Entrevista Completa da Revista Rollacoaster

Já publicamos aqui alguns trechos da entrevista de Adam publicada na edição Primavera/Verão 2020 da Revista Rollacoaster (Londres), na qual ele foi capa também; agora, confira a seguir a entrevista completa.

Adam Lambert: Conheça a ex-estrela do American Idol que se tornou um pioneiro do pop queer!

Poucos artistas possuem uma efervescência tão reconhecível como a de Adam Lambert. Seu nome tem aquela solenidade forte de uma grife de alta moda que tem sido espalhada por outdoors e revistas há décadas, e sua voz encantadora é incomparável em seu alcance extraordinário e entrega impressionante. Para qualquer pessoa que confunda o cantor com a estrela da geração Z da Disney, Adam Lamberg, também conhecido como o Gordo de Lizzie McGuire, este artigo não é para você. Nesse exato momento, o cantor americano está andando por um estúdio em Shoreditch imitando um anúncio obscuro de perfume que uma vez estrelou Liz Taylor, trocando o capuz de anarquia incrustado de strass no qual ele chegou por um casaco rosa da Gucci que eu sei que ele está desesperado para levar para casa. Alguns minutos depois, ele sai de uma conversa, chocado, possivelmente até perturbado. “Você não sabe o que é um FUPA?” ele exclama. Levemente retraído pela inocência de sua equipe, me ocorreu que eu poderia ser a única pessoa na sala que sabe do que ele está falando, firmando um vínculo não-dito entre nós dois. Afinal, a abreviação de “área gorda acima da b***ta” parece mais parte de um léxico queer do que algo encontrado no Dicionário de Oxford. Lambert tem sido uma força a manter na indústria da música por tanto tempo quanto me lembro. Seu primeiro contato com a fama veio com a oitava temporada do American Idol, equipado com um conjunto de vocais severos e franjas arrasadoras que o diferenciavam dos outros concorrentes quase que instantaneamente. Embora ele tenha sido o vice-campeão da competição, este foi apenas o começo de um capítulo inteiramente novo e tumultuado de sua vida, que ele descreve como igualmente esmagador, ainda que totalmente emocionante. “For Your Entertainment”, seu revigorante álbum de estreia, foi lançado no final daquele ano e foi direto para o número três na Billboard 200. O álbum em si é uma cápsula do tempo do trash-pop hipnótico do final dos anos 2000, fundido com um toque de produção de rock, que lembra uma época em que híbridos pop-punk como The Fray e Metro Station batiam de frente com Beyoncé e Britney Spears nas paradas. O segundo single do álbum “Whataya Want From Me” chegou a receber uma indicação ao Grammy de Melhor Performance Vocal Pop Masculina, dificilmente um começo ruim para o jogo, de algum modo. Durante a competição, imagens de Lambert beijando outro homem foram vazadas para a imprensa, uma tentativa cruel de provocar controvérsia em sua ascensão às grandes ligas. Ao se assumir em uma entrevista com a Rolling Stone logo depois, fica claro que Lambert sem dúvida sempre foi alguém certo de sua identidade, alguém sem nada a esconder.

“Era um pouco como território desconhecido”, diz Lambert sobre sua presença como uma estrela pop queer em ascensão. “Não havia realmente mais ninguém que eu pudesse tomar como exemplo na música pop atual no momento que aquilo foi divulgado […] foi emocionante porque eu sabia que era uma mudança, mas também um pouco assustadora”. Embora relutante em se chamar de um ícone gay (apesar de ser enaltecido como um por milhares como eu), é certamente uma faceta inegável de sua trajetória profissional e um rótulo que sem dúvida enche o cantor pioneiro de orgulho. “O movimento queer na música é um nicho inteiro agora”, ele me diz, “mas também é mainstream, existem muitos casos de artistas queer tendo sucesso comercial total. Você olha para Sam [Smith], MNEK, Hayley Kiyoko e Troye [Sivan], eles estão realmente fazendo isso, estão sendo tocados na rádio em todos os lugares e é realmente emocionante de ver.” Nos anos que se seguiram, Lambert elevou sua arte a alturas que ele nunca poderia prever, quero dizer, não é todo dia que você é convidado a participar de uma lendária banda de rock and roll como o Queen. O cantor se apresentou pela primeira vez com a banda em uma performance de “We Are The Champions” na final do American Idol, uma rápida pesquisa no YouTube até identificará o momento exato em que Lambert conquistou os britânicos com sua voz suave e presença de palco cativante.

Tomando as rédeas de Paul Rodgers depois dele se aposentar do grupo em 2009, Lambert ingressou com sua própria identidade, mais honrando Freddie Mercury do que calçando seus sapatos, e tem encantado o público em todo o mundo por quase toda a década desde então. Ainda assim, imagino que preencher a lacuna entre as joias do pop produzidas por Max Martin, de Lambert, e as camadas de glam rock harmonizado predominantes em faixas como “Bohemian Rhapsody” não foi uma tarefa fácil. “Definitivamente, houve um ponto há seis anos em que a música que eu fazia era super atual”, diz Lambert sobre os anos entre sua estreia e o lançamento de 2015, “The Original High”. “Foi uma grande lacuna entre os dois sons”, ele admite, mas com seu mais recente trabalho, “Velvet”, as coisas parecem ter completado um círculo. “Eu nem acho que fiz isso conscientemente, mas o que descobri com este projeto é que ele é muito mais próximo do mundo [do Queen], parece que os dois se tornaram um mais do que nunca”. As engrenagens começaram a rodar durante uma viagem para a casa de infância de Lambert em Indiana, o cantor se lembra de ter descoberto um tesouro da louca coleção de discos de seu pai e de ser transportado instantaneamente de volta à sua infância. A era de escolha de Lambert foi os anos setenta e início dos anos oitenta, defendendo uma variedade de rock clássico, soul e synth-pop eletrizante – para alguns esses discos podem ser firmados em suas respectivas eras, mas para Lambert esse período é cheio de significado, mantendo um charme atemporal que muitas vezes é imitado, mas nunca replicado. Impondo a si mesmo o desafio impossível de navegar por isso em sua própria música, o objetivo de Lambert era capturar esse charme agradável e apropriar-se disso de uma maneira que fosse autenticamente sua.

Fundamentalmente, porém, Lambert teve o desejo de fazer as coisas de uma maneira diferente da que ele tinha feito antes. “Eu joguei o jogo da música em uma grande gravadora por três álbuns”, explica Lambert, enquanto uma equipe de preparadores polvilhava seu rosto, “e eu tive meu sucesso. Essas foram todas boas experiências, mas com ‘Velvet’ eu realmente queria virar uma esquina e ir sonoramente para um lugar muito diferente do que eu tinha estado.” O pioneiro pop foi inflexível ao se prender ao banco do motorista, em termos criativos, e decidiu lançar o projeto na gravadora independente More Is More. “É realmente fácil ser absorvido pelo lado comercial das coisas e o criativo começa a se diluir”, explica ele sobre a decisão. “Eu acho que com [‘Velvet’] em particular eu realmente precisava isolar minha criatividade e fazer isso por mim, em primeiro lugar.”

O álbum continua sendo um trabalho singular, dividido em dois lados no formato de um disco de vinil real, estendendo assim a experiência para o ouvinte faminto. O próprio Lambert acredita que o álbum é a representação mais autêntica não apenas de sua musicalidade, mas também de sua vida pessoal, interferindo em todas as etapas, sendo produtor executivo e co-compositor do álbum. “Acho que descobri mais alma na minha abordagem vocal e criei um clima coeso no geral”, diz ele, teorizando o processo. O que Lambert nos serve é um equilíbrio perfeito de suas raízes musicais e dez anos de experiência em seu campo, uma consciência do que funciona, o que não funciona e um mapa claro de onde ele procura impulsionar seu som. Músicas como “Superpower” e “Stranger You Are”, por exemplo, mostram o pop da maneira mais pura e emocionante, com falsetes celestiais com sintetizadores sendo construídos, guitarras no estilo funk selando o coquetel sônico. “Loverboy” fornece o cenário perfeito para Lambert exibir seus vocais de alta oitava com um toque sem esforço, uma faixa que você se encontraria cantarolando por uma pista de patins se sua vida fosse um filme. No entanto, é a emocionante faixa do meio “Closer To You”, a primeira balada do álbum tocada no piano, que mostra completamente a majestosa evolução de Lambert.

Ainda permanecendo na minha playlist mensal 7 meses após seu lançamento, chamá-la de uma homenagem a alguma coisa parece não lhe fazer justiça. A faixa é uma manifestação de emoção que reverbera nos mais profundos recessos do seu coração, deixando você cambaleando, como as melhores baladas sempre fazem. Com o Lado B do álbum bastante iminente, Lambert não poupou ao dar aos fãs pedaços extras da história de “Velvet”. Versões ao vivo das faixas emocionantes do Lado A de “Velvet” e vários singles lançados nos últimos meses (incluindo um retorno de parceria com Nile Rodgers, do Chic). Até agora, seus fãs parecem satisfeitos, alguns até elogiando o projeto como seu melhor trabalho até hoje. “Esse elogio é uma recompensa pelo longo caminho que esse álbum levou para nascer”, ele admite. Mas depois que a segunda metade lançar, o que vem a seguir? “Mais música”, ele afirma, sem perder o ritmo, “eu só quero continuar fazendo coisas. Se não estou sendo criativo, sinto como ‘o que estou fazendo?’. Isso me dá propósito, o que eu acho realmente importante, e isso pode ir além da música.” Embora esteja claro que seguir todas as avenidas e ruas sinuosas do mundo da música é sua principal paixão, Lambert ainda se atreve a sonhar além desses limites. Ele fala em se aventurar por atuar, fazer designs, talvez até trabalhar por trás das cenas como um diretor, desde que sua criatividade esteja fluindo, é tudo o que importa. Nossa conversa termina com a resolução de um boato na Internet sobre o qual estou ansioso para saber a resposta há algum tempo: será mesmo verdade que sua voz está segurada por $48 milhões de dólares? Ele faz uma pausa por um momento, absorvendo o ridículo da pergunta que acabei de fazer. “Em algum lugar”, diz ele, reunindo um pouco de modéstia, com alguma forma de inflação, em algum planeta… eu acho?

E aqui confira as fotos deste photoshoot, clicadas por Bartek Szmigulski.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Bruna Martins
Fontes: @shellstar79 e Wonderland Magazine

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