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10fev2011
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Não só Adam perguntou “O que você quer de mim?”
Confira a seguir uma matéria bastante interessante publicada pelo Fuse.tv, no início do mês de fevereiro, tentando entender o que exatamente Adam Lambert quer perguntar com sua música “Whataya Want From Me”. Elogiando muito Adam, o crítico musical que escreve para a Rolling Stone, entre outras, Douglas Wolk [ver nota], o compara com outros artistas que através do tempo também fizeram a mesma pergunta. Confira os links dos vídeos pois vale a pena conhecer o trabalho desses outros questionadores!
Deixando Claro Adam Lambert sabe exatamente o que você quer dele – como sabia outro Adam antes dele. DOUGLAS WOLK analisa, na raiz, a questão do hit de Lambert “Whataya Want From Me” e encontra dois predecessores com similaridades retóricas.
Veja este vídeo aqui.
É fácil perdoar Adam Lambert por perguntar “Whataya Want From Me” (“O que você quer de mim”). Um roqueiro dedicado, que (via American Idol) surge num momento em que o cenário de ídolos pop não está muito receptivo ao rock de desconhecidos, Lambert tem uma relação inquietante com sua audiência. Ele é um vice que canta como um campeão, um artista que não escreve suas próprias músicas num campo que normalmente exige isso, um astro que foi sujeito a uma montanha de expectativas externas, antes de ter gravado uma nota sequer. A canção permite que ele exiba seu tom suplicante, em estado puro, mas também trai suas origens pop: foi escrita por Pink e pelos maestros dos bastidores pop, Max Martin e Shellback, soa muito como se pudesse estar num dos próprios discos de Pink. E sua persona lírica é a de alguém que estava muito mais acostumado a ser muito mais maleável, mas agora precisa de deixar claras, para qualquer um que esteja prestando atenção nele, suas intenções ao invés de apenas lidar com expectativas veladas. O título é uma pergunta de um jovem, em outras palavras.
Do mesmo modo, meio século atrás, outro lindo e jovem Adam, entrando na música pop, fez praticamente a mesma pergunta a sua audiência.
O cantor adolescente Adam Faith [ver nota], como Lambert, se estabeleceu através de aparições na TV, mas não exatamente emplacou até que lançou “What Do You Want”, que ficou em primeiro lugar nas paradas em 1959. É um tiquinho de música – supostamente a mais curta a chegar no topo das paradas no Reino Unido – sobre alguém que precisa deixar claras as suas intenções; em sua apresentação na televisão, por sua vez, é principalmente uma desculpa para ele exibir sua beleza escultural e lançar olhares significativos para a câmera.
Veja este vídeo aqui.
Bem como Lambert, Faith era um roqueiro – bem, um tipo de roqueiro – num ambiente não terrivelmente interessado em rock n roll. A influência de Buddy Holly [ver nota] era evidente em seus vocais (cheque essas paradas glotais), mas você pode conferir, por você mesmo, nesse videoclipe, a distância entre sua imagem e seu som: há uma banda por trás dele (guitarra! bateria! saxofones!), mas quase tudo o que você ouve são os violinos em pizzicato [ver nota].
Faith dividiu o número 1 das paradas com (depois deixando para ela) uma música com título similar: “What Do You Want to Make Those Eyes at Me For”, de Emile Ford and the Checkmates [ver nota], que também já estavam por aí há algum tempo. A versão de Ford foi drasticamente despojada em comparação com a versão inicial: uma versão anterior da canção, um dueto com Ada Jones e Nilly Murray, tinha sido lançada em 1917, quase tão antiga para Ford, quanto a música de Ford o seria hoje para Adam Lambert. Não é fácil imaginar Adam Lambert ou seus companheiros cantando “What Do You Want To Make Those Eyes At Me For”, a menos que algum dia tivesse um tema do American Idol que fosse “canções do ano em que seu avô nasceu”, mas o conceito da letra é bem o mesmo: você está prestando atenção em mim, e agora?
Há um outro super hit britânico com uma variação desse título: “What Do You Want From Me?”, do Monaco [ver nota], de 1997.
Veja este vídeo aqui.
A versão deles tem um ponto de vista diferente – não da confusão de um novo relacionamento mas da confusão de um antigo que fracassou. Monaco tinha algo a provar também: o grupo tinha sido formado por Peter Hook e David Potts da dissolução da banda anterior deles, Revenge, e a carreira de Hook não estava indo tão bem, também. Ele havia tocado nas bandas enormemente influentes Joy Division e New Order, mas mesmo com muito esforço a Revenge não tinha chegado nem à sombra do poder e popularidades daquelas bandas.
Portanto, a sua “What Do You Want From Me?” respondia à sua própria questão: o que a audiência queria de Hook, era o que ele tinha feito uma década atrás, cujo estilo a canção imitava com tanto sucesso, que é ainda algumas vezes confundida como uma música do New Order. Tanto Ford como Faith cantaram suas “What Do You Want” pelo resto de suas carreiras; Peter Hook fez recente turnê com a banda, pelos Estados Unidos, tocando canções do mesmo estilo da do álbum de 30 anos do Joy Division, o Unknown Pleasures. A de Lambert é nova ainda – mas em uma carreira pop, a primeira questão que você pergunta é a questão que você terá sempre que perguntar.
NOTAS:
DOUGLAS WOLK: é autor do livro “Ao Vivo no Apollo”, e escreve sobre música, para as revistas Time, Rolling Stone, Spin e outras publicações. Ele mora em Portland,Oregon.
ADAM FAITH: Terence Nelhams-Wright, conhecido profissionalmente como Adam Faith (23 de junho de 1940 — 8 de março de 2003) foi um cantor, ator e jornalista britânico. Ídolo adolescente transformado em analista financeiro, Faith foi um dos músicos que mais obteve colocações nas paradas musicais da década de 1960, sendo o primeiro artista britânico a emplacar seus primeiros cinco hits no Top 5 e um dos primeiros a gravar composições originais regularmente. Morreu de um ataque cardíaco em 2003. (Wikipédia)
BUDDY HOLLY: Charles Hardin Holley (7 de setembro de 1936 – 3 de fevereiro de 1959), mais conhecido como Buddy Holly, foi um cantor e compositor americano e pioneiro do rock and roll. Embora seu sucesso tenha durado apenas um ano e meio antes de sua morte em um acidente aéreo em 1959, Holly é descrito pelos críticos como “a força criativa mais influente dos primórdios do rock”. Seus trabalhos e inovações inspiraram e influenciaram tanto seus contemporâneos quanto futuros músicos, notavelmente The Beatles, The Rolling Stones, Don McLean e Bob Dylan, exercendo uma contribuição significante na música pop. O nome de Holly foi um dos primeiros a serem incluídos no Hall da Fama do Rock and Roll quando de sua fundação em 1986. Em 2004, ele foi listado pela revista Rolling Stone na 13ª colocação entre os “Maiores Artistas de Todos os Tempos”. (Wikipédia)
PIZZICATO: é o modo de tocar os instrumentos de corda (geralmente os de arco) pinçando as cordas com os dedos. O pizzicato é também muito utilizado no jazz, explorando a característica rítmica conferida ao instrumento nesse estilo. O pizzicato é a técnica que normalmente se usa para tocar, dedilhando-se, com a alternância de dois ou três dedos, as cordas. Vem sendo utilizada há alguns séculos no jazz e na música erudita, mas de uma maneira diferente: enquanto nas orquestras o pizzicato é apenas um “beliscão” na corda, normalmente feito com um só dedo, e no jazz utiliza-se uma pegada diferente, colocando-se o dedo quase que paralelo a corda e com isso gerando um som mais “encorpado”. (Wikipédia)
EMILE FORD: Nascido Emile Sweetman (16 de Outubro 1937) é um músico e cantor, que foi muito popular no Reino Unido no final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Filho de um oficial do governo e de uma cantora de ópera, seu interesse pela música foi estimulado pela mãe e também baseado em um condição cinestésica que apresentou por toda a vida: essa condição criava cores e padrões às sensações sonoras que ele percebia. Isso o impulsionou a buscar o som perfeito, para o que ele estudou guitarra, pesquisou novas tecnologias musicais, desenvolveu seu próprio equipamento e formou uma banda: The Checkmates. Sua “What Do You Want To Make Those Eyes At Me For” alcançou primeiro lugar nas paradas (em 1959), quando já havia assinado com a gravadora Pye Records e já apresentava características de excelente produtor musical. Seu último álbum foi gravado em 1963. Ironicamente ele nunca se considerou um “cantor”. (Wikipédia, Classic UK 45s, AllMusic)
MONACO (PETER HOOK): Peter Hook (13 de fevereiro de 1956) foi o baixista do grupo pós-punk inglês Joy Division e dos seus sucessores, New Order. A banda Mônaco foi um projeto paralelo de Hook, formada em 1995. Juntamente com David Potts, o único membro remanescente da Revenge. O grupo é mais conhecido pelo single “What Do You Want From Me?” de 1997, do seu primeiro álbum, “Music For Pleasure”, vendeu mais de meio milhão de cópias. A dupla encerrou os trabalhos em 2000, depois do segundo disco ser lançado e não fazer barulho algum. (Wikipédia e Last.fm)
Fonte: Parallel Tracks by Douglas Wolk / Fuse.tv
Introdução e Tradução: Célia Mello
Liiinda a montagem da foto Jô!!! Você é op máaaaaximo!!