Adam Lambert fala sobre Queen, sua carreira solo e como Simon Cowell acordou em entrevista ao Portal NME

Confira mais uma parte da entrevista que Jordan Bassett do portal NME realizou com Adam no final de Maio (31/05) em Londres:

“Nós nos tornamos uma família”: Adam Lambert sobre Queen, sua carreira solo e como Simon Cowell acordou

Ninguém poderia substituir o lendário vocalista do Queen, Freddie Mercury, mas os fãs gostaram muito do cantor Adam Lambert desde que ele começou a se apresentar com a banda em 2011. Adam alcançou a fama no American Idol, onde fez a primeira audição com “Bohemian Rhapsody” e eventualmente chamou a atenção dos membros originais da banda, Brian May e Roger Taylor – o sonho se torna realidade. Este é um grande ano para os fãs do Queen, com uma enorme turnê norte-americana em Setembro e o filme biográfico de Freddie, “Bohemian Rhapsody”, com lançamento previsto para Outubro. O filme não ficou sem as suas controvérsias; o diretor Bryan Singer e a estrela Sacha Baron Cohen deixaram a produção, tendo sido substituídos por Dexter Fletcher e Remi Malek, e seu trailer recentemente lançado, foi acusado de apagar a homossexualidade de Mercury.

Nós conversamos com Adam para falar sobre seu próximo álbum solo, Queen, e o filme.

Seus shows com o Queen só ficam maiores e maiores e maiores. Se você começasse agora, no nível que os shows estão atualmente, você acha que seria demais?
“Bem, o primeiro set completo que fiz com eles foi completamente esmagador. Foi para um quarto de milhão de pessoas na Ucrânia! Eu estava completamente apavorado. Eu tive nove dias de ensaio para fazer um show de duas horas. Eu estava apavorado. Acho que me tornei mais forte, melhor e mais confiante por causa do Queen. Nos seis anos que eu estive em turnês com eles, o show cresceu e eu também.”

Houve alguma música com que você teve dificuldades, mas que agora consegue cantar?
“Algumas foram difíceis de aprender. ‘Don’t Stop Me Now’ – há muitas palavras. O que acontece com muitas das músicas, é que Freddie fez coisas com o fraseado, onde ele entrava e saía das notas. Quando você está tentando aprender uma das músicas dele, ouvindo a gravação, às vezes você fica tipo ‘O que ele está fazendo? Eu não quero imitá-lo, mas qual é a porra da melodia?’”

Você falou sobre o fato de que agora vivemos em um mundo que é menos hostil para celebridades gays. Isso é verdade, mas atores abertamente gays na lista A continuam sendo uma raridade, não é?
“A TV é mais progressiva, por algum motivo. Eu acho que é porque tudo é impulsionado financeiramente. Com um filme, você tem que sair de casa e comprar um ingresso. É mais uma venda. As pessoas já assinaram um serviço a cabo ou de streaming. Eles já se inscreveram. Talvez seja a obrigação moral da TV educar as massas e apresentá-las a personagens de todos os diferentes estilos de vida, que se identifiquem com todo tipo de coisa – incluindo queer ou trans e bi-racial. Acho que a TV está impulsionando todas essas questões que estamos analisando agora, de um jeito bom.”

Você encontrou fama no American Idol. Alguma vez você teve uma conversa consigo mesmo, pensando se deveria suprimir certas partes de sua personalidade?
“Não, não mesmo. Eu não acho que suprimi nada.”

Não, é isso que quero dizer – mas você teve essa conversa consigo mesmo?
“Até aquele momento, não era um pensamento consciente. Eu percebo agora, que até a minha temporada, sempre que alguém apareceu no programa, que foi percebido como gay ou se era óbvio o suficiente que eles eram gays, essas pessoas eram uma piada. Eram motivo de chacota. Simon [Cowell] tirava sarro deles. Era o alívio cômico. ‘Você não poderia ter uma carreira como artista de gravação; você é muito efeminado.’ Para ser justo, alguns deles não eram grandes cantores, mas havia alguns cantores muito bons no programa. E eles não foram levados a sério. Um deles foi para o Drag Race eventualmente. Você conhece Adore Delano? Ele competiu como Danni no American Idol anos antes de estar no Drag Race e ele é um bom cantor.”

Mas ele foi uma piada no American Idol?
“Simon foi muito duro com ele. E ele não foi o único; houve vários. Para mim, a ideia de ser cantor parecia um sonho. Não tem como eu ser um cantor solo – eles não estão procurando por pessoas como eu. Antes de tudo isso, nunca pensei que estaria no programa; eu era apenas um fã. Indo para lá, eu definitivamente pensei: ‘Eu serei mais uma dessas pessoas que se tornam piada?’ Estava no fundo da minha mente, mas eu continuei. Toda vez que eu passava para a próxima progressão e depois para a próxima, eu ficava tipo, ‘Oh, eles gostam de mim, isso está funcionando.’”

Você encontra Simon Cowell por aí, hoje em dia?
“Eu esbarrei nele quando fiz o X Factor. Eu estava na final do ano retrasado e foi a primeira vez que o vi em 10 anos. Ele foi gentil. Ele disse: ‘Bom ver você – bom trabalho.’”

Toda essa história de ele zombar dos concorrentes queer parece tão estranha em 2018…
“Eu acho que até ele mudou. Ele meio que se conscientizou sobre esse ângulo e percebeu rapidamente que não é mais aceitável.”

É incrível como a cultura progride.
“O que é interessante no Idol é que, quando você se torna parte do Top 12 ou 13, você não fala com a imprensa. Eles sequestram você e fazem você deletar seu Facebook. Nós nem sequer tínhamos Twitter ainda. Algumas fotos saíram da minha página no Facebook, beijando meu ex-namorado, todo vestido e enfeitado com maquiagem. [A imprensa] falou: ‘É você?’ Eu fiquei tipo ‘É! Este sou eu.’ E então foi isso; o gato estava fora do saco. Eu finalmente terminei o programa e fiquei tipo ‘Oh, finalmente, eu posso responder a essa merda’. Decidimos aproveitar e responder na capa da Rolling Stone, o que foi meio que fabuloso.”

Esse deve ter sido um momento muito bizarro para você.
“Foi interessante porque havia membros da comunidade gay dizendo: ‘Por que você não está fora (do armário)?’ Eu pensei: ‘Eu estou fora!’ Eu não percebi que quando você está nos olhos do público, você tem que declarar isso. Foi interessante aprender conforme as coisas aconteciam. ‘Oh, é assim que é ser uma celebridade queer.’ Eu não tinha muitos exemplos, então não sabia o que fazer ou o jeito certo de fazer alguma coisa.”

Você disse que sofreu resistência da indústria da música quando beijou um homem no American Music Awards. Isso te fez mais determinado a ser tão sincero como você é?
“Definitivamente foi uma reação, e definitivamente foi para provar um ponto. Então rapidamente percebi que poderia potencialmente arruinar minha chance, e essa era uma posição difícil de se estar. Meus princípios eram muito firmes, e eu sou muito claro sobre o que eu acredito, e eu sempre sou alguém que é meio contrário. Gosto de debater e provar um ponto. Mas eu também não queria perder minha oportunidade. Eu queria ter uma carreira que, de repente estava disponível para mim, então isso gerou um pouco de conflito em mim. Eu não sabia exatamente o que fazer e fiquei com medo. Recuei um pouco e tive algum sucesso. Quando eu saí em turnê depois daquele álbum [sua estreia, 2009, ‘For Your Entertaiment’], eu definitivamente pensava sobre isso. Eu estava beijando um músico todas as noites no palco só para provar esse ponto.”

É interessante o que você disse sobre ser exposto à América conservadora, porque o Queen era muito extravagante, em uma época em que ser gay era muito mais tabu. Você se pergunta como essa música obviamente gay se conectou com um público tão mainstream no final dos anos 70.
“Bem, sim, mas ser [sexualmente] ambíguo nos anos 70 era tipo uma moda. Era legal ser efeminado, andrógino. Ele é? Ele não é? Isso tudo foi muito rock ‘n’ roll. Bowie estava fazendo isso. Freddie, Mick Jagger. Foi um produto da época. As pessoas eram pós-amor livre dos anos 60. Havia muitas festas acontecendo, muito sexo, muito rock ‘n’ roll. Então a administração Reagan entrou. Tudo era muito conservador, com reformas como a guerra contra as drogas. E então a AIDS bateu; todo mundo surtou. Isso tornava tudo muito perigoso e muito errado. Todo mundo se fechou bastante. Olhe para George Michael – ele lutou contra isso toda a sua carreira.”

Mas Bowie e os Stones pareciam “contraculturais” de uma forma que Queen não era.
“Com o Queen, em particular, acho que era algo muito discreto e inteligente. Freddie estava flertando com o tabu de [sua sexualidade]. Foi tabu na mídia; eles estavam um pouco assustados com isso. Um fã de rock não queria nem pensar a respeito, não queria questionar. Havia músicas que eram bobas e extravagantes, mas a banda equilibrava isso com um rock mais pesado.”

Você já viu o filme sobre Freddie, “Bohemian Rhapsody”?
“Não, embora eu tenha visto o trailer e pareça ótimo. Ele [Remi Malek, o ator que entrou em cena para interpretar Freddie], se parece com [Freddie]. Eu gosto da música no trailer e como eles misturaram todas as músicas – eu ouvi dizer que há muito no filme sobre como as músicas foram criadas.”

O que você achou da controvérsia em torno da saída de Sasha Baron Cohen do projeto? Ele alegou que a banda estava muito envolvida e tentou manipular a narrativa.
“Quer dizer, como você se sentiria se tivesse perdido um emprego? [Risos] Você vai dizer todo tipo de coisa.”

Ele disse que queriam que Freddie morresse no meio do caminho, e então o filme seria sobre como eles continuaram a prosperar sem ele.
“Eu não sei, eu não estava lá. Eu não sei como foi. Mais uma vez, como você se sentiria se perdesse um emprego? Você vai dizer qualquer coisa.”

Algumas pessoas afirmaram que o trailer é culpado de “lavagem heterossexual” com Freddie…
“O trailer? Como um trailer poderia…?”

…E relevar sua sexualidade. Nós realmente não vemos Freddie com um homem, por exemplo.
“Eu o vi com um homem. No piano.”

A sinopse oficial do escritório da Fox diz que é sobre ele lidar com uma “doença que ameaça a vida”, mas evita dizer que essa doença com risco de vida era a AIDS.
“Eu não vi, e não é o meu filme. Eu gostaria de esperar e ver o filme antes de ter uma opinião sobre isso. Não um trailer. É tirar conclusões precipitadas, não é?”

Vamos conversar novamente depois que você ver o filme. Pergunta mais fácil: sua música favorita do Queen?
“Eu amo ‘Another One Bites The Dust’, eu amo a linha de baixo. Eu também adoro ‘Somebody To Love’, eu amo cantar essa música, eu amo a letra dessa música. Me identifico com as palavras. Eu fico tipo ‘Por favor, apenas deixe acontecer’. Eu amo muitas delas, mas por diferentes razões. Cantar “Who Wants To Live Forever” é, tipo… é tão intenso. Há muita liberação. Brian escreveu sobre seu pai, mas cantando agora, quando eu ouço, essa música é obviamente algo que me faz pensar em Freddie.”

Haverá material solo novo este ano. O que esperamos? E quando vamos ouvir o álbum?
“Eu ainda não tenho certeza. Eu tenho aproveitado meu tempo para criar algo que eu amo. É difícil descrever porque não tem um gênero específico. Eu escrevi o que sinto vontade de escrever. Estou animado com isso! Eu tenho sido influenciado por tudo que está acontecendo ao meu redor, e eu queria fazer um álbum explorando todas as minhas influências dos anos passados até agora, então foi isso que eu fiz. Estarei de volta ao estúdio assim que a turnê terminar.”

Você falou sobre o fato de que às vezes é fácil ser absorvido pelas tendências musicais. Como você encontrou seu lugar em 2018?
“Acho que encontrei mais do que nunca. Eu estou realmente apenas ouvindo a mim mesmo e o que eu quero fazer, e acho que isso está funcionando para mim. Estou sendo influenciado pelo que amo há anos e a partir de agora, ao invés das tendências. Eu me sinto mais confiante em fazer minhas próprias coisas mais do que antes, então é realmente sobre seguir esse sentimento.”

Finalmente: como você descreveria Brian May?
“Ele é um pensador e um sonhador. Ele gosta de entrar no coração das coisas, seja emocional ou científico. Ele é hiper focado no sentimento que ele quer alcançar. Ele não é impulsivo. Roger é impetuoso e impulsivo. Ele é baterista; Ele é chamativo e glamouroso. Ele é rock n’ roll assim. Eles se complementam muito bem. Eles eram os membros fundadores originais antes de Freddie. Eles foram tão abertos para mim e calorosos. Nós nos tornamos uma família e confiamos uns nos outros.”

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Stefani Banhete
Fontes: @NME e NME

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