-
29dez2014
- ESCRITO POR:
- CATEGORIA:
- COMENTÁRIOS:
- 2
Nova entrevista do Queen + Adam Lambert ao The Guardian
Confiram abaixo uma interessante entrevista dada por Queen + Adam Lambert ao The Guardian, onde também discorrem sobre o show da véspera do Ano Novo, na BBC, publicada nesta sexta-feira (26):
Mensagem de Natal do Queen: “Precisamos de uma mudança de governo” De volta com um novo vocalista, Adam Lambert, a banda rejuvenescida fala sobre a vida sem Freddie Mercury, “gravidade de trator” e preparações para tocar na véspera do Ano Novo na BBC.
Freddie Mercury disse uma vez que ele se tornou uma estrela do rock, porque não tinha outras habilidades: “Eu não posso cozinhar, eu não sou muito bom para ser uma dona de casa.” Queen tem uma maneira de falar sobre o seu trabalho, que está em desacordo com os grandes gestos com que fazem fama. Na próxima semana, eles vão comandar as celebrações de Ano Novo do país com um show transmitido ao vivo desde Westminster, para uma audiência de milhões, na BBC. Roger Taylor, o baterista com a voz mais suave do mundo, me falou que é um prazer estar trabalhando no Ano Novo, porque é um dia que pode ser um pouco anti-clímax.
Nos últimos dois anos, Queen revolucionou o modelo para as bandas de rock, quando um ex-concorrente de um programa de talento da TV (Adam Lambert, vice-campeão do American Idol em 2009) entra no lugar que o Senhor Freddie deixou. Lambert diz que teve alguns “momentos de contradições” no papel de vocalista – “Eu sou um tipo de pessoa que amo ou odeio” -, mas as vendas de ingressos falam por si, em Janeiro e Fevereiro, eles vão tocar para 160.000 pessoas em arenas ao redor da Grã-Bretanha. Freddie gostava de brindar o público com champanhe, mas nem mesmo ele chegou a fazer um show de Ano Novo na BBC.
“Tudo o que eu sei é que vamos estar ao lado do Big Ben”, Lambert diz, entusiasmado, no seu escritório em Londres.
“Talvez possamos escalar ele [Ben]. Talvez Brian possa escalar ele! Talvez possamos reencenar aquela cena de Peter Pan, onde eles estão ao redor dos ponteiros do relógio…”Ele está vestido de preto, usando um chapéu e botas de cobra fina. Ele tem uma nova tatuagem, uma réplica do “Q” barroco que Mercury desenhou para o primeiro álbum do Queen, em 1973. Seu estilo é muito mais “rock” do que da última vez que o vi no palco com eles em 2012, vestindo uma jaqueta de penas, vermelha.
“Veja, rock para mim é, tipo, eu nem sei o que isso significa”, ele diz. “O que isso significa? Será que significa que há uma guitarra no meio?!”
É fácil ver como Lambert tem “rejuvenescido” os membros restantes do Queen (palavras de Roger Taylor). Eu me encontrei com Taylor em seu estúdio caseiro em Surrey: ele descreve o interior do local do show do Ano Novo – Westminster Methodist Central Hall – como “bem Wesleyanas – sem luxo!” Taylor deixou a religião anos atrás, esgotado pelos tempos de quando era criança que participava no coro de meninos na Catedral Truro, onde ele tinha que cantar três vezes no dia de Natal. Sua casa, sendo um antigo convento, tem uma igreja em seu jardim, mas ele me assegurou: “Quando eu me mudei, Deus se foi”.
Quanto ao terceiro membro do Queen, aqui está o Dr. Brian May, no Museu da Ciência em Londres, liderando uma ligação via satélite ao vivo com colegas cientistas para marcar o lançamento do Dia Mundial do Asteroide (30 de Junho de 2015). A equipe está atualmente trabalhando para desenvolver algo chamado “gravidade de trator”, uma nave espacial teórica desenhada para desviar matéria perigosa da superfície da Terra. “Não está muito longe de Bruce Willis”, May diz. “Há coisas por aí que podem fazer um estrago terrível se nos atingir, para dizer o mínimo!”
Estamos muito perto do Imperial College, onde em 1968, May, um estudante de Física, colocou um aviso pedindo um baterista tipo “Ginger Baker/Mitch Mitchell” e atraiu o interesse de um jovem louro estudando Odontologia. Dentro de alguns meses, May e Taylor tiveram outro músico interessado – um jovem tímido, ofegantemente entusiasmado em roupas vintage que havia se mudado de Zanzibar sete anos antes, e por quem eles levaram um pouco de tempo para estarem convencidos a nível profissional.
“Freddie é como um mito”, diz Lambert. “É como se ele não fosse real. Quando eu vejo imagens dele, sua voz, o comando do palco – é extremamente intimidante de se aproximar”.
O treinamento que Lambert teve no programa de talentos da televisão, cobrindo Michael Jackson uma semana, AC/DC em outra – preparou-o para a vida em uma banda cujas produções vão de metal à vaudeville. “Não há nenhuma vírgula do Queen que não possamos tentar com ele”, diz May. O novo show tem uma narrativa histórica, incluindo uma parte onde Lambert desaparece completamente para “descansar e tomar uma bebida”, deixando os outros ponderando com uma versão de Freddie na tela. Há uma estética retro, incluindo, para os nerds, uma recriação do equipamento de iluminação que Queen tinha a partir dos anos 70. (“Temos bastante carinho pelo tungstênio,” May diz – “era como ser assado vivo.”) A coisa toda parece apropriada, numa época em que o rock está ganhando mais dinheiro no palco de teatro do que no Spotify. Consta, que apesar dos rumores, não haverá mais musicais do Queen (“uma ideia terrível”, diz Taylor).
May diz que o público precisa de três músicas para “entender” Lambert. “Eu posso ver: eles estão pensando: ‘Será que ele está fazendo isso mesmo?’. No outro dia no The X Factor, não tínhamos ideia de que ele iria fazer a última nota alta [em Somebody To Love]. Eu estava tocando uma grande nota e pensando: ‘Meu Deus! Isso não é um pouco perigoso? Jesus Cristo ele fez! Que ótima decisão!'”
Este cenário será comovedoramente familiar para quem cresceu assistindo ao alto nível vocal de Mercury nos estádios dos anos 1980, o vapor saindo de suas narinas, o rímel escorrendo pelo seu rosto.
Apesar de tudo, em comparação com a encarnação de Queen com Paul Rodgers alguns anos atrás, o show com Lambert está muitas vezes “absurdamente exagerado”, o que torna cada vez mais evidente, ao falar com a banda, que esse é o seu ambiente mais confortável em um nível muito mais profundo. “Se Adam faz algo exagerado, é porque é Adam”, diz May. “Ele não está tentando ser Freddie. Freddie está mentalmente e fisicamente presente durante todo o show e todos sabem disso.” Lambert fez uma nova versão de Killer Queen, a história de Mercury de uma prostituta de classe alta. “Tudo o que posso dizer é que eu pedi um leque, sapatos ridículos e algo para deitar-me.”
Ele faz todas as decisões de vestuário da banda agora?
“Não. As Adidas de Brian são muito legais. Ele sempre usou as mesmas e agora estão na moda de novo.”
Lambert tinha nove anos quando Mercury morreu de Aids, em 1991. Ele está gradualmente aumentando sua compreensão de uma figura que continua a ser uma das mais misteriosas na grande história do rock’n’roll, em parte porque Mercury nunca realmente gostou de entrevistas e em parte porque os jornalistas não gostavam muito do Queen.
“Eu acho que é interessante que ele fosse tão masculino nos anos 80”, diz Lambert. “Algumas pessoas podem ter dito que ele estava tentando compensar algo. Eu acho que era porque ele estava evoluindo”. Pouco a pouco, a psicologia de Freddie está emergindo. “Brian me disse que ele sempre suspeitou que a canção On The Lap Of God era a maneira de Freddie de expressar sua frustração por não ser capaz de ser abertamente gay”, diz ele. “É tão fácil, mas não posso fazê-lo/É tão arriscado, mas eu tenho que arriscar/Tão engraçado, mas não há nada para rir. Já superei – Eu acho que nós estamos vivendo em uma era pós-gay onde, foda-se, ninguém se importa – mas eu tinha a minha própria versão dessa luta quando eu comecei há cinco anos atrás – estar no meio da mídia é muito complicado. Eu só posso imaginar como deve ter sido naquela época”.
De acordo com Brian May, era mais fácil naquela época. “Você tem que lembrar que Adam não ganhou o American Idol por uma enorme influência anti-gay”, diz ele, referindo-se ao momento em que o painel da Fox News no The O’Reilly Factor teve tempo para discutir fotos de Lambert beijando outro homem justo antes da final. Dois anos mais tarde, quando ele beijou seu baixista no palco durante um programa de TV, o canal ABC teve tantas reclamações, que cancelou sua performance no Good Morning America.
“Na maior parte da nossa carreira, não éramos temas para tabloides”, diz May. “Permitíamos que fosse público, quando estávamos nos apresentando e que fosse privado quando não estávamos. Quando um jornalista perguntou a Freddie se ele era gay, ele disse: ‘Como um narciso’, e na pergunta seguinte seguiu adiante.”
O ataque da imprensa só veio realmente quando Mercury ficou doente, um período marcado ironicamente no estúdio de Taylor pela presença de um brinquedo “Paparazzi Playset” dos criadores do “Dashboard Jesus”, que inclui nove fotógrafos em miniatura e uma pequena corda de veludo. Taylor nunca perdoou aos tabloides, mas ele está de acordo com Lambert, de que a atitude em relação a estrelas de pop gay é radicalmente alterada. “Eu sempre senti que havia uma oposição invisível do lado exagerado de nossa personalidade naquela época”, diz ele. “Adam é completamente inequívoco sobre sua sexualidade o que é uma grande liberdade para todos nós. Além disso, ele é hilário, então você não pode se sentir ofendido, e quem se ofende não deveria estar lá, de qualquer maneira.”
Queen sempre se guardou para si mesmos. Houve, aparentemente, grandes discussões na época, mas ninguém fora do seu círculo íntimo soube do que se tratava. John Deacon, que não tem estado envolvido no grupo desde 1997, uma vez fugiu para Bali no meio de uma sessão de gravação, ele só deixou uma nota em seu baixo (“Eu fui para Bali”). De acordo com Lambert, May e Taylor “se amam e brigam como um casal de velhos. É tudo totalmente passivo, agressivo e ótimo”. Enquanto isso, para uma banda que já organizou uma festa em que, de acordo uma revista de música publicou, “os hóspedes são recebidos por uma trupe de anões hermafroditas servindo cocaína com bandejas amarradas em suas cabeças; a cocaína foi especialmente importado da Bolívia, e Mercury comprovou sua qualidade”, eles não contam sobre suas condutas decadentes. As coisas estão mais calmas agora?
“Infelizmente!” Taylor responde. “A vantagem é que tudo é muito mais eficiente agora. Não houve uma única noite, nesta última turnê, em que o show começou com um minuto de atraso. É tudo tão profissional nos dias de hoje. Até os ajudantes têm advogados.” Ele sente que é melhor esclarecer.“Eles, na realidade, não tem.”
Que tal o esforço físico na sua idade?
“Bem, eu ainda me surpreendo, quando penso comigo mesmo: ‘Você realmente está velho’. Temos muita sorte de ter as nossas faculdades [mentais]. A carga é mais pesada, mas eu tenho o meu filho comigo [ele colocou seu filho, Rufus, para trabalhar – eles executam duetos de bateria]. Então, você sabe, quando minhas velhas mãos começam a desmoronar-se, seus membros jovens e flexíveis pegam o peso.”
May admite que o tempo de descanso na turnê agora é uma questão de conservação de energia, em vez de passear ou ir a festas. Ainda assim, enquanto organizava minha entrevista, eu recebi um texto dele às duas da manhã. Pergunto a Taylor se ele acha que May é noturno. “Sim, eu recebo emails onde diz 05:32h”, diz ele. “Brian fez uma palestra um outro dia sobre a fotografia stereo Francesa e ele fez a coisa inteira em Francês. Ele me disse: ‘Eu fiz um pouco de pesquisa.’ Eu pensei: ‘Caramba, melhor você do que eu, companheiro.'”
Lambert os iluminou, May diz: “Ele traz muita diversão para a situação, do mesmo jeito que Freddie trazia. Nos velhos tempos, estávamos preocupados de que tudo fosse perfeito. E agora temos uma verdadeira consciência de que não há muitas pessoas por aí que tocam completamente ao vivo, então você aprecia os erros que você faz.”
De qualquer maneira, May tem coisas mais importantes em sua mente do que a perfeição técnica. Pergunto a ele sobre uma mensagem de Natal do Queen e ele diz: “Precisamos de uma mudança de governo, e se não houver uma mudança, eu acho que todos nós vamos cortar os nossos pulsos.”
Mais importante do que isso, e sobre o futuro do rock’n’roll?
“Essas coisas são para sempre”, diz ele, “a menos que um asteroide nos atinja e acabe com todos nós”.
Autoria do Post: Graça Vilar
Tradução: Sandra Saez
Fontes: @14gelly e The Guardian
Bom site colega.