Tages-Anzeiger: "O Fator Freddie" – Zurique (Suíça) – 19/02

O Fator Freddie

Queen na arena com Adam Lambert no lugar de Freddie Mercury: funciona se você deixar.

O Queen vendeu centenas de milhões de faixas e dúzias de músicas que todos conhecem até hoje. Nos anos 90, o quarteto virou uma dupla por causa de dois problemas: o primeiro é chamado John, o antigo baixista que não acreditava na ressuscitação de seu colega e se aposentou em 1997. Deacon era um excelente músico e compositor, mas o baixista não é o principal. O segundo problema parecia ser não solucionável: Freddie Mercury morreu, em 1991, por causa de complicações do HIV, uma das primeiras vítimas proeminentes da doença.

Mercury continua sendo lembrado, inesquecível, insubstituível. Com uma grande voz, seu humor, seu carisma e sua homossexualidade continuam presentes. Ele era muito menos impressionado pela sua arte do que sua audiência de milhões de pessoas eram. Ele disse que suas músicas são como lenços de papel, úteis quando necessário e podem ser descartadas depois. Um jornalista perguntou o que sobraria de sua arte, e ele disse: “Eu não ligo, querido, porque eu estarei morto”.

O fã no centro do palco

Mercury está morto, Deacon se foi, e o resto toca no Hallenstadion com músicos convidados, e o repertório de uma longa carreira. E com a primeira das quase trinta músicas apresentadas, “One Vision”, do álbum “A Kind Of Magic”, de 1986, nós podemos dizer: grandes músicas e performances continuam no sistema.

E o show faz sucesso por causa do cantor americano convidado, Adam Lambert, que assumiu a tarefa impossível de ficar no lugar de Mercury. “Vamos celebrar os motivos pelos quais nos apaixonamos por essa banda”, disse o artista de 33 anos, e ele é o que mais o celebra, sendo também um fã. Ele cantou “Bohemian Rhapsody” na audição para o American Idol. “Ninguém pode substituir Freddie Mercury”, ele disse em entrevistas. E ele faz algo bom: canta sem negar a existência do outro.

Gay Nativo

O Queen já havia tentado tocar novamente no novo milênio com o cantor de rock britânico, Paul Rodgers. A parceria não funcionou porque Rodgers não tinha nada do fantástico Mercury: voz potente, grandeza, glamour, ironia, pose de estrela… em outras palavras: Freddie Mercury era desinibidamente gay, como Thomas Mann e Winnetou [personagens alemães] juntos.

E também havia algo único nessa banda: eles cantavam músicas heterossexuais com um cantor gay, como uma parodia de sua masculinidade.

O final empolgante

Com o exuberante Adam Lambert, essa combinação foi restaurada: “O fator Freddie”, como o Guardian chamou, e ele diverte a plateia durante as duas horas e meia de show.

A performance de quinta-feira obtinha sucesso cada vez que Lambert se colocava no centro do palco e brilhava em músicas como “Another One Bites The Dust”, “Killer Queen” ou “Tie Your Mother Down”, cantada em várias oitavas sem hesitação, e o furioso final em coro com todo o estádio em “We Will Rock You” e “We Are The Champions”, ateando fogo sobre o local.

Tédio absurdo

Por que ainda há uma sensação de decepção restante? Por que não parece que o episódio foi apenas feito de sucesso? Porque o Queen repetiu o mesmo erro que os subverteu em julho de 1986 no Hallenstadion, quando Mercury ainda estava vivo: os membros fundadores restantes são seduzidos por sua vaidade. E eles assumem os piores excessos dos anos 60 – solos longos de guitarra e bateria, alimentando um enorme tédio.

Quando o guitarrista Brian May entoa “Love Of My Life” sozinho no violão, enquanto Mercury enche o telão atrás dele com humildade, seus olhos se enchem de lágrimas, que ele seca depois. Mas quando ele e o baterista Roger Taylor deixam seu egoísmo de lado, o público é presenteado com música boa novamente. Lamentavelmente, o público pensa sobre quais membros da banda ainda realmente sabem tocar, e deseja que os músicos trouxessem seu talento mais familiar do que os seus acordes automáticos.

De qualquer maneira, e de forma reconfortante: no palco, os músicos tocam juntos com um prazer óbvio, e não há nada melhor que isso em um show, porque a plateia compartilha do entusiasmo. É para isso que servem aqueles lencinhos que deixamos nos bolsos: para nos recompormos fisicamente de uma desestruturação emocional.

Autoria do Post: Elisa Ferrari
Tradução: Carol Martins C. e Elisa Ferrari
Fontes: Adam Lambert TV e Tages-Anzeiger

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