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14jan2018
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[ENTREVISTA] Revista Classic Rock entrevista Brian May – Jan/2018
No final do ano passado (2017), a Revista Classic Rock publicou na versão online parte de uma entrevista realizada com Brian May do Queen. Já a entrevista na íntegra foi publicada na versão física da revista em Janeiro deste ano, na qual Brian falou sobre Adam Lambert, Freddie Mercury, o “Live-Aid”, e conta por que seria legal se as pessoas o chamassem de ‘Doutor’. Confira a tradução da entrevista a seguir:
“Coisa de Outro Mundo”
É assim que sua vida no Queen é resumida por Brian May – ou, se preferir, Dr. Brian May, CBE, de quem 2017 tem sido mais um ano memorável de muitos em sua carreira.
Em 18 de Julho de 2017, quando Queen + Adam Lambert tocaram no Air Canada Centre em Toronto, 20.000 pessoas cantaram “Parabéns” para uma pessoa da banda, que estaria completando 70 anos algumas horas depois que o show acabasse: Brian May. Alcançar tal marco foi uma experiência muito estranha para o guitarrista do Queen – agora Dr. Brian May, CBE, não nos deixa esquecer. “Eu não acredito que estou nessa idade”, diz ele. “É realmente esquisito”.
Tem sido um ano atarefado para o doutor. A turnê de Queen + Adam Lambert percorreu a América do Norte e Europa, indo para o Reino Unido no final de Novembro. Um box de edição de aniversário de 40 anos do clássico álbum “News Of The World” do Queen foi lançado. E teve o livro de May, “Queen In 3-D”, contendo centenas de fotos inéditas que ele tirou em câmeras estereoscópicas antigas ao longo de sua carreira com a banda, além de a história do Queen escrita por ele – o mais próximo que ele chegou de escrever uma autobiografia completa.
Vinte e seis anos desde a morte do vocalista do Queen Freddie Mercury, e 20 anos desde que o baixista John Deacon se aposentou da indústria da música, May e o baterista Roger Taylor ainda não estão prontos para deixar a banda que eles fundaram juntos em 1970. “Eu não quero me aposentar”, diz May, completando, com um sorriso irônico: “Eu sou agradecido por ter chegado a esse ponto”.
May conversou com a Classic Rock sobre o passado, presente e futuro do Queen, o aguardado filme biográfico de Freddie Mercury, “Bohemian Rhapsody”, Axl Rose, Elton John, e por que seria legal se as pessoas o chamassem de ‘Doutor’.
Para muitos fãs do Queen demorou um tempo, mas você acha que Adam Lambert já provou que é o vocalista da banda?
Sim. Adam é incrível, de verdade. Eu constantemente fico pensando de onde isso surgiu. Como o universo fez com que isso acontecesse?Você imagina o Queen fazendo um novo álbum de estúdio com Adam?
Eu não sei. Nós adoramos interpretar a obra, e isso é o que temos até agora.Essa última turnê foi divertida, muito trabalhosa, ou um pouco dos dois?
Ainda é difícil apertar o botão de ficar ausente de casa por dois meses direto, mais de algumas vezes por ano. Mas vale a pena porque uma coisa incrível acontece. Tem uma mágica, e você vê a satisfação no rosto das pessoas. É isso que sempre acontece. De alguma maneira sempre vale a pena.Assim como foram as velhas canções…
Aparentemente como foram. E continuam!O filme biográfico de Freddie já está pronto?
Nós finalmente estamos vendo ele se concretizando, apesar de eu não poder falar muito sobre isso. Há oito anos nós temos trabalhado para fazer isso acontecer. Roger e eu – contra nossa vontade até certo ponto – seguramos isso por todo esse tempo. Mas finalmente chegamos em um ponto em que temos o diretor certo e o roteiro certo e nos sentimos bem quanto a isso. Nós temos bastante consciência de que temos apenas uma chance, e se nós não fizermos, alguém vai fazer isso errado. Nós faremos sem esconder nada – nenhum aspecto de Freddie. Mas nós tentaremos manter tudo na balança. Acho que se conseguirmos fazer direito, isso irá cristalizar a maneira que o mundo entende o Freddie.Como ele deveria ser lembrado?
Acho que na cabeça de Freddie ele era um músico e um criador primeiramente. Então essa é a perspectiva que queremos manter. Em segundo lugar, ele era um membro da família, conosco como um grupo. Era uma coisa muito forte, e gostaríamos que isso fosse representado. E tudo sobre sua sexualidade e sua extravagância, se quiser chamar assim, e todas as coisas que fizeram ele ser lembrado, também são extremamente importantes, e nada disso pode ser evitado ou diminuído. Nós não queremos apresentá-lo como algum tipo de pessoa que não existe. Ele tinha, como todos nós, seu lado ótimo e seu lado não tão bom. E, de certo modo, há uma qualidade de super heroi nele. Acho que se entendermos isso bem, as pessoas vão apreciar tudo novamente sobre o incrível tipo que o Freddie era.Escrevendo no “Queen In 3-D”, você descreve como sendo inseguro.
Ele realmente era. Ele construiu essa armadura em volta dele. Como é com vários artistas. E é assim que Freddie conseguia se transformar nesse artista que víamos no palco. Ele começou como alguém bem inseguro, mas com grandes sonhos ele fez de si mesmo o que se tornou.Você também falou sobre a tensão criativa entre os membros da banda – um tipo de rivalidade de compositores competidores.
Eu acho que isso é fato na vida em geral, não apenas para um grupo fazendo álbuns. Esse sentimento de ser superado em uma situação é uma coisa poderosa e perigosa. E eu acho que era verdadeiro entre nós quatro. Haviam áreas que nós não invadimos…Como o que?
Todo mundo escreve canções sobre o que está em volta delas, mas inconscientemente as canções são sempre sobre o que está dentro delas também, eu acho que isso é uma verdade universal.Quando Freddie apresentou “Bohemian Rhapsody” – agora vista como uma obra de arte – para a banda, que contribuição ele permitiu que vocês dessem?
Muitas das vezes, com uma vinda de Freddie, o fundo era piano, baixo e bateria, e essa era sua estrutura. Eles escreviam isso e eu ia para a sala de controle ouvir e fazer comentários. E eu sugeri ao Freddie para ter uma parte para o meu solo – eu queria ter um verso em que eu meio que cantava na guitarra do jeito que eu tinha ouvido.Quando vocês trabalharam melhor como uma equipe?
Eu lembro de sentar com Freddie nos dias em Munique e falarmos sobre “It’s A Hard Life” e pensando sobre cada palavra de cada verso juntos, porque nós estávamos mesmo conversando sobre o que essa canção quer dizer. E eu acho também que Freddie e John (Deacon) tiveram momentos de ficar perto do verdadeiro significado de uma canção. Freddie e John trabalharam bem próximos em “Another One Bites The Dust”. John não era alguém que conseguia cantar, então John falava com Freddie e Freddie começava a cantar, e eu acho que durante o processo eles se perguntavam, “o que é isso que estamos fazendo?”Perto do fim da vida de Freddie, quando a banda fez o álbum “Innuendo”, ele precisou de você mais do que antes?
Bem, eu lembro de Freddie e eu sentados por bastante tempo trabalhando na letra de “The Show Must Go On”. Ele estava bem doente na época, mas ele sentou comigo por algumas horas para trabalharmos em alguns dos versos. Enquanto a estória da canção ocorria, nós trabalhamos nela juntos. Mas talvez houvesse ainda um nível de significado além do que nós não víamos. Ele não estava bem – ele desapareceu e eu não o vi por bastante tempo – então eu finalizei a canção usando esses tijolos que havíamos construído juntos, os pilares.No seu livro “Queen In 3-D” você recorda um momento de 1977 quando a banda foi a atração principal no Madison Square Garden em Nova Iorque pela primeira vez, tocando num nível tão alto que você sentiu como se estivesse levitando.
Foi incrível. Nunca vou esquecer essa sensação. Realmente parecia que nossos pés não estavam tocando o palco. Foi uma experiência maravilhosa. Realmente parecia isso. Não é exagero. Não estou sendo poético.De algum modo, porém, certamente o Queen nunca fez um show melhor que o do “Live Aid” em 1985?
Oh, foi mesmo um grande momento para nós. Nós estávamos acostumados a tocar em estádios na América do Sul, cheios de pessoas que tinham comprado ingressos escritos “Queen”. No “Live Aid” eles todos tinham comprado ingressos para qualquer um que fosse anunciado no começo, não nós, e no momento que fomos adicionados à lista os ingressos esgotaram. Então era isso que estava passando em nossas mentes. O que irá acontecer? Eles vão reagir? Eles vão interagir? Nós não fazíamos ideia. Mas assim que chegamos no palco sentimos que aquela era nossa plateia. Isso foi a coisa mais incrível, sentíamos como se todos estivessem um milhão por cento com a gente.E para esse show o Freddie fez a performance de sua vida.
Ele foi capaz de envolver todo mundo, até o final do estádio. Você podia sentir isso. E você pode ver isso no vídeo. Não tenho certeza se nós percebemos que isso iria acontecer, e foi extraordinário de assistir, e extraordinário porque era um talento raro de se ter naqueles tempos. Naquela época não haviam bandas de estádios, e muitos dos shows naquela lista nunca tinham tocado numa situação como aquela. Então, realmente, Freddie tinha habilidades além do normal. Nós tínhamos como banda também, mas particularmente o Freddie.Foi no Estádio Wembley, o cenário do “Live Aid”, que aconteceu o Tributo Freddie Mercury para a Consciência da AIDS em 20 de Abril de 1992, um pouco depois de um ano da morte de Freddie. O Queen se apresentou com um elenco de cantores, incluindo David Bowie e Robert Plant. E em “Bohemian Rhapsody” houve um dueto entre Elton John e Axl Rose…
Foi magnífico nos juntarmos. E eu nunca vou esquecer da entrada de Axl em “Bohemian Rhapsody”, vindo, girando como um ‘dervixe’. Ele era pura energia, Axl, e isso era exatamente o que precisávamos, exatamente o que esperávamos e mais ainda. Os caras do Guns N’ Roses são ótimos. Slash é uma pessoa maravilhosa. Fico feliz por me comunicar com ele, e nos falamos tanto na questão dos direitos dos animais quanto sobre música. Então essa é uma das melhores almas do mundo. E eu fico emocionado que Axl e Slash tenham voltado a ficarem juntos. Acho que é isso que o mundo queria.Olhando para trás na sua vida, do que você tem mais orgulho?
Da música, a satisfação está em saber que o melhor de sua habilidade foi feito, é um sonho realizado e se torna o que você sonhou que seria. É a criação dessas coisas, e você sabe que ninguém mais fez isso, e ninguém mais poderia ter feito isso do jeito que você fez.Seu PhD em Astrofísica é uma das suas maiores realizações?
Foi uma das coisas mais difíceis que tive que fazer. É por isso que as pessoas querem ser chamadas de ‘Doutor’ quando elas têm um PhD, porque isso não foi fácil.Eu deveria tê-lo chamado de ‘Doutor’?
Não, tudo bem (risada). Mas ser chamado de ‘Doutor’ é como um distintivo que você usa porque você passou por toda essa merda, todo esse desafio para sua auto-confiança que você superou.Como você resumiria sua vida no Queen?
Tem sido inesquecível e único e irrepetível. Simplesmente coisa de outro mundo.
E abaixo confira a capa da revista, o índice e uma foto publicada com a entrevista:
Autoria do Post: Josy Loos
Agradecimentos: @ScorpioBert e Rafael Casado
Tradução: Lucas Vinícius
Fontes: TeamRock e @ScorpioBert
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