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19jul2018
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Entrevista de Adam Lambert na V Magazine – Jul/2018
Confira a seguir a entrevista realizada com Adam por Mathias Rosenzweig para a sua coluna POP-ED da V Magazine, recentemente via telefone:
POP-ED: Adam Lambert Nós conversamos com o renomado cantor conforme ele se prepara para uma residência de shows em Vegas.
Adam Lambert quase venceu o American Idol há nove anos. Os vídeos ao redor da mídia daquela época são indicadores de como nós tratávamos artistas pop gays.
“Conversas sobre gay circulam Adam Lambert, do ‘Idol'”, escreveu o New York Times. Rolling Stone, a revista com a qual Lambert trabalhou para se assumir publicamente, uma vez o chamou de “rainha extravagante”. O blogueiro Perez Hilton criticou: “Adam Lambert está sendo desonesto. O cara ainda se recusa a admitir a sua homossexualidade”. ABC News refletiu que ele estava indo longe no Idol, apesar do fato de que “Há um delineador… há fotos na internet dele ficando com rapazes. Nada disso parece importar”. Sim, eles escreveram “fotos na internet”. Bem vindo de volta a 2009.
Embora Lambert talvez não tenha sido o primeiro artista pop abertamente gay – ele foi precedido por artistas como George Michael e Elton John, entre outros – ele foi o primeiro a quase vencer um show transmitido na TV assistido por 30 milhões de americanos ao redor do país – norte, sul, urbano, rural, Republicanos, Democratas, tanto faz. Com o seu segundo álbum, “Trespassing”, ele também foi o primeiro artista abertamente gay de todos os tempos a chegar ao topo do Billboard 200 nos EUA. Mas o murmúrio ao redor da sexualidade de Lambert já está fora de moda. Eu me perguntei inicialmente se seria retrógrado mesmo mencioná-lo.
Mas considerando que faz quase uma década desde que Lambert foi introduzido ao mundo, que foi no mesmo ano em que Iowa, Vermont e Nova Hampshire legalizaram o casamento gay, parece um momento apropriado para refletir. Os tempos mudaram – uau, parece até que o New York Times voltou no tempo e renomeou aquele artigo -, mas de algumas batalhas vale a pena relembrar.
“A fim de levantar a questão e fazer a diferença, temos que ser corajosos sobre isso”, Lambert diz pelo telefone. Uma vez a ABC cancelou várias de suas aparições depois de ele ter beijado o seu baixista e simulado sexo oral durante uma agora-abominável apresentação no American Music Awards. Eu menciono que ser gay não devia importar, que as pessoas deviam ser indiferentes a isso, mas ele me lembra que nós não estamos nesse ponto ainda. “Se nós não tivéssemos feito protestos radicais logo cedo, se nós não tivéssemos pessoas realmente lutando contra o sistema, nós não estaríamos onde estamos hoje. Então eu não acho que você deve pensar completamente tipo, ‘Oh, tanto faz, isso não devia importar. Não vamos falar sobre isso. Vamos apenas ignorar isso’. Acho que isso iria tirar a evidência do momento.”
Eu pergunto se ele sente que ele é um artista politicamente responsabilizado apenas porque ele é gay. “Isso é interessante, porque eu meio que me senti assim desde o início, que apenas ser eu mesmo e ser aberto quanto a isso, de um modo, é um ato de desafio em si”.
Especificamente no início desta carreira, isso resultou em outras questões como, ele poderia ser lucrativo? “Especialmente na indústria musical… com certeza houveram algumas sobrancelhas levantadas e medo, porque as pessoas pensaram, ‘Bem, isso vai dar certo ou não?’ A indústria obviamente é uma indústria, e eles estavam preocupados com o que era comercializável e o que iria dar dinheiro. Eles não tinham certeza, ou não estavam confortáveis, com a ideia de alguém gay sendo capaz de fazer isso”.
A especulação ao redor da sexualidade de Lambert, a qual ele não discutiu abertamente por um tempo (em suas palavras, de qualquer maneira; ele admitiu que algumas de suas performances deviam ter sido prova suficiente), acendeu a loucura da mídia. Ele parece ser grato por isso. “Da mídia, eu tive muito apoio. Era muito animador para eles, porque era algo com o qual eles não estavam acostumados a realmente serem capazes de se aprofundar”, ele diz. “Foi uma época interessante, porque eu realmente tive muito apoio. Não era como se eu estivesse lidando com algo completamente trabalhoso”.
Atualmente, a orientação sexual dos artistas pop dificilmente domina as suas carreiras ou as conversas em torno deles. O cantor Troye Sivan, que alcançou a fama através do YouTube, se assumiu publicamente antes de assinar seu contrato de gravação. “Isso me permitiu desde o início escrever músicas que eram completamente honestas”, ele contou à Rolling Stone em 2016. Olly Alexander, do Years & Years, foi aconselhado por seu instrutor de mídia a permanecer no armário durante o início da banda. Ele ignorou essa sugestão. Sam Smith se assumiu gay publicamente pouco antes do lançamento do seu álbum de estreia, e não atraiu manchetes que envolviam palavras como “escândalo”, como o Lambert atraiu. Nenhum desses artistas parece ter sofrido enormemente por suas decisões de ser abertamente gay na música pop. Não é para dizer que eles não tiveram suas respectivas lutas, mas parece que eles passam mais tempo falando sobre ser gay do que a mídia passa. Foi exatamente o contrário com Lambert – talvez eles tenham finalmente ficado exaustos com ele.
Curiosamente, ser gay não parece ter impedido as fãs heterossexuais de se apaixonarem loucamente por esses artistas. Durante uma sessão de autógrafos para sua capa na V Magazine, Sivan teve de testemunhar uma fã chorando tanto que ela precisou sair para fora vomitar antes de voltar, chorar mais e tirar uma foto. Talvez a insustentabilidade dos artistas pop masculinos ricos e famosos não é muito favorecida por seus desinteresses sexuais em todo um gênero.
Coincidentemente, ontem foi o lançamento de um novo trailer de “Bohemian Rhapsody”, um filme sobre o falecido vocalista do Queen, Freddie Mercury. Ele é interpretado por Rami Malek. Bryan Fuller, criador de Hannibal e Pushing Daisies, observou que o trailer dá ênfase a tensão sexual heterossexual de Mercury com uma mulher, acima de suas relações com outros homens. Mercury se identificava como bissexual. Ele também morreu de AIDS, o que aparentemente o filme não aborda diretamente.
Na vida real, os membros do Queen, Brian May e Roger Taylor, escolheram Lambert a dedo para se juntar a eles em turnê como seu vocalista, formando assim Queen + Adam Lambert. Lambert desenvolveu uma relação com May e Taylor durante o seu tempo no Idol, e com certeza foi escolhido para se juntar a eles com base no seu talento, e não em como sua orientação sexual correspondia a de Mercury. Dito isso, a falta de “domínio hétero” (um termo popular semelhante a “domínio branco”, mas para heterossexuais) parece satisfatória. Como Mercury, a habilidade de Lambert não é definida por sua sexualidade. Mas seria ignorante fingir que suas carreiras e vidas não foram afetadas por isso, e portanto, talvez são um pouco mais similares.
Enquanto a Internet continua a usar o trailer como assunto de incontáveis debates sobre a intersecção do artista, celebridade e sexualidade – O quanto a orientação sexual deveria importar? Homens heterossexuais deveriam poder interpretar homens homossexuais? A América somente irá comprar ingressos para um show se ele destacar o fato de a pessoa ser hétero acima de ser gay? -, Lambert está se preparando para sua residência de 10 shows em Vegas com o Queen. Começa no dia 1° de Setembro no Park MGM.
“Eu acho que Vegas está passando por um grande renascimento agora. É uma das capitais do entretenimento no mundo”, ele diz. Nos últimos anos, a Cidade do Pecado mudou de exibir atrações antigas para alguns dos mais populares de hoje. “Eu vi o show da Britney, eu vi a Celine anos atrás quando ela estava fazendo o show com o Cirque [du Soleil]. Eu vi o show do Elton”, lista Lambert.
Entre anos de turnês com o Queen, Lambert também encontrou tempo para começar a escrever mais de suas próprias músicas. Vão soar como os clássicos que ele tem apresentado no palco ultimamente? “Eu acho que isso é exagerar um pouco, mas eu acho que aprendi muito sobre o que faz uma grande canção ser uma grande canção… As músicas do Queen ainda fazem sucesso porque elas falam às condições humanas e meio que alcançam a todos. Um dos meus objetivos para esse projeto é uma certa quantidade atemporal”. Ele acrescenta que esse nem sempre foi o caso com a sua música. “Com certeza eu experimentei estilos e gostos mais populares, mas eu acho que estou tentando chegar ao coração do que faz uma grande canção neste álbum, e estou animado. Acho que estou conseguindo. Estou muito satisfeito”.
Atualmente, as manchetes sobre Lambert nada tem a ver com a sua sexualidade. Não é isso que o faz interessante ou excepcional, e nunca deveria ter sido. Mas foi no que o mundo focou em um ponto, e de um modo, Lambert teve que ser crucificado para que outros artistas gay não tivessem de ser. Vale a pena lembrar que ele teve que persistir, o que é na verdade o tema de sua nova música.
“Nos tempos em que estamos vivendo, em que há muita tensão nos EUA e ao redor do mundo, é meio sobre, ‘Okay, como você continua? Como não deixar todas essas forças exteriores te colocarem para baixo, ou te dizerem que você não é bom o bastante, ou te impedirem de seguir em frente? Como você faz isso?’ Eu acho que a maioria das músicas que eu tenho escrito de algum modo passam a ideia de, bem, me deixe reconhecer isso, mas eu não vou deixar que isso me pare”.
Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Bruna Martins
Fontes: @vmagazine, V Magazine e @mathiasrosenzweig
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