The New York Times entrevista Adam – Nov/24

Em Nov/24, Adam se sentou com o The New York Times para uma conversa na sala de música do edifício em Dumbo, Brooklyn, onde possui um apartamento. Confira parte da entrevista a seguir:

Quem é o Mestre de Cerimônias para você?
Nos bastidores, brincando, o nomeei Rudolph. [Com um sotaque alemão:] “Rudolph!” Minha versão dele tem um pouco de mim. Acho que ele é definitivamente queer. Ele é um provocador. Trabalha na vida noturna há muito tempo. Já viajou por toda a Europa e conhece todas essas dançarinas e personagens extravagantes. Ele quase quer ser como Sally. Ele sente uma certa inveja de como ela é fabulosa, de como ela é deslumbrante.

Como é interpretar esse arco de personagem?
É quase terapêutico. No começo, eu posso ser grandioso e louco, liberar toda essa energia acumulada, ser bobo e sem restrições. Depois, chegamos ao segundo ato, e eu canalizo qualquer tipo de frustração que tenho. É super meta. Olhe para o que está acontecendo agora em nosso país. Olhe para as eleições. Eu pego toda a minha frustração com tudo e coloco isso no segundo ato. “If You Could See Her” é realmente complicado. É um número de vaudeville que é bobo. Tem uma pessoa em uma fantasia de gorila. O público ri no começo, como deveria, porque é tudo fofinho.

E porque parte do seu público nunca assistiu a “Cabaret” antes.
Esse é o ponto quando você não conhece o material. É complicado garantir que as pessoas estão ouvindo tudo. Houve um momento no início da minha temporada em que eu recebia muitas risadas na frase “não pareceria nada judia”, essa linha.

Isso é perturbador.
Mas percebi que estava interpretando aquele monólogo apenas para fazer rir — o monólogo que leva até essa linha. No meio da música, [o Mestre de Cerimônias] faz um discurso e diz: “É um crime se apaixonar? Podemos ter certeza de onde o coração realmente nos leva? Tudo o que pedimos é ein bisschen verständnis — um pouco de compreensão. Por que o mundo não pode ‘Leben und leben lassen’ — ‘Viver e deixar viver’?” Nada disso é engraçado. São perguntas muito, muito reais que ele faz ao público. Meu trabalho é fazer com que eles entendam que há uma profundidade nessa sátira que estamos apresentando. Agora não recebo risadas. De vez em quando, você ouve uma pessoa dar uma risadinha. Talvez seja nervosismo, talvez desconforto, mas eu os silenciei completamente.

É um musical tão carregado politicamente.
É sobre um grupo de pessoas marginalizadas na sociedade que estão tendo seus direitos retirados. É exatamente o que está acontecendo agora. O que eu gosto tanto no espetáculo é que ele parece importante. Não é apenas um escapismo frívolo. No início, pode até parecer isso, para fazer um ponto. Mas, no segundo ato, estamos falando de coisas reais aqui. Não apenas sobre a política de bode expiatório, fascismo e culpa, mas também sobre a misoginia. E o aborto está bem no centro da história de Sally. É uma peça de teatro musical que faz você pensar. Você pode sair cantarolando algumas músicas, sim. Mas também sai pensando: “Uau!”.

Quanto de liberdade você teve para dar sua própria interpretação ao papel?
Eu realmente adorei a visão de Eddie sobre esse tipo de mestre de marionetes demente, quase como um boneco de ventríloquo. Mas isso não ressoou comigo como algo que eu faria. Para mim, o Emcee provavelmente está um pouco bêbado. Talvez um pouco chapado com alguma coisa. E ele está nesse ambiente permissivo. Ele é cheio de desejo. É assim que eu o vejo.

Você já foi mestre de cerimônias ou anfitrião de clube?
Não necessariamente. Mas quando faço as coisas com o Queen, eu falo com o público. Quando faço meus próprios shows, eu falo com o público. Então, quebrar a quarta parede e conversar com uma plateia é algo que me parece muito confortável.

Com obras clássicas de teatro, muito gira em torno da tradição: quem já interpretou o papel antes e como. Você se compara a outros Mestres de Cerimônia?
Tenho muito respeito por todos que já fizeram esse papel. Mas não. Quando eu era mais jovem, como ator de teatro e até como artista de gravação, tinha a tendência de me olhar e me comparar com outras pessoas. E isso me deixava miserável. Me limitava, fazia eu ficar na minha própria cabeça e duvidar de mim mesmo. Uma das coisas que aprendi ao envelhecer e amadurecer foi: não, não, não. Você precisa ser você mesmo. É a isso que o público vai responder mais. É isso que vai te fazer mais feliz como performer e te permitir se sentir o mais livre possível.

Você está de olho em algum outro papel no teatro?
Bem, estou escrevendo um musical. Ainda não falei publicamente sobre o que é. Está meio em segredo. Mas eu assisti a um documentário sobre alguém que me inspirou muito. É sobre essa pessoa que o musical vai falar.

Você está colaborando com alguém?
Já disse isso publicamente? Posso te dar uma exclusividade. Taylor Mac, que é um escritor brilhante, é com quem estou colaborando nisso.

Então Taylor está escrevendo o libreto?
Sim.

E você está escrevendo a música?
E as letras. E colaborando na história. Também colaborei com muitos músicos na composição da música. Minha experiência como compositor sempre foi no mundo pop. Você escreve uma música com um grupo pequeno de pessoas. Então, abordei esse projeto do mesmo jeito.

Você está no centro das atenções há 15 anos. Como você evoluiu como artista?
Acho que confio mais em mim mesmo agora. No começo, eu sentia bastante aquela “síndrome de impostor” em relação à coisa da fama. Depois de sair do “Idol”, eu pensava: “Sim, esse é um sonho que eu tinha. Sim, isso é incrível. Meu Deus, isso é tão legal. O que estou fazendo aqui?”

Naquela época, a palavra “teatral” era usada contra você.
Era como um eufemismo.

Um eufemismo para gay?
Provavelmente. E eu respondia: “E daí?” Porque, até aquele momento, era comum pensar na indústria que isso jogaria contra você. Eu fui parte de uma onda de pessoas que provaram o contrário.
Mas respeito é uma coisa engraçada, especialmente no espaço da música, porque eu sempre recebi respeito pelo meu talento. Mas talento não é tudo para ser respeitado nesse meio. É sobre números. Você pode trabalhar muito duro e fazer um álbum inteiro, mas ele só será valorizado na medida de quantas pessoas o ouviram. Enquanto isso, podemos valorizar uma peça de teatro pelo que ela representa, pelo que ela significa. E não apenas por quantos ingressos foram vendidos.

Certo. Embora isso também conte.
Também. É o showbiz. Mas é uma peça importante de teatro, e todo mundo sabe disso.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: O Globo
Fontes: The New York Times e O Globo

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