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03set2014
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“Carta de Freddie Mercury a Adam Lambert”
Bem, você deve estar se perguntando: como Freddie Mercury poderia ter deixado alguma carta para Adam Lambert, além túmulo? Claro que não… O ensaio a seguir, foi elaborado tendo por base todas as reviews que foram feitas do shows até então, os comentários de Brian May e Roger Taylor acerca de Adam Lambert como vocalista, e as resenhas das principais mídias ligadas à música, além de mencionar alguns dados bibliográficos, devidamente EMBASADOS. Se você também está a par do que tem sido dito, nos dê sua sugestão! O que mais Freddie poderia ter dito a Adam?
Adam, cara!
Como vai você?
Aqui é o Freddie.
Quero muito dizer que, estou maravilhado com sua turnê e minha Banda.
Sabe, Paul Rodgers era um cara legal como vocalista. Mas o estilo dele, reservado, era outro. Meio bluesista. Então o Queen soava muitas vezes como a banda da qual ele fazia parte, a Bad Company. Então parecia “Bad Company” tocando com a “Good Company”, porque saiu fora das características que cresceram comigo, Brian Roger e John Deacon e o fluxo original, que culminou com a banda Queen.
Eu tenho que falar, me surpreendi muito com você. Eu achei que você fosse bom, mas na verdade, você é espetacular.
Além dessa voz magnífica que você tem, existe esse sex appeal, que é imprescindível à qualquer pessoa que ouse ser vocalista do Queen. Você tem esse “que” de anos 70, onde a cultura rock and roll era pura, enlouquecidamente selvagem, profundamente original. Você não é dessa era!
Fiquei com receio, pois não achei que ninguém mais, a não ser a Cher, ousasse ser Glam o suficiente no palco, principalmente um homem, sem medo do que as pessoas poderiam pensar e com tamanha virilidade de um alpha male modestamente… como eu!
As pessoas precisam entender que um vocalista para ocupar essa posição, tem que ser Glam. Tem que ter um apelo burlesco, e ao mesmo tempo, tem que fazer com que as pessoas queiram se levantar ou cantar dos seus assentos.
Você sabe, eu fui pansexual, ou seja, já fui hétero, bi, quando finalmente descobri que era homossexual. Fui apaixonado por uma mulher, mas também gostava de homens. A cultura que me criou era profundamente libertina, você sabe, sexo, drogas e rock and roll. Não havia doenças e não havia medo. Até as drogas eram mais puras, e aquela “epifania” que você disse que teve durante o festival “Burning Man”, era a epifania de todos os astros de rock e era usada para sua criação. Lógico que depois de toda essa loucura inconsequente, veio a Aids, veio a era dos suicídios e overdoses. Poucos saíram ilesos.
Quando adoeci, de Aids, em 1991, essa doença devastou meu corpo e mente… achei que fosse acabar com a minha moral (você sabe, as pessoas tinham medo de tocar em pessoas com Aids), por isso o mundo ficou sabendo da doença que eu tinha, somente dois dias antes da minha morte. Sofri muito com isso. Veja bem, eu era um sex symbol e nos anos 80, milhares de mulheres (e homens) se apaixonaram por mim. O sucesso da Banda Queen começou nos anos 70 e ter cabelo comprido, usar delineador preto, pintar as unhas, usar sapatos plataforma não denunciavam nenhuma orientação sexual. Naquela época, eu só andava na moda. Eu era Glam.
Você, faz hoje, o que eu gostaria de ter feito em 1980. Gritar ao mundo minha orientação sexual, sem receio! Tivesse feito isso, e mais músicas ao estilo “Love Of My Life” teriam surgido. Já pensou? Foi lindo compor aquilo.
E, cara. Que figurinos são esses que você está usando nos shows? Simplesmente arrasadores. Bregamente chiques! De um bom gosto fora de série! Couro e tachas, camisetas brilhantes, calças justas, animal prints, aquele conjunto de leopardo. Sapatos plataforma como aqueles! Eu teria usado. Fantástico! Você sabe, eu fui diplomado em história da arte, com especialização em design gráfico, na Ealling Art College. E simplesmente gostaria de ter desenhado aqueles figurinos ousados e marcantes! Aquelas estampas extravagantes. David Bowie que se cuidasse!
E aquele lounge dourado, com almofadas roxas? Estive sentado lá com você, durante os shows. Tenho certeza que você sentiu minha presença. Todos sentiram.
E preciso dizer. Eu gosto de quem tem presença de palco. Isso é muito importante. Gosto de quem hipnotiza as pessoas! Gosto de quem não tem medo de ser ridículo. Esse tipo de magnetismo, não é qualquer cantor que possui… Gosto sobretudo de vocalistas que envolvam o público. As pessoas não são apenas ouvintes, essas músicas que cantamos para elas, tocam seu coração. Lembram de épocas, lembram de juventude, ousadia e brilho. São escapistas! Trazem momentos e até cheiros. Lembram de épocas onde não se podia fabricar artistas. Sabe, naquela época que não tinha internet.
Eu lamento profundamente essa cultura musical que vocês vivem hoje, onde originalidade, voz e talento são colocados em segundo lugar. Para atender aos apelos das massas, você tem que ser repetitivo. Você tem que plagiar outros artistas. Os cantores que surgem hoje em dia, nada mais são do que reiinvenções de reiinvenções. Ninguém traz nada de novo. Então cara, seja perseverante! As pessoas não tem mais o bom gosto de antes!
Além disso, qual o artista que sobrevive sem um computador? Por isso, admiro muito essa coisa sua do improviso e da originalidade que você tem. Isso nada mais é, do que uma empatia artística que se cria com o público, cujo coração e alma têm impressionante feeling musical. Você mexe com raízes musicais, comportamentos ancestrais das pessoas, que nem elas sabem que têm, em seu DNA. Tudo em você soa verdadeiro.
Portanto, te agradeço por não subestimar meus ouvintes cinquentões, meus amados fãs, que estão aos poucos, se tornando “queenberts”! Muitos deles se sentiram com 20 anos de novo.
Me diga algo que possa fazer isso com alguém, a não ser o amor… e a música?
Então, cara, quem poderia trazer essas melodias e letras com a mesma inspiração com que foram criadas? Ou melhor, dar uma roupagem nova às mesmas músicas, sem que elas perdessem sua magia e carisma? Esse é o sonho de todo amante de música e compositor. Que essas músicas nunca morram, mas sobretudo, encontrem um intérprete à sua altura! Alguém com alma Glam! ousada, talentosa, chamativa, exagerada, carismática: você.
Há um universo mágico de fruição quando isso acontece. It’s a kind of magic!
E essa veia lírica que você tem… já parou para olhar os olhos da plateia quando você canta “Who Wants To Live Forever”? As pessoas ficam com vontade de chorar. Chegam a questionar a imortalidade, como o herói de Highlander.
Olha, e também tem esse assunto de shows de tributos, que eu queria que você soubesse. Sabe, esse tipo de show, onde se juntam vários artistas cantando minhas músicas, e cuja finalidade, todo mundo sabe, é ganhar dinheiro com entradas, CDs e DVDs… Eu fiquei lisonjeado com os vários que fizeram para mim… muito bacana. Mas eu clamei por uma continuação da banda, por novos gritos nas cordas da guitarra do Bri e nas baquetas do Roger… e principalmente por alguém que se preocupasse realmente com a minha música. Com esse legado.
Sabe, eu queria que entendessem que tributos a artistas são muito bonitos e inspiradores, e bandas cover podem ser interessantíssimas, muitas pessoas têm talento para cantar minhas músicas, mas cara, nesse caso, não basta apenas talento. Tem que ter alma “Queen”. Tem que interpretar. E nesse caso, eu nunca quis um substituto. Nunca quis só uma homenagem ou um intérprete medíocre. Queria alguém que continuasse minha obra, ao meu jeito, como se fosse eu, e no entanto, sem perder a própria originalidade. Porque isso é ser realmente um artista.
Quando você realmente ama algo, você quer que aquilo tenha vida própria e continue. Você não é egoísta. Você não quer que a banda e as músicas, morram com você. O artista que deseja isso, não ama o que faz. É como quando você ama alguém, você quer que a pessoa cresça!
Adam, não ligue para esses caras que vivem falando que você não presta pra isso. Quanto maior for um artista, mais sentimentos contraditórios ele aflora nas pessoas. Você sabe, amor e ódio estão separados por uma linha muito fina.
Não ligue, porque essas são pessoas presas ao passado! São bitoladas. Lá no fundo, todos estão estupefatos com você e muitos não admitem. Só porque você veio de um show de talentos. Isso é puro preconceito. Deixe eles pra lá. Quem vai deixar de aproveitar, são eles.
Eu e meus colegas de faculdade, quando estouramos com a banda, não éramos levados a sério pela crítica. Não nos tratavam com a mesma deferência com que tratavam outros artistas contemporâneos, como Led Zeppelin, David Bowie e Alice Cooper. E todos eles – digo – todos eles, gostavam da gente!
Por isso, não ligue pra críticas.
Tanta gente fala tanta besteira, baboseira sobre você não ter competência e olha, eu não sou nenhum Deus! A idolatria impede alguns dos meus fãs de enxergar o que eu Freddie, preferiria! Graças a Deus, tem o Bri e o Roger, que me conhecem tanto, e que te adoram! Aqueles caras conhecem meu gosto.
E dá pra ver o brilho nos olhos deles quando tocam com você no palco. Quando vejo vocês cantando em lugares como o Madison Square Garden, vejo Bri e Roger, com 20 anos de idade.
E no final, é tudo sobre as músicas. Elas são as verdadeiras “highlanders”, elas são as imortais.
Todos nós morremos, mas as músicas, nunca morrem! Elas podem às vezes parecerem livros clássicos velhos e empoeirados, nas prateleiras… que todo mundo gosta, mas que já não ouvem tanto.
Você tirou esses “livros” das prateleiras, trouxe energia, trouxe animação aos meus velhos amigos de palco.
E o fato é que, se querem ouvir Queen e entrar num universo legítimo dessa banda… todos têm que admitir que o show precisa continuar com você.
Por isso digo, como você cantou naquela música também cantada por Rihanna. Eu e o mundo do Glam Rock: “We want you to STAY” [Nós queremos que você FIQUE].
Agora que a turnê está terminando, não deixe que essa energia adquirida nos palcos se esvaia, porque o que verdadeiramente alimenta nossa alma, é esse contato. Quero terminar esta carta com um agradecimento, em vez de ser você a agradecer pela oportunidade que está tendo conosco, quero agradecer a oportunidade que NÓS estamos tendo com você.
Um abraço!
Freddie.
NOTAS:
Alpha Male: é a expressão que foi usada em relação ao Adam várias vezes, inclusive, temos um artigo no site sobre essa expressão.
Highlander: A música “Who Wants To Live Forever” é música tema do filme “Highlander”, interpretada por Christopher Lambert. Assim, em tradução livre, seria, “quem quer viver para sempre?” no sentido de que não seria uma dádiva, quando os protagonistas são guerreiros imortais e acabam vendo todas as pessoas amadas morrerem, enquanto eles permanecem vivos.
Fontes: SOM13, Rolling Stone e UOL
Texto: Mônica Smitte
Criação da Fanart: Alla Kovalkova (@alla_Smit)
Aaaahhhh Monica!!! Tenho que deixar registrado aqui, a E.N.O.R.M.E. admiração que tenho por você… que na verdade, sempre tive!.. A sua eterna capacidade de me fazer chorar com seus ensaios profundamente maravilhosos, carregados de energia e tão reais… ah, Mozinha… muito lindo demais esse ensaio… do fundo da alma, do fundo do seu ser e porque não dizer.. do fundo do “ser” de Freddie Mercury!..e do fundo do ser de cada um de nós que tanto amou e tanto ama esses dois seres tão separados pelas eras, mas tão iguais em sua essência! Adam talvez não veja isso..mas se ver, com certeza poderá até ir às lágrimas, como eu…Freddie, com certeza “viu” e com certeza também ajudou na inspiração para tão lindo, maravilhoso e delicioso texto que você escreveu! Meu coração está transbordando com tudo isso, e muito orgulho por você ter escolhido o site para registrar essas palavras tão maravilhosas do fundo do seu coração…. Bjssss Thanks!! Love!!!
Querida, Gra, esse site foi e ainda é “minha casa” e vcs, amigos para as horas mais difíceis. Horas essas, cuja tristeza não foi tão partilhada em palavras com todos, mas cuja superação dependeu enormemente do reconhecimento de vcs, pelo que eu imaginava e tentava colocar em palavras e fanarts. A música tem uma linguagem tão própria. Tão profundamente tocante. Esses dois intérpretes, na minha vida…o que falar sobre isso? Não há o que falar, só sentir. Obrigada, minha querida. Graça Vilar.
Obrigado Mônica por mais um bonito ENSAIO!
Esta “carta” realmente ficou emocionante… precisamos fazer chegá-la até aos interessados… Brian, Roger… ADAM!
😉
É o que eu realmente vou tentar…e torcer com todo coração…espero que todos os Glamberts brasileiros tb torçam! Obrigada pelo belo veículo que é esse site!
Só li agora e estou sem palavras – eu assisti o show do Queen com o Freddie e tenho certeza que ele diria exatamente isso para o Adam. Será que esse texto chegou até o Brian, Roger e Adam?
Muito obrigada por tanta emoção!!!!!
Espero profundamente que este ensaio tenha chegado até eles. Se não ainda, deveriam continuar tentando. Nunca vi algo tão bem escrito e emocionante. Parabéns! ! Maravilhoso! Vc tem o dom das palavras!
Com os olhos repletos de lágrimas e o coração batendo descompassadamente que quero deixar registrado aqui minha admiração por você Mônica, você foi inspirada nessa carta. Às vezes fica tão difícil encontrar palavras pra expressar nossa admiração e respeito pelo Adam, e você encontrou as exatas. Obrigada. Espero que alguém do Queen possa ler e ter essa mesma emoção que nós.