Same Same Entrevista Adam Lambert (Austrália)

Enquanto estava na Austrália Adam Lambert também foi entrevistado pelo site Same Same. Confira a entrevista:

Adam Lambert: Fama, medos e fãs expressivos

O cantor e compositor americano “glam-rocking” Adam Lambert admite, com um riso de autocensura, durante nossa conversa, que “às vezes o sucesso e a fama podem se tornar um pouco como uma faca de dois gumes, que traz coisas grandes, mas também coisas inesperadas, como ser mal interpretado ou subestimado, e pode ser bem difícil.”

Com sua voz singular e visão musical, Lambert encontrou enorme sucesso nos EUA como o vice-campeão na temporada de 2009 do “American Idol”. Embora ele tenha verdadeiramente dominado o palco a cada semana, ele era mais conhecido por duas intensas, mas diferentes performances durante sua permanência no “Idol”, cada uma das quais mostrou sua enorme versatilidade e seu talento vocal.

Uma delas foi uma alucinante e arrepiante interpretação do rock psicodélico de Johnny Cash, “Ring Of Fire” e a outra, de cortar o coração, o cover da canção do Tears For Fears, “Mad World”.

Ele também conseguiu fazer o que apenas dois outros finalistas (e eventuais vencedores) do “Idol”, Kelly Clarkson e Carrie Underwood, fizeram pós-Idol: ele aproveitou seu sucesso em uma carreira internacional com o lançamento de um álbum de estreia verdadeiramente grande e digno de seu considerável talento.

“For Your Entertainment” foi um álbum amplamente corajoso, em que Lambert entregou suas tendências musicais, tentando vários gêneros e tendo sucesso em fazê-lo enquanto cantava de tudo, desde o glam rock a baladas deslumbrantes, até canções extraordinariamente emotivas, recheadas de tudo, desde dicas de exotismo oriental até a nostalgia de expressivos sintetizadores carregados da música pop e eletrônica dos anos 80.

Isso mostra a enormidade da humildade de Lambert, equilíbrio e promessa como um cantor que a banda britânica Muse e as cantoras americanas Pink e Lady Gaga, todos deram a ele canções para o álbum, com esta última declarando-se ser “a irmã da alma musical” de Lambert.

“Pelo que eu apreendi, a Austrália realmente entende o valor da alegria e da paz, e de ser capaz de viver uma vida gratificante.”

Muito, também, provém da sexualidade de Lambert. Durante seu tempo no “Idol”, ele se recusou a enfrentar a especulação de que ele era gay. Muitos argumentaram que a especulação lhe custou, injustamente a coroa de vencedor, coisa que Lambert disse à revista Rolling Stone, dos EUA, ter “provavelmente” sido verdadeira, quando foi entrevistado mais tarde para uma reportagem de capa.

Ainda assim, como ele mesmo diz, “Eu não acho que estava escondendo alguma coisa. Eu penso mais ou menos que ‘o que você vê é o que você pensa’. Quer dizer, eu era um cara de 27 anos, da classe média branca, usando maquiagem e saltos, então o que as pessoas pensavam que estava sendo passado ali, sabe?”.

Lambert ri e faz uma pausa antes de continuar: “Quando eu revelei, eu acho que foi, tipo, com uma certo cansaço e hesitação. Eu vivi toda a minha vida abertamente assim, nunca estive de nenhuma maneira envergonhado sobre quem ou o que eu sou, mas eu estava consciente de que, admitindo publicamente, assim como foi, isso iria possivelmente, alterar a forma como as pessoas me olhavam e me percebiam. Mas, isso dito, eu sou realmente um livro aberto. Eu penso que sempre soube que quem tivesse algum problema com a minha orientação, provavelmente, não seria alguém com quem que eu quisesse me conectar de alguma maneira.”

Em maio, Lambert lançou seu segundo e muito aguardado álbum, “Trespassing”. Considerando que “For Your Entertainment” tinha atingido o 3º lugar nas paradas da Billboard nos EUA, seu segundo trabalho melhorou essa conquista considerável, estreando em 1º lugar.

Não surpreendentemente, os meios de comunicação ficaram cheios de manchetes sobre Lambert ser o primeiro artista abertamente gay a estrear nas paradas da Billboard em 1º lugar. Novamente, parecia que sua sexualidade era sinônimo de sua música, irremediavelmente confundidos e inseparáveis, algo que Lambert admite ser cansativo às vezes.

“Sempre parece um pouco diferente quando eu estou falando sobre estas questões para uma publicação LGBT, como a sua, porque eu sinto que o público que irá ler pode entender muito mais essas lutas. Quando é para uma publicação para o público em geral, aí sim, ela tende a ser muito mais sensacionalista e eu achar isso frustrante e problemático, em se tratando da minha sexualidade e não tanto sobre a minha música. Eu acho que o objetivo é tentar encontrar um equilíbrio, o que pode ser complicado, porque muitas vezes eu não tenho controle sobre isso”, diz ele.

“Ser gay é definitivamente parte da minha identidade e quem eu sou, e é algo com o que eu estou completamente, 100% confortável. Eu não escondo quem eu sou quando escrevo as letras. Refiro-me a minha própria vida, minhas próprias lutas, a minha alegria, meu amor próprio, o que seja.”

“Por um lado, eu vejo isso como muito importante, ser sincero e ser visível assim, especialmente para os jovens e para a próxima geração que está chegando, que está à procura de exemplos de pessoas que não estão deixando a sua sexualidade mantê-los afastados do que diabos eles queiram, basicamente.”

Escrito e gravado em Los Angeles, Nova York e Londres, “Trespassing” é inegavelmente um álbum “Adam Lambert”. Ele equilibra números up-tempo [ver nota] e dançantes com um punhado de faixas mais gritantes, em uma discreta produção com seus majestosos e inesquecíveis vocais.

Como seu antecessor, é um álbum que mostra claramente a versatilidade de Lambert, tanto como cantor como compositor. Suas 12 faixas mostram a gama de músicas que apresentam uma característica completa do rock com lamentos e falsetes estridentes para aqueles que se concentram mais em capturar momentos completamente mais silenciosos, mais discretos. É um equilíbrio confiante entre os dois, algo que Lambert conta a mim que ele está “feliz por ouvir”.

“Eu gastei mais de um ano e meio trabalhando em todas essas músicas”, diz ele. “A grande diferença entre este álbum e o último foi o elemento tempo. Não houve tanta correria ou tanta pressão, com relação ao tempo. Foi permitido desenvolver tudo um pouco mais naturalmente, o que eu realmente gostei. Eu me sinto com sorte em ter várias músicas que são muito divertidas, tipo funky, músicas dançantes e algumas que são um pouco mais sobre o lado escuro e, de alguma forma, elas se encaixam para tornar tudo coeso. É bom ouvir isso de outras pessoas, também. Faz tudo parecer um pouco mais real.”

“Foi um trabalho de amor. Eu comecei a trabalhar com algumas pessoas incríveis, como Pharrell Williams e Bruno Mars e Sam Sparro. Eu gosto e me sinto como fazendo o meu melhor quando estou trabalhando com pessoas com colaboração total. Às vezes eu venho com uma frase ou um conceito, um par de linhas, e levo essas ideias para uma sala com um produtor, ou talvez um outro compositor, e trocamos experiências criativas. Isso é geralmente o que funciona para mim, e eu descobri, ao longo do tempo, que esse é o melhor método.”

Perguntado se ele prefere tocar ao vivo com uma banda completa ou acusticamente, em um ambiente mais despojado, Lambert confessa amar igualmente ambas as abordagens, embora por razões radicalmente diferentes.

“Eu acho que um dos benefícios que você consegue, quando tem uma banda completa, especialmente com muitas músicas mais otimistas, é que você tem todos os ritmos que são destinados para a gravação. Os vocais são meu principal trabalho, para comunicar a história e dar-lhe ritmo dessa forma, se você quiser, mas especialmente com algumas das canções mais dançantes, você consegue muito mais com a guitarra, o baixo, os teclados e os tambores, que é o que faz você querer dançar, isso é o que traz a energia coletiva, se tem uma banda completa no palco”, ele brinca.

“Mas, você sabe, eu amo também muito a forma despojada, como você disse. Fazer as coisas mais desconectadas é mesmo bonito, também, porque torna tudo um pouco mais pessoal, um pouco mais intimista. Você pode ouvir a voz talvez um pouco mais claramente ou um pouco mais limpa e é apenas uma vibração diferente. Uma das coisas que eu amo tanto sobre este álbum, é que eu sinto que em sua maior parte, todas as músicas podem ser realizadas de diferentes maneiras. Você pode fazê-las conectadas, com um monte de instrumentos, ou apenas uma guitarra e minha voz, e elas continuam a funcionar. Isso é muito emocionante.”

Da mesma forma emocionante – e também “muito maciçamente estressante e ridiculamente assustador, às vezes” – foi a recente série de espetáculos europeus de Lambert como o vocalista do grupo legendário Queen.

Inicialmente Lambert cruzou com os membros da banda, Brian May e Roger Taylor, quando eles apresentaram juntos “We Are The Champions”, durante o episódio final do “American Idol”.

Visto que ele fez a audição para o programa com “Bohemian Rhapsody”, houve uma certa e fortuita sincronia, não apenas na sua apresentação em conjunto no “American Idol”, mas também, vários anos depois, quando Lambert foi abordado para ocupar o lugar de Freddie Mercury.

“Houve definitivamente mais do que um pouco de receio quando me pediram, mas é claro que nunca houve qualquer outra opção do que dizer sim! Quero dizer, que honra absoluta. Até o primeiro show, eu definitivamente estava apreensivo porque não sabia exatamente como o público receberia minha apresentação e eu me sentia totalmente apto, mas o ensaio foi útil e tanto Brian e Roger são incríveis – são pé no chão e têm uma energia imensa. Eles fizeram isso claramente, partindo do princípio que era sobre música e trazer isso de volta à vida.”

“Quando eu me conectei com eles, essa era a única motivação. Quanto à expectativa e a crítica, eu estava ciente disso, mas eu meio que me desliguei. Isso é mais ou menos o que tem sido a minha vida, desligando-me das coisas negativas, estranhas, e me focando na tarefa que tenho em mãos. É o que o ‘American Idol’ representou, em muitos aspectos, e, veja bem, eu não sou sempre perfeito para isso! A chave é trabalhar deixando de fora todos os disparates extras e utilizando apenas o que você precisa para o desempenho, mas é claro que machuca quando alguém é negativo. Eu sou humano. Dói.”

Outra coisa pela qual Lambert é conhecido, é por sua um pouco mais dedicada, alguns podem dizer, obsessiva, base de fãs, muitos dos quais se referem a si mesmos como Glamberts. Ele próprio, no entanto, não se apressa em julgar onde seus seguidores estão preocupados.

“A maneira como eu vejo isso, é uma coisa tipo, caso a caso”, ele brinca. “Fico online e me deparo com algumas coisas que me assustam? Certamente. Acontece o mesmo com algumas pessoas depois dos shows, mas acho que todos os fãs são diferentes. Eu conheci fãs que foram realmente incríveis e que, sabe, eu definitivamente me sentei e tomei uma bebida com eles, porque eles foram realistas e legais. E então, sabe, eu também encontrei fãs que me deixaram um pouco desconfortável. Mas, realmente, eu acho que a questão principal é que, apesar do desconforto, eu sei que é tudo feito com amor.”

“Eu acho que uma das coisas que as pessoas não entendem é que se é o receptor final desse tipo de energia. Nem sempre sabemos como recebê-la. Eu aprecio que esteja sendo comemorado por que estou contribuindo e que as pessoas gostem do que eu faço. Antes eu tinha uma carreira, tinha um perfil público, eu obviamente não tinha experiência de ser tratado dessa forma e, assim, sendo realmente honesto, tudo ainda me parece um pouco estranho. Às vezes, eu sinto como se eu não merecesse isso. Às vezes eu sinto como, ‘Oh, eu realmente não estou lá ainda, então que tal você guardar isso para quando eu realmente atingir meu máximo?'”

Quando Lambert fez sua turnê pela Austrália, em 2010, seus shows em Sydney, Melbourne e Brisbane receberam elogios.

“Eu amo a Austrália. Eu acho que sua energia é muito grande. Eu amo o estilo de vida, amo a cultura que eu experimentei e que senti muito liberal, muito aberta, todos muito receptivos e tolerantes. Para alguém como eu, isso é incrível. Pelo que eu apreendi, a Austrália é uma cultura que realmente entende o valor da alegria e da paz e de se ser capaz de viver uma vida que é gratificante”, diz Lambert.

“Eu odeio fazer essa generalização, mas as pessoas só parecem um pouco mais felizes! Talvez eu esteja errado, mas parece que vocês todos têm um pouco mais de satisfação pessoal, e isso é uma coisa boa. Nós definitivamente voltaremos para fazer alguns shows. Eu prometo que estarei de volta para nos conectarmos!”

NOTA: Uptempo é um estilo de música com um ritmo acelerado, ou seja, à mais de 120bmp. É um andamento acima pelo metrônomo. (Wikipédia)

Fontes: Adam Lambert TV e Same Same

Tradução: Graça Vilar

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