Tradução do Artigo na Revista Entertainment Weekly – Maio/2009

Adam Lambert foi capa da Revista Entertainment Weekly, na edição de Maio/2009, uma das primeiras de muitas capas que vieram depois. Confira abaixo a tradução completa da matéria:

Sim, ele é Adam Lambert

Ele abalou o American Idol com sua grande voz, teatralidade… e com toda a questão de ser ou não gay. Ele é original de verdade – e era exatamente o que o programa precisava.

por Mark Harris

Não há nada mais valioso para a saúde de um programa de TV de oito anos do que uma surpresa. E em relação ao American Idol, há poucas surpresas. Nós dependemos de um vencedor por ano, alguém que terá uma grande carreira musical (como Kelly Clarkson e Carrie Underwood) ou não (como aquela garota lá e aquele outro cara). E em alguns anos temos um participante perdedor se vingando nas paradas (Chris Daughtry), nos Oscars (Jennifer Hudson) ou na Broadway (Constantine Maroulis, que acabou de se tornar o primeiro participante indicado ao Tony [Awards]).

Mas muito de vez em quando chega alguém que não só domina o American Idol, mas o desafia e o modifica. O Idol sempre se posicionou como um portal para o que os EUA (na verdade, seus telespectadores) desejam em um novo astro. As estrelas do Idol devem ser pessoas com quem conseguimos nos identificar, com talentos extraordinários e que escolhemos para elevar ao sucesso.

Conheça Adam Lambert. Adam bagunçou tudo isso. Adam é uma surpresa.

Há poucas temporadas atrás, o seu estilo glam rock, cabelo tingido, brincos e sexualidade ambígua fariam com que Adam tivesse deixado o programa cedo. Também houve uma época, mais recentemente, em que Adam teria ido para Hollywood, mas seria descartado por ser muito teatral – uma forma de tirar cantores que acrescentam drama às letras.

Então chegou esse homem de 27 anos de San Diego, um cantor que não tinha vergonha de nada do que o programa da Fox achava que “nós” não queríamos. E ele detonou a competição. Em uma semana, ele arrasava com “(I Can’t Get No) Satisfaction” como alguém que sonhou muito com a linguagem corporal de Mick Jagger. Em outra semana, ele cantava o hit dos anos 70 “If I Can’t Have You”. Ele conseguia morfar de um punk “como algo que saiu de Rocky Horror” (“Eu gosto de Rocky Horror”, ele respondeu) para o Rat Pack, entre outros gêneros. Outros artistas que tentaram fazer isso no Idol foram acusados de não ter personalidade. Mas Adam foi o primeiro a entender que essa versatilidade tornou-se um elemento essencial entre os que amamos em artistas pop.

Sempre ouve uma lacuna entre como você se sai no Idol (participando da competição) e como você se sai depois do Idol, quando adentra a indústria da música sendo produto de um programa. Mas Adam se deu bem nesse quesito. E ele faz isso lidando com uma importante questão – ser gay -, com uma complicada mistura de precaução e astúcia. Apesar de Adam ser assumidamente gay, o máximo que ele disse à EW foi “Eu sou quem sou. Sou um cara honesto, e eu só vou continuar cantando”.

Essa não-resposta mostra o fato de que nem nós nem o programa fomos tão longe quanto gostaríamos de fingir ter ido. Um participante abertamente gay pode ganhar o American Idol? A pergunta está sendo considerada em todos os lugares, desde blogs de fãs ao The New York Times. Enquanto a internet deu aos fãs gays do Idol, como eu, ampla evidência fotográfica de que Adam parece gostar de fazer exames dentais em outros caras com sua língua, Adam ainda não disse “Eu sou gay”. O American Idol não disse “Ele é gay” (o mais longe que os jurados foram foi elogiá-lo por ser “corajoso” o suficiente para ser “ele mesmo”). E as fãs adolescentes na plateia ainda seguram cartazes escritos “Case comigo, Adam!!!”

Nós estamos fazendo hipóteses sobre Adam. Simon Cowell disse ao TV Guide que o Idol nunca “teve problemas” com a sexualidade de um participante, o que é um grande passo. Mas, na verdade, é um passo para o lado. Enquanto os competidores de Adam estão cheios de história – Kris Allen é casado, e Danny Gokey, como você deve ter ouvido sete ou oitocentas vezes, é viúvo – a vida de Adam permanece protegida. Ele aparentemente foi feito pela mão de Deus e deixado em uma cesta nos bastidores de Wicked, onde foi descoberto com um estoque vitalício de esmalte preto e criado por gente do teatro musical.

A sexualidade de Adam lança um desafio fascinante para o programa. O Idol está preparado para um vencedor gay? Possivelmente. Afinal, o programa britânico que o inspirou, Pop Idol, coroou um participante, Will Young, que se revelou gay pouco após ganhar. E o próprio Idol chegou perto, quando Clay Aiken, que não se assumiu, ficou em segundo lugar. Mas o Idol está preparado para esse vencedor mais gay ainda? Talvez não. Afinal, Clay nunca cantou “Eu vou te dar cada centímetro do meu amor” enquanto usava calças coladas e lápis de olho. No geral, os telespectadores do Idol mostraram uma forte preferência por participantes que se mostram aliviados quando sobrevivem. E Adam não faz a linha humilde. No Idol, é bom ser o melhor, mas é perigoso agir como se soubesse. Pergunte à Chris Daughtry. Na nossa cultura, nós gostamos dos gays menos privilegiados, mas em competições de reality, nós não vimos muitos Adams – alguém que goste de vender sua sexualidade, que olha nos seus olhos, flerta e o desafia a não flertar de volta. Nós gostamos de homens gays que são almas perdidas cantando músicas emo e suicidas como “Mad World”. Mas o legal sobre Adam é que, apesar de sua grande performance, ele não é esse cara. Ele tem orgulho de ser quem é.

Muitos leitores dirão “Por que estamos discutindo isso? Importa se ele é ou não gay?” Não. Ou pelo menos não deveria. Exceto que Adam não esconde nem fala sobre isso. Emboscado recentemente por um repórter da TMZ, que disse, “Então você pode ser o primeiro…” Adam respondeu, sorrindo, “O primeiro o quê?”, desafiando o repórter a terminar o pensamento. Ele não terminou. Nem Adam. Talvez seja arriscado você dizer quem é. É arriscado não dizer quem é. Ele sente que não pode? Ele sente que não deve? Sua escolha é pessoal ou estratégica? Vai valer a pena? E isso representa progresso?

Eu posso, pelo menos, responder a última pergunta. Progresso é quando todas essas outras perguntas não precisarem ser feitas. Mas ganhando ou perdendo, Adam Lambert será a mais animadora nova estrela que o American Idol teve nos últimos tempos, e eu mal posso esperar para ouvir suas repostas.

Conselhos para o Adam

“Ele parece um cara bem divertido, então pensei que talvez ele possa fazer algo com o Scissor Sisters.” – Michael Johns, ex-participante do American Idol

“Ele foi longe o suficiente no programa e conquistou corações o suficiente para conseguir um contrato com uma gravadora. Nós trabalharíamos com ele se fôssemos produzir uma rock opera ou um musical.” – Bruce Cohen, produtor

“Eu acho que Adam Lambert tem potencial para produzir grandes músicas de pop/rock como as da Pink, mas com sua própria voz e identidade.” – Eric Podwall, gerente musical

“Como um indivíduo gay, eu não assisto Adam se apresentar pensando ‘Ai, Deus, ele tem que se assumir’. Eu o amo como um artista e eu aprecio ser entretido por ele. Eu acho que é dessa forma que a maioria das pessoas pensa.” – Jim Verraros, ex-participante do American Idol

Autoria do Post: Elisa Ferrari
Agradecimentos: Lambertlust
Tradução: Carolina Martins C. e Elisa Ferrari
Fontes: Idol Forums e Ashley Mathias

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