Review by The Globe and Mail do Show Queen + Adam Lambert em Vancouver (Canadá) – 10/07

Adam Lambert impressiona na The Rhapsody Tour com o Queen

Pode me chamar de cínica, purista, ou sem imaginação, mas tem sido difícil para mim encontrar um motivo para ir a um show do Queen liderado por alguém que não é Freddie Mercury. Sim, eu sei, Brian May; sim, Roger Taylor – o guitarrista e baterista cofundadores da banda, respectivamente – estão lá, a alma do Queen, se não o rosto (e, da parte de May, talvez o cabelo). Mas a ideia de ver Queen com alguém além de Mercury no centro do palco parecia não apenas errada, mas triste. Não como patético – um exercício de nostalgia que se agarra o dinheiro (mas isso também). Mas realmente triste. Eu realmente quero ver um pretendente ao trono enquanto também enfrento a perda terrível de um talento tão notável? Para ser sincera, eu não lutei contra esse conceito geral – o cantor vivo substituindo o morto – mas eu o descartei. Como Mercury cantou no hino anticapitalista de Queen e David Bowie, “Under Pressure”, Por quê? Por quê? Por queee?

Então, na quarta-feira em Vancouver, fui ao primeiro show da “The Rhapsody Tour”, com Queen e Adam Lambert. Lambert, que transformou seu segundo lugar no American Idol em uma carreira solo de sucesso, estava lá no lugar de Mercury, que morreu em 1991. Lambert canta com o Queen há vários anos, mas a “The Rhapsody Tour” é a primeira vez desde o lançamento do filme de 2018, “Bohemian Rhapsody”, um grande sucesso nas bilheterias e no Oscar, onde ganhou quatro estatuetas, incluindo o de melhor ator para Rami Malek.

E eu fui convencida.

Isso foi em grande parte por causa da abordagem. Lambert não nos deu uma imitação de Freddie Mercury alá Malek. Ele trouxe seu próprio toque, sua presença no palco, sua bela voz, sua ginga infecciosa. Mesmo que ele parecesse um pouco embonecado e produzido, ele não tentou nenhum tipo de imitação. Ele era ele mesmo, e com essa abordagem, Queen + Adam Lambert trouxe Freddie Mercury de volta à vida para milhares de nós – muitos de nós com idade suficiente para ter crescido ouvindo Queen, que na verdade se lembra da incrível performance no Live Aid, quase exatamente 34 anos atrás. Alguns de nossos companheiros de arena eram fãs recém-chegados, graças ao filme (e, sem dúvida, Lambert).

Lambert, usando uma sucessão de trajes brilhantes, enfeitados e exagerados, abordou o que ele chamou de “o grande elefante rosa na sala” logo no início da noite.

“Eu não sou Freddie Mercury. Eu sei; e isso é uma droga. Mas eu nunca poderia ser Freddie Mercury. Porque há apenas um deus do rock” – disse ele, para o rugido da multidão. “Ouviu isso, Freddie?”

Ele agradeceu à banda e ao público por dar essa chance a ele, e então pediu à multidão que fizesse uma promessa de que ele e os fãs celebrariam Freddie Mercury juntos.

E foi isso que tivemos: uma comemoração, uma homenagem, uma oportunidade para comungar e cantar junto com as palavras que Mercury (e seus colegas de banda) sonharam. Havia fantasmas na arena, mas eram bons – companhia boa e reconfortante.

May, que parece não ter envelhecido um minuto desde o apogeu do Queen (além do fato de que seus cachos característicos agora estão cinzentos), recebeu as mais calorosas boas-vindas e consistentemente os maiores rugidos da multidão. Sua versão solo de “Love Of My Life”, apresentada no palco B no final da passarela, soou fantástica. Outro destaque foi um solo de guitarra cósmico e prolongado durante o qual May – que tem um PhD em astrofísica – foi elevado acima do palco enquanto cometas passavam e orbes planetários giravam em torno dele.

Ele também parece um cavalheiro absoluto. “Está funcionando até agora?” May perguntou humildemente à multidão após “Love Of My Life”, explicando que era a primeira noite da turnê. Ele também prestou homenagem à equipe.

Então ele pediu à plateia para dar as boas-vindas a Taylor ao palco, “meu amigo, meu irmão.” E então Lambert, “o novo garoto da banda”.

Uma divertida versão de “Crazy Little Thing Called Love” se seguiu. Depois, Taylor assumiu o papel de Bowie para o Mercury de Lambert em “Under Pressure”, e foi quando a perda me pareceu particularmente impressionante. Bowie se foi, Mercury se foi e o que nos resta?

Bem, um legado de gênio. O riff de baixo em “Another One Bites The Dust”. O público cantando “find me somebody to love”. Lanternas de celular iluminando a Rogers Arena para “Love Of My Life”, e feixes de laser acompanham “Don’t Stop Me Now”. Mesmo “Fat Bottomed Girls” – não é minha música favorita, mas a extravagância de Lambert com movimentos de dança correspondentes certamente conquistou a plateia. Nós estávamos nos divertindo.

Houve alguns pequenos solavancos; coisas de primeira noite que te lembram que esses caras são humanos. Um holofote sobre Lambert muito cedo quando ele estava tentando uma de suas (muitas) mudanças de roupa ao lado do palco. Taylor soou um pouco áspero em “Under Pressure”. Antes do bis, eu acho que havia um vídeo de Mercury liderando a multidão com seu lendário “ay-oh”, mas você não podia ver de onde eu estava sentada. (Isso é apenas uma marola no privilégio, considerando que eu tinha um lugar excelente.)

Mas meu Deus, o bis que se seguiu foi o paraíso do rock ‘n roll: “We Will Rock You” e “We Are The Champions”, com todos de pé cantando junto e balançando e agitando os braços.

O ponto alto da noite, pouco antes do bis, era inteiramente previsível e ainda um choque de admiração. Eu nunca vou deixar de me emocionar com o gênio e a extraordinária inovação de “Bohemian Rhapsody”, nunca. Mas ouvir a música ao vivo e cantar junto com milhares de pessoas que também sabiam cada palavra, foi incrível. E enquanto durante a maior parte da noite as projeções de vídeo eram inúteis, beirando o irritante, o uso do vídeo original do “Bohemian Rhapsody” durante essa performance foi uma integração inspirada do passado e do presente. O que Freddie Mercury teria achado dos celulares iluminando o lugar para sua estranha e incrível música de rock operístico? “Nada realmente importa”, todos nós cantamos. Mas todos sabemos que importa. Qualquer um pode ver.

Queen + Adam Lambert toca no Scotiabank Arena em Toronto em 28 de Julho.

Autoria do Post: Josy Loos
Tradução: Stefani Banhete
Fonte: The Globe and Mail

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