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12fev2015
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Eber Lambert fala sobre a carreira de seu filho Adam em apresentação do "So Say We All"
Eber Lambert contou uma divertida e emocionante história sobre a trajetória de seu filho Adam Lambert em uma apresentação do So Say We All, organização sem fins lucrativos voltada às artes literárias e cênicas, “cuja missão é criar oportunidades para pessoas contarem suas histórias, e contá-las melhor”.
Confira abaixo a filmagem realizada no Whistlestop Bar em San Diego, em Junho de 2013, compartilhada por Eber apenas em Janeiro deste ano.
Eber Lambert – “Top 40”
Junho de 2013, no Whistlestop Bar – San Diego, Califórnia.
Apresentação: Essa é a minha músicaEber: O primeiro disco que eu comprei foi “123 Red Light”, em 1968. Eu tinha nove anos e enjoei dele em alguns dias – Top 40 – mas, por outro lado, havia uma música chamada “Sticky Sticky”; era como as músicas estranhas dos Beatles, e eu adorava os Beatles quando eles ficaram estranhos, com instrumentos e ritmos diferentes. Efeitos de gravação e progressões complexas sempre me chamaram a atenção antes daquelas canções Pop simples. Aos treze anos eu gostava de música psicodélica muito antes de descobrir os alucinógenos, e eu odiava o Top 40 da rádio.
No colegial, crescendo em Vermont, eu ouvia uma estação de rádio FM de Montreal que tocava rock progressivo, música eletrônica e Quevequal art rock. Brian Eno [ver nota 1] rapidamente se tornou e ainda é, um deus.
Eu me envolvi com a estação de rádio da minha faculdade e consegui o melhor horário da noite – das oito às onze no domingo – no meu primeiro verão e o mantive até me formar […] Eu servia uma dieta estável das músicas mais doidas e obscuras que conseguia encontrar em nossa vasta e já meio mofada biblioteca de discos. Meus colegas de quarto eram Deadheads (fãs da banda de rock psicodélico Grateful Dead), então eu acabei apreciando aquelas músicas longas e os solos de Jerry Garcia. Por dinheiro, eu fui trabalhar no Old Board Restaurant & Night Club, a maior discoteca de Burlington. Disco, o flagelo dos anos 70. R&B e Funk no fim da ladeira. Hoje é uma novidade; naquela época, muitos sabiam o que realmente era: o começo do fim da civilização.
Quando eu me formei como engenheiro elétrico, desisti do meu sonho de criar sintetizadores musicais e áudio digital de primeira geração. Eu precisava de um emprego e os empregos estavam nos computadores e sistemas de defesa. Eu consegui um trabalho em Indianápolis, me casei, e meu primeiro filho nasceu em 1982. A MTV era nova e divertida de se assistir, mas a música ainda era o Top 40 brega do rádio. Eu encontrei a parte legal da cidade, os espaços com música ao vivo e lojas de discos Indies, onde eu podia vasculhar em busca de boa música. Eu comprei tantos vinis usados quanto podia.
Os primeiros brinquedos do meu filho foram principalmente musicais. Um piado do Schroeder, um xilofone, uma gaita… Eu colocava uma música e nós tocávamos juntos. Nessa época eu gostava de Jazz. O verdadeiro Jazz, não aquela coisa do Kenny G. Blues e reggae também. A música dos meus amigos da faculdade que eu deixara para trás e agora sentia falta. Em 83, eu consegui outro trabalho e nós nos mudamos para San Diego, e alguns meses depois eu fui a alguns show do Grateful Dead em Ervine Medows e fiquei viciado. Durante os anos 80, 5 ou 6 vezes por ano, um final de semana de shows do Dead estava a um dia de viagem. Isso se tornou uma curta, adorada e quimicamente melhorada fuga da minha vida suburbana e trabalho com sistemas de defesa.
Meu segundo filho nasceu em 1985 e, no final da década de 80, ficou claro que nenhum dos meninos era chegado em futebol ou beisebol, mas, como pais suburbanos, é esperado que você encontre atividades de fim de semana para seus filhos. Meu filho mais velho, Adam, gostava de música e tinha muita energia. Neil era mais tranquilo, do tipo que gostava de Legos e Nintendo. Nós os colocamos em uma aula coletiva de piano. Adam desistiu depois de um mês, ele não tinha paciência para isso. Neil entendeu que era algo que ele poderia fazer melhor do que seu irmão, então ele ainda toca até hoje, 20 anos depois.
Nós colocamos Adam em aulas de canto e um grupo de teatro infantil. Musicais. Eu sempre detestei musicais. Mas era um ótimo grupo de crianças e nós ficamos bons amigos de alguns outros pais e, felizmente, eles nunca apresentaram “Oklahoma”. Quando eu era criança, assistir a apresentação anual de “Oklahoma” na TV era a perversa versão da minha mãe de abuso infantil. O amor de Adam pela voz cresceu, mas na direção errada. Não importava quantos vocalistas legais eu apresentasse a ele, Bowie, Morrissey, Robert Plant até mesmo Otis Redding, ele ouvia En Vogue, Destiny’s Child, Backstreet Boys. Ele estava se tornando nosso pária musical.
Aos 13 anos ele me implorou que o levasse ao seu primeiro show ao vivo. Quando eu tinha treze anos, eu implorei ao meu irmão que me levasse para ver Led Zeppelin no Forum; Adam queria ver Paula Abdul na Sports Arena. “É… Peça para sua mãe”.
No final dos anos 90, ele gostava de Disco dos anos 70. Um dia eu cheguei em casa e Brick House estava tocando no volume máximo. Eu me transformei no meu pai. Eu subi as escadas batendo os pés, desliguei o aparelho de som e gritei. Eu disse: “É desumano que eu tenha de viver essa porcaria de música duas vezes em uma só vida!” “Mas pai! Pai, é legal!” Ele disse. “Não! Não! Nunca foi legal. NUNCA! As pessoas só gostavam disso na época porque o Quaalude [ver nota 2] era real, a cocaína havia sido cheirada e todo mundo estava fazendo sexo com todo mundo porque ninguém precisava se preocupar em ser seguro ainda”. Ele revirou os olhos e colocou os fones de ouvido. Eu havia me transformado no pai chato.
Depois da formatura Adam entrou no programa de Teatro da Fulerton, mas só durou um mês, até ele perceber que já sabia tudo o que eles estavam ensinando, e pior: ele deveria fazer aulas suplementares de Matemática. Matemática para ele é como ópera para mim. É um trabalho importante e complexo mas, essencialmente, é uma forma de tortura. Ele conseguiu um emprego como o cantor principal em um navio de cruzeiro, ou, como nós chamávamos, a marinha de cantores de salão. Um ano depois ele achou uma coisa mais legal. Uma turnê de seis meses pela Alemanha com o musical Hair. Ele e o resto do elenco estavam vivendo o tema sexo, drogas e rock ‘n’ roll do show no palco e fora dele.
De volta a LA em 2005, ele conseguiu papeis temporários em pequenas produções e tinha um emprego de meio período. Uma loja ofereceu a ele um emprego em tempo integral como gerente. Ele ligou e me perguntou se eu achava que ele deveria aceitar. Lembrando de como eu deixara minha paixão de lado em troca de um bom emprego tantos anos atrás eu não pude evitar de lhe dizer não. “Continue perseguindo o sonho, Ad, você tem só 23 anos”. Essa acabou sendo a resposta certa, uma vez que ele já tinha recusado o emprego.
Ocasionalmente, ele me ligava pedindo um dinheiro extra para coisas de primeira necessidade, como comida, aluguel ou material de camping para sua viagem anual ao Burning Man, o que eu vim a entender, era essencialmente uma série de shows do Dead no deserto, sem o Dead. Eventualmente, desesperado para ter alguma renda, ele atingiu o fundo do poço, participando de uma versão musical de “Debbie Does Dallas” em Lake Tahoe. Ninguém da família era bem-vindo para assistir. Finalmente, ele conseguiu um papel fixo em LA no coral do musical “Wicked” e montou uma banda com alguns amigos. Em agosto de 2008 ele ligou dizendo que ia tentar o American Idol. Não sendo um grande telespectador, eu tinha ouvido falar, mas não sabia nada a respeito. Ele disse que milhares iam participar. Eu disse “Ok” e lhe desejei sorte. Em outubro, ele ligou e disse que estava no Top 40, e que estaria no show, mas teria de desistir do emprego em “Wicked”. “Espere, espere, espere, espere! Você vai se demitir do melhor emprego que você já teve, com benefícios, por causa de um show de talentos?” “Pai, pai! É o show numero 1 na televisão!” “É mesmo? Quanto eles vão te pagar.” “Oh, eu não ganho nada até o próximo verão e só se eu entrar no Top 10.” “Como diabos você vai sobreviver nove meses sem fonte de renda?” A ligação foi ladeira abaixo rapidamente depois disso.
Em fevereiro, depois que eu descobri o espetáculo horroroso que as primeiras semanas desse show são na verdade, ele entrou no Top 12 e todos nós comemoramos. Duas semanas depois, eu perdi minha performance favorita dele, uma versão árabe ondulante de “Ring Of Fire” do Johnny Cash, que fez o meio oeste americano surtar. Depois disso eu me comprometi a assistir o show toda quinta-feira. Nós conversávamos por telefone toda sexta sobre quais músicas ele estava pretendendo cantar na próxima semana. É claro que todas as minhas sugestões eram sumariamente descartadas. O mais perto que eu cheguei foi conseguir que ele colocasse “Instant Karma” em sua lista para a semana dos anos 70. Ele cantou “Play That Funky Music”. Ironia mordaz é uma peça fundamental em qualquer relação entre pai e filho.
Nos próximos quatro meses eu conheci uma estranha variedade de celebridades na plateia. Paula Abdul… Glen Campbell, Slash, Smokey Robinson, e o mais improvável de todos, o animado fanboy de música Pop, Sir Antony Hopkins. A porra do Hannibal Lecter batendo nas minhas costas e aplaudindo Adam de pé quando ele cantou “A Change Is Gonna Come”. Nenhuma quantidade de drogas recreativas pode preparar uma pessoa para uma coisa assim!
Adam acabou ficando em segundo lugar, fez a turnê e foi pago, lançou seu primeiro CD em 2010, conseguiu o Top 10… No Top 40 da rádio. Ele fez turnê pelos Estados Unidos, Europa e Ásia e em julho passado ele cantou com membros remanescentes do Queen por sete shows na Europa. Eu nunca gostei muito de Queen. Mas eu fiquei quieto e voei com meu filho Neil para Londres para ver os shows e eles foram ótimos.
Desde que eu comecei a colecionar CDs no final dos anos 80, em setembro passado eu abri o primeiro disco de vinil novo que eu comprei em 28 anos: o segundo álbum de Adam. E mesmo com tudo o que aconteceu, foi um momento incrível para mim. Ele alcançou o sonho. Ele atingiu o número 1 da Billboard por uma semana, então eu sintonizei a estação regional de Top 40 de manhã e a noite, esperando que eles tocassem seu novo single. Isso só durou alguns dias, no entanto, porque essa porcaria de Top 40 ainda é impossível de ouvir.
NOTAS:
[1] Brian Peter George St. Jean le Baptiste de la Salle Eno é um músico, compositor e produtor musical britânico, um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento da ambient music. [2]: Quaalude foi um potente sedativo usado como droga recreativa nos anos 70Autoria do Post: Elisa Ferrari
Tradução: Stefani Banhete
Fonte: Eber Lambert
<3 Eber, loveU!!!!!!! <3