Entrevista para a Revista Clash (Londres) – Nov/2019

Expressão Total: Adam Lambert fala sobre sua arte e fazer turnê com o Queen

O American Idol conta por que ele precisa “lutar pelo direito de isolar sua criatividade…”

Adam Lambert criou um clima em que você pode se envolver tão facilmente quanto em uma jaqueta de veludo. Entrar no seu novo disco, ‘VELVET: Side A’, é como entrar na passarela da Versace, junto ao seu pequeno companheiro canino. Traçado por linhas funky de baixo e vocais sensuais e carregado com confiança e orgulho; vai caber em você como uma luva.

O single principal, ‘Superpower’ é a introdução perfeita. “É uma música para desfilar, sim!” Adam ri. Começando lenta, a faixa inspirada na disco o vê recuperar o superpoder de ser ele mesmo depois de ser colocado em uma caixa. “Nós criamos a batida e o ritmo primeiro e ficamos tipo ‘mas o que isso faz sentir?’”, ele lembra, explicando como isso o fez querer desfilar com um objetivo e confiança.

Adam explica: “Então fizemos algo que é como um hino de empoderamento que fará as pessoas sentirem que podem fazer qualquer coisa…”

Essa noção uniu diferentes partes da vida de Adam Lambert. Faz dez anos que ele impressionou no programa de TV American Idol e desde então lançou três álbuns antes de ‘VELVET’… e colaborou com a lendária banda Queen, juntando-se a eles como vocalista em turnê e fascinando o público por todo o mundo.

“Descobri que o que tenho em comum com a maioria dos meus fãs com quem interagi on-line é que muitos deles se sentem como forasteiros e eu sempre me senti assim também”, explica Adam. “Quando eu escrevia essas músicas, isso estava sempre no fundo da minha mente e eu queria escrever músicas que eles se veriam cantando meio que como mantras.”

Ele acrescenta: “Mesmo que eu os escreva na primeira pessoa, é para todos”.

‘VELVET: Side A’ explora o expressionismo na moda, sexualidade e personalidade. É dominante, mas divertido, transbordando glamour e pingando harmonias sedosas. Estilisticamente inteligente, os ganchos doces feito açúcar tomam conta de você rapidamente. Em ‘Superpower’, ele alerta “É melhor que todas as bruxas e demônios saiam do meu caminho”, com destreza. Liso como um topete com gel, “Stranger You Are” tem uma atitude encharcada e levada pelo funk para abraçar seu eu interior; “Porque quanto mais estranho você é, eles querem mantê-lo trancado no escuro.”

As músicas são comemorativas e orgulhosas. “Ready To Run” está sob a lua cheia; é mais sombrio, como um farfalhar de fivelas de uma bota pronta para a batalha. Enquanto ‘Loverboy’ é deliciosamente kitsch, com uma linha de baixo densa e batidas que pulam como bonecos em caixas de mola e riem às suas custas à medida que ele provoca; “Se você quer ficar íntimo, é melhor não ser tão ganancioso.”

No momento mais íntimo do EP, ‘Closer To You’, é dominado pelo piano, conta as dificuldades da distância e da solidão. Notas complexas abraçam o vocal versátil e vulnerável de Lambert, enquanto ele pede que alguém entenda e veja quem ele realmente é.

O brilho arrepiante de ‘Overglow’ captura a luz e a escuridão contrastante de ‘VELVET’. Como um pincel suave, sua voz varia de um sussurro abafado a um falsete brilhante. A faixa é sensual e visceral, enquanto ele descreve um rosto sendo iluminado pelo tom neon de um telefone, que remove a conexão humana de uma interação. Com uma ironia maravilhosa, a música está pronta para a pista de dança e pede o toque da pele enquanto descreve o oposto.

Foram necessários quatro anos para compor e lançar ‘VELVET: Side A’, o que é muito creditado ao que Lambert pensa sobre a importância de os artistas sentirem que estão exercitando sua integridade artística. “É realmente fácil se envolver no jogo comercial da música e na agitação da indústria. Às vezes, a pura intenção de criar algo do coração pode se perder um pouco na confusão.” Ele diz, “é importante lutar pelo direito de isolar sua criatividade.”

Lembrando que era cauteloso ao tomar decisões com base no que era popular: “Levei um segundo para aprender a ser paciente o suficiente para encontrar meu próprio instinto com esse projeto e descobrir o que queria dizer, como queria que soasse e como eu queria divulgá-lo.” Lambert está finalmente aliviado com o fato de o disco estar pronto e disponível: “Tive que tomar muitas decisões e fazer muitas mudanças para manter a minha visão e o meu instinto.”

Falando com entusiasmo sobre sua adoração a designers que tomavam emprestadas as direções caprichosas e retrô dos anos 70, ‘VELVET…’ foi projetado como um mundo a ser explorado, com texturas táteis suaves e visões de roxo e verde. “Eu realmente queria que fosse um mundo, seu próprio mundo com seu próprio humor.”

O lado A será acompanhado do lado B no próximo ano e foi escrito como uma carta de amor para os discos de seus pais dos anos 70 e 80, que ele cresceu ouvindo. “Queria fazer algo que não soe desatualizado daqui dois anos e queria fazer algo que se espelha nos clássicos”.

Como um ícone de estilo, Lambert tem usado ternos de veludo tão confortavelmente quanto sua própria pele. Recentemente, ele apareceu no programa Strictly Come Dancing vestindo um terno de Edward Sexton.

Animado, ele conta como foi desenhado por seu alfaiate sob medida na Savile Row. Sexton é o ex-parceiro de Tommy Nutter e juntos eles desenvolveram o atual estilo favorito de Lambert; “O traje dos anos 70 com os ombros definidos e a boca do sino”, ele diz, explicando que o traje ficou famoso em pessoas como Bowie e John Lennon. “Eles são tão lindos e Edward já viu de tudo, ele é tão sábio. É incrível.”

Por dentro, os valores de ícones musicais e culturais, incluindo Prince, Madonna e David Bowie, ajudam a moldar e unir as ideologias de suas crenças e sua música. Correndo com suas inspirações como se estivesse empinando uma pipa, ‘Velvet: Lado A’ é deliciosamente atemporal. Ouvi-lo é como caminhar por um hall da fama de homenagens.

Foi em 2011, dois anos depois que ele fez o teste para o American Idol com ‘Bohemian Rhapsody’, que Lambert foi convidado para ser o vocalista convidado do Queen para uma turnê. Apresentando músicas universalmente amadas, escritas por um dos músicos mais emblemáticos de todos os tempos, Freddie Mercury, seu relacionamento com elas mudou quando ele deixou de vê-las como músicas, e passou a enxergar composições.

“Eu faço as perguntas; por que isso foi escrito? Qual era a intenção por trás disso? Além disso, apenas ouvir histórias sobre Freddie e entender como ele era, muda as coisas. Eu tendo a mantê-lo em mente quando canto muitas dessas músicas, eu as canto para ele, de certa forma.”

Ele continua: “Penso em Freddie quando canto e penso em como ele foi tirado de nós muito cedo. Eu penso sobre isso.”

Após o sucesso estelar de Bohemian Rhapsody, a cinebiografia de Freddie Mercury, o Queen começou a Rhapsody Tour pelo mundo. A turnê quase esgotada começou na América do Norte em Julho de 2019 e visita a Europa em Maio de 2020, parando no Reino Unido por cinco noites na O2 em Junho.

“As músicas são ótimas. Eu acho que as pessoas têm muita nostalgia ligada a elas e podem se lembrar delas desde a infância ou da primeira vez que foram lançadas. Existe uma forte conexão entre as músicas e o público. Todo mundo sabe todas as palavras, elas são lendárias.”

Lambert nutriu e desenvolveu uma conexão mais profunda com elas durante as apresentações e não as canta mais de forma autônoma, como muitos de nós fazemos em uma festa ou em um passeio de carro com os amigos. É “Somebody To Love” que vem à sua mente instantaneamente, no que diz respeito a poder aplicar suas próprias experiências à música.

Falando em “In The Lap Of The Gods”, ele se lembra; “Eu conhecia essa muito bem e realmente não entendia do que se tratava. Depois de conversar com Brian (May) e Roger (Taylor), poderia ser que Freddie estivesse, sabe, lutando com a identidade dele naquele momento com aquela música e imaginando, posso simplesmente sair e dizer quem e o que sou ou não? Quando Brian me deu esse insight, como um significado potencial da música, isso mudou completamente para mim. Foi realmente interessante.”

Para ser um artista, e não um cantor, “eu acho que você precisa se iluminar um pouco”, Lambert ri, um artista tem “realmente que ser sincero ao cantar [as palavras] e realmente transmitir a emoção e a energia da música e não apenas presumir que o público vai entender.”

Enquanto ele viaja pelo mundo em shows esgotados, Lambert performa o trabalho de Freddie Mercury com um carisma teatral chamativo. “Quando estou no palco, é definitivamente uma versão ampliada e exagerada de mim mesmo, eu diria. Eu costumo ficar mais arrogante quando estou no palco do que na vida, mas é tudo eu!” Ele ri, antes de confessar: “Quase sinto que é mais fácil estar no palco e me apresentar do que viver certas partes da vida real, às vezes. A vida é muito mais imprevisível.”

Se você desenterrar uma cápsula do tempo em sessenta anos e encontrar ‘VELVET: Lado A’, pode ser bastante difícil colocá-lo em 2019. Você, no entanto, ao ouvir, será transportado para um mundo fascinante feito à mão por um das estrelas pop mais emocionantes do nosso tempo, incentivando e inspirando você a ser exatamente quem você quer ser. Vamos torcer para que nosso futuro mantenha essa realidade para todos.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Stefani Banhete
Fontes: @ClashMagazine e Revista Clash

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