Entrevista ao Jornal Britânico “The Guardian”

Confira a seguir a entrevista concedida ao jornal britânico The Guardian, que de acordo com seu editor, “sua versão online é o segundo jornal de língua inglesa mais lido do mundo, perdendo apenas para o New York Times”.

Eu não estava sendo controlado

É este homem o novo Freddie Mercury? Michael Hann conversa com Adam Lambert – a intransigente estrela do American Idol que está pegando a estrada com o Queen.

É possível que Adam Lambert veja seu último triunfo como uma faca de dois gumes. No mês passado, seu segundo álbum,”Trespassing”, entrou nas paradas americanas da Billboard como nº 1. O “Hollywood Reporter” fez uma observação notável a esse respeito: tomando o lugar de Carrie Underwood, Lambert assegura que os participantes do American Idol possam dividir o 1º. lugar entre si.

Isso não era o que todo mundo estava falando, apesar de tudo. Em outros lugares, as manchetes eram sobre Lambert ser o primeiro artista assumidamente gay a ir direto para o topo das paradas da Billboard. Apesar da cobertura sugerir isso, essa foi uma conquista em pé de igualdade com a descoberta da penicilina, havia uma sensação inconfundível de que o nome de Lambert deveria vir sempre com um adjetivo de definição da sexualidade. É algo sobre o qual ele está ficando cansado.

“A sexualidade é um tema quente”, diz ele ao telefone diretamente dos EUA, “por isso há um interesse natural. Mas o interesse vem predominantemente da mídia. Eu fiz muitas entrevistas e muitas vezes isto é o pináculo do artigo, ou título, ou o ângulo principal.”

Na verdade, a sexualidade de Lambert está longe de ser a coisa mais interessante sobre ele. Apesar de sua oportunidade ter vindo via programa Simon Cowell Fuller ele está muito distante do modelo de linha de produção de TV. Sua música é muito mais próxima de Girls Aloud, um espectro de realidade do que One True Voice, e sua voz é genuinamente poderosa. Há alguns fatos deliciosos sobre ele, também: em seus dias de pré-fama,interpretou Joshua no musical The Ten Commandments, aparecendo ao lado de Val Kilmer como Moses.

Ele ainda tem seu mito de criação próprio: que sua decisão de entrar no American Idol em 2009 veio depois de muitos mergulhos em alucinógenos no Burning Man, o festival de artes do deserto de Nevada. “Isso é como uma determinada publicação decidiu contar a história”, diz ele, o que quer dizer a Rolling Stone. “Eu achei muito divertido. Mas eu garanto que eu não estava fugindo para o deserto pensando sobre o American Idol. Eu estava nesse festival de artes e cheguei a uma conclusão que, se eu queria alcançar certos sonhos, eu tinha que correr atrás. Então, quando cheguei em casa, eu comecei uma série de projetos, e alguns meses mais tarde eu soube que havia uma audição do ‘American Idol’ e eu fui com a filosofia de ‘Não espere que isso aconteça para você – você tem que correr atrás’. Mas é uma boa história. E o jornalista que fez a história era realmente adorável. Então, eu entendo.”

No entanto, ele ainda era, como ele mesmo colocou, “um cara branco gay de 27 anos com maquiagem e sapatos de salto”, quando entrou no programa, muito longe do modelo do “Idol”. Então, quando sua sexualidade se tornou de conhecimento público durante a temporada, um furor se instalou, incluindo uma discussão no chat de política da Fox, o The O’Reilly Factor.

“Achei que não era uma opção manter tudo em segredo”, diz Lambert. “Eu vivi de forma aberta e confortavelmente toda a minha vida. Se fosse para esconder algo assim, nunca teria ficado escondido. E não é só o meu estilo. Eu sou um livro muito aberto. Mas também, eu entendo a relutância das pessoas públicas em sair do armário, porque de repente isso é tudo – e pode facilmente ofuscar qualquer outra coisa que você seja, na visão do público”.

O primeiro álbum de Lambert, “For Your Entertainment”, chegou ao nº 3 nas paradas dos EUA em 2009, e foi uma experiência feliz. Uma das coisas sobre o sistema de reality show, diz ele, é que “as pessoas percebem isso como um svengali [ver nota], a levar alguém e colocá-lo em tudo isso e pronto, aí está um álbum. Não me interpretem mal. Havia muitos tipos de ajuda, havia muitos cantores envolvidos, mas eu tomava decisões: eu gosto dessa música ou eu não gosto dessa música. Não me diziam o que fazer todo o tempo. E eu não fui controlado dessa maneira o programa inteiro, também.”

Depois veio o Queen. Lambert tinha atraído a atenção de Brian May e Roger Taylor durante o American Idol. Ele teve um teste com Bohemian Rhapsody e May e Taylor se juntaram a ele para apresentar “We Are the Champions” na final. No início deste ano, foi anunciado que o Queen e Lambert fariam parte do festival “heavy metal” Sonisphere” em Knebworth. Embora o festival tenha sido cancelado (para a sorte de Lambert e porque alguns fãs metaleiros bêbados, que devem ter feito críticas robustas em relação a um cantor saído de um reality show, ser vocalista de uma das bandas de rock mais reverenciadas de todos os tempos) a dupla ainda vai aparecer em cinco shows na Europa neste verão.

Lambert não se intimida pelo desafio. “Tenho cantado músicas de outras pessoas toda a minha vida”, diz ele. “É o que eu fiz no American Idol, e eu acho que uma das coisas pelas quais sou conhecido por eles, foi por eu cantar do meu próprio jeito. Sou muito inspirado por Freddie Mercury, e existem coisas que você não pode deixar de fazer quando você está cantando uma de suas canções, porque faz parte da música, e ele escreveu essas músicas com os garotos. Apesar disso, eu encontro meus próprios momentos”.

Ele está ansioso para elogiar a fidelidade de seus fãs, os Glamberts, considerando que a hora para uma estrela pop se preocupar é quando ninguém está acampado fora de sua casa às quatro da manhã, mas ele viu coisas que o perturbam, como fan fiction, a interpolação de seus heróis em histórias pornográficas para a internet. “Não foi uma experiência excitante”, diz ele sobre ler sobre si mesmo. “O que eu li foi um pouco assustador. Eles sempre me mostram tendo relações com alguém que eu nunca tenho – e nunca teria – relações. Acho engraçado os fãs ficarem tão embrulhados nos mitos, mas se eles quiserem, eles podem ir fantasiando sobre isso.”

Se Lambert, atingindo o 1º lugar está sendo considerado como um marco nas atitudes em relação à sexualidade, então seu comentário final sugere que ele não tem medo sobre a opinião média americana sobre ele. Questionado sobre qual mantra, ele mais provavelmente repita em momentos de estresse – O que Jesus faria? ou O que Freddie Mercury faria? – ele não hesita: “Freddie Mercury, com certeza. Ele iria colocar uma fantasia muito grande e apenas rir”.

Trespassing será lançado pela RCA em 02 de Julho.

NOTA: Svengali é o nome de uma personagem de ficção no romance “Trilby” de George du Maurier, datado de 1894. O romance criou o estereótipo de um hipnólogo de mau caráter que persiste no tempo, com várias citações na cultura popular. O personagem foi retratado em várias versões cinematográficas da história no cinema mudo e no cinema falado. Neste último, se destacam no papel principal John Barrymore na versão de 1931, Donald Wolfit no filme de 1954 em Technicolor, e Peter O’Toole em uma versão, feita para a TV, modernizada do filme em 1983, também em cores, co-estrelando Jodie Foster. Neste último, foi mudado o nome de todos os personagens, mas mesmo assim, o filme foi chamado Svengali. (Wikipédia). Adam ficou estigmatizado porque saiu de um show de talentos.

Fontes: Adamholic e The Guardian

Tradução: Graça Vilar

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