Shut up Hasmih: “Queen + Adam Lambert, Auckland – 03/09”

Queen + Adam Lambert, Auckland – 03/09

Eu acho difícil avaliar este show – sendo um fã do Queen por tanto tempo, há tantas memórias e expectativas envolvidas em ver uma banda influente como esta, finalmente, ao vivo. Mas foi uma grande experiência, não só pelo fato de ver Brian e Roger em pessoa, mas eles fizeram um ótimo show, independentemente de qualquer cinismo que se possa ter sobre uma banda ainda em turnê, décadas após a morte de seu amado vocalista. A essa altura, já está ficando clichê comparar Lambert a Mercury, mas eu vou ter que fazer isso, apesar de tudo. Como os outros fãs e críticos sugerem – Adam se encaixa muito bem na banda e, de fato, dá seu toque próprio às músicas, encontrando sua apresentação pessoal no palco para se adequar às canções, sua própria exuberância única – prestando homenagem a Freddie, mas sem copiar seu estilo. Eu não posso afirmar ser um fã de Adam Lambert, então eu ainda me encontrei comparando seu desempenho com a forma como Freddie teria performado uma canção, mas isso aconteceria de qualquer forma, se você passou tanto tempo obcecado por uma banda como eu fui com o Queen. Mas, se alguém ia levar esse show de volta à estrada com os membros originais e dar-lhe nova vida, esse alguém pode muito bem ser Lambert – ele tem uma grande voz e experiência de palco para agitar o público de uma arena ou estádio com facilidade.

Os fãs de Adam Lambert podem não concordar comigo – mas a parte do show que mais me tocou foi quando Brian pegou o microfone, primeiro cantando “Love Of My Life”, com Freddie aparecendo no telão para nos ajudar a cantar momentos-chave. Este foi um clássico ao vivo a partir de 1975, o acústico de “Love Of My Life”; e foi algo muito comovente, um espaço lotado por 8.000 pessoas cantando junto com Brian, e Freddie aparecendo momentaneamente. E foi muito bom ouvir a voz de Freddie novamente ressoando em uma arena. No final da canção, pareceu que Brian enxugou os olhos, talvez tão afetado quanto o público, ao cantar junto com seu amigo perdido. Roger, o tecladista de longa data do Queen, Spike Edney, o baixista da turnê Neil Fairclough e o baterista e filho de Roger, Rufus Taylor se juntaram a May para “‘39” do álbum “Night At The Opera”. Um dos meus destaques da noite, com certeza.

O show foi ótimo – com um dos mais impressionantes esquemas de iluminação que eu já vi em um show de arena, uma tela enorme que foi feita para aparecer com o ‘Q’ do logotipo do Queen. O equipamento que compunha o Q se moveu sobre a banda de uma forma espetacular, lembrando os equipamentos de iluminação móveis empregados em turnês do Queen entre 1977 e 1986. Durante “Lap Of The Gods”, a fantástica canção final de “Sheer, Heart Attack”, o círculo gigante de luzes saiu de seu lugar no centro do palco e se transformou em um magnífico anel que paira sobre a banda. “Lap Of The Gods’ é uma canção brilhante – e este foi um desempenho digno de performances anteriores do Queen – como em Wembley, em 86. Brian May, depois, fez um solo de guitarra, incorporando partes do seu solo Bijou de Innuendo, e enchendo a arena com sua característica harmonização em delay. Isso combinado com hipnotizantes lasers vermelhos e imagens do cosmos. Visualmente, muito elaborado – e perfeitamente adequado para o legado de shows ao vivo do Queen.

Outros destaques musicais incluem uma batalha de baterias entre Roger e Rufus, ambos bateristas incríveis – Roger com seu estilo pesado e muito original, e Rufus um baterista de rock moderno tecnicamente qualificado. Roger liderou os vocais em “A Kind Of Magic” e foi muito bom ouvir o homem cantando e teria gostado de ouvir mais. Neil Fairclough forneceu o melhor solo de baixo que eu já ouvi, caindo em riffs de clássicos do Queen como “Nevermore” do álbum “Queen II”, “Don’t Try Suicide” do “The Game” e “Body Language” e “Staying Power” do subestimado “Hot Space”. Adam executou muito bem as canções menos conhecidas, coisas como “Dragon Attack” do “The Game”. Foi incrível ouvir uma das músicas mais obscuras, tocada ao vivo e ainda soar tão fresca como quando foi tocada pela primeira vez.

O show terminou com o tradicional ataque de hits do Queen – “Tie Your Mother Down” com Rufus Taylor na bateria, “I Want To Break Free”, “Radio Ga Ga” com o público fazendo o seu melhor para imitar o “Live Aid” e “Crazy Little Thing Called Love”. Depois foi “Bohemian Rhapsody”, com Lambert arrasando nos vocais como deveria um cantor tão treinado como ele. Mas os membros originais não poderiam ser ofuscados – Brian tomou o seu lugar na base da passarela, arrebentando com o solo de guitarra mais emblemático que ele já escreveu, enquanto usava uma túnica dourada que lembrava os trajes glam da banda no início dos anos 70. Freddie apareceu novamente na tela na parte operística da canção e outra vez no final, em um dueto com Lambert, cada um cantando uma frase. Freddie estava definitivamente presente, mas Lambert fez sua parte. A noite terminou como todos os shows do Queen, novamente, desde 1978, com “We Will Rock You” seguido de “We Are The Champions”. Lambert usava uma coroa em estilo régio, e todos eles ficaram lado a lado, juntos, fazendo uma última reverência para a multidão que já estava verdadeiramente cativa. Brian e Roger estão tocando bem, parecendo ainda adorar tocar para as massas que os adoram e garantindo seu legado por muitas décadas mais, graças ao vocalista adequado que encontraram em Adam Lambert. Como outro crítico mencionou, com tantas bandas de rock clássico não querendo fazer uma turnê para os fãs (como Zeppelin e Floyd) – é uma sorte que tenhamos uma banda como Queen, tão dedicados em manter o legado vivo. Isto é, se deixarmos nosso cinismo nas portas da arena.

Talvez eu tenha sido um pouco injusto com Lambert às vezes – mas é só por ser um grande fã do Queen original. O show que eles montaram é realmente algo especial, mesmo que mais uma vez procure destacar o talento perdido do incomparável Freddie Mercury, em alguns aspectos. Uma parte de mim acha que eles não precisariam estar em turnê desta forma, ambos, Brian e Roger têm vozes incríveis e são grandes compositores e intérpretes, por mérito próprio, e poderiam ter cada um, focado em suas carreiras solo, ao invés de continuar com a besta conquistadora de mundos que é o Queen. Estou dividido sobre se eu acho que eles deveriam continuar saindo em turnês por muitos anos mais – parte de mim adoraria ver o show novamente, mas a outra parte de mim sente que é uma grande homenagem, um perfeito momento fugaz para os fãs os membros da banda se reunirem e celebrarem seu legado, mas talvez seja um momento que deva existir apenas por tempo suficiente para que suas melhores qualidades sejam apreciadas. Espero, pelo menos, por algumas datas em festivais, porque eles estão fazendo um show que parece muito maior do que as arenas em que estão acontecendo. Ao final do dia, fiquei maravilhado por ter tido a chance de ver qualquer desses membros do Queen em pessoa e ouvir essas músicas ao vivo. Dou crédito a Lambert por colocar sua carreira solo em espera para fazer parte do Queen – não há muitos cantores que poderiam fazer um trabalho tão bom quanto ele – ele é um ajuste muito melhor do que Paul Rodgers, por ter as cordas vocais, a imagem glam certa e a química com os membros restantes do Queen, para fazer isso funcionar.

Para terminar este comentário com uma observação de um fã incondicional: eu esperei do lado de fora do local (na noite seguinte, depois de obter um ingresso sobrando para o segundo show) por muitas horas, com alguns outros fãs do Queen e de Adam Lambert, vindos da Nova Zelândia e da Austrália. Brian teve tempo para parar e conhecer os fãs, uma verdadeira honra e mostra o quão humilde ele é. O melhor que consegui foi contar a Brian que algumas das minhas lembranças mais antigas eram estar ouvindo sua música. Não me lembro de sua resposta, eu estava muito admirado por estar ao lado do guitarrista que eu via nas capas dos álbuns por tanto tempo. Ainda não aprendi a manter a calma quando encontro heróis ou pessoas que eu admiro (confira aqui a foto).

Fonte: Shut Up Hamish

Tradução: Stefani Banhete

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