Review by Cine Pop do Álbum “Velvet”
Crítica | Adam Lambert explora todo seu glamour musical em ‘Velvet’ “Me sinto nostálgico e sei que não sou o único” é a frase que abre a música homônima de ‘Velvet’, quarto álbum de estúdio do popstar Adam Lambert. E, levando em consideração o efervescente cenário que 2020 vem nos apresentando desde os primeiros dias de janeiro, ele não está errado: a indústria musical está retornando às clássicas décadas entre 1970 e 1990 para recuperar um pouco do glamour trazido por nomes como Madonna, Michael Jackson, Dixie Chicks, Prince e Queen ao escopo fonográfico. É claro que, conhecendo as gritantes influências de sua identidade artística, Lambert não deixaria de seguir o fluxo e explorar novamente sua inebriante veia musical, entregando uma produção divertido e que nos convida para um baile glam-rock que não tem hora para acabar.
O performer ganhou proeminência ainda em 2009 quando participou da 8ª temporada de ‘American Idol’, estonteando o público com seu visual andrógino e seus vocais irretocáveis – além de representar um saudosista regresso ao disco e ao rock que colocaram nomes como Diana Ross e Freddie Mercury no centro dos holofotes. E é interessante observar a jornada que ele percorreu até os dias de hoje, saindo das formulaicas “Whataya Want From Me” e “If I Had You” para chegar, por exemplo, na impecável rendição de track mencionada no parágrafo acima e em “Superpower”, as duas canções que abrem o CD. Mais do que isso, é inegável o amadurecimento estilístico que imprimiu em sua carreira, conseguindo arquitetar duas peças sonoras divergentes entre si (esta guiada pela guitarra e pela bateria, e aquela movida pelos sintetizadores e pelo baixo) e que, ao mesmo tempo, dialogam ao longo de treze iterações.
Lambert, na verdade, consegue fazer isso em vários momentos: “Stranger You Are” traz elementos do country-pop (incluindo um sotaque sulista e teatral muito bem-vindo) antes de optar pelas múltiplas camadas de voz acompanhadas das trompas e dos trompetes; “Overglow” é um regresso mais dark e sinestésico à época do discoball, que mostra um cantor em total controle de sua tecedura e seu alcance à medida que abre as portas para uma oitentista homenagem à banda Survivor; “Love Dont” já abandona o autotune e os moduladores para estender seus braços aos anos 2000 e nos envolver em uma espécie de balada desconstruída que traz uma de suas melhores atuações (e um liricismo familiar e minimalista na medida certa).
Se o álbum nos soa palpável o bastante para ouvirmos as músicas sem pular uma sequer, devemos esse crédito à competente produção de um time liderado por Tommy English, que prepara o terreno com alguns dos melhores momentos. Além de “Superpower”, English pega emprestado certas investidas de trabalhos anteriores (como ‘Dedicated’, de Carly Rae Jepsen) e as traz para uma amálgama interessante em “Loverboy”, mostrando sua preferência por instrumentos de corda e deixando que o artista explore um crescendo aplaudível. Logo depois, chega a vez do lendário Nile Rodgers (‘C’est Chic’) colaborar com a sensual “Roses” – recheada de referências a “I Want Your Love” e “Le Freak”.
Lambert não deixa de explorar outros lados que por vezes são ofuscados em meio a outras faixas, como a romântica downbeat “Closer To You” ou então sua incursão inesperada em “Comin In Hot”, uma mistura entre new wave e soul que acaba falando por conta própria – ainda que tire um pouco do protagonismo da letra e até mesmo da performance. E, enquanto poderíamos esperar um “apaziguamento” por parte do cantor, ele eleva nossas expectativas para um novo patamar com a calma e sensual “On The Moon”, cuja metafórica verborragia é pincelada com versos incríveis, levando o eu lírico em uma “queda livre” em busca do amor; pouco depois, nos surpreende com o soft-rock setentista de “Ready To Run”, que contém um dos melhores vocais de sua discografia.
Nos atos finais, a obra parece decidir por conta própria seguir em um caminho bastante diferente, dessa vez aproveitando o início de uma nova década para fazer um apanhado mimético do século XXI, escolhendo a dedo as características que o colocaram em voga há alguns anos e também pegando breves espectros que longinquamente nos recordam de nomes como Justin Timberlake e The Weeknd e o apreço de tais artistas por notas mais agudas e uma espécie de rouquidão cansada que auxilia na construção de seus alter-egos. Já “Feel Something”, por mais que suas intenções sejam das mais puras possíveis, parece um balde de água fria, vindo à tona como um dramático e fragmentado solilóquio que definitivamente não tem lugar aqui.
Com poucas exceções, ‘Velvet’ é uma incrível adição às produções sempre enérgicas e repletas de vida de Adam Lambert – alguém que merecia mais reconhecimento do que tem no tocante ao que representa na indústria musical contemporânea e sua importância em sempre tentar se renovar. De fato, algumas iterações funcionam como poços de originalidade e inspiração para aqueles que, como ele, se recusam a ser enfiados em rótulos e caixas.
Autoria do Post: Josy Loos
Fonte: Cine Pop
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