Review by Houston Chronicle do Show Queen + Adam Lambert em Houston (TX, EUA) – 24/07

Queen + Adam Lambert fazem uma reverência final no Toyota Center

Honestamente, se eu me encontrasse dentro de um edifício em chamas e o Brian May do Queen estivesse lá tocando guitarra, não tenho muita certeza se eu fugiria. E mesmo se ele não tivesse uma guitarra com ele, eu ainda deveria desfrutar de um momento quieto com este cara singular do rock n’ roll. “E então”, eu diria, “quer falar sobre o espaço?”

Como um raro guitarrista-compositor-cantor-astrofísico, May ocupa um planeta dele próprio. E enquanto sua banda é mais conhecida por seu falecido, grandioso e vivaz vocalista, May se mantém como uma entidade celestial digna de estar em órbita. Ele provou isso através das duas horas em que Queen + Adam Lambert tocaram para uma Toyota Center lotada, talvez principalmente quando ele se sentou no centro da arena com um violão e cantou “Love Of My Life” e “’39”, esta última levando May a comentar sobre o status de Houston como Cidade Espacial, com um centro espacial nas proximidades que May já visitou diversas vezes.

Foi o período mais quieto do show, mas também estranhamente íntimo, com a guitarra de 12 cordas de May ainda oferendo aquele tom que somente ele emite quando toca.

Ele e o baterista Roger Taylor – o outro membro remanescente do Queen – lembraram ao decorrer da noite o quanto os vocalistas da banda foram bons – além do falecido Freddie Mercury, que morreu há quase 30 anos. Parece óbvio para mim agora, mas eu sentia falta do quanto a banda tomou inspiração dos Beach Boys, pelo menos vocalmente.

Musicalmente, Queen encontrou um espaço próprio misturando a força do hard rock com a extravagância do teatro musical. O som da guitarra de May mapeou esse som. Se eu puder fazer uma última metáfora com viagem espacial, seus riffs são o combustível do foguete que oferece propulsão ampla e seus solos tem uma qualidade sonhadora. Ele tocou um solo estendido no topo de uma projeção de um asteroide esta noite, envolto por um show de luzes com estrelas e planetas. May tocando foi exploratório, até que ele encontrou seu caminho de volta à Terra com “Tie Your Mother Down” e “Fat Bottomed Girls”.

Essa é uma banda que poderia apenas ter tocado seu álbum de Maiores Sucessos e coletado seu pagamento. Esse é o quanto esses sucessos são onipresentes, e o quanto eles tocam bem em uma arena. Mas a mistura foi intrigante e generosa. Eu particularmente curti “Seven Seas Of Rhye” e “Machines”.

Como se tornou a rotina, a parte do vocalista foi tocada pela descoberta do “American Idol” Adam Lambert, que assume esse papel com amplo entusiasmo e uma voz que encontra seu caminho a todos os cantos de uma arena. Por um lado, é o maior show da vida. Por outro, é também difícil. A voz e presença de palco de Mercury são inimitáveis. Ao seu crédito, Lambert assume a frente das comparações, sabendo que seria uma batalha perdida se ele escolhesse lutá-la. Então ao invés disso ele manuseia o papel, lidando com o que ele chamou de “o elefante rosa na sala… Eu não sou Freddie”.

Ele não é. E tudo bem. As duas vozes são dinâmicas porém distintas. Mercury também se movia pelo palco com uma facilidade líquida que condiz com o nome artístico que ele escolheu para si. Lambert é destemido lá em cima, e sem medo de exagerar, mas ele não se torna exatamente parte da música da mesma maneira.

Mas as músicas do Queen são tão teatrais no estilo Broadway que não exigem necessariamente um homem para cantá-las. É claro, a voz de Mercury as marcou indelevelmente. Mas sua morte não deveria levar as músicas com ele. Elas apenas demandam alguém com um pouco de confiança operática disposto a se aproximar um pouco delas. E Lambert se provou não somente capaz, mas também disposto. Trabalhar o épico e o aproveitável no set parece quase irrelevante. Dito isso, eu achei que “Another One Bites The Dust” foi um pouco monótona.

E o grupo admiravelmente recriou a arquitetura de “Bohemian Rhapsody”, embora tenha sido nesta música que eu senti mais falta de Mercury. O tremor e a dor quando sua voz arrebata “gotta leave you all behind and face the truth” não é algo que pode ser recriado.

Ainda assim Lambert entrelaça seus vocais maravilhosamente com May e Taylor, e eles construíram um show a altura da grandiosidade da música. E essa música com certeza soa ótima todos esses anos depois. O Queen nunca foi grande com os críticos, e a banda tomou algumas desfeitas com o passar dos anos por suas inclinações bombásticas.

Mas por que NÃO entregar um show? Se tanta artisticidade parecia estranha no começo dos anos 90, é bem vinda novamente agora. Apenas olhe os ganhos de “Bohemian Rhapsody”, a biografia do ano passado. Aquele filme arrecadou $900 milhões ao redor do mundo, uma afirmação de que o dinheiro fala mais alto, e que apaga décadas de reviews ruins.

Talvez o que atrai é a nostalgia, mas eu não sei. Ainda há muito sangue circulando através dessas músicas. Teve um momento que chamou minha atenção, apenas uma linda transição da voz de Lambert para um solo de May em “Somebody To Love”. Soou perfeito e sublime, dois caras de gerações diferentes conversando através de uma música que agora ultrapassa os 40 anos.

May está com 72 anos e Taylor com 69, então eu não sei quantas mais rodadas eles têm. Mas o entusiasmo por suas músicas se mantém fervoroso. Naturalmente eles encerraram com “We Are The Champions” porque o seu maior hino dos hinos implora por isso – um conto de luta e sucesso, com reverências, agradecimentos finais e tudo.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Bruna Martins
Fonte: Houston Chronicle

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