Review by Westword do Show Queen + Adam Lambert em Denver (CO, EUA) – 06/07

Confira a review do Show de Queen + Adam Lambert realizado em Denver (CO, EUA) em 06 de Julho, feita por Kyle Harris do Westword:

O Queen de Freddie Mercury ajudou os Queers a sobreviverem. E o Queen de Adam Lambert?

Queen ainda arrasa. E porque eles não deveriam? As pessoas sentem falta de Freddie Mercury.

No show de 6 de Julho em Denver, o guitarrista do Queen Brian May foi envolvido em memória de seu velho amigo. Os fãs certamente foram. Até Adam Lambert, que era uma criança quando Mercury morreu, não parou de falar sobre o quanto todos sentimos falta do deus do rock e o quão impossível é ocupar o lugar dele. Não é que Lambert não venha tentando; ele vem cantando pelo notório microfone de Mercury pelos últimos cinco anos, trazendo algo novo e tudo muito impecável para o papel de vocalista do Queen, mesmo com projeções em vídeos de Mercury aparecendo para o público.

Nossas memórias são difíceis de perderem-se e no caso de Mercury, nós não deveríamos deixá-las se perderem nunca.

No Centro da Pepsi, assistindo ao imensamente talentoso Lambert andando pelo palco, cantando músicas clássicas do Queen – sua juventude fazendo May e o baterista Roger Taylor parecerem tão mais velhos – eu jurei nunca parar de sentir saudades de Mercury. Não importa o quão bom Lambert seja (e ele é bom). Não importa o quanto eu deseje que a banda continue e toque música nova, faça mais músicas, escreva novas canções.

Mas não pode. E não deveria, não como Queen. Porque é mais importante que estes músicos nesta configuração mantenham nossas memórias de Mercury acesas.

Ele e sua geração de homens queers deveriam ter sido nossos modelos, mas eles morreram no seu auge.

Foi difícil olhar para Lambert – a estrela sexy do reality show que projeta uma inigualável confiança – cantar músicas que são sobre superar insegurança quando isto é um sentimento que ele não parece pronto para expressar.

A única vez que Lambert compartilhou insegurança no palco foi quando disse que ele jamais poderia ocupar o lugar de Freddie Mercury.

“Eu sou um fã como vocês, pessoal”, Lambert disse. “Eu sei que alguns de vocês podem dizer ao seu vizinho perto de vocês, ‘Bem, ele não é Freddie Mercury’, eu sei, eu sei. Acreditem em mim, eu sei. Freddie Mercury, senhoras e senhores, é um deus. Aplaudam Freddie Mercury. Vocês amam Freddie. É realmente uma honra estar aqui com estas lendas e trazer estas canções à vida para vocês esta noite, porque eu sei que Freddie inspirava vocês como ele me inspirava, então obrigado por me darem esta chance. Vocês sabem, ele foi um dos melhores cantores de todos os tempos, compositores, símbolos de estilo. Eu estou tentando manter isto, mas vocês sabem… uma das coisas que amo sobre Freddie quando assisto seus vídeos dos shows antigos – alguns de vocês estavam lá em carne e osso na primeira vez – quando ele subia ao palco, ele não se importava com o que ninguém pensava. Se você tinha um problema com Freddie, quer saber? Ele não dava a mínima”.

Isto levou à música de Lambert “Two Fux”; Queen acompanhou.

Quando Lambert estourou com esta música glam-rock, um hino sobre como ele não se importa com o que as outras pessoas pensam, eu não pude evitar imaginar quantos “não dou a mínima” Mercury disse – teve que dizer – quando ele apresentava letras sobre ser espancado e ensanguentado, doente e sozinho, e ainda superando aflições. (Sempre me dou conta do quanto as letras de tantas músicas de Queen evocam a crise de Aids, mesmo que elas tenham sido escritas anos antes disto).

Diferente de Lambert, Mercury não tinha a opção de não dar a mínima; ele só tinha a opção de sobreviver, de por pra fora de seu peito e andar num mundo que desejava que os queers estivessem mortos.

Nós podemos agradecer aos ativistas LGBTs por lutarem pela libertação, por criarem um mundo onde a homossexualidade não é uma sentença de morte nem um alvo nas nossas cabeças, para pavimentar um caminho para que alguém tão bonito e talentoso como Lambert possa trazer ao palco e expressar uma serena confiança, não para não dar a mínima, onde um de seus maiores problemas é que as pessoas murmuram que ele não é tão bom quanto Mercury.

Quando eu penso sobre o que Queen já teve – e o que faltava quando eles tocaram em Denver – não é a habilidade de Mercury em cantar ou sua extravagância, já que nenhum dos dois falta à Lambert. Falta o conflito vestido no rosto de Mercury, aquele estranho, orgulhoso visual nascido do grão que levou a viver uma aberta vida queer em uma cultura que queria destruir os homens que amavam homens.

Incorporar a força e a insegurança é o que o Queen de Mercury fez para minha geração de juventude gay e bissexual. Suas músicas se tornaram nosso hino de sobrevivência, de nossas infâncias à meia-idade.

E Lambert, com sua suave milenar confiança e estilo impecável de apresentação, mostra coisas que não são tão dolorosas ou mesmo tão estranhas estes dias. E os homens queers não estão apenas sobrevivendo – nós estamos brilhando. Lambert nos lembra que nós estamos aparentando bem e cantando forte, a vergonha seja condenada.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Tabata Martins
Fonte: Westword

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