Desculpe Adam Lambert, enquanto ele beija o céu (ou o mais importante, “Esse cara”)

Adam Lambert está sendo considerado por muitos, além de cantor, um fenômeno cultural. A mensagem positiva que ele passa para todas as pessoas transcende suas poderosas cordas vocais. Ele não é apenas alguém que canta extraordinariamente bem, ele é o percussor de um movimento cultural no qual Lady Gaga também é engajada, e que tende cada vez mais a ser aberto, autêntico e verdadeiro em todas as suas vertentes, mas mais do que isso: abre as portas para que todos aqueles que se sintam estranhos em sua própria pele, sejam convidados para a festa. Confira o artigo a seguir publicado por Marie “Riese” Lyn Bernard da Autostraddle:

Desculpe Adam Lambert, enquanto ele beija o céu (ou o mais importante, “Esse cara”)

Você se lembra do dia que estava meio bêbado e assistiu a Adam Lambert – True Hollywood Story, e teve aqueles sentimentos esquisitos sobre preferências sexuais, beijos homem-a-homem dados em pleno palco, a história da contracultura e do glam rock, o programa do American Idol e o hipotético segundo álbum de Adam? Se você não se lembra, para sua sorte, eu escrevi sobre tudo isso.

(Disclaimer: é inteiramente provável que esse post tão longo tivesse sido adicionado a qualquer artigo da mídia intitulado: “Coisas para ler quando você não estava sóbrio vou mesmo se você estiver” o qual eu acredito que Laneia já tenha começado a escrever há algumas semanas atrás, e que quando for publicado será muito maneiro de se ler quando você ainda não estiver sóbrio.

Então, como 75% da população Glamnation descende do meu último post sobre o American Music Awards para falar a respeito da THS de Adam Lambert, eu me vi assistindo a THS de Adam Lambert no youTube, na noite passada. Não há muitas novas informações para aqueles que já leram o que foi escrito pela mídia a respeito de Adam Lambert. Mas crianças, QUE VIAGEM FOI ESSA!

Será que algum dia fomos tão jovens?

Eu tinha apenas 27 anos de idade quando Adam Lambert entrou na minha vida através da insistência da minha amiga Alex, de que eu tinha que ver esse cara pelo qual ela estava obcecada depois que ele cantou o cover do “Mad World”. Eu reagi tipo: “Eu acho que essa música já esteve na trilha sonora de O.C.” [ver nota], mas mesmo assim me pareceu “Maneiro”.

Então eu comecei a ficar realmente excitada sobre o American Idol pela primeira vez desde àquele longínquo verão, no qual eu adorava comer manteiga de amendoim, tortillhas e vodka recheadas com Vicodin, e estava estranhamente obcecada por Ruben Studdard [ver nota].

NOTA MUITO IMPORTANTE: Isso é realmente especial porque eu categoricamente sempre odiei shows de talento ou seriados, exceto “Law&Order”, sendo que eu tenho um ÓDIO ESPECÍFICO PELO AMEICAN IDOL.

Meu primeiro sentimento a respeito preconceituoso em relação ao AI é: – Vocês têm ouvido “Hey Paula”? [ver nota]. E meu segundo sentimento é: eu sinto que Ryan Seacrest não é gay por opção sexual, e eu temo muito pelas mulheres – mas o que há para se falar sobre o resto do que é Ryan Seacrest? Eu sinto que existe uma tendência gay nele que está prestes a se manifestar em pleno palco, vocês sabem do que estou falando?

E meu terceiro sentimento é: Pelamordedeus! Barack Obama pode resolver o problema de seis Estados da União no mesmo tempo em que Ryan Seacrest leva para proferir uma filha da mãe de uma frase sobre quem vai ou não vai para a próxima fase.

Meu sentimento número quatro é: Eu odeio a América. Eu odeio Ídolos, eu odeio tudo, eu odeio esse show desgraçado.

Quando o AI estreou em 2002, eu realmente não captei a mensagem. Eu tinha me formado há alguns anos atrás naquelas escolas tradicionais de arte onde os pais mandam seus bebês-gênios-musicais na esperança de que eles façam pós graduação na Julliard [ver nota] /Carnegie-Mellon – local de estudantes filhinhos de papai que querem representar na Broadway, estrear no cinema, ou virar rockstars e isso me tornava completamente avessa à idéia do American Idols. “TODOS OS MEUS AMIGOS SÃO MELHORES DO QUE ESSES IDIOTAS”! Eu gritava para a TV. “Que diabos está acontecendo? QUEM SÃO ESSAS PESSOAS RELATIVAMENTE SEM TALENTO ALGUM? Esse foi o começo do meu caso de ódio com esse show f*”.

Mas Adam Lambert? Adam Lambert era essencialmente o clone dos meus amigos selvagemente dotados (gay, bonito, gosta de se vestir bem, beija garotos, estrelou num musical popular nacional) tanto, que eu quase senti que ele era um dos meus amigos. Finalmente um candidato que eu CONSEGUIA ENTENDER (lógico que tenho que silenciar sobre alguns outros assuntos particulares).

A Autostraddle teve um sentimento a respeito desse garoto (assim como outros paranormais devem ter tido) tanto que nosso post de 1 de maio de 2009 em resposta à indagação do Yahoo: “Será Adam Lambert o primeiro ídolo gay?” Aqui, com opiniões incluídas:

Riese: Independentemente de sua sexualidade, eu prefiro que Adam não ganhe e seja contratado por gravadoras mais significativas do que o simples pacote de “mongóis” que gerenciam as carreiras de Fantasia, Ruben Studdard, etc

Robin: Eu acho que já vi 5 participantes desse show cuja orientação sexual não era questionável.

Stef: Esse show ainda é relevante? Eu parei de vê-lo desde que eles fizeram com que as audições durassem mais de oito horas por dia.

Alex: É difícil me fazer sentar e assistir algo que não seja “Intervention” ou “Survivor” e eu simplesmente virei escrava do Adam toda terça-feira à noite.

Essas opiniões se tornaram claramente o prenúncio: “perdeu”, mas nós ganhamos. E por “nós” eu quis dizer o “Exército dos Homos Liberados na minha Mente”.

Repare bem, a nossa cultura não tem visto mudança tão significativa desde os anos 60 e 70, quando a “Women’s Lib” e a contracultura hippie abriram caminhos para as novas maneiras de encarar a fluidez sexual e binária de gênero. A música pop hippie psicodélica definiu os anos 60 com seu “flower power”, mas os anos 70 trouxeram o lado Glam Rock que entrou em cena e deixou marcas sobre as normas que influenciaram todos os gêneros, quero dizer, existia uma sensibilidade muito gay em tudo isso.

Porque é nisso que tudo reside: apesar dos hippies ocuparem um lugar premiado quanto à autenticidade e fluidez sexual, espontaneidade e rebeldia, eles não tinham a mentalidade tão liberada como queriam fazer parecer. Muitas mulheres e gays se sentiram menosprezados pelo fato de (como George Mosse observou) “as roupas dos hippies bem como sua aparência, tendem a confundir as distinções entre os sexos, mas eles não pretendem questionar a heterossexualidade em sua base.”

Por outro lado, o glam rock ofereceu uma filosofia transcendental que parou de rotular todas as preferências sexuais, e procurou criar uma “colisão entre as discordâncias no que se referia aos códigos de gênero masculino e feminino”, num espaço mais tolerante e teve de imediato uma estrela como adepto:

Alice Cooper: “Uma das coisas que eu mais gostaria de fazer seria jogar a favor da ‘Liberdade das Mulheres’ (Women’s Lib) e a liberação dos gays, para que a sociedade os libertasse das funções que lhes são impostas”.

Um artigo da revista Creem em 1973 (como citado em Performing Glam Rock, por Phillip Auslander) apontou que o “Rock Andrógino”, a “homossexualidade e o travestismo” estão sempre presentes, mas geralmente eram reprimidos pela cultura do rock a favor de manifestações de machismo heterossexual”. O Glam Rock fez o melhor que pode nesse clima político para trazer as preferências sexuais em doses iguais, regando cada desempenho com um dilúvio de teatralidade agressiva lúdica e distração eficaz.

Agora estamos em 2010. A bizarrice quanto à escolha sexual é um assunto. Não existem apenas dois gêneros. A liberação gay é um assunto. O feminismo é um assunto que definitivamente vem crescendo a cada dia.

De novo precisamos de novos adjetivos, novas qualificações. Adam Lambert não é “masculino” ou “feminino”, ele é apenas, Adam Lambert. Pelo menos as forças culturais se alinharam e Adam Lambert está aqui, e ele orgulhosamente descarta qualquer semelhança já projetada do que possa ser um armário de rock’n–roll–glam (embora ele seja homossexualmente amigável e heteroflexível, em termos de opinião). Finalmente essa merda pode PROSPERAR em toda a sua glória homossexual.

Além disso, as pessoas abraçaram essa ambissexualidade. Adam Lambert ganhou esse ano a enquete da Flecking Records sobre a beleza masculina de 2010, batendo aquele cara do “Crepúsculo” e Leonardo di Capprio (que era mais bonito quando ele ainda parecia com uma menina).

Uma das muitas diferenças entre uma estrela pop e uma estrela rock é que a estrela pop coloca sua imagem em primeiro lugar, enquanto a estrela rock coloca o núcleo emocional em sua música – muitos esperavam que Adam tentasse limpar a sua imagem depois do ocorrido no AMA de 2009, como faria uma estrela pop, mas ele não fez. Depois de ter criado o primeiro beijo entre homens ao vivo, em transmissão mundial, Adam respondeu ao backlash que ele sim tinha responsabilidade quanto ao assunto, mas sem querer se desculpar. Não houve escudos publicistas. Assim ele começou a desenvolver uma base de fãs extremamente leais e surpreendentemente diversificada (algumas fãs apaixonadas até já escreveram um livro intitulado “On the Meaning of Adam Lambert”) que apreciam Adam justamente por sua autenticidade e não a despeito dela.

Se alguém duvidava que Adam não fosse baixar a bola depois do descalabro ocorrido no AMA, ele deixou claro em Sydney que ele não iria deixar de ser ele mesmo. “o que é interessante a respeito de Adam (e Lady Gaga existe para provar) é que quando você espera que ele se desculpe pela sua homossexualidade, ele gera pânico com suas calças de lycra pretas over sexy, e gira provocativamente com um protetor de couro nas suas partes íntimas.”

Nós estamos clamando por autenticidade aqui, queremos algo que seja verdadeiro mas também bonito, e é por isso que a música está sempre no centro das grandes mudanças culturais. Quando um músico é inteligente o suficiente para se ater à sua verdade e tem coragem de assumir riscos ao invés de se curvar diante do mercado conservador, tudo está caminhando num sentido muito positivo. Lady Gaga como Lambert, tem um caráter extremamente genuíno (independentemente do quão exagerado ou chamativo possam ser). Não há o nervosismo falso de Avril Lavigne, nem sabores pré-embalados que recebemos dos respectivos anti-heróis de Lady Gaga e Adam: Taylor Swift e Justin Bieber. Num momento em que não temos certeza de qual será a posição de Obama a respeito dos direitos dos gays, num momento em que tememos que para cada dois passos à frente haverá um para trás, vimos que Lady Gaga não vai parar de sair em defesa dos direitos dos homossexuais.

E nada vai parar Adam Lambert de beijar os meninos.

Sim, nós percorremos uma longa estrada desde Boy George, baby.

As palhaçadas de Adam não soam ao estilo-Ozzy –Osbourne-de-comer-morcegos ou beijos-estilo-calculados-Madonna-Christina-Britney. Adam só racionaliza quando necessário, por exemplo, nos shows da manhã (falando a respeito daquele no qual ele foi proibido de aparecer) e nos shows na Malásia e como Gaga, pois é a maneira dele de ser verdadeiro-em-relação-a-autenticidade–de-sua-arte que o habilita responsavelmente, a navegar por entre essas zonas nebulosas.

Em Paris, dia 18 de novembro, durante a GNT, Adam fez o cover da música de Jimi Hendrix, “Purple Haze”, mudando “desculpe-me enquanto eu beijo o céu” para “desculpe-me enquanto eu beijo esse cara” (fato engraçado, pois um dos arquivos mais famosos sobre “trocas” em letras de música foi criado a partir da troca que o próprio Jimi Hendrix gostava de fazer quando ele a cantava).

Em Amsterdã, Adam cantou a música enquanto acendia um cigarro de maconha no palco e ao mesmo tempo pediu licença para a platéia enquanto ele beijava “esse cara” e em seguida, passou a beijá-lo (claro que o cara era o seu baixista Tommy).

De qualquer forma, MEU PONTO reside basicamente em que, enquanto eu assistia à fantástica E! True Hollywood Story, o Oráculo falou comigo e me disse: “Eu tenho uma sensação de que o segundo álbum de Adam Lambert vai ser muito bom. Ele tem isso com ele. Nós sabemos disso agora. Acontecerá que aquele crítico chato do Brooklyn metidoabestaeintelectualóidehomofóbicoqueseacha, não terá outro caminho a não ser fazer uma crítica positiva, apesar de falar sobre o cara que saiu do American Idol, porque ele é de fato assim tão bom.”

Veja, “For Your Entertainment” é maravilhoso, está vendendo bem e qualquer dos fãs, ou eu, faria amor com esse álbum em qualquer dia da semana E “Soaked” & “Whataya Want From Me” são faixas excepcionais. Mas segundo a experiência que tenho, esse disco não será capaz de superar a visão que qualquer pessoa comum possa ter sobre o Adam-que-saiu-do-Idol, numa primeira vez que o escutar. De qualquer forma, eu realmente tenho uma sensação de que o segundo álbum vai ser inimaginavelmente espetacular e incrível e estará na lista dos dez melhores de muitos críticos. Em outras palavras, estaremos falando de “arte” aqui.

Igualmente excitante? O potencial do álbum acústico de Adam que foi lançado no dia 6… me diga: O QUÃO SEXY ESSA FOTO TE PARECE? (veja a foto aqui).

Conclusão:

Ultimamente não é o beijo entre rapazes, a teatralidade ou a maneira de se expressar sexualmente que faz as performances de Adam serem tão significativas para os seus fãs. Isso apenas já faz parte do show. A outra parte, eu acho, é quando Adam vai até a ponta do palco e grita: “Vocês são todos maravilhosos e lindos!!!” . Você acredita nele porque ele está te olhando diretamente nos olhos quando te diz isso. E em algum lugar naquela multidão, está um menino estranho, sozinho, que adora cantar e dançar (ou mesmo a sua mãe), como o menino Adam Mitchell Lambert costumava ser, e que agora percebe que ele é realmente maravilhoso, lindo e definitivamente, não está sozinho.

NOTAS:

O.C.: famoso seriado americano.

Ruben Sutardd: Christopher Ruben Studdard, mais conhecido como Ruben Studdard é um cantor americano de pop, R&B e gospel. Tornou-se famoso ao ganhar a segunda temporada do American Idol, recebendo uma nomeação à melhor performance vocal masculina de R&B do Grammy Awards em dezembro de 2003.

“Hey, Paula”: expressão que era comumente usada pelos outros jurados do AI, quando Paula Abdul fazia parte da banca.

Julliard: A Juilliard School (popularmente identificada somente como Juilliard) é uma escola de música e artes cênicas localizada em Nova Iorque, nos Estados Unidos, reconhecida por seus alunos graduados em música, entre os quais Itzhak Perlman, Renée Fleming, Ray Conniff,Nina Simone e Yo-Yo Ma. Atualmente sediada no Lincoln Center, a Juilliard gradua alunos nas áreas de dança, música e dramaturgia. A instituição é considerada um dos principais conservatórios e escolas de dramaturgia do mundo.

Fonte: AutoStraddle

Tradução: Mônica Smite

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8 Comments

  1. Acho que está começando a existir uma certa pressão quanto ao proximo CD do Adam… espero que ele saiba lidar com isso, pois já vi e ouvi muitos casos de CD’s muito aguardados e que acabaram sendo ruins…. vide o cd do Gun’s N’ Roses “Chinese Democracy” que levou um tempão e acabou sendo não muito bom….espero que o Adam seja honesto com ele mesmo e não ceda as pressões…que em certa parte é culpa nossa, os fãs…..

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  2. Post perfeito…
    Realmente Adam é um fenômeno!

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  3. Concordo! Ele é um fenômeno. Muito mais do que um cantor!

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  4. Eli, já existem muitas reviews ótimas do acústico do Adam e já tem muita gente que se apaixonou pelo “Aftermath” acústico. Estamos esperando que seja muito bom, vibrações boas querida!

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  5. acho que o Adam vai perceber isso, e o segundo Álbum deverá ir para o lado que mais agrada o público, isso que quero dizer.

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  6. Owww…. esse post disse tudo!!!!!!!!!

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  7. Ai que lindo esse texto……… emocionante até…

    nao tenho dúvida que o 2 CD dele vai ser bom… to fazendo um texto que ele fala que vai seguir a linha de WWFM… mas duvido que ele se mantenha num só estilo… e mesmo que ele faça isso, ele varia ao vivo…

    Fiquem tranquilas meninas, porque esse menino sabe o que faz comercialmente…

    e pra mim. qualquer coisa que ele faça eu vou amoar, porque ele tem exatamente o estilo que eu gosto… 🙂 ainda mudo pra LA… ou pra londres se ele for pra lá… 🙂

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  8. e um dia eu aprendo a revisar meu texto antes de dar enter!! heheh desculpem tantos letras erradas……………. 🙂

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