The Advocate : “Adam Lambert é uma ‘Killer Queen'”

Confira a seguir a entrevista que a Revista The Advocate recentemente realizou com Adam Lambert.

Adam Lambert é uma “Killer Queen” [Rainha Matadora]

Recém-saído de sua turnê Norte-Americana com o Queen, Adam Lambert reflete sobre o legado de Freddie Mercury, o advento da geração ‘pós-gay’ na música e o lançamento de sua campanha ‘Live Proud’.

Em uma recente performance da canção “Killer Queen”, na turnê nacional da lendária banda de rock com o concorrente do American Idol, Lambert se reclina em um divã de veludo roxo em frente à uma plateia cheia tanto de fãs fervorosos do Queen quanto de sua fanbase mais nova. Usando uma jaqueta com spikes e franjas, assim como o delineador que é sua assinatura, o cantor toma um gole de champanhe de uma garrafa antes de espirrá-la de volta para a plateia barulhenta. É um movimento de rockstar e Lambert, 32 anos, que encantou palcos em 24 cidades americanas neste verão ao canalizar o falecido vocalista Freddie Mercury, emergiu como um astro de seu próprio modo.

Nos cinco anos desde sua audição para o American Idol com “Bohemian Rhapsody”, ele fez história ao se tornar o primeiro artista pop abertamente gay a ter um álbum na Billboard 100. De muitas maneiras, ele é uma escolha natural para o trono do Queen, cujo vocalista inspirou gerações e abriu caminho para músicos como Lambert, com sua personalidade extravagante.

Mas para o cantor de “Whataya Want From Me”, preencher as leggins pretas com estampa de diamante de Mercury não tem sido uma tarefa fácil. A turnê, que aconteceu de 19 de Junho até 28 de Julho tem sido um número de equilibrismo entre prestar respeitos à música de Mercury e ser fiel a sua própria marca.

“Sou o Adam no palco. Não estou fazendo o papel de Freddie.” Lambert aponta, enquanto se encaminha para sua última performance com o Queen na América do Norte. “Não estou tentando ser ele. No entanto, ele é tão incrível. Suas gravações e suas performances eram tão inacreditáveis que eu não posso evitar de me sentir inspirado por elas. E em um nível técnico, eu não quero me afastar muito da música que eles criaram, mas eu quero colocar minha própria marca em tudo.”

“É um grande desafio, também, porque tem havido muita expectativa e dúvida”, ele acrescenta. “Você tem uma mistura de pessoas na plateia que são fãs fervorosos do Queen e eu tenho meus fãs que estão indo aos shows meio que por minha causa. É interessante colocá-los todos juntos e ver o que acontece.”

A experiência de cantar clássicos como “Killer Queen”, “Bohemian Rhapsody”, e outras no palco, tem sido “emocionante”, Lambert diz, em parte por causa da reação da plateia, que não tem sido nada menos do que entusiasmada.

“Poder cantar essas músicas icônicas, é muito excitante fazer essas pessoas cantarem junto, e dançar e bater palmas”, ele diz. “Fazer coisas novas que não são muito conhecidas – é um tipo diferente de show.”

Lambert conheceu o trabalho do Queen aos dez anos de idade, ao ver os personagens principais de ‘Wayne’s World’ (Quanto Mais Idiota Melhor, no Brasil), Mike Myers e Dana Carvey cantando “Bohemian Rhapsody” durante os créditos de abertura. Depois do filme, ele perguntou ao seu pai qual era o nome daquela banda, e ele respondeu “Oh! Esse é o Queen!” e em seguida dividiu com Lambert alguns de seus álbuns da banda Britânica em sua coleção.

Foi apenas dez anos depois que Lambert realmente mergulhou em seu caso de amor com o Queen e outras músicas dos anos 70. As performances de Mercury nos palcos, em particular, deixaram uma impressão permanente.

“Eu me lembro de ver algumas filmagens antigas dele e pensar ‘Nossa, esse cara está pegando fogo! Que artista incrível!’” recorda Lambert, cuja presença de palco durante o American Idol foi elogiada com comparações com Mercury, de fato, a memorável performance ao lado do Queen no popular programa da Fox pressagiou sua colaboração atual.

Mas Lambert não soube sobre a orientação sexual de Mercury até depois de se tornar um fã, uma experiência comum entre os ouvintes de um dos grupos musicais que mais venderam no mundo, cujas canções como “We Will Rock You” e “We Are The Champions” são hinos em estádios esportivos por todo o mundo. Ao mesmo tempo em que saber disso “me deixava muito animado, porque eu pensei, ‘Oh nossa, este é alguém que é um grande astro e um ícone do rock and roll1′”, Lambert também está feliz pela sexualidade de Mercury continuar como uma nota à parte na trilha sonora da vida de um dos grandes nomes da música.

“Não deve fazer diferença se você é gay, hétero, bi, negro, branco, o que quer que seja, homem ou mulher. Não é esse o ponto. Não é isso o que nos aproxima. O que nos aproxima é a música”, Lambert diz. “Nós estamos entrando em um período de tempo em que estamos nos dirigindo a uma sensibilidade ‘pós-gay’, que é ‘E daí?’ Mas precisamos lutar muito para chegar aqui.”

Apesar de ser fácil traçar paralelos entre as vidas de Mercury e Lambert, os dois músicos tiveram experiências muito diferentes como homens gays devido a suas respectivas gerações. Um homem intensamente discreto, Mercury, que nasceu em 1946 na Tanzânia, raramente dava entrevistas, apesar de a mídia especular sobre sua orientação sexual com frequência, devido as suas performances chamativas e rumores de casos amorosos com homens. Ele se identificou como bissexual para os amigos, assim como para sua companheira de longa data, Mary Austin, para quem ele deixaria sua propriedade. Depois de anos de boatos de que ele tivesse contraído HIV devido à deterioração de sua saúde e aparência, Mercury anunciou que ele tinha o vírus quando estava com 45 anos. Ele morreu menos de dois dias depois, devido a uma doença relacionada à AIDS.

Lambert, por outro lado, diz que se assumiu aos 18 anos, apesar de sua orientação sexual não ter sido de conhecimento público até que fotos dele beijando outro homem vieram a público durante sua ascensão à fama na oitava temporada do American Idol. Um destaque em sua temporada, ele eventualmente ficaria em segundo lugar, atrás de Kris Allen e muitos especularam que sua sexualidade pode ter influenciado o resultado da competição, que é votado por telespectadores de todo o país. Apesar disso, Lambert desfruta de sucesso comercial e de crítica, e ainda é um dos nomes mais reconhecidos a saírem do American Idol. Ao longo do caminho ele também foi capaz de encontrar uma comunidade de apoio com outros músicos assumidos.

“Eu definitivamente fiz algumas amizades com outros músicos assumidos que eu realmente respeito: Jake Shears do Scissor Sisters, Sam Sparro. Eu conheci Sam Smith em Londres. Ele foi incrível. Eu definitivamente penso que há certa fraternidade aqui”, ele diz.

Apesar destas conquistas e avanços na igualdade LGBT que aconteceram desde os tempos de ouro de Mercury, Lambert reconhece que ainda há desafios sistêmicos em ser gay na indústria da música, que ultimamente se resume a negociabilidade. Executivos ainda questionam se músicos assumidos podem vender discos, particularmente se este é um músico solo e não parte de uma banda. O fardo de se carregar uma marca sozinho, traz dificuldades únicas, mesmo em bastiões homofóbicos como as arenas esportivas, Lambert admite.

“O negócio da música é difícil, eu acho, porque o artista está diretamente relacionado às vendas”, ele diz. “No esporte, é um jogador que joga por seu time, e quantos outros jogadores estão no time com ele? É uma coisa de grupo. Um esforço em grupo. Então é um jeito diferente de se lidar com o lado comercial disso.”

“É difícil com a música”, Lambert continua. “Com atores é parecido, e tantos deles querem ficar no armário porque eles não querem que isso afete seus negócios. Eles não querem lutar uma batalha difícil com os personagens que eles estão tentando criar. É uma pena, porque eu gostaria que fosse diferente, mas eu acho que é a realidade.”

Esta realidade é ilustrada nos vídeos de grandes artistas gays como Lambert ou mesmo Elton John, nos quais uma representação de relacionamentos entre o mesmo sexo, ou mesmo um beijo, estão visivelmente faltando. Apesar disso, Lambert tem notavelmente, expandido as barreiras destas regras não ditas. Em 2009, ele beijou seu baixista no palco do American Music Awards, fazendo manchetes e chocando audiências nos EUA.

“Você tem que fazer uma escolha: Eu quero ser isso pela causa, ou eu quero ser capaz de dirigir meu negócio de uma determinada maneira? É difícil. É muito difícil”, ele diz. “Mas cada um é diferente e para mim, pessoalmente, minha jornada tem sido, desde o minuto em que eu pude falar sobre minha vida pessoal depois do Idol, eu imediatamente o fiz, porque eu queria ser aberto sobre isso. É o tipo de pessoa que eu sou e essa é uma afirmação que eu quero fazer. Mas não foi sem desafios.”

Mesmo enquanto a indústria continua a fechar portas para tanto artistas, Lambert aponta para uma mudança significativa para o que ele chama de um “lugar pós-gay”. Ele sustenta que as gerações mais novas não sofrem com os estigmas que prevaleciam na época de Mercury e eles se recusam a serem classificados por rótulos em suas identidades.

“Esta nova geração que está vindo é como, ‘Ei, isso não importa… Minha sexualidade não determina que tipo de música eu escuto, ou o tipo de atividade com que eu me envolvo, ou esse é o tipo de pessoas com quem eu saio. Está chegando ao ponto onde somos mais comuns, e podemos fazer o que quisermos e podemos estar com quem quisermos’”, Lambert diz. “Então não há muita segregação… e eu acho que isso é realmente excitante, porque eu não acho que deveria importar.”

De forma a continuar expandindo este espaço para a comunidade LGBT e além, Lambert está servindo como porta-voz da campanha “Live Proud” da AT&T pelo segundo ano consecutivo. A iniciativa encoraja todas as pessoas – independentemente de orientação sexual – a compartilhar memes ilustrando seu orgulho através das mídias sociais. Cinco sortudos participantes da campanha que termina em 10 de Agosto, terão a chance de ir a um evento particular com Lambert em Nova York. O Objetivo, ele diz, é “fortalecimento”, e dar aos outros “uma voz para serem o que e quem eles são”.

De muitas formas, essa mensagem ecoa as lições que Lambert aprendeu ao cantar as palavras de um de seus próprios ídolos durante sua turnê com o Queen.

“Eu sinto que isso é uma das coisas que eu mais respeito sobre ele. Ele realmente nunca se desculpou por nada”, Lambert diz sobre Freddie Mercury. “Ele apenas era quem ele era. E se tem alguma coisa que eu posso tirar disso, é que às vezes, especialmente no mundo de hoje, há uma declaração muito forte em apenas ousar ser quem realmente somos.”

“Nós finalmente estamos entrando em um lugar na música onde a sexualidade não é o ponto principal. É um tempo muito excitante”, Lambert conclui, acrescentando uma ressalva à lá Simon Cowel para gays aspirantes a músicos: “Mas só se a música for boa!”

Fontes: Adam Lambert TV e The Advocate

Tradução: Stefani Banhete

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