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17jul2014
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LP ON 45: “Um desafio à toda raça humana: Queen + Adam Lambert no The Palace of Auburn Hills” – (Detroit – 12/07)
Um desafio à toda raça humana: Queen + Adam Lambert no The Palace of Auburn Hills Sem nenhuma prova científica para me apoiar, eu afirmarei que a música do Queen é a mais famosa do mundo. Você pode ir à qualquer pessoa em qualquer país, bater seus pés duas vezes e bater as mãos, fazer isso de novo, e eles responderão em um inglês perfeito “We will, we will ROCK YOU!”
Não é nenhuma surpresa, então, que o The Palace estava lotado dia 12 de Julho. Não houve nenhuma turnê do Queen desse tamanho há anos, e a escolhe de por Adam Lambert como vocalista – que fez a audição para o American Idol com “Bohemiam Rhapsody” – foi inspiradora e inevitável: quem mais nesse mundo tem o talento e é destemido o suficiente para ser tão escandaloso quanto o catálogo requer? (Eu ainda não entendo como o vocalista d Bad Company, Paul Rodgers cantou com eles no passado; nada dele diz “Queen”.)
Eu fiquei entusiasmada com a chance de ouvir Brian May. Ouvindo News Of The World várias vezes em minha viagem de ônibus pelo país aos doze anos, May virou meu primeiro herói da guitarra. Esse álbum me ensinou que cada guitarrista tem sua assinatura musical. Ninguém toca como ele; para May, a ausência de imitação é a forma mais sincera para lisonjear alguém, porque ninguém consegue ser igual a ele.
Essa foi a primeira vez que eu e meu filho fomos à um show juntos em mais de dez anos. Demorou todo esse tempo para que achássemos um show que agradasse à nós dois. Ele gosta de pop metal; eu gosto de músicas da minha juventude; ambos gostamos de um grande espetáculo bem feito. E nós não nos decepcionamos, com os lasers, máquinas de fumaça, figurinos extravagantes, uma “câmera” de guitarra, um globo espelhado e mais – todos emoldurados por um Q gigante que saía do palco e ia em direção a plateia.
Lambert é um vocalista pop treinado que não tem o rugido e garra de um roqueiro, mas ele sabe cantar – mesmo quando deitado em um sofá.
Ainda assim, o espectro de Freddie Mercury estava em todo lugar. May cantou um dueto com vídeos de Mercury, e o baterista Roger Taylor cantou “These Are The Days Of Our Lives” com vídeos da banda há 30 ou mais anos atrás. Lambert deu espaço à Mercury alternando versos com ele em “Bohemian Rhapsody”. Foi como se todos tivessem que pedir permissão para o fantasma de Mercury se apresentar. Alguns críticos disseram que isso mostra que os melhores e mais inovadores dias da banda ficaram para trás. Talvez isso seja verdade.
Mas encaremos isso: você não consegue ouvir uma música do Queen sem pensar em Freddie Mercury: quem ele foi e porque morreu.
Há um artigo na Rolling Stone chamado “Queen’s Tragic Rhapsody”, por Mikal Gilmore, que diz que a “homossexualidade percebida” de Mercury foi a razão para o sucesso do grupo – e o quase final. Nessa idade de famílias modernas e pessoas assumidas e ativistas (como Adam Lambert), esse artigo é uma leitura obrigatória. Nós não podemos nos esquecer o quão marcante uma banda com um vocalista/compositor bissexual virou parte do DNA musical de quase todo mundo… e como a morte de Mercury pela AIDS foi um momento divisor de águas no rock em relação à doença e à homofobia.
Mercury não sabia que seria diagnosticado com HIV pouco após apresentar essa versão de Who Wants To Live Forever em 1986, por isso a música é assustadora.
Não é nenhuma surpresa de que quando eles fecharam o show com “We Are The Champions”, eu estava chorando. Essa música, que foi usada em todos os comerciais possíveis, representa algo muito específico para mim sobre orgulho gay na cara da ignorância, preconceito e morte. Gilmore reconhece isso dizendo “Alguns ouviram ‘Champions’ como uma confissão subversiva de Mercury”, apesar de que ele acha que isso não é mais verdade pois se tornou “o hino universal dos vitoriosos em eventos esportivos.”
Mas aí está a vitória de Freddie Mercury. Ele provou que “um velho Queen” pode ser o maior durão no mundo masculino de rock and roll. O cantor abertamente gay que canta suas músicas mais de 20 anos após sua morte sabe que ele tem uma grande dívida.
E todos nós temos.
Tradução: Carolina Martins C.
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