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28jul2014
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Cape Cod Online: “O Queen ‘Lambert-ado’ mantém Freddie vivo” – (Boston – 22/07)
O Queen “Lambert-ado” mantém Freddie vivo Is this the real life? Or is this just fantasy? [Isto é a vida real? Ou fantasia?]
É assim que “Bohemian Rhapsody” do Queen começa e uma pergunta que devem estar a fazer tendo em conta o Queen do séc. XXI. Um pouco de cada: O Queen está uma vez mais na estrada sem o falecido cantor Freddie Mercury, mas com o substituto que sabe usar a voz, o vencedor [na verdade sabemos que Adam ficou em segundo lugar] do American Idol, Adam Lambert, usando o quase inexistente vestuário brilhante de Mercury. (Não que ele não existisse, para que saibam. Mais sobre o assunto à frente.)
A turnê de 24 datas fez uma parada, na terça-feira à noite, no TD Garden, abrindo com um riff de rock estridente e destacado de “Now I’m Here” e uma grande final, mais de duas horas depois, com o rock clássico, andar pesado e deslizar de “We Will Rock You”/”We Are The Champions”. É apresentado oficialmente como Queen + Adam Lambert, tal como a turnê de 2005-2006 era Queen + Paul Rodgers, com a participação do antigo vocalista da Bad Company/Free. Temos de admirar a veracidade do Queen em publicidade. Eles são o Queen e uma banda de tributo ao Queen num só.
A unidade deste ano contempla, como sempre, os co-fundadores do Queen, o guitarrista/cantor Brian May e o baterista/cantor Roger Taylor, mais os membros da turnê, Rufus Tiger Taylor (filho de Roger) na percussão e na bateria, Neil Fairclough no baixo e Spike Edney no teclado. O baixista co-fundador John Deacon optou, já há muito por sair da banda, tendo tocado pela última vez com a banda em 1997. Mercury – o cantor e compositor exuberante com uma voz de oitava múltipla e o objeto de um, há muito a ser preparado, filme autobiográfico, – morreu em 1991, aos 45 anos, vítima de AIDS.
Lambert, é claro, o jovem elegante que cantava as músicas do Queen quando criança e que agora as canta em arenas de hóquei em frente a milhares de pessoas. (Presume-se que a sua carreira solo esteja em stand-by.) Ele está claramente demonstrando um profundo respeito pela música do Queen e pelos membros da banda, fazendo notar o quão surreal é. Apesar de por vezes o seu som ir longe demais até atordoar, ele esteve quase sempre à altura, tanto como cantor ou como chefe de torcida da banda que ele lidera. Lambert atinges os agudos e os graves. Ele estava tão feliz em calças de couro pretas (no início) como quando estava a usar uma coroa e um terno com padrão de leopardo no fim. A exuberância aparece naturalmente nele, tal como aparecia em Mercury, a grande diferença é que Lambert é gay assumido e Mercury manteve-se no armário, até quase ao seu final amargo. Não era o segredo mais bem guardado do mundo do rock, mas era a escolha de Mercury. Os tempos eram diferentes.
O show de terça-feira lembrou-nos uma vez mais do porquê o Queen se ter saído tão bem, voltando ao LP de estreia, em 1973. Era uma banda com quatro letristas e três cantores fortes (Mercury com May e Taylor) que poderiam ser um tipo de Beatles ao seu alcance. Isto é, eles começaram com uma banda glam/hard-rock num minuto (“Stone Cold Crazy”, “Tie Your Mother Down”) e no outro como uma viagem nostálgica, música britânica numa sala privilegiando o romance (“Love Of My Life”, “’39”, “Somebody To Love”). Todos estes abrilhantaram a terça-feira.
Dos anos mais antigos apareceram o Queen funky com “Another One Bites The Dust” e o estalar de dedos de “Under Pressure”.
Eles foram vaidosos e rebeldes em “I Want It All” – reticentemente auto-engrandecedor como tudo feito pela Iggy Pop — e “We Will Rock You”. Também tem de ser dito que o Queen provou a eles mesmos estarem à frente da curva da música pop de hoje louca por bundas grandes, com “Fat Bottomed Girls”. (Foi uma pena não terem passado o vídeo “chocante” de 1978 de uma dúzia de mulheres nuas andando de bicicleta no grande telão circular atrás de Taylor.) Eles dispuseram os seus golpes de rock progressivo durante “In The Lap Of The Gods” e “Seven Seas Of Rhye” e durante o solo de guitarra de 10 minutos Robert Fripp-encontra-Jerry Garcia-encontra-David Gilmour-encontra-Pete Townshend de May.
Referências engraçadas? Também houve, como referir “Little Queenie” de Chuck Berry no final de “Now I’m Here” — “Go, go, go, little queenie!” [Vai, vai, vai, rainhazinha!], cantou Lambert. Por vezes a esperteza lírica do Queen é passada despercebida no meio do rugido alto, espelhando qualquer snippet da efeminada “Killer Queen”, sobre a femme fatale descrita como “gunpowder gelatin, dynamite with a laser beam” [gelatina de pólvora, dinamite com um feixe de laser]. Tem mais de três minutos de domínio e cumprimentos. Lambert cantou esta música enquanto se espreguiçava num sofá que emergiu no palco circular no fim da passarela. Ele também fingiu sorver o champanhe e depois cuspiu-o bem longe para a multidão, dizendo de forma suave, “Molhei vocês? Gostaram, não foi?”
Havia, naturalmente, muitos lasers, fumaça química, efeitos explosivos de uma arena de rock, incluindo uma plataforma de iluminação tipo disco voador que desceu sobre May e disparou todo os tipos de luzes de lasers em forma de confete durante o seu solo de guitarra. Antes disso, o velho e o novo Taylor tiveram a batalha de bateria mais agradável de se ver.
Onde andava Mercury durante o show? Pairando. Quando May apareceu no palco circular com uma guitarra acústica no início de “Love Of My Life”, falou de como ele “e um jovem chamado Freddie Mercury” cantaram isto em conjunto, só os dois. Ele provocou dizendo que “poderá acontecer alguma magia”, e, com certeza suficiente, no meio da música Mercury fez a sua primeira aparição no grande telão e cantou um dueto com May enquanto que Lambert tinha ficado nas sombras.
Durante a emocionante “Those Are The Days Of Our Lives” Mercury apareceu, também, no vídeo, tal como Deacon e os outros. Imagens dos jovens e do triunfo dos velhos tempos, dos discos de ouro e dos momentos loucos fora do palco.
O fim do set programado acabou sem surpresas, “Bohemian Rhapsody”, a música com várias partes que nos espantou em 1975 e cujo significado se mantém enigmático. É uma música de mudança de personalidade, de raiva e arrependimento, de aceitação e finalidade. Com qual acaba? Talvez todos. Mercury – aparecendo no vídeo, na atuação no Estádio de Wembley nos anos 80 – juntou-se a Lambert para a loucura durante os picos emocionais e as mudanças musicais.
“I don’t want to die, sometimes I wish I’d never been born at all” [Eu não quero morrer, às vezes desejava nunca ter nascido], cantava Mercury tristemente. “So you think you can stone me and spit in my eye?” [Acha que pode me apedrejar e cuspir no meu olho?] rugia Lambert. De forma estonteante, eles trocaram versos no final, abrandando com “Nothing really matters to me” [Nada importa, na verdade, para mim] e Mercury com o último pensamento: “Any way the wind blows” [O vento sopra, de qualquer forma].
xxxO Queen era e continua — como Queen + Adam Lambert — uma trama complexa de perversidade e simpatia, bombástica e delicada, mas sempre charmosa. E sim eles arrasaram conosco.
Fontes: Adam Lambert TV e Cape Cod Online
Tradução: Kady Freilitz
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