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28mar2020
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Entrevista by Music Feeds – Março/2020
Adam Lambert em busca do Soul e do Amor, o icônico set de “Fire Fight” e como o Queen o ajudou a buscar um novo som
O quarto álbum de estúdio de Adam Lambert não parece com nada que ele já tenha lançado antes e ainda é inegavelmente ele. Em poucas palavras, “Velvet” é uma fusão retrô que presta homenagem as batidas dos anos 70. É bem diferente de suas batidas de club do início da carreira e vibes do pop moderno que ouvimos em 2015 com “The Original High”. Ao invés disso, ele toca músicas que ele cresceu ouvindo e os estilos vocais que sabemos que ele arrasa depois de anos se apresentando com o Queen.
Descrevendo o álbum como uma lembrança dos anos 70 pode parecer vago, mas você não pode colocar “Velvet” em apenas um gênero dessa era icônica. De funk ao disco, do soul ao clássico rock’n’roll, Lambert encapsulou um conjunto eclético de sons com suas 13 faixas. Ele flexiona seu longo falsete junto com solos glam rock de guitarra em “Superpower” e canta sobre riffs provocantes, cortesia de Nile Rodgers, em “Roses”. Enquanto isso, o som estrondoso do baixo em “Coming In Hot” e “Loverboy” podem rivalizar com uma música do Prince. Você pode experimentar uma amostra dessa miscelânia sonora no seu EP de 6 faixas, “Velvet: Side A” que foi lançado ano passado, mas terá que esperar até 20 de Março pelo resto.
Esse álbum foi feito para os palcos, mas vai levar um tempo até os australianos poderem experimentar a “The Velvet Tour” ao vivo.
Lambert acabou de encerrar a “The Rhapsody Tour” com o Queen, incluindo uma recriação do icônico set do Live Aid no “Fire Fight Australia Concert”. Agora ele está levando a sua “The Velvet Tour” para a estrada com sua mini-residência em Las Vegas em Abril [remarcada para Outubro, devido a pandemia do coronavírus] e uma turnê europeia em Agosto e Setembro.Fora dos estúdios, o filantropo de longa data e defensor dos direitos LGBTQ+ lançou uma organização sem fins lucrativos, a Feel Something Foundation no fim de 2019. Desafiando a expressão “coming out” para apoiar artistas queer através da educação e da arte, a Feel Something Fondation visa abordar questões de falta de moradia, suicído e saúde mental na comunidade LGBTQ+.
Enquanto ele esteve em Sidney, nós conversamos com Adam Lambert sobre redefinir sucesso e buscar um novo som em “Velvet”.
Music Feeds: “Velvet” está quase pronto para o mundo. Como você está se sentindo?
Adam Lambert: Eu estou muito agradecido que finalmente chegou a hora de lançá-lo. Foi muito tempo o preparando.MF: Quanto tempo?
AL: Tipo uns quatro anos! Eu estada trabalhando lentamente e tomando meu tempo. Eu tive alguns obstáculos comerciais. Eu troquei de gravadora e de gerência e isso me atrasou um pouco também. E também estava tentando descobrir o que eu queria fazer. Não é algo que você sabe o que fazer logo de cara. Às vezes você tem que descobrir enquanto trabalha nisso. Com esse, esse foi o processo. Eu estava experimentando com produtores diferentes e lenta, mas seguramente um novo som começou a surgir e um ângulo, uma direção. Quando isso começou a concretizar que eu conseguir falar “Ok, agora eu sei o que é isso que eu estou fazendo”. E então começou a ganhar um impulso.MF: Você gostou de tirar um tempo para experimentar ao invés de trabalhar com um prazo menor?
AL: Sim, eu sempre gostei de artistas que conseguiram se reinventar um pouco. Eu gosto de mudar as coisas. Eu não gosto de ficar me repetindo e não gosto de seguir necessariamente o que as outras pessoas estão fazendo. Eu gosto de descobrir o que funciona para mim. Com esse projeto, mais do que nunca, eu senti que estava mais no banco do motorista.E isso fez parte de todas as mudanças que eu tive que fazer para poder conseguir fazer o que eu queria fazer. Porque eu cheguei em um ponto depois do meu último álbum, e eu estava orgulhoso de tudo que eu já lancei, é o trabalho que eu sustento, mas eu estava ficando um pouco frito com os negócios. A parte comercial, os números, os stream, o dinheiro. Isso tudo começou a ofuscar a parte que eu realmente gosto sobre fazer música.
Então nesse processo de mudar os meus negócios, eu também estava buscando na alma uma forma de me encontrar novamente. O que eu amo sobre esse negócio? O que eu amo sobre a música? É me apresentar para as pessoas e criar. Isso é o que eu amo. As outras coisas são apenas partes da equação, não a razão de eu fazer o que eu faço. Levou um tempo para eu perceber isso, mas eu realmente isolei esse processo dessa vez e eu acho que meu álbum é o resultado disso. É apenas eu seguindo meus instintos e diminuindo um pouco o volume de todos esses barulhos.
MF: Eu li que você queria ir em uma direção completamente diferente com esse álbum. O que isso envolveu para você?
AL: Parte de mim estava ficando tão desiludido com a parte comercial que eu estava ficando cansado do Top 40 por um tempo. Muito do que eu estava escutando parecia tudo o mesmo e homogêneo. Então eu parei de escutar todas essas coisas. Eu parei de jogar nessa corrida. Eu meio que voltei ao tipo de música que eu escutava quando estava crescendo. Essas coisas clássicas que meus pais escutavam nos anos 70 e 80. Eu também comecei a pesquisar essas playlists e músicas mais obscuras de artistas contemporâneos que claramente também foram influenciados por essas coisas retrô.MF: Quem são essas influências modernas?
AL: Tipo Tame Impala. Tem um grupo chamado Leisure da Nova Zelândia que eu gosto muito. Tem uma banda chamada Sports nos Estados Unidos que eu também gosto. Eu escutei muito as músicas do Prince, Sly Stone, algumas do Bowie. A “Young Americans” gravada pelo Bowie, eu gosto muito mesmo. Muitos desses artistas não tem um hit ou não são necessariamente bem conhecidos, mas tem músicas que eu gosto.Eu comecei a encontrar todos esses exemplos e fui com isso em mente para o estúdio. Eu conversava sobre querer criar algo atemporal e fusão-retrô e então eu tocava algumas dessas músicas. A maioria tinha um ótimo fundo com o baixo e você pode escutar isso em “Velvet”.
MF: Ah, sim! Como em “Lovervoy”. O baixo é tão funky.
AL: Sim! Eu sempre escutei e amo esse tipo de música. Eu realmente me apoiei nisso.MF: O álbum é inegavelmente influenciado pelos anos de 1970. Você tinha essa visão em mente quando começou a trabalhar em “Velvet”?
AL: Não era muito claro para mim quando eu comecei e lentamente começou a ficar cada vez mais claro. Tem algumas músicas que talvez soaram diferentes na demo, mas então eu as guiei na direção da visão do álbum sonoramente. Quanto a mensagem, eu não estava completamente consciente que o álbum acabaria sendo sobre alguma coisa, mas sem dúvida acabou sendo sobre relacionamentos. E isso é atemporal, conceito universal e amor. Para mim, “Velvet” é um álbum que explora diferentes aspectos do amor. É como amar você mesmo, é amor próprio e empoderamento. Algumas são sobre o desejo do amor que foi perdido. Algumas é sobre o amor rápido e fácil. É tudo sobre essa coisa de conexão. Eu acho que isso que me faz funcionar. Eu sempre estou buscando por inspiração em outra pessoa.MF: Isso é o que faz todo mundo funcionar, certo? Isso é o que faz isso tão relacionável. Pode não ser sua história, mas você consegue ver você nesse conceito universal.
AL: Sim, eu acho! Ao final do dia, nós todos temos esses sentimentos e em uma música como “Roses”, é tipo um Dia dos Namorados que deu errado. Você está com alguém e querendo que essa pessoa seja íntimo com você e ser um grande amor. E então eles te mandam flores e essa é a desculpa dele para ser íntimo e isso não é suficiente! Não importa quão grande o buquê seja, se não sentir como algo, não vai sentir como algo.MF: Você trabalhou com Nile Rodgers em “Roses”. Como foi isso?
AL: Nós escrevemos essa com Fred Ball e Kes Kross e Daniel Wilson. Nós estávamos terminando ela e os vocais ficaram bons, uma boa melodia, bom conceito, mas estava sentindo falta de alguma coisa. Eu comecei a conversar com o produtor e estava “O que acha de um pouco de groove?” e ele falou “O que você acha da guitarra de Nile Rodgers?” e eu falei “Você sabe que eu conheço ele?”. Então eu o chamei e ele aceitou.Eu já tinha trabalhado com ele antes, então foi legal ter mais uma colaboração. Eu o conheci pela primeira vez quando eu estava trabalhando no meu segundo álbum, “Trespassing” e ele fez uma participação com a guitarra em uma música chamada “Shady”. Então eu me apresentei com ele algumas vezes com a Chic e cantei uma música do Bowie que ele escreveu. E nós escrevemos uma música juntos com o Avicci, então nós já fizemos algumas colaborações.
MF: Algumas vezes esses álbuns nostálgicos podem soar um pouco antigos, mas essa produção de “Velvet” é bem fresca. Como você alcançou o balanço entre o novo e o velho?
AL: Sim, como eu disse tem muitas influências do passado, mas muito das influências são de coisas contemporâneas que também tem essas batidas clássicas. O que eles tendem a fazer é tornar mais fresco de alguma forma. Fusionar isso com ideias modernas. E eu tive a sorte de trabalhar com esses produtores que são todos brilhantes. Tommy English é um, por exemplo, que fez “Superpower” e “Loverboy”. Ele é muito bom. Ele já trabalhou com vários desses artistas indies que não são grandes popstars, mas tem músicas maravilhosas.Eu acho que esse é o coração disso tudo e foi nessa direção que eu fui. Eu queria ir menos do que estava tendo no Top 40 e mais o que eu pensava que era legal. Não é mais sobre vencer. É apenas sobre criar coisas legais porque é uma vitória pessoal. Eu tive que redefinir alguns anos atrás o que o sucesso significa pra mim. Eu comecei a perceber que se eu colocar todo meu esforço em um sistema que é feito para ganhar dinheiro, como eu ia ganhar satisfação pessoal nisso? É como estar perdendo uma batalha. Então quando eu tive que repensar nisso, essa foi a conclusão que eu cheguei.
Encontrar o que era uma vitória pessoal e o que eu amo. Com esse álbum eu quero ir para os palcos e cantar e fazer um show. Criar um mundo para as pessoas que ficaram perdidas por um tempo.
MF: Esse álbum vai ser incrível ao vivo também.
AL: É o que eu amo sobre ele. Mais do que qualquer outro álbum que eu fiz, você consegue escutar instrumentos em todas as canções. É tudo tocado por músicos. Eu tenho uma banda incrível que montei e vou fazer shows com eles. Estou realmente animado.MF: As suas turnês com o Queen inspirou o som de “Velvet” de alguma maneira?
AL: Eu não sei o quão consciente eu estava até chegar a um ponto que eu percebi que “Oh, isso é legal”. Esses dois mundos estão um pouco mais juntos que jamais esteve sonoramente. É bom não sentir que eu tenho duas personas ou algo assim. Porque eu não tenho. Este álbum parece uma extensão muito autêntica de quem eu sou como artista. É muito mais próximo do mundo do Queen agora.MF: Você disse que você cresceu escutando muitas destas músicas, você acha que essa transição seria quase inevitável?
AL: Sim, esse é o ponto. Eu acho que alguém já me disse “Você nunca fez algo tão soul antes” e eu estava “sim, você está certo”. É engraçado porque eu tenho escutado e cantado muita música soul a minha vida inteira. Finalmente inclinar-se nessa direção parece fazer muito mais sentido.MF: Você lançou o EP “Velvet: Side A” ano passado. Qual sua estratégia por trás disso?
AL: Eu acho que as regras estão sem espaço agora. Você pode escrever seu próprio manual agora de como as músicas serão lançadas ou reproduzidas. Nós lançamos “Fell Something” depois “New Eyes” e então “Coming In Hot” e então nós tivemos a ideia de lançar parte do álbum antes. Vamos estender todo o processo. É tão fácil para um artista lançar um single e talvez mais um e então o álbum. E então tudo acabou. Essa foi uma maneira de estender isso, manter as pessoas interessadas e manter os fãs animados e tendo algo pelo qual esperar. Foi muito tenso sem músicas novas, então eu quis fazer disso uma nova era. Então dá uma chance das pessoas pensarem, “ok, eu entendo o que ele está fazendo”. Você não está pedindo muito a alguém repensar o que pensam de você. Você está facilitando um pouco para eles. É como ir em um restaurante muito bom, com refeições requintadas. Eles te dão pequenas amostras de cada vez e te mantém interessado e satisfeito. Eles não te dão tudo em um prato de uma vez. Não tem arte nisso.MF: Você tinha terminado o álbum todo quando o EP foi lançado?
AL: Não estava completamente finalizado quando o “Side A” foi lançado. Eu tinha todas as músicas escritas exceto “Velvet”, foi a última música que eu adicionei.MF: Nossa, esse deve ter sido um momento decisivo. Como surgiu essa música?
AL: Eu estou empolgado para as pessoas ouvirem “Velvet” porque é uma favorita. Nós filmamos um vídeo pra ela. Vai ser lançado mais ou menos na mesma época do álbum. É uma progressão natural depois do vídeo de “Superpower” que é divertido e cafona, esse é ainda mais cafona. Eu disse que queria fazer algo bem divertido e que queria alguma coisa realmente gay. Eu queria que fosse realmente extravagante, sem desculpas, bobo, divertido e fashion. É tudo isso. E tem um “candy man” também.MF: Ooh! Ok, agora eu estou ouvindo. Mas antes de nos desviarmos, como foi o show no “Fire Fight Australia”?
AL: A energia da audiência estava incrível. Eu amei que estávamos lá junto com vários artistas locais e internacionais incríveis. A audiência era diferente da nossa audiência regular, o que era empolgante. Eu estava no fundo do palco vendo 5 Seconds of Summer logo antes de eu entrar pro show e eles foram incríveis. Eu gosto muito deles. E eu fiquei animado, fui para os bastidores e me aqueci um pouco, tomei uma bebida e então entramos no palco e fizemos nosso show.A audiência estava com tanta energia. Eu sei que Brian e Roger sentiram o mesmo. Nós saímos do palco e todos estávamos “NOSSA!”
MF: Vocês recriaram o icônico set do Live Aid de 1985 para o “Fire Fight”. Qual foi a importância dessa escolha de set e como se sentiram apresentando ele?
AL: Não foi ideia minha, não posso levar créditos por isso. Mas estávamos fazendo um show perto da noite do Ano Novo e pensando “Quais músicas podemos apresentar?” e surgiu a ideia. Nós imediatamente pensamos que era uma boa ideia e algo diferente, nós nunca tínhamos feito algo assim antes. E são músicas que cantamos todas as noites mesmo, então fazia sentido. Só colocar naquela ordem, foi como completar um ciclo.Esse momento foi feito de forma tão icônica no filme (“Bohemian Rhapsody”). Para ser justo, nós estávamos vendendo turnês antes do filme, mas ele elevou tudo a um próximo nível nessa turnê. Nós estamos mudando nossa demografia. Nós temos crianças na audiência e famílias inteiras lá. É muito bom.
MF: É tão legar que o legado deles continua. Ainda é surreal para você carregar essa tocha?
AL: Eu sou tão honrado de cantar com a banda. Eu sou um grande fã do Freddie Mercury. O melhor para mim é que são ótimas músicas para um cantor cantar e é uma grande honra. Outro ponto que sempre foi especial para mim é o Freddie ser um ícone queer. Ele pode não ter se assumido porque naquele tempo isso era tão tabu que teria sido difícil. Mas agora, aprendendo sobre ele nos últimos 8 anos, eu sinto que me daria muito bem com ele e se ele ainda estivesse aqui entre nós, seria alguém que continuaria me espelhando. Então poder carregar a tocha por ele é algo muito especial.MF: Você lançou a Feel Something Foundation no fim do ano passado. Como você começou e o que você está tentando alcançar com essa organização?
AL: Eu estou muito animado. Nós estamos apenas finalizando toda a papelada com o governo, porque isso leva um tempo. É incrível, eu já fiz alguns trabalhos de caridade com organizações diferentes por anos e levantei fundos junto com meus fãs. Chegou a hora de levar isso ao próximo nível e fazer algo meu. Eu vou continuar a colaborar, mas tem alguns assuntos que eu aprendi ao longo dos anos e a Feel Something Foundation tem como alvo problemas queer. Particularmente os problemas de jovens sem moradia, saúde mental e prevenção de suicídio.Essas coisas podem acontecer com os jovens, eles podem ser expulsos de casa porque as famílias o rejeitam por ser o que são e essas coisas podem resultar em pessoas não tendo dinheiro ou um lugar pra morar ou um estado emocional forte para se apoiar. Esses problemas são realmente coisas que eu quero abordar.
E em uma nota mais positiva e não orientada para crises, eu também quero ter iniciativas sobre educação em arte. Então se você é um jovem lutando para sobreviver e se sustentar, talvez tenha dificuldades em conseguir entrar em uma universidade. Para pessoas criativas especialmente, eu acho que colaboração e comunidade é muito importante. Eu quero criar algumas oportunidades onde possamos fazer palestras, workshops ou intensivos para artistas queer. Estou realmente empolgado com isso.
Autoria do Post: Josy Loos
Fonte: Music Feeds
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