinema – e fazer com que as pessoas se conheçam? Este é um grupo de pessoas que compõem os Top 40 Charts.” (O fato de que também aconteceu de ser o aniversário da ex-namorada de Geffen, Cher, assim como o dia do Billboard Music Awards, não passou despercebido a McLaughlin:

“Esta também é a festa de aniversário não oficial da Cher“, ele proclamou.

“Nós ficamos em desvantagem com os executivos, então, como pessoas criativas, é importante que permaneçamos unidos e nos sintamos como uma família”, disse Abrahart, explicando seu interesse em servir como co-anfitrião. “E resistir à tentação de ser competitivo e minar uns aos outros porque isso já acontece, de qualquer maneira.”

“As pessoas LGBTQ são marginalizadas no mundo e no mundo da música, então acho que há ainda mais amor e apoio aqui”, concordou o prolífico compositor Justin Tranter, ex-vocalista da banda Semi Precious Weapons, enquanto olhava ao redor da sala. “As pessoas me dizem às vezes: ‘Você está nervoso porque as pessoas estão dizendo que Brett McLaughlin – Leland – é o novo Justin Tranter?’ Eu fico tipo: ‘Hum, primeiro de tudo, há espaço para todas as pessoas LGBTQ terem sucesso, não apenas uma. E segundo: Isso seria incrível se houvesse 20 grandes compositores LGBTQ no topo das paradas. As mulheres experimentam isso no nosso ramo de negócios, também. Eles dirão: ‘Essa jovem é a nova fulana’. Porque na mente das pessoas, só pode haver uma pessoa de cor bem-sucedida, apenas uma mulher bem-sucedida, apenas uma pessoa LGBTQ bem-sucedida. O que obviamente não é o caso.” (Reconhecendo a falta de diversidade tanto racial quanto de gênero no brunch, Tranter, a autoproclamada “rainha da justiça social da indústria da música”, apontou que ele havia convidado Shea Diamond, uma artista trans de cor, mas ela teve que voar para Nova Iorque para um evento de última hora.)

“Agora, o que há de tão surpreendente na cena pop de LA é que, na maior parte, todos colaboram“, acrescentou Tranter. “Então, se Ilsey [Juber, que por acaso era a única compositora presente] tem um grande hit, eu não pensei: ‘Oh, porra, eu deveria ter estado nessa sessão.’ O pensamento que passa pela minha cabeça é: ‘Oh, Ilsey teve um hit enorme. Eu provavelmente vou compor com ela em alguns meses. E então isso só ajuda a todos. No passado, as pessoas tinham seus grupos e trabalhavam apenas com seus grupos. Mas estamos em um momento realmente colaborativo que ofusca o lado sombrio do espírito competitivo.” Em outras palavras, apesar de Tom Campbell, produtor executivo de longa data de “RuPaul’s Drag Race”, ter vindo para aumentar a conscientização sobre as músicas do tipo “Lip Sync for Your Life” estarem na “lista de espécies ameaçadas de extinção”, este encontro em particular foi notavelmente livre de shade, conversa fiada e brigas de gato.

Mas como o vinho fluía livremente, a conversa inevitavelmente se voltava para a homofobia na indústria. “Se eu acho que é predominante? Sim” – disse Abrahart. “Fazer coisas como essa ajuda a ser erradicada, mas há definitivamente o lado ruim. Eu tive um número um em música country um ano e meio atrás com Keith Urban. Eu não vou mentir – eu estava um pouco assustado com a comunidade de Nashville por causa do que se ouve. Mas eles não poderiam ter sido mais receptivos”.

E Abrahart não está sozinho. “Às vezes até me sinto estranho quando entro em uma sessão e sei que serão produtores e artistas heterossexuais”, admitiu Ferras Alqaisi, que escreveu “Bon Appétit” para Katy Perry. “Felizmente, nunca aconteceu nada que me fizesse sentir desconfortável, mas está lá fora. Eu ouço histórias.”

Justin Tranter, por exemplo, não é estranho a experiências homofóbicas na indústria, que ele afirma experimentar “todos os dias.
Seja passivo ou agressivo, sempre há algo”
, ele disse à Variety. “Não me colocam em certas sessões porque eles pensam: ‘Ah, ele nunca entenderia isso’. Esse tipo de coisa acontece o tempo todo. Quando eu era artista, era bem pior. Me pediram para usar menos maquiagem, me disseram para não usar pronomes do mesmo sexo, o que é parte da razão pela qual eu parei com a banda. Porque era exaustivo.”

“Quanto à homofobia flagrante? Não, eu não senti isso”, acrescentou Sivan, que ao mesmo tempo reconheceu que jovens artistas se sentem pressionados a permanecer no armário. “Eu ainda penso assim, sim”, disse ele. “Estamos todos pressionando pela mudança, mas temos um longo caminho a percorrer. Então eu não culpo ninguém por fazer essa escolha. Eu gostaria de pensar que eventos como este estão criando um espaço mais seguro para que todos sejam abertos sobre quem são, mas eu não sei se já chegamos lá”.

“Forçar as pessoas a entrar no armário – ou fazê-las sentir que não podem ser elas mesmas sem enfrentar algum tipo de crítica – pode ser mortal, especialmente se você estiver sob os olhos do público”, acrescentou Parson James, que observou que usa brinco de cruz em memória de George Michael. No início de sua carreira, James teve sua própria luta para forçar a porta do armário a se abrir. “Fui contratado por uma grande gravadora que era dirigida por pessoas homossexuais e eles me desencorajaram a falar muito sobre minha sexualidade”, lembrou James. “Isso foi doloroso pelo fato de você estar em uma posição de poder para empoderar pessoas como eu – e pessoas como as que estão chegando e querem se expressar. Foi uma realização sombria sobre a monetização e o produto que você se torna quando está na indústria”.

James fez uma pausa e olhou ao redor do restaurante. “Há pioneiros aqui como Adam Lambert, que foi ele mesmo de coração e colocou seu pé para frente e não se segurou”, ele disse. “Muitas pessoas o criticaram pelo que ele fez, mas, para ser honesto, acho que se pessoas como ele não tivessem aparecido quando as conversas eram tão veladas, não teríamos pessoas como Troye ou eu.”

A revelação do American Idol que construiu sua carreira solo, estava sentado sozinho com um olhar desamparado em seu rosto enquanto o brunch chegava ao fim. Lambert comparou sua experiência ao se assumir, a “ser jogado em uma panela de água fervente.”

“Foi uma época diferente”, disse ele à Variety. “Quando eu estava entrando na música, parecia uma batalha difícil. Quero dizer, eu não acho que senti que alguém estava me bloqueando ou me rejeitando porque eles realmente tinham um problema com os gays”, disse Lambert sobre sua equipe na gravadora. “Mas sempre houve uma preocupação – especialmente quando comecei – de: como podemos conectar isso com um público mainstream? Muitos desses caras nunca tinham feito isso antes, as pessoas com as quais eu estava trabalhando na época. Esta era uma situação nova e não havia fórmula. Havia um pouco de medo em torno disso, cercando o desejo de sucesso.”

Evidentemente, Lambert também lutou contra a homofobia internalizada. “Houve momentos depois de um ano ou dois em cena em que comecei a ficar inseguro”, disse ele. “Comecei a pensar: ‘Preciso mudar quem eu sou para me encaixar ou alcançar o sucesso?’ A coisa que aprendi da maneira mais difícil é que você não pode agradar a todos. E, finalmente, as pessoas que se dão bem nesse negócio tendem a ser as pessoas que são quem são. Eles não estão tentando fazer parte de uma tendência ou se vestir como outra pessoa ou se tornar palatável. Então agora estou em um ponto da minha carreira em que estou sendo fiel a quem eu sou; estou sendo autêntico; estou sendo eu mesmo e não estou pedindo desculpas por isso.”

Até agora, pelo menos, uma atitude sem remorso provou ser uma fórmula vencedora (para não mencionar um movimento de marketing bem-sucedido), para Sivan. “Eu diria que tenho muita sorte por ter entrado na indústria na época em que entrei – as pessoas estavam prontas para isso”, disse ele à Variety. “Políticas de identidade são um assunto muito interessante. Você sabe, não é legal ser homofóbico ou racista ou sexista ou o que for. É tão desaprovado agora que as pessoas não tinham escolha. As pessoas diziam: ‘É para onde as coisas estão indo e nós temos que abraçar isso’. E então eu peguei aquele movimento no momento certo e surfei naquela onda.”

“Às vezes me pergunto para quem eu tenho apelo”, acrescentou Sivan, refletindo sobre sua crescente base de fãs. “São garotas? São garotos? São gays? Eu não sei. E acho que minha resposta é não pensar nisso e apenas fazer o que parece certo”.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Stefani Banhete
Fontes: @Cecycat1, @Variety e Variety

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