Tradução da Entrevista da Revista HARDY – Jun/2017 – 2ª Parte

Já publicamos aqui a 1ª Parte da entrevista de Adam Lambert concedida a Revista HARDY – intitulada “We Are Family” – idealizada e produzida pelo seu amigo Joey Gray, destinada ao público LGBTQ. Agora confira a 2ª parte:

Se você já garantiu a sua cópia do segundo volume da revista HARDY “We Are Family,” então você já tomou um pouco de chá com Adam Lambert, na conversa terna com Joey Gray, falando de tudo desde se assumir, bares gays e família escolhida.

PARTE DOIS continua aqui:

JG: Que conselhos você daria a uma pessoa queer criativa, que está se tornando adulta?
AL: Se você é uma pessoa jovem lendo isso, desafie-se a fazer pesquisas. É interessante, é legal – você vai acabar descobrindo antigos ícones de filmes ou mergulhando em músicas mais velhas, e então você vai ouvir algo que te faça pensar “Oh espere aí! Fulano e Beltrano estão fazendo isso!” Há tantas referências que as pessoas não sabem ou não percebem. Se desafie a explorar músicas e filmes do passado! Isso vai fazer a sua arte muito mais forte.

Certo, saiba suas referências! Na DragCon esse ano, Bob the Drag Queen.
– Eu amo Bob!

Oh Meu Deus, eu sei! Ele estava falando sobre como as drag queens passaram de fazer referência a Judy, Barbara, Cher, Madonna ou Gaga, para serem referências. Quer dizer, pense na influência que a maquiagem da Raven tem tido. Eu acho que é tipo a mesma coisa com, digamos, Gaga: Ela faz referência a Madonna (que fazia referência a Marilyn Monroe, Marlene Dietrich, Mae West) mas a garotada está fazendo referências a Gaga. Então, é apenas uma questão de traçar a linha para trás e conectar todos os pontos às referências originais, e ter a certeza de que tudo está sendo reconhecido e apreciado.
É complicado, porque você pode ficar em maus lençóis como artista, se logo de cara você disser “Eu faço referência a tal-e-tal.” Então, de repente, você é considerado um imitador. O engraçado é que, contanto que você não confesse, muitas pessoas não vão entender. Mas é melhor admitir? Eu não sei. A arte do drag nos bares está toda no lip synk, ou pelo menos é o que tem sido por muito tempo. Elas estão apresentando músicas de outras pessoas. É tudo imitação. Mas as verdadeiras drag queens poderosas, que entenderam como serem irônicas a respeito disso, ou como montar um medley doido, ou aquelas que conseguem transformar alguma coisa em algo diferente – essa é a drag que me deixa muito animado.

É, quando elas levam a performance um passo além da referência direta ou paródia.
E acrescentam um pouco de inteligência e humor, alguma coisa que faça a performance estranha e especial. Eu adoro isso. Ou, você sabe, como uma peruca dentro da peruca! Um momento de arrancar a peruca!

É, Roxxxy Andrews!
Sim! Okay, quem mais as crianças precisam saber a respeito, especialmente a nível de voz? Alguns dos melhores cantores, na minha opinião são: Donna Summer é um ícone enorme da era Disco. Sylvester estava a frente do seu tempo. Patti Labelle e Chaka Kahn – sim, por favor! Aretha Franklin e Whitney Houston. Vá ainda mais para trás com Ella Fitzgerakd ou Sarah Vaughn ou Etta James. Essa é uma tremenda aula de mestres. Ouça alguns astros do rock também: Freddie Mercury e Robert Plant. Se Janis Joplin não te fizer sentir alguma coisa, eu não sei o que fará. Ouvir James Brown é sempre uma delícia. Eu adoro que haja tanto filmes e séries de tv sendo feitos hoje, que exploram a cultura queer dos anos 70 e 80 e sendo fiéis. Era algo tão clandestino na época e era tabu na cultura pop. Mas agora, no entretenimento mainstream, nós podemos ver isso. Há histórias reais sendo contadas, sobre pessoas reais, com profundidade e respeito. É um progresso enorme.

E talvez não seja totalmente político, ou pelo menos, essa não é a única razão para essa mudança cultural, mas eu me pergunto se um pouco desse processo parece mais urgente agora por causa do clima sócio-político em que nós estamos?
É, eu sinto que há uma sensação de que a vida é muito curta. Para mim, eu sei que no passado eu coloquei muita pressão em mim mesmo, e eu estava com um pouco de medo de ir com tudo em algumas coisas. Eu moldei muitas das minhas decisões criativas ou as decisões sobre minha sonoridade porque eu não queria ofender ninguém, ou porque eu queria ser mais palatável. Foi uma coisa de agradar as massas. A indústria em que eu trabalho é difícil. Mas também está mudando muito. Ela está devolvendo o poder aos ouvintes e ao artista, no que diz respeito ao conteúdo. Música é uma mídia viral. E é muito revigorante, porque nesse momento, nós meio que estamos de volta a, “Bem, se a música se conecta com as pessoas… ela vai se conectar com as pessoas.” Há menos coisas no caminho dessa conexão entre o artista e os fãs. Eu acho que, por um tempo, o modelo da indústria da música deu mais poder a parte dos grandes negócios, do que atualmente. Se você está ouvindo uma estação de rádio e uma música toca dez vezes em duas horas, ela vai grudar na sua cabeça; agora nós mudamos para a era do streaming, onde a pessoa faz sua própria playlist e as coisas são organizadas para um ouvinte específico.

Você acha que tem sofrido mais pressão, por ser um artista queer?
Ser um artista queer fez tudo muito desafiador, porque não há um modelo real. Em alguns pontos nos últimos oito anos, eu fiquei preso em me comparar com outros nesse jogo e eu tive dificuldade em entender onde eu me encaixava na indústria. Sabe, eu provavelmente sabia, bem lá no fundo, mas por alguma razão, no último ano eu meio que do nada me lembrei de que não é esse o ponto. O ponto é eu ser eu mesmo. O ponto é eu ser exatamente quem e o que eu sou, e colocar isso na minha música, e permitir que essas ideias se conectem com o que as pessoas querem ouvir.

Enquanto você está dizendo isso, eu estou pensando em como a socialização e popularidade funcionam. A chave sempre é ser quem você realmente é, porque alguém vai perceber, mesmo que for apenas uma pessoa e então outras pessoas começam a entender. Eu acho que nós só temos que lembrar quem somos e porque estamos fazendo o que fazemos.
Bem, sim, é essa coisa da autenticidade e o que nós estávamos falando antes (na primeira parte), sobre identidade – realmente volta a isso. E eu acho que há muitas pessoas públicas que estão tentando projetar uma determinada identidade, para serem amadas. É tipo: “Se eu me vestir desse jeito, falar desse jeito, fazer esse estilo de música e passar tempo com essas pessoas, e se isso for noticiado por essa revista, então todo mundo vai gostar de mim porque isso é o que é bom.” E alguma coisa disso pode ser verdade, eu espero, mas eu acho que um pouco é besteira e é tipo, nós não somos mais inteligentes do que isso? Como nós estamos apoiando isso? Por que estamos apoiando coisas falsas? Por que não existem mais pessoas falando sobre isso? Eu acho que a prova está no fato de que há muitos artistas por aí que merecem estar onde estão, porque eles são ótimos, eles estão sendo reais e não são cheios de merda. No entretenimento, sim, você tem que se perguntar: “O que as pessoas vão gostar, com o que elas vão se conectar, o que elas vão aproveitar?” É algo sobre o que você tem que estar ciente, mas não pode ser o único ângulo no que diz respeito a sua arte. Algo tem que vir de dentro, do coração. O que eu quero fazer, o que eu quero dizer, o que eu quero ouvir, o que eu quero cantar quando subir ao palco todas noites?

Então Adam, me conte, o que você quer fazer, dizer, ouvir e cantar todas as noites?
Eu estou trabalhando nisso! Esse tem sido o grande desafio na música que eu estou trabalhando nesse momento, porque eu finalmente consegui desligar toda essa merda que vem de fora. Eu finalmente percebi que isso estava atrapalhando. Eu não estou preocupado em fazer algo que soe tipo essa é a tendência agora, então tem que soar como isso. Eu estou me desafiando a definir meu próprio som. Então nos últimos seis meses, mais ou menos, eu tenho ouvido menos Top 40 e eu comecei a voltar para a música que amava antes de tudo isso começar. A música que eu amava quando era criança, e os grandes artistas do passado que formaram meu amor pela música e que foram a razão de eu querer entrar nesse ramo. Eu tenho ouvido mais disso; como o álbum “Faith”, de George Michael, ou Prince, ou Bowie – ainda é tão bizarro que nós perdemos todos eles, esses artistas incríveis que criaram seu próprio caminho – Eu tenho me voltado para as músicas que eu ouvia, que me faziam sentir incrível, antes de toda a pressão do negócio. E obviamente, todo meu trabalho com o Queen me empurrou para um ótimo estado de espírito, musicalmente.

Quando você coloca em perspectiva, como nós perdemos em um período de um ano, Bowie, Prince e George Michael, é tipo uau – para onde vamos daqui, quem vai nos inspirar agora?
É interessante também, como quando perdemos grandes ícones como esses, que as pessoas começam a fazer referências a eles novamente. Algumas das pessoas que nós perdemos eram tão brilhantes que, se a influência delas voltar para a música popular, eu fico felicíssimo.

Também, todos eram ícones queer.
E é isso, a forma como eles se apresentavam e alguns dos assuntos que abordavam e mesmo o visual deles era tão ousado. Nós não temos muito disso hoje em dia. Não há muitos artistas masculinos que querem derrubar esses tipos de barreiras.

Enquanto eu estou literalmente olhando para a pessoa atualmente à frente do Queen.
Há! Bem, quer dizer, eu vou carregar essa tocha! Há muitas artistas femininas que assumem grandes riscos com seu estilo. Isso me fez começar a pensar sobre por que nós não podemos celebrar isso com artistas homens? Com certeza há um padrão dúbio. E o que é mais engraçado, como você disse, é que todos eram artistas queer – ou flertavam com o queer, porque Prince não era necessariamente queer, mas ele era muito andrógino e ele estava fazendo o que queria, de maquiagem e salto. Mas porque aquilo não assustava as pessoas naquela época como assusta agora? É isso o que eu quero saber. Qual é a diferença? É porque falar sobre sexualidades alternativas foi um tabu por tanto tempo que até mesmo flertar com a ideia parecia misterioso e divertido? Política sexual e expressão de gênero são conversas que estão acontecendo agora. Nós estamos realmente explorando isso. Não é mais velado e vago; você tem que apoiar com fatos.

Certo, por mais incrível que fosse o que esses artistas estavam fazendo, eles não abordavam a identidade queer diretamente. Mas, como você está dizendo, a “queerness” não é mais um show secundário ou uma mercadoria.
É, então, como essa abertura agora faz com que as pessoas a abracem menos? Uma das coisas que me deu esperança e alegria ao longo dos últimos anos é a onda de não-conformidade de gênero e fluidez sexual. É um movimento real agora. E é incrível, porque foi o que aconteceu no início dos anos setenta; foi de onde Bowie veio, e o Queen estava nisso, a era Glam Rock e depois a era Disco. É legal ver esse ciclo de mentalidade voltando.

Com certeza é. Mas, não tenho certeza se as pessoas estão menos receptivas agora do que antigamente. Eu acho que mais pessoas irritadas têm plataformas agora, do que tinham antes. Eu acho que também é por causa da Internet e do Twitter e do alcance do mundo. As opiniões das pessoas podem viajar tão longe, tão rápido agora. Com tantas outras vozes sendo amplificadas em todo o mundo, talvez apenas pareça haver mais indignação sobre isso do que havia no passado.
É daí que essa tensão extra poderia vir, porque é mais difícil escapar de certas coisas.

É como o que você estava falando sobre não ouvir Top 40 ultimamente; eu acho que todos nós temos que fazer um esforço para desligar algumas coisas. Concentrar-se no bem e no amor e na inspiração, criar a partir daí e inspirar alguém a criar, em vez de se concentrar no barulho.
Mas, por outro lado, porque temos muitas plataformas e há mais maneiras de transmitir a sua identidade, ela tem um impacto maior em alguém que pode estar confuso sobre onde eles estão e então eles podem pensar “Eu não sabia que isso era uma opção. Há alguém como eu lá fora, eu não tenho que me conformar com essas outras coisas.” Está dando a algumas pessoas algumas respostas, ou oportunidades, ou opções que eles de outra forma não teriam acesso.

Totalmente. Eu acho que existe o yin e o yang nisso. É positivo que exista uma plataforma tão grande para que as pessoas se conectem, tanto quanto há tantas coisas negativas que também vem junto com essa plataforma.
E é quase difícil ter algo underground agora, por causa disso também. O underground estava sempre fora da vista do mainstream, mas agora, se algo for legal, alguém vai postar. Nós temos artistas populares do pop fazendo declarações vagas sobre sua sexualidade, e eles realmente não reivindicaram nada especificamente, e então, de repente, a mídia inclinada ao binário lhes dão um rótulo. Então, os meios de comunicação gay querem adotá-los como um deles – eu sempre fico desconcertado com isso – tipo, eles nunca mencionaram gay ou bi, eles simplesmente disseram “Eu não defino isso” ou “Eu sou queer”. Nos anos 70, acho que era possível permanecer mais misterioso, mas agora parece que todo mundo quer dar uma conclusão em preto e branco.

Há também muito menos tempo oferecido em nossa cultura agora, para se trabalhar com o senso de curiosidade. Sinto que vivemos com tal necessidade de gratificação instantânea. Todos nós queremos o resultado imediatamente; nós queremos saber e ver tudo na frente antes de fazer a nossa escolha. Eu acho que é a mesma coisa com o lançamento de um álbum ou filme. Sabe, eu penso em The Rocky Horror Picture Show sendo exibido durante anos na sessão da meia-noite, antes de se tornar um sucesso cult mundial. O fato de que as pessoas simplesmente tiveram paciência e curiosidade para encontrar uma coisa boa escondida; agora tudo é como, é um sucesso ou não é, e é passado e seguimos para a próxima coisa. Isso é como um assassino de criatividade.
Sim, é um pouco difícil com a arte. Você está certo. Um artista podia lançar um álbum e depois esperar três ou quatro anos para lançar outro. Você faz isso agora, e a menos que você seja Beyoncé, talvez você não tenha mais o momentum. Você tem que ter muito impulso para continuar de onde parou. A outra coisa sobre isso que é tão confuso, são os artistas que estão fazendo essa coisa de se reinventar. Eles vão fazer um álbum e essa é a vibe e depois outro álbum e a vibe é outra. Eu sei, como artista, é realmente excitante se reinventar um pouco e cada projeto ter o seu próprio objetivo, mas isso também se torna difícil, quando se espera que aconteça tão rapidamente. Eu não acho que as pessoas engulam isso, é tipo: “Oh, é mesmo, de repente você é assim agora?” Não é uma progressão real, porque a maioria das pessoas demora um pouco mais para mudar tanto. Eu não estou falando apenas de um corte de cabelo – eu estou falando de toda uma vibração.

Qual você diria que é a vibração agora? E para onde você vê isso progredindo?
Eu continuo ouvindo cantores que fazem conversas de bebê estranhas. Tipo, desde quando decidimos que era legal soar como se tivesse a boca cheia de bolinhas? Uma voz interessante é uma voz interessante, mas acho que muitos artistas estão colocando isso. Suas vozes falando são inteiramente diferentes de quando estão cantando. Isso é estranho para mim. Não parece autêntico. Além disso, há uma tendência no momento, de cantar muito baixo e íntimo. Eu acho que pode ser sexy e isso faz com que você sinta que está tendo uma conversa pessoal com o artista. Então, é eficaz. Mas eu realmente sinto falta de ouvir mais CANTO. Quase ninguém está fazendo isso. Eu nem me importo com o gênero; isso existia em tantos gêneros diferentes. As pessoas realmente iam fundo e deixavam você ter tudo deles. Whitney costumava cantar com toda a emoção! Essa não é a tendência no momento, e espero que volte a moda. Como cantor, é realmente emocionante deixar isso fluir. Você se sente ótimo, há uma liberação de energia tão grande e, em situações ao vivo, você pode sentir o público acender quando você lhes dá esses momentos. É o mesmo para um momento vocal poderoso e intenso em uma faixa, mas todo esse canto baixinho, tudo em uma nota só, parece que existe uma dinâmica. Talvez seja apenas a minha preferência pessoal, mas quando um artista pode ter as dinâmicas, quando pode passar do calmo para algo louco, isso me deixa animado. Isso é emocionante.

Falando nisso, e nem um momento cedo demais, Adam acabou de lançar seu último single “TWO FUX”, que será acompanhado por mais músicas novas no final deste ano. Fique atento ao adamofficial.com.

E se você quiser experimentar o momento ao vivo de “loucura” por si mesmo, certifique-se de conferir Queen + Adam Lambert em sua turnê norte-americana neste verão, na Europa e no Reino Unido no outono e em todo o mundo em 2018. Info no queenonline. com.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Stefani Banhete
Fontes: @ScorpioBert e HARDY

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