The Sydney Morning Herald: O que Freddie faria? Adam Lambert a frente do Queen e segurando a onda

O que Freddie faria? Adam Lambert a frente do Queen e segurando a onda

Quando me perguntam se eu me lembro onde eu estava quando surgiram informações da morte de Bowie, eu digo que estava sentada à minha mesa, olhando para um tempestuoso e violeta por do sol, atravessado por um arco-íris, e no momento em que Adam Lambert deu a notícia por telefone direto de Osaka, eu desliguei. Eu tinha acabado de perguntar para Lambert se realmente um vocalista jamais poderia ser “muito teatral”. Isso foi em referência às preocupações dos jurados do American Idol – Simon Cowell, Paula Abdul, Randy Jackson, Kara DioGuardi – que estavam preocupados, voltando à sua audição em 2009, que sua experiência em teatro musical o tornaria demais. “Minhas estrelas pop favoritas sempre foram teatrais”, diz Lambert. “Michael Jackson, Madonna, Freddie Mercury e, que Deus o abençoe, David Bowie, que acabou de morrer…”

Desculpe, o quê? “É inacreditável”, diz ele. “Todos os meus amigos estão mandando mensagens de texto. Simplesmente aconteceu.”

No minuto em que terminamos a ligação, Lambert rapidamente entrou no Twitter e escreveu: “Eu amo como Bowie desafiou a percepção das pessoas em relação aos estereótipos de gênero e o quanto ele realmente era singular. Ele estava muito à frente de seu tempo.” Para Lambert, é pessoal. Ele tem sido rotulado como um roqueiro da segunda geração glam, até mesmo ao nomear sua turnê em 2010 de Glam Nation. Existem também poucos degraus de distância: Lambert esteve à frente do Queen em sua turnê mundial em 2014; Bowie gravou “Under Pressure” com o amigo Freddie Mercury.

No entanto, a experiência de Lambert é o que a indústria da música cultiva, o que faz seu esforço para a individualidade uma obrigação contra todas as probabilidades. Ele chocou na oitava temporada de Idol e seu álbum de estreia com a RCA/Sony foi lançado cheio de hormônios para ser prontamente consumido, com um elenco enorme de compositores, produtores e músicos todos “atropelando”, como diz Lambert, e um prazo apertado. Então ele não é, exatamente o tipo de estrela pop fabricado que os comentaristas culturais estão condenando, na sequência da morte de Bowie? “Eu fui naquele show para uma chance de me tornar um artista original”, diz Lambert. Ele fez o teste, audaciosamente, com “Bohemian Rhapsody” do Queen. Em seguida, no final do show, ele e outro competidor se juntaram ao Brian May e Roger Taylor do Queen para uma versão de “We Are The Champions”. Isso consolidou a admiração da banda por ele e levou ao convite para que Lambert encarasse uma turnê mundial do Queen, entrando na pele de Freddie Mercury.

“Ele está abalando tudo, este menino,” Simon Cowell disse à revista TV Guide, com um entusiasmo incaracterístico. “Ele está a todo vapor.” Cem milhões de votos depois, Lambert terminou como vice-campeão, mas acabou classificado como número um na lista Top Idol Earners da Forbes, tendo faturado UU$ 10 milhões em 2015. Levando em conta que ele se formou no Idol, há seis anos, é a prova de seu poder de permanência. No ano passado, ele comprou sua primeira casa em Hollywood, e está a procura de um outro lugar – talvez Nova Iorque ou Londres – para comprar. Ele não está livre de algumas miudezas, tampouco. Ele recebeu vários prêmios e uma indicação ao Grammy. Seu primeiro álbum, “For Your Entertainment”, ganhou o disco de platina na Austrália, enquanto na sequência em 2012, “Trespassing”, foi a número um na Billboard.

Em Fevereiro deste ano, Lambert estará de volta a Austrália em sua “Original High Tour”. Este terceiro álbum tem como tema a busca de emoção, mas ele retomou com suas ginásticas vocais – agora que ele não tem nada a provar. Pegue a canção “Ghost Town”, que foi duplamente platina por aqui. Isto é o que ele anteriormente chamou de “tipo um delírio da dança existencial”, e ele está cantando profunda e imperiosamente. “Bem… até o fim”, diz Lambert com uma risada. “Então eu realmente arrebento. Mas eu finalmente percebi que se eu guardar as insanas notas altas, e simplesmente usá-las aqui e ali, elas têm mais valor.”

Anteriormente, ele teve sucessos escritos para ele pelas também teatrais Lady Gaga e Pink. Desta vez, ele concentrou sua atenção nos músicos suecos: Max Martin e Shellback, jovens criadores da The Wolf Cousins. Não era um movimento inovador, mas ele pelo menos se deu ao luxo de passar dois meses escrevendo em Estocolmo, bastante inédito para um artista com um pé na roda da fama. “As músicas estavam vindo de conversas reais e histórias”, diz ele. “Eles têm que me conhecer. Isso é formidável.” As datas australianas terão uma energia diferente de sua última visita com o Queen. Haverá menos correria ao redor do palco, para começar. “Eu não estou tocando em lugares enormes como eu estava com o Queen, por isso há menos distância para percorrer”, ele ri, “embora eu tenha alguns momentos definitivamente bombásticos. Eu farei um cover do Queen – Alerta de spoiler.”

Lambert gosta de ver o branco dos olhos do público, e aprendeu todos os truques, quando se trata de fazer cada indivíduo se sentir especial. “Eu poderia dizer que, naturalmente, tenho um certo tipo de energia”, diz ele, “e descobri que o palco tem sido a melhor saída para isso. De certa forma eu me sinto mais confortável no palco do que em outras situações sociais. Talvez isso seja egoísmo e narcisismo, mas talvez eu seja um pouco de ambas as coisas.” Improvável. Seus fãs – conhecidos como “Glamberts” – entram em sintonia com a sua personalidade irresistível e fornecem sacos de presente de seus CDs – que eles chamam de um Touch of Sparkle [Toque de Brilho] – para pacientes com câncer, bem como ajudam a levantar centenas de milhares de dólares para a Charity: Water em seu nome. A generosidade também floresce na mídia social, onde Lambert destaca regularmente os feitos de outros artistas, como o nosso Conrad Sewell. “Eu gosto de estudar a cultura pop e olhar o que os meus contemporâneos estão fazendo”, diz ele, “o que está inspirando os meus artistas favoritos, e nós como uma sociedade, de que maneira estamos respondendo?”

Por outro lado, fazer sua própria análise significa que é impossível não medir força e abrir os olhos para os sinais de longevidade tremulando. “Eu falo com a minha equipe sobre isso, mas também tenho que entender que se eu me tornar demasiado focado nisso, então eu estou perdendo o objetivo”, diz ele. “É importante estar evoluindo, mas você tem que saber quem você é e também qual é o seu destino. Houve momentos nos últimos seis anos, quando eu me encontrei, 1Oh, eu poderia levar isso um pouco mais a sério1, examinando a mim mesmo. Mas eu sou uma pessoa bastante auto-consciente. Eu sou auto-crítico. Isso são coisas boas na minha linha de trabalho. Porque não é uma cirurgia no cérebro, sabe? É um maldito trabalho divertido. Se eu não estou me divertindo, então eu não estou fazendo o meu trabalho direito. Algo estará faltando no meu desempenho e estarei fazendo um desserviço ao público.”

Para fazer “The Original High”, Lambert primeiro teve de abandonar o rótulo que ele abocanhou pós-Idol. A RCA Sony planejou um álbum de covers new-wave, que seria OK, diz ele, se tivesse sido apresentada como uma opção – mas não como a única opção. Preocupado com a falta de imaginação, ele deu um salto de fé, rapidamente sendo pego pela Warner.

“Parte das dores em meu crescimento como artista nos meus vinte anos foi que eu estava com medo de tomar certos riscos”, diz ele. “Eu estava com medo do ‘e se’ e do fracasso. Em algum momento, em torno dos 27 anos, eu tive uma epifania onde eu pensei, estar com medo é retroceder. Eu estava fazendo exame de consciência, leitura de livros de auto-ajuda, ir a festivais, tentando coisas novas… Eu apenas tive uma grande surpresa.” Certamente o Queen não queria atrasar Lambert: eles adiaram planos para fazer um álbum enquanto assistiam de camarote como se desenrolava sua carreira solo. Brian May até contribuiu com sua guitarra para uma faixa do “The Original High”. “Seria tão errado para nós apenas envolvê-lo e nunca deixá-lo sair e fazer qualquer outra coisa”, disse May para a Gigwise, reconhecendo que Lambert foi um “presente de Deus”.

Seria uma grande aposta para uma das bandas mais consagradas do mundo ao recrutar um ex-aluno do Idol. Quando a turnê do Queen para 2014 foi anunciada pela primeira vez, Lambert, declarou: “Se há alguém que sinta fortemente que este não é o mesmo Queen então não venha.” Ele acrescentou: “Mas se você não vir estará perdendo um tremendo de um show.” A turnê teve duração de 66 shows e Lambert irá se juntar novamente a eles dentro de alguns meses para um festival europeu relâmpago. Ele aproveitou a oportunidade para desvendar o significado dos sucessos de Mercury. “Eu queria entender, o que estava se passando com Freddie e o que ele pretendia que o público sentisse?” ele diz. “Uma das coisas que eu sou realmente curioso é se Freddie existisse no mundo de hoje, como seria sua vida pessoal? De que forma ele seria reconhecido? De certa forma eu estou tentando levar adiante as mensagens que ele deixou em suas canções para o público de hoje, em uma época em que entendemos mais sobre essas coisas.”

Se, por “coisas”, Lambert está se referindo à sexualidade, é um tema que ele também pode ser envolvido. Não pela razão de que ele nunca tentou esconder o fato de que ele é gay, mas porque, no passado, ele se sentiu motivado para dizer aos decepcionados fãs no Twitter, “Eu não vou ser definido ou vitimado por minha orientação… Não é uma deficiência.” Muitos elogios para ele, de fato, por “Trespassing” se tornar o primeiro álbum de estreia a ser número um na lista da Billboard 200 por um artista assumidamente gay. Neste mesmo tópico, com Lambert à frente do show de véspera de Ano Novo, em Singapura, houve uma tentativa de brecar sua apresentação, na forma de uma petição que reclamava que ele não estava em conformidade com os valores de Singapura.

“Houve uma grande preocupação de um grupo moral conservador sobre o que eles achavam que eu ia fazer no palco, talvez com base em coisas que eu fiz há seis anos”, diz ele, referindo-se ao ocorrido nos American Music Awards, onde ele beijou um homem e simulou sexo oral no palco. (As pessoas pareceram não se importar quando Britney e Madonna fizeram algo semelhante.) O show de Lambert seguiu em frente, mas o tumulto induziu a uma manchete sarcástica: “Todos em Singapura se tornarão gays depois de assistirem à apresentação de Adam Lambert no Show da Contagem Regressiva Celebrate 2016”. “Foi divertido”, Lambert diz agora. “Isso foi di-ver-ti-do.” É essa ousadia de arrancar fora a cabeça da controvérsia que destaca Lambert em grande lugar, juntamente com sua incansável amabilidade. Ele não é Bowie. Ninguém é. Mas, como Gaga ou Miley, ele é um astuto produto da indústria que aprendeu a domar o sistema. Seu próximo passo, sem dúvida, será algo bastante inesperado. Adam Lambert toca no Palais Theatre, em Melbourne, nos dias 25 e 26 de Janeiro e no Enmore Theatre nos dias 30 e 31.

A Vingança dos Nerds

Há uma longa tradição do teatro musical e nas escolas produzindo futuras estrelas pop. Lambert está se preparando para gritar “linda garota abençoe a minha alma” para uma produção de The Rocky Horror Picture Show que será exibido pela Fox no final de 2016. Ele está assumindo o papel de Eddie, originalmente interpretado por Meat Loaf, enquanto a atriz de Orange Is the New Black, Laverne Cox interpretará Dr. Frank-N-Furter. Isso marca um retorno à Fox para Lambert, que co-estrelou em Glee. Quando Lea Michele, membro do elenco, conseguiu obter-lhe um papel, ela disse à MTV: “Eu me sinto como eu estivesse começando a trabalhar no ginásio com o melhor treinador do mundo.”

Para Lambert, que arranja espetáculos na Broadway entre as datas dos shows, é um sonho. Sua mãe o matriculou em um grupo de teatro enquanto garoto, para reduzir sua hiperatividade. “A disciplina era um grande foco porque o cara que conduziu isso era originalmente uma professora”, diz Lambert. “Ter esse olho no prêmio, bem como o aspecto competitivo do mesmo, vem a calhar no negócio da música. Para ser um artista na música popular de hoje, a ética necessária no trabalho é insana.”

Lambert pode ter tido “muito a dizer” como um garoto, mas para Martin Kemp do Spandau Ballet, cuja mãe empurrou-o para a Escola de Teatro Sylvia Young, em Londres, foi para combater sua timidez. Seus ex-companheiros de escola incluem a Spice Girl Emma Bunton, All Saints e Rita Ora. A uma hora de distância em Croydon, a Escola Britânica para a Arte e Tecnologia deu origem a Adele, Jessie J, Leona Lewis, The Kooks, Rainey Milo e Leo the Lion. Ao longo nos Estados Unidos, Beyonce matriculou-se em The High School for Performing e Visual Arts em Houston, enquanto Nicki Minaj participou do LaGuardia High School of Music and Art and Performing Arts com sonhos de ser uma atriz. Azealia Banks começou no Fiorello H. LaGuardia High School of Music and Art and Performing Arts de Nova Iorque, e no outro lado da cidade em Brooklyn, Mos Def participou da Philippa Schuyler Middle School para o Gifted and Talented, que, vamos concordar, qualquer um gostaria de ter em seu CV.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Patricia Alburquerque
Fontes: @RealRockNews e The Sydney Morning Herald

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One Comment

  1. Adorei tudo, mas Adam gosta de olhar o branco dos olhos do público, foi demais, realmente parece que ele olha cada um como se fosse único naquela platéia, ele é daquele tipo de pessoa que fala olhando nos seus olhos, queria que fosse no meu lógico, que ser humano incrível. Pra mim Adam solo tinha que estar lotando estádios, igual Adam Queen. Esse cara é um artista como poucos nesse mundo, vivo ou morto.

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