THR: Q&A com Adam Lambert

Adam Lambert: Erros e acertos no negócio da música, e a cara de pau em pedir para ser o Produtor Executivo [do álbum] (Q&A)

Como o seu segundo álbum “Trespassing” foi lançado esta semana, o segundo classificado da oitava temporada do “American Idol” abre-se para o The Hollywod Reporter (THR) sobre as lições da indústria da música que ele aprendeu de uma forma dura.

Adam Lambert é amplamente considerado como um dos participantes melhor sucedido fora do American Idol. Nesse sentido, ele desafia as probabilidades. No fim de contas, tantos ex-concorrentes no programa nº 1 da Fox desapareceram tão depressa quanto eles chegaram disparados na fama. Mas Adam, agora com 30 anos, cultivou uma base de fãs leal que estão com ele em cada passo seu desde o seu primeiro álbum de 2009 “For Your Entertainment”, agora ele está a contar com os chamados Glamberts para o jogarem para o topo da parada de álbuns da Billboard na próxima semana, quando se espera que “Trespassing”, o novo álbum de Adam seja o nº 1, vendendo aproximadamente 80.000 unidades [ver nota].

À muito considerado pelos mais experientes meios de comunicação, os anos de Adam no teatro de certeza que ajudaram o cantor criado em San Diego a preparar-se para uma carreira na música, mas a experiência da indústria tem sido a melhor lição, tal como contou The Hollywood Reporter numa entrevista recente.

The Hollywood Reporter: O primeiro álbum foi difícil de catalogar quanto ao gênero musical, e, a partir daí, a música tornou-se muito urbana e para dançar. Esse fator entrou na tua abordagem quando trabalhava em “Trespassing”?
Adam Lambert: Na verdade acho um pouco irritante todos terem de classificar tudo. Eu não entendo porque é que fazemos tanto isso, porque se gosta de uma música, gosta de uma música. Eu queria fazer algo diferente que era do gênero pop puro. Mas tudo é pop, então o que é que isso significa? Eu acho que no último álbum e saindo dos Idols, eu tive um pouco de pressão que pus em mim mesmo e talvez da minha base de fãs para ter esta fama clássica do rock. Ainda há muita desta energia no álbum e ainda há muita sensibilidade e espírito, mas acho que o gênero é menos explorado.

THR: Você também gravou para uma gravadora, a RCA Records, que fixou 40 sucessos no topo.
Lambert: Tem sido uma experiência interessante. Eu me lembro de entrar lá pela primeira vez e eu não sabia nada do negócio. Talvez como consumidor, percebia, mas não tanto como eu percebo agora com uma visão do interior. E isso certamente te informae e ensina coisas. Primeiro e mais importante, eu quero escrever música desta vez. Eu quero escrever com a minha perspectiva, entender o que quero dizer e se isso encaixa no álbum e os executivos gostam, assim é bom, mas veio mais de mim desta vez. Também é muito legal, porque, sim, é um negócio, mas eu tenho estado a trabalhar com os maravilhosos A&R que estão dentro da sofisticação sônica que eu acho que o álbum tem, e os meus novos empresários [Direct Management Group] têm sido mesmo fantásticos. Por isso eu acho que tenho tudas as ferramentas necessárias para conseguir o que eu queria conseguir desta vez.

THR: O que é que te surpreendeu mais na indústria da música e como é que funciona?
Adam: Há uma grande ênfase nos números, mas o que é mesmo excitante é que quando os números de um artista como a Adele têm ênfase, é quando é música, mas também acontece de ser comercial. É excitante quando a arte e o comércio se unem e esse foi o objetivo deste álbum – como é que nós resolvemos isso? Sim, eu quero que seja comercial e que conecte com uma grande audiência, mas como é que torno isso distintamente meu – a minha visão e o meu som? Eu acho que nós o fizemos. Acho que trouxemos funk numa forma muito legal. Porque eu me divirto sempre muito com esses tipos de groove, tipo quando eu canto “Fever” ou “Strut” ao vivo – eu amo a maneira como se sentem no palco. Eu amo a batida. Eu amo a maneira como o público de mexe. Eu quero mais disso. E também quero poder ter aqueles momentos, como com “Mad World” no Idol, onde pode-se abrir as portas e ser real e vulnerável.

THR: Você passou tanto tempo na estrada, quando é que escreveu as tuas letras?
Adam: Quando cheguei em casa. Eu passei tudo em revista e voltei, quase revisitei momentos e experiências para tentar colocá-los na música. O que todos sempre diziam era para escrever sobre os teus altos e baixos. É mesmo purificante. Te faz chegar ao próximo lugar, me ajudou a progredir para o capítulo seguinte. Exorcizar os demônios.

THR: Você está listado como produtor excutivo de “Trespassing”. Como é que isso surgiu?
Adam: Eu falei com o RCA sobre isso. No início eu me encontrei em Nova York com os principais da produção, Peter Edge e Tom Corson, logo depois a turnê acabou e eu comecei o processo de composição. Nós tivemos uma maravilhosa conversa durante um almoço em que apenas nos equiparamos uns aos outros. Eu estava do tipo “Olha, se não gostarem de alguma coisa apenas me digam”. E eles estavam, do gênero, “Ok, legal”. Nós deixamos toda a pretensão e as merdas de lado e dissemos que iamo-nos divertir com isto e falar a sério porque queremos a mesma coisa. Portanto vamos perceber como é que o vamos fazer. Muitos artistas dos quais ouvi falar e li estão em disacordo com certas partes da atividade e eu não quero isso. Eu quero ter uma experiência muito aberta e divertida.

THR: Você disse mesmo “quero ser o produtor executivo”?
Adam: Sim, isso surgiu tipo um segundo depois. Eu estava tipo “Eu quero mesmo que isto saia de mim, mas tem de me dizer se o que eu estou a fazer não presta ou é merda”. Eles ficaram surpreendidos, mas eu disse que estava preparado. Eu cresci ao fazer teatro, estou habituado a rejeições, podem-me dizer. Foi mesmo legal. E acho que percebemos o que queríamos atingir criativamente e o que queríamos evitar, o que queríamos enfatizar e o que teríamos de abandonar. Estávamos todos de acordo.

THR: Mas colocar aquele título num segundo álbum é um pouco corajoso.
Adam: Bem, eu sou corajoso. Às vezes é uma falha. A coisa é que ser produtor executivo, eu não estava tipo “Eu vou controlar; Eu estou certo, não lhe toque”. Eu estava “Eu vou produzir este projeto com vocês. É um trabalho de equipe”. Não sou eu a controlar tudo. Há muitas coisas que eu não sei e não sabia até à cerca de um ano, então é mais uma declaração criativa… Talvez a maneira como olham para isto, “Bem, se não resultar só temos que culpá-lo”.

THR: Isso pode ser uma existência assustadora.
Adam: Também é por isso que eu olhei para isto. Estou a arrumar tudo e a me colocar em linha. Porque é que não deveria?

THR: Quantas músicas você gravou?
Adam: Em vários estados de acabamento, provavelmente entre 40 a 50. Havia muitas direções diferentes. Estilisticamente, eu não estava totalmente decidido quando eu comecei. Eu estava tipo, vamos ter um monte de sessões e chegar lá e começar a escrever.

THR: Há alguma letra de que você esteja particularmente orgulhoso?
Adam: Eu acho que é “Outlaws Of Love”, que é a música de maior consciência social, é um comentário sobre a tristeza e o desepero que eu sinto quando vejo as situações com que a comunidade gay e lésbica lidam diariamente – politicamente, socialmente, tudo. Eu apenas disse francamente no refrão “They say we’ll rot in hell, well I don’t think we will” [Eles dizem que nós vamos apodrecer no inferno, eu acho que não]. E não é super complexo ou profundo, mas apenas dizer isso na música, é um pedaço de esperança na música. É apenas dizer, eu acho que não. É mesmo em frente. Eu costumava escrever letras que eram mesmo complicadas e tentar ser esperto e percebi que agora eu gosto mais de letras que dizem simplesmente “aqui está!”.

THR: Concordo. Músicas como “Underneath”, “Chokehold” e “Broken English” trazem mesmo muitas emoções. Como é que você meteu isso na cabeça?
Adam: Um dos maiores temas do álbum é que há muito mais por baixo da superfície do que vemos. Especialmente do que vê o público, acham que somos perfeitos e não somos. Isso não é a vida real. E isso é umas das coisas que achei frustrante sobre ser uma celebridade, nós somos postos neste patamar muito alto, e eu sou apenas um rapaz que canta. Não sou perfeito. Não sou uma rainha da beleza. Eu cometo erros. Eu ferro as coisas. Então essa música, “Underneath”, diz não julgue um livro pela sua capa e também, não discrimine ninguém nem os classifique ou categorize tão facilmente porque há muito mais lá.

THR: Isso é muita responsabilidade para se ter.
Adam: É MUITA responsablilidade para se ter. É outra coisa que o álbum trata no lado obscuro. Há muita ansiedade imprevista, coisas para as quais não me preparei e que me apanharam de surpresa algumas vezes. E “Underneath” fala sobre isso. Eu acho que a linha em “Underneath” que é fantástica é “it’s still not that easy for me underneath” [ainda não é fácil para mim cá dentro]. Ainda é difícil.

THR: Mas você faz parecer fácil.
Adam: É isso faz parte de ser um animador. Essa é também uma das coisas para as quais eu trabalho. Eu quero ser forte porque eu sinto que ainda sou odiado. Mas o que interessa é que eu estou tentando encorajar as pessoas a não se deixarem afetar por isso. Você tem de encontrar força de alguma maneira. E há momentos em que é duro, e há momentos em que é difícil ou alguma coisa acontece e um monte de pessoas fala sobre isso. E você está tipo “Dane-se, esta é a minha vida”. Não é a coisa mais fácil no mundo, mas vale a pena. E a coisa é que, por um minuto eu não sabia se valia.

THR: Quando é que você se sentiu assim?
Adam: Houve um momento em que eu estava no meio do álbum e eu pensei na última vez em que não estive completamente feliz. E estava a questionar toda a situação – gosto disto? estou mesmo nisto? E eu tirei um minuto a mais para colocar tudo em perspectiva e verificar. E o faco é que pode ser exigente e cansativo e pode-se tornar uma escalada íngreme, mas vale a pena. Especialmente quando pode-se criar. Essa é a essência.

Eu não posso dizer a data exata, mas depois da coisa do AMA eu pensei “Woah! Eu ferrei tudo? Eu dei um beijo de despedida à minha chance para tentar provar um ponto?”

THR: Mas você sobreviveu a esse momento, marcou a tua posição sobre o padrão de duplo gênero e tirou isso do teu sistema.

Adam: E eu acho que sempre fui esse tipo de pessoa. Eu faço o oposto do que as pessoas querem que eu faça. Sou muito do contra. Então eu acho que estava lá parte de mim, que algumas vezes também se pode amarrar e sabotar a mim mesmo, quando eu estava a testar as águas e brincando um pouco com o fogo. Eu estava a reagir, eu estava frustrado com o padrão duplo que estava a envolver a minha sexualidade e as escolhas que eu faço.

Eu acho que eu aprendi muito com isso e com todo ciclo do álbum e da turnê – como ser humano, como artista e como pessoa de negócios. Então eu acho que este álbum é uma combinação de tudo isso. Eu penso, “Legal, eu ampliei minhas possibilidades. Eu vejo onde estão meus limites, e onde eles não estão. Eu vejo tudo isso.”

NOTA: Conforme publicamos aqui e aqui, “Trespassing” de Adam Lambert realmente alcançou o primeiro lugar na Billboard 200.

Fontes: Adamtopia e The Hollywood Reporter

Tradução: Luísa Guedes

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