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22jul2014
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drinkingcocoa: “Queen + Adam Lambert. Agora sim, um concerto” – (Filadélfia – 16/07)
Queen + Adam Lambert. Agora sim, um concerto. Brian May e Roger Taylor vieram à Filadélfia passar a noite comigo! Foi tão simpático da parte deles. E trouxeram Adam Lambert, Spike “The Duke” Edney, e… uau… o filho do Roger Taylor, Rufus Tiger. Que surpresa! Ele era o baterista de acompanhamento. Ele é exatamente o que se esperava de uma junção feita por computador de Roger Taylor com a sua linda ex-mulher modelo.
Foi. Fantástico.
Nós nos sentamos ao pé de uns fãs de Adam Lambert, que faziam parte de um grupo que viajava até alguns pontos desta turnê. A mulher ao meu lado parecia tão querida, ela esperava de verdade e nervosamente que um fã do Queen, como eu, achasse que Adam estava a fazer um bom trabalho neste concerto. Ela não precisava de se preocupar, era impossível ficar desapontada, visto que sentia a vibe distinta, de que ele se sentia honrado por fazer parte deste legado musical e entendia o dom que ele estava a dar ao Queen ao dar vida à música deles outra vez, especialmente com aquela atitude característica de exibicionismo feminino, que Freddie levou à banda.
Freddie esteve por todo o lado durante o concerto, adorado homem. Era natural estarmos atentos para fazer comparações entre a cantoria de Lambert e de Freddie. Como uma pessoa que ouviu todos os álbuns do Queen uma e outra vez, – exceto “Hot Space”, onde se encontram algumas músicas que ainda espero nunca ouvir, – oracne e eu podemos fazer uma lista de todas as falhas musicais de Freddie. Como ela disse, ele era um barítono a tentar ser um tenor. Por vezes, a sua força para atingir as notas altas faziam-no soar bombasticamente. Eu sempre ri venerando-o ao seu tocar de piano (como em “Bohemian Rhapsody”) e de guitarra rítmica em “Crazy Little Thing Called Love”. Poderia Adam Lambert superá-lo? Descobri que não, ele não o fez; adorei a sua forma de cantar e as músicas ficaram bem da forma que ele pegou nelas. Não foi como George Michael, que cantou “Somebody To Love” com o Queen e subiu sem esforço em todas as partes que costumavam causar problemas ao Freddie, o que me fez admitir contrariada, que ele era de uma classe de cantores melhores e diferentes. A voz de Adam Lambert foi controlada um pouco, não demasiado, mas o suficiente para o instrumental igualar a voz e não ficar como pano de fundo. Considerando a natureza da colaboração, a lendária banda que enche arenas e o jovem vocalista, esta teve uma dinâmica lindamente balançada.
Na verdade, tudo o que teve a ver com balanço neste show foi superlativo. Teve um ritmo de verdadeiro especialista, passando de uma muda de roupa a solos instrumentais e duetos. Sabia que Brian iria cantar algumas músicas, como “Love Of My Life”. Após a morte de Freddie, não fazia a mínima ideia do que é que eles iriam fazer com essa música, que tinha a assinatura de Freddie. Lembro-me de ter ficado chocada no início dos anos 90, quando soube pela primeira vez que Brian ia assumir a liderança e cantar a música em acústico, sem mais ninguém. Houve sempre uma pequenina tendência subjacente de quase corte entre Freddie e o sem esperança hétero, nada feminino Brian, o que se deveu ao amor verdadeiro que existia, claramente, entre os dois. Ver Brian a cantar sozinho sobre Freddie ser um dos amores da sua vida ainda dói. O telão mostrou vídeos antigos de Freddie e uma mulher na fila atrás de mim começou a soluçar avidamente.
Fiquei surpreendida e tão feliz por Roger ter dado um passo à frente e cantado um solo. Oh! Sempre adorei a sua voz rouca, mas ele nunca cantou muito como voz principal no Queen – acho que não foi voz principal em nenhum dos sucessos, apesar disso fez uma fortuna com “I’m In Love With My Car” (o B-side de “Bohemian Rhapsody”, voltando à altura em que os membros do Queen dividiam o dinheiro com base naquele que escrevia a música). Há algo na sua natureza que é essencialmente preguiçosa (“indolente”, oracne corrigiu-me) e não ficaria surpresa se ele deixasse passar na maior e recusasse um solo. Por isso fiquei comovida quando se chegou à frente, parecendo alguém completamente diferente, para cantar a adorável e melancólica “These Are The Days Of Our Lives”. Acho que esse deve ter sido o último vídeo que Freddie gravou e ele já estava doente nessa altura, visivelmente magro. Lembro-me de ler que as suas partes na gravação tinham de ser gravadas rapidamente, para que pudesse descansar. O telão mostrava imagens dos jovens Queen, como imagens da primeira visita ao Japão com os cabelos compridos. A câmera demorou-se em John Deacon, que não toca com a banda há já muito tempo, e o público aplaudiu. As imagens do jovem Roger, recordaram o quão bonito era, irreal. Eu pensava que ele ia envelhecer pobremente, inchado. Contudo, tem uma barba gloriosa e as rugas à volta dos olhos são agradáveis e, há também, uma frescura e descontração nele que não vejo nas atuações de quando era mais novo – como alguém que deixou de fumar e está a cuidar muito bem de si mesmo. Agora de cabelos brancos – é a primeira vez que a sua persona chega até mim. Estava tão relaxado. Ele continuava a por de lado tributos e aplausos, e gesticulando para o público que em vez disso, devia estar a prestar atenção à magnificência de Adam Lambert. A fã de Lambert ao meu lado disse que Roger disse que Lambert os mantinha jovens, “Bebemos do sangue dele todas as noites.”
XXHouve, no entanto, um momento em que Roger não estava relaxado. Deram a Rufus Tiger, a posição principal na bateria; ele e o seu pai mudaram de lugar, e Roger só tocava pandeiro, enquanto Rufus pôs mãos à obra em “Tie Your Mother Down”. Achei uma escolha brilhante. É uma música de Brian, escrita quando era mais novo. Após a morte de Freddie, Brian começou a cantá-la, mas era erradamente horrível ouvir este tipo que parece um avô-professor jubilado a cantar sobre “my little schoolgirl (minha pequena aluna).” Ter Adam Lambert a cantar isto com Rufus a tocar bateria pareceu muito mais apropriado. Contudo, Rufus não estava no seu melhor. Ele estava a tocar muito acelerado, à frente dos restantes membros e as imagens da cara de Roger tornavam-me tensa só de ver. Parecia estar em agonia. Não é tão fácil assim fazer sinal a um baterista no meio da música. Parecia que o garoto estava a acelerar de nervos. Brian também parecia tenso e carrancudo. Ele aumentou o ritmo da guitarra para acompanhar a bateria e Adam cantou mais rápido. Não foi uma grande mudança de ritmo, mas serviu para lembrar que Roger Taylor é muito dotado naquilo que faz. E o garoto estava no set de bateria do seu pai. Ihhh. Quando a música terminou e o holofote só cobriu Adam Lambert, vi o Rufus a passar a bateria para o pai e Roger a por o braço à volta do filho e a dar-lhe palmadinhas. Ufa.
Os solos de Brian fizeram-me rir. Ele é um homem velho, rico, tem um doutorado, John Deacon não está por perto para ele o aborrecer – pode fazer o que quiser! E fez, e eu ri. Na introdução a “’39”, uma música de ficção científica sobre a viagem no tempo que ele escreveu, começou, intencionalmente, a falar sobre paradoxos do tempo, Einstein e todo o tipo de coisas. Depois, quando se lançou para a música (magnífica), o telão mostrou as imagens de missões no espaço mais nerd. Olá, este é o Brian May e tem sete anos. Continuei a rir. E disse à oracne que em algum lugar no mundo, John Deacon estava a vomitar. Noutra música sua, o telão mostrava estrelas a moverem-se rapidamente, como se fosse um projeto do 4º ano. Isto foi durante o seu solo instrumental de 15 minutos, durante o qual fez uma grande chinfrineira horrível, baixa e desintegrada com a sua guitarra. Tocou com todos os gizmos (aparelho de efeitos para guitarra elétrica). Foi uma indulgência total. Eu sorri e voltei a sorrir.
Lembro-me de ler que John Deacon ainda fala com Roger – como baixista e baterista, tinham, o que foi uma vez descrito como as seções rítmicas mais próximas no negócio – mas ele não fala com Brian, definitivamente. Acho que mesmo voltando aos anos 70, o Brian esgotou a paciência de John. Aposto que Brian era um colega de turnê exageradamente chorão e queixoso. Ah, mesmo o meu tipo. <-- não estou a gozar. E falando no meu tipo, há três homens que estou certa têm as mesmas mãos: Benedict Cumberbatch, Severus Snape e Brian May. Compridas, esguias, mágicas, hábeis. Os closeups dos dedos de Brian nas cordas da guitarra eram tão belos como dantes. Há algo sobre a precisão com que ele toca, que sempre pareceu clitoriano, como um homem que sabe exatamente onde encontrar o ponto. Mas... hmm-hmm. *limpa a garganta* A longa relação entre Brian e Roger mostrou-se tão forte como sempre. Pensem só em todas as músicas que eles já tocaram juntos, cada correspondência entre a nota da guitarra e o rufar da bateria, criando cada vez mais fibras para ligar os dois. Uma vez vi uma equipe de patinação no gelo olímpica, Lobacheva e Averbukh, a deixar o hotel. Enquanto esperavam ao balcão à espera da conta, sem consciência disso, eles adotaram as mesmas poses - cada um tinha um joelho dobrado e um pé apoiado no outro com o mesmo ângulo. Exato. É provável que o façam a dormir. Aí lembrei-me que enquanto via Roger e Brian a trabalharem juntos para criar todo aquele som, só houve poucas vezes que Adam Lambert ou outro músico meteram a pata na poça e os outros dois resolveram o problema, repetindo outro compasso ou acabando logo, sem sequer olharem um para o outro. Alguns dos meus momentos preferidos. Roger disse olá ao público e murmurou: “Filadélfia. Temos tantas memórias boas aqui.” Penso que se referia ao Live Aid, em 1986, onde o Queen arrasou. Depois riu e disse suavemente: “Nunca pensei que fossemos voltar aqui. Estão tão velho.” Também ri, encantada. Adoro este Roger Taylor velho e com os pés na terra. Brian também teve um momento, quando ele se enganou numa introdução e balbuciou: “Merda. Não se pode fazer tudo bem.” Ele parecia desgostoso e pediu desculpas. Alguma coisa o fez dizer que na noite passada tinham assistido a um concerto da Katy Perry, e fez questão de dizer que esta banda, Queen + Adam Lambert, não tinha nada daquilo. Nada de faixas pré-gravadas. Nada de dançarinos. “Só nós. Os pobres velhos chatos.” Olhei para o guitarrista principal, para o baixista, para os dois bateristas, para o que estava no teclado e para o cantor. Apenas eles. Nada para além da música. E maravilharam com o som que eles conseguem fazer, ao vivo.
Adorei algum do material mais obscuro que eles tocaram do catálogo do Queen. Oracne chamou-nos o tipo de fãs que sabe a letra toda de “Seven Seas Of Rhye” e “Stone Cold Crazy” – músicas que não esperávamos ouvir ao vivo. Eles fizeram um cover de “Love Kills”, o primeiro single solo de Freddie. A minha favorita deve ter sido “Killer Queen”. MINHA nossa. Foi aqui que Adam Lambert brilhou genuinamente. O cenário trouxe a espreguiçadeira barroca forrada com veludo mais decadente. Ele estendeu-se sobre ela de uma maneira debochada e desempenhou uma atuação amaneirada afinada, que até Freddie teria gostado. Pode-se imaginar o jovem Adam Lambert a cantar isto no seu quarto com uma escova a fazer de microfone. Ele fez uma pausa marota sugestiva no verso “Guaranteed to blow your mind (Vou surpreender-te garantidamente)”, que Freddie nunca fez. Há épocas em que me espanta que Freddie Mercury se tenha assumido com este material subversivo em 1974.
Fazendo beicinho, Adam Lambert pavoneou-se pelo palco, girando obscenamente e chamando “all you fat-bottomed bitches (todas as mulheres de bunda grande”), (surpreendentemente acho que foi Brian May e não Freddie Mercury a escrever a festiva “Fat Bottomed Girls”), agitando uma garrafa de Moet et Chandon e cuspindo-a para um público (muito) excitado e a perguntar atrevidamente: “Estão molhados?”. Olhou mal intencionadamente para o dedilhar virtuoso de Brian May, aproximou-se em direção ao meio das pernas, e Brian ignorou-o aplicadamente e continuou a precisão ao tocar, tal como fazia com Freddie há algumas décadas. A roupa de Lambert estava brilhantemente feita para que se referi-se subtilmente à de Freddie, enquanto continuava completamente apropriada para Lambert. (Ah, também adorei o segundo figurino de Brian, simples com uma camisa de abotoar e mangas arregaçadas – feitas assim, presumo, – de modo a revelar uma dobra bordada à volta dos bíceps. É tão fácil vestir-se bem, nas alturas em que o seu gosto atinge o limite. Ele é uma grande referência antiga.)
Não via esta dinâmica tão claramente nas atuações com Freddie na banda, talvez por terem todos a mesma idade, por isso hoje chocou-me: como é possível esta banda formada com três homens heterossexuais convencionais proporcionarem o pano de fundo para um bissexual em chamas como Freddie? Não se sentiam desconfortáveis nos anos 70? Aqui estão eles outra vez com as suas músicas e o resto da banda a não parecer tão estranhos, e ainda este lindo rapaz escandaloso em calças apertadas. Uma forma ímpar para o tipo de sucesso que eles têm tido.
Adoro o fato de Brian May ser tão incrivelmente estranho, que nunca se tenha dado ao trabalho de tentar parecer sexy enquanto toca guitarra. Adoro. Ele é um totó. O que é que ele tem feito a ser um deus da guitarra do rock clássico de todos os tempos? Ele é um verdadeiro professor na sua área de estudo!
“Another One Bites The Dust” continua a soar como nova. Percebi que esta música tem 34 anos. Lembro-me de estar no ônibus escolar e ouvir a música pela primeira vez e ficar impressionada com a sua intensidade. As rugas à volta dos olhos de Brian e Roger, bem visíveis no grande telão, parecia tão bonitas e acolhedoras. Foi muita música para duas horas. Impressionou-me, como nunca tinha impressionado em concerto algum a que tivesse ido, que os músicos estavam a fazer música com os seus instrumentos para mim, desse modo o som podia viajar fisicamente para o meu corpo e ecoar na cavidade do meu peito, com os exatos padrões e sensações que eles queriam. Mexeram as mãos e os corpos; recebi e senti-os. É este o objetivo de um concerto numa grande arena. Nunca tinha entendido isso antes.
Fontes: Talented Artists of the Glamily (T.A.O.G) e drinkingcocoa
Tradução: Kady Freilitz
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