Mais um artigo da Rockstar Weekly

Muito Além do Talento: A Coragem de Adam Lambert

Por Etty Payne

Um ano depois da primeira aparição de Adam Lambert no American Idol, poucos podem duvidar de seu talento como cantor e artista. Mas numa indústria onde talento sozinho nunca foi um passe favorável para o sucesso, artistas precisam de um arsenal completo de acertos para abrir caminho às alturas de suas aspirações. Na tentativa de explicar o sucesso de Adam, observadores têm usado de adjetivos como: carismático, versátil, divertido, excitante, autêntico, humilde, confiante, e corajoso, só para citar alguns. Na superfície, ele realmente sempre aparece muito calmo e confiante, certamente ao que se refere à sua música essa confiança é real tanto quanto é a maioria dos aspectos de sua apresentação.

Confiança envolve experiência: experiência sobre o seu assunto, sabendo que você tem as habilidades para vencer e sabendo que tudo vai correr bem. Confiança resulta de um sentimento de segurança constante, permitindo que você haja sem medo. Coragem, por outro lado, significa jogar quando você se sente tudo, menos seguro. É um salto em direção ao desconhecido ou, pior, um salto em direção à riscos conhecidos, perigos e quedas, causando medo ou no mínimo apreensão, e mesmo assim você salta do mesmo jeito quando você poderia escolher não saltar.

Num recente artigo da Times Britânica, Adam foi citado dizendo “Eu não sou tão confiante. Eu costumava ter medo de enfrentar riscos e sentia medo da rejeição”. Dada a quantidade e extensão dos riscos que ele tem enfrentado ao longo dos anos “sendo medroso”, poucos podem negar que Adam lambert é corajoso. Surpreendentemente, eu não descreveria como necessariamente corajosa a sua decisão em Maio/2009 em confirmar à Revista Roling Stone que ele é gay. Naquele momento, depois de meses de especulação sobre algo que era incrivelmente óbvio, sua articulada confirmação foi inevitável e natural, um próximo passo necessário para alguém que quer que o foco esteja sobre sua música.

O beijo homem-a-homem de Adam Lambert no American Music Awards não foi premeditado e portanto tampouco precisou de coragem. Entretanto, a maneira como ele lidou com o deslize, certamente precisou. Quando o mundo e sua esposa (e até o tio gay) dizem que você que é inacietável do jeito que você é; é um desafio formidável permanecer de pé e manter sua integridade, enquanto aceita total responsabilidade pelos seus atos. Mas este Adam o fez sem pestanejar, depois do AMA. Ele caminhou na corda-bamba enquanto ele tomava conhecimento que ele, sem nenhuma intenção, chateou certas pessoas, mas pacientemente manteve a posição de não ter feito nada errado. Muitos tentaram escurraçá-lo tão arduamente para tentar fazê-lo cair, mas ele nunca fraquejou. Ele poderia ter escolhido o caminho mais fácil, se curvando ou entrado no terreno seguro da desculpa. Mas uma desculpa teria enviado a mensagem de que ele estava errado – não somente errado por ter beijado outro homem na tv, mas errado por ser gay assumido.

Adam deve ter recebido essa mensagem inúmeras vezes enquanto estava crescendo. Felizmente, parece não ter vindo de seus pais que, para todos os efeitos, poderiam ser tomados como exemplo de como educar seu filho gay. Mas existe pouca dúvida de que ele experimentou muitas das agonias que um jovem homossexual em crescimento deve encontrar. Só ele sabe como se sentiu ao “sair do armário” aos 18 anos de idade, mas para a maioria é uma decisão apavorante a ser tomada, os lançando em um território de injustiça, infestado de perigos. Adam não tem falado muito nas entrevistas sobre como as coisas eram para ele no primeiro ou segundo ano depois de se assumir, mas é improvável que tenha sido uma emancipação instantânea para uma vida de realizações e livre de obstáculos. E como ele ainda está descobrindo, a cada passo ou desvio que ele toma, os perigos continuam se multiplicando.

Quando ele se mudou para Los Angeles, com 20 anos, ele se encontrou vivendo e trabalhando no meio de pessoas que o agraciaram com um benvindo senso de pertencer. Escolhendo, depois de 8 anos se aventurar fora desse casulo a tentar o American Idol foi um movimento de bravura. Porquê fazê-lo? Ele poderia ter ficado na segura existência que ele tinha, ganhando o suficiente com musicais e seções de trabalho e continuar protegido em uma comunidade que o aceitava como ele era. Sabendo que ele não era o que o American Idol normalmente procura, sabendo que os tipos teatrais são quase garantidos de serem os alvos da ácida língua de Simon Cowell, bem como do seu ridículo, Adam quase não entrou na competição. A decisão de seguir em frente de qualquer maneira, sabendo tudo o que sabia que poderia esperar, certamente precisou de coragem.

Tendo passado pelo primeiro teste, ele poderia ter jogado seguro, mas ele nunca o fez. Ele até cantou “Believe” da Cher durante a Semana de Hollywood, quando a sua teatralidade ainda parecia um obstáculo para que ele fosse aprovado para o Top 13. Adam soube mais tarde que ser associado à Cher naquele ponto, não era possivelmente o passo mais sábio, mas tentar aquela chance sem dúvida valeu a pena, pois ele recebeu um lugar de destaque para os shows de TV ao vivo.

Ainda assumindo riscos durante os shows ao vivo, ele superou o maior dos maiores e virou de cabeça para baixo adorados clássicos. Ele também se atreveu a colocar em discussão a maior música de rock de todos os tempos, cantada por um dos mais reverenciados vocalistas já conhecidos, criando um marco na história do Idol com ”Whole Lotta Love” do Led Zeppelin. Já tendo atraído o desprezo de boa parte do público, por supostamente ter feito Johnny Cash se revirar na sepultura com sua versão de “Ring of Fire” (apesar de que eu estou com aqueles que afirmam que o rebelde Cash teria aprovado totalmente a versão de Adam), abordando a ícone música do Led Zeppelin, se expondo em comparação ao grande Robert Plant, foi realmente corajoso.

Muitos têm descrito o cd de Adam, “For Your Entertainment”, como corajoso, porque sendo tão eclético, desafia as regras do mercado musical, de que um álbum tem que se enquadrar em um gênero específico para vender. Aparentemente, essas pessoas que vendem música precisam saber como rotular para saber em qual caixa (literalmente) colocar na loja. As estações de rádio precisam saber de qual caixa saiu, para saber se podem tocar ou não e o público precisa saber em que caixa está para saber se compra ou não. E esse tempo todo eu pensei que música era sobre, se você gostava ou não. Que ingênua. Adam, de qualquer maneira, não foi ingênuo. Quando ele criou o seu álbum, ele já não era um estranho na indústria da música. Ele foi introduzido à música desde pequeno pelo seu pai (que foi DJ na faculdade), ele teve uma banda e tinha amigos em todas as áreas da indústria musical, alguns com sucesso, alguns ainda batalhando. Ele sabia o quão cruel a indústria é e que quase mais ninguém é “descoberto” nos dias de hoje, que você não consegue um contrato a não ser que já tenha alguns seguidores, e o mais crucial, que talento simplesmente não é o suficiente. Ele também conhecia as regras sobre gêneros e caixas rotuladas. Mas como qualquer um que viu suas apresentações no Idol e mesmo as anteriores, sabe que Adam Lambert não é alguém que você possa rotular. Ele tem sido influenciado por diversos gêneros musicais e se apresenta num leque de estilos de tirar o fôlego, desde faixas como Brigadoon de um lado da escala até a música que ele mesmo escreveu Glamorize, de outro.

Em Junho de 2009, o artista multi-facetado disse: “O meu negócio é que eu não quero fazer um gênero específico. Eu sou mais a favor das fusões. Nós queríamos um álbum que tivesse um som coeso, mas que também pudesse ser uma coleção de diferentes estilos”. Na era dos downloads, onde a maioria do público pagante compra somente as suas faixas favoritas e não o cd todo, essa jogada faz sentido. Ninguém quer ouvir 12 variações da mesma coisa. E mesmo que pense que eu preocupo com coisas sem importância, mas até mesmo uma música de 4 minutos com formato previsível, verso-coro-verso-coro tem o poder de desafiar a minha atenção.Me dê mexidas e viradas, aumente o drama, me choque do verso para o refrão, jogue algum rock no meio de um pop dançante e termine com um estouro…ou com uma risada. A maioria das faixas de “For Your Entertainment” faz exatamente isto.Apesar de que toda canção feita hoje pode ter aspirações de ser uma “Bohemian Rhapsody”, a obraprima do Queen é um dos maiores sucessos de todos os tempos, e marcou com força o ponto de que você pode ignorar as convenções musicais e ainda fazer música super vendável. Se Randy Jackson e algumas estações de rádio estão “confusos” pelo eclético cd, que seja! Um álbum homogêneo e convenientemente rotulado não seria um álbum de Adam Lambert.

Atualmente um favorito entre os paparazzi e a mídia em geral, Adam sabe que cada palavra sua será impressa e dissecada, e expôr seus mais profundos sentimentos para todos os lados exige coragem, especialmente para um homem, e ainda mais no começo da carreira. Sua franqueza nas entrevistas é intrigante, enquanto ele discute, entre outras coisas, seus problemas com o peso e com a baixa auto-estima. Com a Oprah em Janeiro, ele falou aberto e honestamente sobre se sentir, ocasionalmente solitário. Mesmo sendo profundamente agradecido pelas oportunidades que a fama tem trazido, ele sabe que em alguns momentos é preciso que ele fique em casa sozinho ao invés de sair, porque é preferível a ter que lidar com a atenção que uma simples ida ao shopping traz.

Para alguém que admite que passou muitos anos odiando a própria aparência e para quem os demônios da baixa auto-estima ainda ressurgem de tempos em tempos, ele parece surpreendentemente disposto a atrair atenção para sua aparência física. Ele poderia escolher evitar qualquer tipo de julgamento sobre sua aparência, simplesmente se misturando à multidão. Ainda assim seu estilo e escolhas de moda são atrevidos, glamourosos e extremos incitando comentários, porque é assim que ele é e é onde o seu gosto estético se enquadra. Ele prefere se arriscar a ser ridículo posando como ele mesmo, em toda a sua glória de glitter do que adotar a opção segura e ser mais um dentre os inúmeros comuns e sem graça.

Eu não acredito que Adam seja diferente só por ser. Assim como não há desafio na sua falta de desculpas depois do AMA, simplesmente integridade. Eu não vejo isso como desafio ou uma decisão deliberada de se separar, de todas as maneiras possíveis, dos demais, através de sua aparência , música ou entrevistas. Ele simplesmente não é um cara comum. Quando ele se exibe, ou quando ele se expressa de maneiras que podem surpreender ou mesmo chocar , ele só está sendo ele mesmo. Para o deleite das senhoras do The View da ABC, que disseram que ele não era um típico “bom garoto judeu”, ele respondeu: “É que meu pescoço gira para o outro lado”. Eu acredito que ele estava falando generalizadamente sobre ser diferente, não somente sobre ser gay. Às vezes é preciso coragem para permitir que o mundo veja você girar “para o outro lado”.

Como ele vai embarcar por um certo período de tempo em viagens através do mundo para promover a sua música de maneira internacional, ele vai precisar inspirar-se nesta coragem, enquanto ele inicia um novo passo. Em alguns países que ele visitar, ele vai se beneficiar do mesmo tipo de grande exposição que ele teve no American Idol, nos Estados Unidos, meio pelo qual foi garantido a ele uma grande e imediata base de fãs; em outros, como o Reino Unido, ele estará entrando em território desconhecido.

Tendo sido dito a ele, por Paula Abdul que ele iria se tornar um ícone e por Simon Cowell que ele se transformaria numa estrela de alcance mundial, colocou uma pressão monstruosa em Adam Lambert, para que ele suceda não somente em todos os lugares do planeta, mas para que ele o faça de uma maneira mais espetacular do que qualquer um já fez em décadas. Por hora, ele parece ter a sabedoria para saber que tal sucesso está, de longe, garantido e a coragem para aceitar os riscos de qualquer jeito!

Fontes: Idol Forums e Rockstar Weekly

Tradução: Glória Conde

Compartilhar