Tradução da Entrevista de Adam Lambert na Variety – Junho/2019

Adam Lambert fala sobre o que mudou para artistas gays desde seus dias no American Idol

Dez anos atrás, Adam Lambert explodiu na cena musical em uma chama de “guy-liner”, hairspray e ambigüidade sexual como o “Idol” mais improvável da América. Mas mesmo com o visual de estrela do rock e uma voz ressonante que seduziu o difícil de impressionar Simon Cowell, Lambert perdeu. Perdeu mesmo? Enquanto muitos culpam a homofobia pelo seu segundo lugar, Lambert ficou famoso e ajudou a promover a tolerância aos LGBT ao americano médio, o que abriu o caminho para futuros artistas abertamente homossexuais como Troye Sivan. Logo depois, ele solidificou seu crédito na indústria ao entrar no lugar de Freddie Mercury e fazer turnês com o Queen. Agora com 37 anos, o cantor quer restabelecer sua identidade como artista solo com seu quarto álbum, “Velvet”. Diz Lambert: “Em termos de som e influências, é o que mais parece comigo.”

Fale sobre ser um artista abertamente gay em 2019 em relação a 2009. A última vez que conversamos você comparou a “ser jogado em uma panela de água fervente”.
É uma paisagem totalmente diferente. Há muito mais visibilidade, por isso não parece um conceito estrangeiro ou assustador. Quando entrei em cena pela primeira vez, quase todo mundo que encontrei no mundo da música me apoiou muito pessoalmente, mas todos estavam um pouco nervosos sobre como isso poderia funcionar publicamente. Agora está provado que existe mercado e público. Está permitindo que muito mais diversidade seja implementada.

É seguro assumir que hoje em dia você não sente mais homofobia na indústria da música?
Está melhor, mas não posso fazer uma declaração geral de que isso não acontece mais. Sempre haverá tons de homofobia – às vezes, homofobia internalizada que encontrei de outros gays da indústria. Eles podem achar que eu sou “muito gay”.

“Velvet” parece o seu álbum mais pessoal até hoje. Como foi compô-lo?
Eu estava envolvido em todas as músicas e foi a primeira vez para mim. Então, produzir este álbum foi uma experiência diferente. Confiança é parte disso e apenas ter uma clareza na direção tem sido realmente essencial também. Eu comecei o processo cerca de três anos atrás, apenas ligando para amigos que eu sabia serem compositores ou produtores. Muitas pessoas que eu contatei eu já conhecia ou tinha trabalhado antes, e a familiaridade criou uma sensação de segurança no estúdio, para mim. Eu não estava passando por uma gravadora ou equipe de gerenciamento – os canais oficiais. Eu estava fazendo isso socialmente e essa foi uma boa maneira de começar o projeto porque não havia pressão e ninguém comentava. Isso me permitiu espaço e tempo para explorar, e uma vez que eu tinha algumas músicas que soaram coesas, eu levei para o círculo de negócios mais amplo para lançar as músicas.

O que o orgulho gay significa para você?
Quando me mudei para Los Angeles em 2001, eu tinha 19 anos. Eu estava um pouco atrasado e era como se um mundo totalmente novo se abrisse. Fui a discotecas e bares em West Hollywood e, finalmente, senti como: “Ok, agora estou com a minha tribo”. Depois, aprendi lentamente que, mesmo dentro da comunidade gay, existem muitos subconjuntos diferentes. Então, isso foi parte da exploração social para mim quando eu tinha essa idade – descobrir de que cena eu queria fazer parte – e era interessante navegar por ali.

Qual subconjunto você escolheu?
Bem, eu realmente não sabia. Eu estava fazendo musicais, e a comunidade de teatro musical em LA é uma coisa. Então eu saía para um clube e ouvia música dance e esse é um mundo diferente. Então eu sempre senti que estava pulando por vários círculos diferentes. Eu acho que isso me fez quem eu sou.

Mas você sentiu como se se encaixasse em algum lugar?
Eu ainda não sinto que me encaixo. Parte da minha personalidade é ter sempre um pouco de forasteiro em mim. Eu sou um pouco esquisito.

Agora que você arrasou no Oscar com o Queen e fez Cher chorar no Kennedy Center Honors, como você redefiniu o que significa “fazer sucesso” para você?
Minha ideia de sucesso evoluiu. Poder continuar sendo criativo como uma carreira – e viver confortavelmente – é uma bênção. É fácil medir o sucesso financeiro por números de streaming. Mas, para mim, o mais importante é encontrar uma sensação de satisfação pessoal, e é muito mais do que números.

Olhando para sua experiência no “Idol”, você está ciente do impacto que teve na época?
É engraçado porque eu era do teatro em Los Angeles e quando eu não estava em um show, eu ia para clubes com cabelos e maquiagem malucos. Eu nunca fui o que você consideraria uma estrela pop comercial. Eu tentei esse show por um capricho – eu tinha 27 anos e era o último ano que eu poderia fazer o teste. Eu fiz apenas para dizer: “Oh, bem, pelo menos eu tentei.” Eu não esperava chegar tão longe. Toda semana que eu ficava na competição, eu pensava: “Você está brincando comigo?” Eu simplesmente não achava que era o que eles estavam procurando. E eu também não sei se eles achavam que eu era o que eles estavam procurando, mas isso continuou funcionando. Talvez seja por isso que me conectei: porque parecia algo novo para o show. Eu não era um concorrente típico para eles e toda semana eu tentava alargar as barreiras.

Mas como você traduziu isso em um álbum de estreia de sucesso? Não havia nenhum mapa.
Saindo do show com todo o hype e a publicidade, esse foi o melhor combustível para uma carreira pop. Depois, tentei descobrir OK: Como podemos canalizar isso em um álbum? Mas a gravadora que eu assinei na época, RCA, e o cara da A&R, eles entenderam. Quando eu olho para o álbum, é bem legal. Eles encontraram uma maneira de preencher a lacuna entre eu ser um tipo estranho e a paisagem pop da época.

Eu sinto que as pessoas sempre responderam à sua autenticidade.
Eu tento ser o mais honesto possível. Eu não comprometo tanto a minha personalidade ou minhas crenças. Às vezes é para o meu próprio prejuízo [risos] mas eu me atenho as minhas raízes.

Muitos artistas LGBTQ têm lutado contra o abuso de substâncias. Como você se esquivou dessa bala?
Eu sempre senti que minha voz era algo que eu tinha que cuidar – é um instrumento. Isso foi o que me impediu de festejar demais. Me manteve equilibrado.

O que você entende sobre Freddie Mercury que talvez ninguém mais entenda?
Eu não me atreveria a dizer que eu sei mais do que os membros de sua banda. Mas definitivamente há semelhanças em termos do fato de que ele era gay. E sendo um artista queer na indústria do rock and roll naquela época – que era bem hétero. Como deve ter sido e como isso pode ter influenciado suas decisões? Eu me pergunto se Freddie ser super extravagante e exagerado não foi quase uma reação – uma rebelião – contra o sistema. E eu posso me relacionar com isso.

Este mês é o 50º aniversário dos motins de Stonewall – e a morte de Judy Garland, que foi o maior ícone gay daquela geração. Você é um fã?
Quando eu era mais jovem – mesmo antes de me assumir – eu tinha uma professora de voz que era como uma mentora para mim. Ela gostava de Judy, Liza Minelli, Barbra Streisand, Bette Midler, Cher. Ela me iniciou nos clássicos e me mostrou todos os seus filmes e álbuns. Então, quando eu soube, mais tarde, que elas eram ícones gays por excelência, eu pensei, “Oh, bem, eu já fui educado nisso”. Então eu tenho uma apreciação por elas. Sim, elas são um pouco extravagantes, mas essas mulheres eram lendárias por um bom motivo.

Você ainda luta com alguma homofobia internalizada?
Eu rejeitei a minha há muito tempo, para ser honesto com você. Talvez em certos casos: com artistas na era das mídias sociais, muita expressão é editada para o público. Quando você está fazendo música pop, é preciso ter em mente: “Preciso me conectar com o maior número de pessoas possível”. Você quer fazer entretenimento para as massas. O mais importante é equilibrar isso com algum tipo de integridade pessoal e esse é meu ponto de partida ultimamente.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Stefani Banhete
Fonte: Variety

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