Tradução da Entrevista de Adam Lambert na Revista Schön

Confira a seguir a tradução completa da entrevista de Adam Lambert na Revista Schön da edição de Novembro:

Adam Lambert é um sábio moderno. Depois de ser impulsionado ao estrelato pop quase uma década atrás, Lambert não parou de transformar a cena musical – o tempo todo defendendo a justiça social. Vindo da Costa Oeste, onde ainda reside, suas primeiras empreitadas em musicais e uma temporada de sucesso no American Idol o treinaram para sua ascensão ao sucesso global. Desde então, ele inscreveu sua marca na história da música, tanto como um ato solo com três grandes álbuns de sucesso e em colaborações com a icônica banda britânica Queen. Apenas alguns dias antes de sua performance nostálgica de “Wicked” na NBC – ele costumava fazer parte do musical em Hollywood – nós conversamos com Lambert para discutir seu quarto álbum, ciclos que se completam, hiatos e o poder da política.

Você acabou de terminar sua residência com o Queen em Las Vegas, não muito tempo atrás. Como foi?
Foi ótimo! Foi muito empolgante fazer uma residência porque fizemos apenas turnês, então fazer dez shows no mesmo local foi interessante. Foi diferente para nós. Foi muito relaxante, estávamos bem acomodados, e Vegas foi… bem, ainda é Vegas, mas o set-up que tínhamos nos fez sentir como se estivéssemos de férias. Eu me diverti muito e muitos amigos e familiares vieram fazer uma visita, o que foi muito legal também.

Isso é bom. Dez shows em três semanas deve ser desafiador. O que você acha? Porque você mencionou que a turnê é bem diferente… Você acha que a turnê é melhor, necessariamente?
Na verdade, foi mais fácil do que uma turnê. Dez shows em três semanas é realmente uma escala muito tranquila, então, para ser sincero, tivemos muitos dias de folga. Quando fizemos nossa primeira turnê mundial, por exemplo, eu acho que provavelmente foi algo como 17, 18, talvez 20 shows em três semanas.

Então você prefere a residência?
Eu não acho que posso dizer que eu prefiro – foi apenas diferente. Há algo de muito emocionante em estar em turnê também, porque você está sempre se movendo. Então, há sempre algo novo. Mas eu realmente gostei disso como uma mudança. Era um espaço menor, então era legal tocar para um público um pouco mais íntimo.

Ter um público mais íntimo deve ser legal… Você se apresenta com o Queen há quase uma década, como você equilibra ser um artista solo e viajar com eles? Você acha que vai parar ou manterá os dois lados vivos?
Eu não sei… Eu queria ter uma bola de cristal! [risos] Eu não sei o que o futuro reserva. Eu estou trabalhando em um álbum agora, e eu nunca senti que trabalhar com o Queen tenha prejudicado meu trabalho solo. Não me sinto como se pudéssemos competir uns com os outros. Eu acho que, na verdade, eles coexistiram muito bem, no tempo certo. A colaboração com o Queen é uma pequena parte do tempo em que eu vou para a estrada com eles, e então acaba, e eu tenho bastante tempo para dedicar a minha carreira solo. Eu sei que já faz três anos desde o meu último álbum, mas eu não acho que os atrasos realmente tenham algo a ver com estar em turnê com eles. São mais atrasos nos negócios e eu aproveitando o tempo criativamente. Eu não sabia exatamente o que eu queria fazer por um tempo, quanto à minha carreira solo. Agora, explorei alguns sons e conceitos novos e estou no caminho para colocar algo em prática, mas levei um segundo para descobrir isso por mim mesmo, para este projeto.

Por que você acha que foi assim? O que aconteceu com você naquela época, quando você não sabia o que fazer?
Eu não sei. Eu não acho que foi algo específico. Eu estava apenas esperando por uma certa inspiração, você sabe o que quero dizer? Eu estava realmente cavando, tentando encontrar alguma autenticidade. O som e estilo mais autênticos possível. Eu acho que olhando de fora, eu acho que os fãs, por exemplo, podem pensar “oh, você fez esse álbum e agora você pode simplesmente fazer outro, sabe… vai logo” [risos] mas aqueles de nós que estão realmente fazendo os álbuns, sabemos que não é tão simples assim. Existe o processo criativo. Você não pode colocar um limite de tempo e exigir que isso aconteça. E o lado comercial das coisas também é tão complexo. Eu acho que, entre os dois lados de lançar um álbum, tem sido uma jornada interessante. Mas estou animado porque sinto que a luz está no fim do túnel agora. [risos]

Então você está quase terminando o álbum? Ou você ainda está trabalhando nisso?
Ainda estou trabalhando nisso, mas definitivamente estou chegando lá. Há algumas músicas incríveis das quais tenho muito orgulho e mal posso esperar para compartilhá-las com o mundo.

Você vai lançá-lo até o final do ano?
Eu não faço ideia. Estou fazendo o possível para lançá-lo o mais rápido possível.

Isso é bom. Além do álbum e da residência com o Queen, você também foi anunciado como o vilão do filme “Playmobil”. Como foi essa experiência? É seu primeiro trabalho de atuação, mesmo que seja dublagem?
É o meu primeiro trabalho de dublagem, para alguma coisa animada. É realmente empolgante. Eu nunca fiz isso antes e sempre quis fazer. É engraçado porque é um papel musical. Esse personagem tem uma música e ele é um vilão, mas ele também é meio que um palhaço. Ele é engraçado, é louco, mas também é detestável, imaturo e faminto por poder… meio que um ditador.

Soa familiar…
Familiar! Sim, definitivamente alguns tons de comentário social nisso. Mas é um ótimo personagem, foi muito divertido interpretá-lo. Foi tão louco que perdi a voz depois do primeiro dia, porque ele é muito insano.

Seu alcance vocal deve ser incrível para dublagem…
Sim, é ótimo. A música é muito teatral, então combina com esse personagem. É ridículo.

Você disse anteriormente que o novo álbum tem um som parecido com o do seu primeiro álbum, “For Your Entertainment”. Você pode explicar um pouco porque você sente que é um ciclo se completando?
Acho que a razão pela qual eu disse que seria uma referência ao meu primeiro álbum é porque há muita referência ao Glam-Rock e ao Rock Clássico dos anos 70 e início dos 80. Eu voltei para muitas dessas inspirações. Eu sinto que há também alguns paralelos com meu segundo álbum [“Trespassing”]. Quero dizer, é uma declaração generalizada, porque obviamente, é mais do que uma música, mas acho que os fãs vão fazer algumas comparações.

Então você não acha que se relacionaria com o terceiro, “The Original High”, que é o mais recente?
Na verdade, não. Eu acho que há uma distância. Eu amo meu terceiro álbum, “The Original High”. Foi realmente um trabalho de amor e é algo de que me sinto muito orgulhoso. Eu sinto que este novo tipo de projeto meio que se volta para elementos sonoros mais orgânicos e atemporais. Se isso faz sentido.

Então você fez isso de propósito?
Estou voltando à música que me inspirou a querer me tornar um músico em primeiro lugar.

Interessante. Então, é como uma jornada para o que fez você querer buscar a música.
Sim, é menos focado em estar na moda e mais focado em ser atemporal. Quer dizer, eu sempre fui eu, não sinto que nenhum dos trabalhos que fiz não tenha sido autêntico, mas tem uma atemporalidade que eu acho realmente empolgante.

Então, como isso está funcionando? Você pode nos dar uma visão do seu processo criativo?
Tudo tem sido muito positivo. Não há frustração. Quando você entra no estúdio com compositores e produtores, tudo é uma espécie de experiência. Você se reúne e a energia coletiva vai produzir algo. Pessoalmente, eu sempre preferi trabalhar em uma equipe pequena, ao contrário de sozinho. Acho que trago certas habilidades e sensibilidades à mesa e gosto quando isso combina com as habilidades e sensibilidades de outras pessoas. Eu acho que trabalhar em equipe tende a produzir o material mais forte para mim.
Você entra na sala e nunca sabe o que vai conseguir. Então, de certa forma, todo o processo é de tentativa e erro. É para ser entretenimento, por isso precisa realmente se conectar com as pessoas.

Se você quiser torná-lo atemporal, acho que seria um desafio. Você pode nos dar uma ideia de em quais temas você tocará?
Eu acho que existem algumas ideias gerais de resiliência no tema. Há um tema do tipo, ter o seu poder. E se você não tem, meio que pegá-lo de volta. Definitivamente, muitos anseios… há uma sensação de ansiar e buscar intimidade. A busca pela intimidade e o quanto isso é elusivo.

Parece muito pessoal…
É, realmente é pessoal. Eu me sinto muito bem com isso. Eu sinto que não é o tipo de álbum que eu fiz só para ser atraente. Eu tentei exercer a máxima integridade possível.

Isso é ótimo. Eu acho que isso define você como artista, de maneira geral. Você fala abertamente sobre a comunidade LGBTQ+ e sua própria sexualidade. É um momento muito difícil para a comunidade, especialmente nos EUA. Que conselho você daria para as pessoas afetadas por essas políticas?
Eu acho que o maior inimigo da comunidade LGBTQ+ agora é a indiferença. São pessoas se sentindo apenas como vítimas, e estão apenas sentadas, suportando o que acontece. Esse é o problema. O que é tão empolgante agora é que muitas pessoas estão se mobilizando e incentivando outras a se aproximarem. Temos que nos envolver politicamente. Eu acho que muitos liberais e pessoas mais jovens sentiram por um longo tempo que sua voz não conta e que eles não podem provocar mudanças e que há uma sensação geral de desesperança, infelizmente. Vimos que, antes do clima político atual, fizemos muitas mudanças. Houve muito progresso. Acho que, agora, mais do que nunca, estamos chegando a um ponto em que todos precisam se envolver, ou então não vai dar certo. As pessoas só precisam acordar um pouco e se educar. Honestamente, eu não fui uma pessoa muito política até recentemente. Mas estou percebendo, como com tantos amigos e colegas, que é hora de se envolver. Eu definitivamente me sinto inspirado e motivado para fazer isso e para tentar encorajar as pessoas a fazerem isso também.

Mas você foi muito vocal sobre a justiça social antes. Você acha que as linhas entre justiça social e política estão indistintas, agora?
100%. Estou percebendo agora que o necessário para continuar avançando é que é preciso envolver-se politicamente porque existem direitos civis básicos que estão sendo questionados. Recentemente, a comunidade trans recebeu um golpe terrível com a administração Trump basicamente dizendo que as pessoas trans não existem. É fundamentalmente ridículo. É como dizer que a mudança climática não existe, é besteira. Então, só precisamos nos envolver.
O que é realmente lamentável é que parece que estamos andando para trás. No governo Obama, avançamos tão bem. Havia tanta emoção sendo investida em termos de reconhecer e validar todos esses estilos de vida diferentes. Espero que as pessoas em todo o mundo percebam que alguns dos movimentos políticos que o país está fazendo não refletem a maioria das pessoas que o compõem. Com tudo isso dito, é realmente inspirador ver como as pessoas estão ficando apaixonadas e como as pessoas estão envolvidas. É realmente inspirador ver como as pessoas estão se manifestando.

Há um lado bom em tudo, eu acho… para terminar em uma nota mais leve, depois que você lançar toda essa música nova, você tem mais planos? Você está planejando sair em turnê solo?
Eu definitivamente gostaria de fazer isso. Não há planos definidos ainda. Nós não chegamos a esse ponto. É engraçado, eu acho que quando eu respondo perguntas dos fãs online, há muitas perguntas como “quando isso vai acontecer?” E bem, eu não posso controlar tudo tanto quanto eu gostaria [risos]. Há muitas peças diferentes que são necessárias para que tudo isso se junte. Algumas delas são artísticas, algumas são negócios, e algumas estão completamente fora do meu alcance. Estou tentando. Estou trabalhando duro diariamente para deixar esse projeto pronto. E eu tenho sorte de ter um time incrível, e eles estão ajudando também… estamos tentando! [risos]

As coisas boas levam tempo, então acho que valerá a pena a espera.
Sim, seria possível lançar algo apenas por lançar. Mas para fazer do jeito certo, é um processo chato que eu tenho certeza que os fãs não se importam, mas é parte do processo…

Fotografia. Ben Duggan
Moda. Anna Schilling @ The Rex Agency
Artista. Adam Lambert
Cabelo. Dustin Baker using Oribe + The Hair Shop
Produção. Villani Productions
Texto. Sara Delgado

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Stefani Banhete
Fonte: Schön Magazine

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