TimeOut da Nova Zelândia Entrevista Brian May

A New Zealand Herald publicou no último final de semana, a entrevista que a TimeOut realizou com Brian May durante o ensaio para o show da turnê em Toronto. Confira a seguir.

Brian May do Queen: Don’t Stop Me Now [Não me parem agora]

Com o Queen a caminho de Auckland, com Adam Lambert como vocalista, Brian May fala sobre Russell Baillie, o porquê da banda continuar, a sua vida fora do palco e de ser um herói da guitarra

Quando não está a ser o herói da guitarra do Queen, – um músico que ajudou a definir os padrões modernos do dedilhar explosivo, – Brian May passa muito tempo a observar através de telescópios.

É uma paixão que, com certeza, leva a gracejos fáceis e comparações cósmicas. Apesar de tudo, ele é astronomicamente rico.

A estimativa das vendas dos álbuns do Queen durante os anos é de cerca 150 a 300 milhões. Ele escreveu muitos daqueles hinos, muitos dos quais, 30 anos após terem sido escritos, foram reavivados para o musical de sucesso We Will Rock You.

May conhece bem a percepção de que o Queen andou em órbita de uma super estrela com um nome planetário – um Freddie Mercury, – e que assim que ele morreu, O Fim estava destinado.

Essa teoria foi completamente pelos ares.

Ou é assim que soa falar com um Dr. May de 66 anos alegre e interessante, CBE [Comandante do Império Britânico] e doutorado em astrofísica. Há uns anos, completou o seu doutoramento que tinha sido interrompido durante os dias de pós-graduação na altura em que a ascensão da banda começou.

A TimeOut encontrou May no meio de um soundcheck, em Toronto, outro show da turnê norte-americana anunciado como “Queen + Adam Lambert”, que irá até à Nova Zelândia e Austrália em Setembro.

Lambert iria parecer uma prova de outra comparação astronômica: May percebe a estrela quando a vê.

Apesar de May dizer que não aprova, necessariamente, o mundo dos reality shows televisivos como o American Idol, de onde Adam Lambert saltou – apesar de um estilo teatral característico que o levou a uma carreira solo internacional, – ele não tem palavras suficientes para descrever o cantor que nasceu um ano após “Another One Bites The Dust” dominar as rádios.

“Ele combina incrivelmente bem e do ponto de vista dos fãs do Queen, Adam é 100 por cento melhor do que alguém tenha imaginado. Adam tem uma voz num bilhão e o seu alcance é estupendo. Ele aprendeu, tal como Freddie, a tomar as rédeas. Já não é nenhum garoto, as suas interpretações das músicas são de cortar a respiração.”

May refuta a noção de que ele e Taylor estão a tocar numa banda de tributo a eles mesmos, agora com outro membro, tal como fizeram durante pouco tempo no fim dos anos 90 com o cantor da Free e Bad Company, Paul Rodgers.

“Uma banda de tributo reproduz aquilo que nós costumávamos fazer, enquanto que o que estamos a fazer é levar isto a outra dimensão, envolvendo isto de forma diferente. É uma alegria.”

“No nosso show temos poucos pontos de referência a Freddie, temos a consciência que poderia ser demais ou de menos. Mas achamos que fizemos bem em fazer esta ligação e reforçar que Freddie, de certa forma, ainda continua a fazer parte disto.”

Então o que é que ele acha que Freddie acharia de tudo isto?

“É óbvio que isso está na minha mente constantemente. Tenho a certeza que iria adorar, porque nós estamos a fazer coisas excelentes com as músicas que ele deixou e as coisas em que todos colaboramos. Ele iria ficar espantado com Adam, disso não tenho a menor dúvida.”

“Provavelmente iria dizer ao Adam: ‘seu filho da mãe’ – no bom sentido.”

May diz se lembrar bem da última aparição do Queen na Nova Zelândia. Foi em 1985, o ano em que a banda, que parecia estar a entrar em decadência depois dos sucessos do início dos anos 80, mostrou quem era o chefe no Live Aid.

“Oh Meu Deus! Apostas que eu me lembro. Foi um dos melhores momentos das nossas vidas. Foi um dia estupendo, em cima e fora do palco. Auckland foi simplesmente incrível. Incrivelmente memorável…”

Hmm, porquê?

“Nem te conto. Foi um dia muito estranho. O Tony Hadley (Spandau Ballet), que era um grande amigo do Freddie estava lá e acho que o show foi atrasado por problemas técnicos. Eles, os dois beberam muito antes do concerto começar.”

Mercury trouxe Hadley ao palco para um dueto. Uma review da época dizia que os dois cantores pareciam estar a cantar duas músicas diferentes, – o que fez May rir: “Mas ele adicionou-lhe uma certa atitude.”

“Foi um acontecimento único. Freddie nunca estava sob o efeito da bebida ou das drogas antes de entrar em palco. Exceto nesta noite. Se o YouTube existisse naquela época…”

“Desse modo foi memorável para nós e algo entusiasmante. Continuo a achar que foi um show fantástico.”

Seis anos depois, Mercury morria devido a complicações relacionadas com a AIDS. May ficou muito afetado com a morte do seu colega de banda, o que o fez pensar em ir para a frente com a Brian May Band, um exemplo, diz ele, que lhe ensinou algumas lições.

Ele pode ter sido uma peça chave no conjunto de harmonias vocais do Queen ao estilo de “Bohemian Rhapsody”, mas diz se ter percebido que ele não é cantor nenhum, nem um líder.

Ele é, no entanto, um grande guitarrista. Está, regularmente, no topo das listas dos melhores guitarristas. Ele já foi convidado para
álbuns de muitas pessoas, desde Black Sabbath até ao mais recente de Lady Gaga.

May é também aquele que é chamado pela rainha e pelo país para eventos especiais. Ele e Taylor tocaram “We Will Rock You”, uma música de May, na Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, com Jessie J como vocalista convidada.

Dez anos antes, durante o jubileu dourado do Queen, estava lá May, no topo do Palácio de Buckingham a proclamar “God Save The Queen” para o mundo.

Tinha de perguntar: como foi?

“Bem, muito assustador… cheio de trovões e relâmpagos… e muito aterrorizador. Não por causa da altura, mas pela figura de tolo que poderia ter feito em frente a um bilhão de pessoa, ao vivo.”

“Se eu fizesse asneira, iria ser o tipo que fez asneira no topo do Palácio de Buckingham para sempre. Foi uma verdadeira jornada para mim. Foi um exercício na lida com o medo. Acabou por ficar muito bem, mas houve muito trabalho por trás.”

May se tornou um Comandante do Império Britânico em 2005, não por trazer um pouco de Woodstock ao sistema da realeza de Sua Majestade, mas pelas suas ações para com a proteção dos animais, lutando contra a revogação da lei a favor da caça da raposa e contra a extinção dos texugos.

São sentimentos que sempre teve, mas a sua ascenção à aristocracia do rock, permitiu-lhe fazer alguma coisa em relação a isso. “Agora consegui concretizar muitos dos sonhos que tinha, tenho tempo e faço por ter para tentar e mudar as coisas para com os animais e diminuir o seu sofrimento.”

Oh sim, e ele foi Chanceler da Universidade John Moores de Liverpool, desde 2008 até o ano passado. Pode parecer uma prova do seu doutorado e contínuo interesse em astronomia, tal como o seu interesse na arte perdida da fotografia estereoscópica.

Se não fosse pela sua primeira banda com Taylor, Smile, evoluindo para o Queen, quando conheceram o jovem músico chamado Farrokh Bulsara, em 1970, May deveria ter ficado na academia, a olhar para as estrelas em vez de se tornar uma.

“Presumo que foi a decisão certa. Acho que a Astronomia beneficiou a minha saída, mas é possível que tenha beneficiado também o meu regresso, – consigo construir várias pontes, – há muitos astrônomos apaixonados por música. Pode misturar as duas. É um bom lugar para eu estar”, diz ele, citando uma conferência onde irá estar presente quando acabar a turnê, com a participação de Stephen Hawking e a estrela dos teclados do rock progressivo, Rick Wakeman, com May no meio dos dois, presume-se.

O pai de May não falou com ele durante o ano que se seguiu à desistência dos estudos para se tornar um músico, o que parece um pouco irônico, uma vez que Harold May construiu a marca de guitarras “Red Special” que o filho ainda hoje toca em palco.

“Sim, eu carrego-a comigo para ter a certeza de que o meu pai está sempre comigo e também faz parte de mim. É como se fosse outro membro e consigo ser muito mais expressivo e instintivo com ela do que com outra qualquer.”

“O meu pai não falou comigo durante cerca de um ano, ele estava tão furioso por ter deixado os meus estudos para tocar Rock n’ Roll, mas a ironia foi a confecção desta guitarra. Lembro-me de dizer: ‘Pai, me ajudaste neste curso’.”

“Mas foi uma época muito difícil, até que atuamos no Madison Square Garden, ele voou até lá em um Concorde para nos ouvir e após o show me disse: ‘Ok, agora percebo’. Foi muito importante para mim.”

Quem: Brian May do Queen
Quando e onde: Vector Area na Quarta-feira, 03 de Setembro
Ingressos à venda: Quinta-feira

Fontes: @UKGlambert e The New Zealand Herald

Tradução: Kady Freilitz

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