Team Rock: “Brian May e Roger Taylor, com o príncipe coroado Adam Lambert, explicam porquê eles estão mantendo o legado da banda vivo”

Confiram abaixo a interessante entrevista dada por Queen + Adam Lambert à Team Rock, publicada neste sábado (20):

Você não pode substituir Freddie Mercury. Mas as vésperas de uma turnê, Brian May e Roger Taylor, com o príncipe coroado Adam Lambert, explicam porquê eles estão mantendo o legado da banda vivo

“Minhas músicas são como lâminas da BIC”, Freddie Mercury declarou no início do Queen. “Para diversão, para o consumo moderno. Você ouve, gosta e a descarta. Pop descartável.” Mas 23 anos após sua morte, o álbum mais recente da banda é intitulado “Queen Forever”. E os dois membros restantes da banda, o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor, reconhecem que, para eles, o título é verdadeiro.

“Eu entendo as pessoas que dizem: ‘Não há Queen sem Freddie'” Taylor admite, “porque foi isso que sentimos após sua morte. Nós três dissemos: ‘Esse é o fim da banda.’ Mas a banda não pareceu morrer.”

May agora acredita que deixar o Queen morrer com seu vocalista seria uma ideia errada desde o começo. “Mesmo com Roger e eu estando convencidos de que havia acabado, isso não aconteceu.”

A máquina Queen esteve em seu ponto mais alto da última década durante os últimos 12 meses. “Queen Forever” tem três faixas vocais esquecidas de Mercury, junto de uma coleção de baladas negligenciadas, para aumentar o interesse em seu catálogo mais antigo. O Queen foi a banda do ano no “Classic Rock’s Roll Of Honour”, após uma turnê triunfante nos EUA, Ásia e Austrália com o novo cantor, Adam Lambert. As performances extravagantes e sucesso solo de Adam Lambert desde que participou do American Idol, em 2009 (quando se apresentou pela primeira vez com o Queen), ajudou a banda a ir mais longe.

May e Taylor ainda têm reuniões regulares da banda. Agora eles e Lambert estão se preparando para voltar à estrada com a primeira turnê europeia completa do Queen + Adam Lambert, enquanto divulgam o legado do falecido vocalista com “Queen Forever”. É uma vida estranha que começou em 1995 com o álbum póstumo com Mercury, “Made In Heaven”, que teve quatro turnês e o álbum de 2008 com o vocalista Paul Rodgers, “The Cosmos Rocks”, e não parece que isso irá acabar. As músicas clássicas do Queen continuam ganhando vida.

Mas, como May e Taylor admitem, eles não esperam que o que eles fazem agora se iguale ao que faziam com Mercury.

Brian May, sonolento após uma viagem para Paris, liga para a “Classic Rock” pelo celular, assim como Lambert. Taylor nos encontra no estúdio de sua casa. Sua mansão pode ser vista atrás das árvores. Vestido casualmente, com seu cabelo e barba brancos, o baterista do Queen foi direto sobre o futuro.

“Eu fiquei feliz por termos três novas faixas para colocar, e trabalhamos muito nelas” ele disse. “Além da música de Michael Jackson, ‘There Must Be More To Life Than This’, há outra música que Freddie fez com ele chamada ‘State Of Shock’ (que depois foi gravada com The Jacksons e Mick Jagger), com muito rock. Mas só podíamos ter uma faixa com Michael, o que é uma pena. ‘Let Me In Your Heart’ é uma música típica do Queen. E foi uma ideia do Brian revisitar ‘Love Kills’, que eu acho que funciona. Mas tirando isso, é uma mistura de nosso material mais lento. Eu não queria a versão dupla do álbum que fizeram. É trabalho demais, e é triste! Eu também não chamaria isso de um álbum. É uma compilação com três novas faixas. É mais uma confecção da gravadora. Não é um álbum verdadeiro do Queen.”

“Eu entendo o lado de Roger” May ri. “Ele não escreve baladas, então esse álbum não o representa. Não foi uma ideia nossa. Se dependesse de mim eu faria um EP com essas novas músicas, mas nós já havíamos prometido à gravadora que faríamos uma compilação.”

May ainda tinha sentimentos fortes ouvindo a voz de Mercury novamente em faixas redescobertas. “Tem sempre um momento” ele disse. “Particularmente com ‘Let Me In Your Heart Again’. Quando eu ponho a faixa original, soa espantosamente real, como se tivesse sido gravado naquela manhã. Eu fiquei emocionado com a forma que Freddie cantava. É como achar gravações de seus pais depois que eles se foram. E depois vira algo legal. Antigamente, geralmente era eu que ouvia as músicas que Freddie havia terminado. É confortante estar de volta naquela situação. É como se Freddie ainda estivesse aqui.”

Essas três faixas são a última parte ativa de Freddie Mercury na história do Queen?

“De certa forma ele sempre está ativo, não importa o que estejamos fazendo”, May acredita, “porque acho que não conseguimos fazer nada sem Freddie ser parte disso. Nós estivemos em turnê nos EUA com Adam Lambert, e Freddie estava lá, por causa da letra, e das performances originais que usamos como modelo. Mas há muito mais, porque usamos vídeos. É bom sentir que ele faz parte disso, sem encher de nostalgia. Eu acho que fazemos isso com cuidado.”

“Nunca haverá outro e eu não estou tentando substituí-lo”, Adam Lambert explica. “Não é isso que estou fazendo. Eu estou tentando manter a memória viva e lembrar as pessoas de quão fantástico ele era, sem imitá-lo. Eu estou tentando compartilhar com a audiência o quanto ele me inspirou.”

A energia jovial de Lambert, o grande alcance vocal e fama nos EUA revitalizaram a banda no país durante o último ano. As músicas clássicas do Queen já ganharam uma nova audiência em programas de TV e filmes, de “Bohemiam Rhapsody” em Quanto Mais Idiota Melhor até “Somebody To Love” em Glee.

“É grande lá agora” May concorda. “O que mudou é que Adam é a primeira pessoa que encontramos que consegue fazer todo o catálogo do Queen sem piscar. Ele tem o alcance e afinidade com a extravagância que Freddie tinha. Você vê nos shows as pessoas sendo um pouco mais reservadas no início: ‘Por que estamos vendo esse cara do American Idol cantando músicas do Queen?’ Depois de três músicas eles entendem. Eles riem, choram e é um show do Queen da mesma forma que era antes. Eu não acho que Freddie se importaria que eu diga isso, ou que eu esteja sendo desleal a Freddie. Adam tem o instrumento e consegue fazer isso.”

Muitos cantores entraram no lugar de Mercury desde sua morte, desde o roqueiro Paul Rodgers até a popstar Jessie J na cerimônia final das Olimpíadas. Mas Lambert tem um vantagem: ele é extravagantemente gay, como Mercury. Isso parece dar às suas performances uma conexão autêntica com Mercury, que faltava no Queen desde 1991.

“Tudo o que sei é que sua teatralidade e extravagância funciona com nossa música” Taylor diz. “Ele é bem teatral e exagerado, é grande. Ele não esconde sua teatralidade, e ele vai para o palco como um homem abertamente gay – não há nenhuma pretensão. Então sim, talvez!”

“É um questionamento engraçado”, diz May. “Mas às vezes eu me pego perguntando isso também, porque muitos dos grandes músicos eram gays. Eu me pergunto se há alguma mágica nisso. Há um certo mistério nisso. Mas nós estamos familiarizados com isso, e sexualidade nunca foi um problema. Mesmo as pessoas pensando em Adam como sendo do American Idol, ele tem um passado no teatro. Essa é outra conexão, porque Freddie também tinha muito disso.”

“Eu acho que isso ajuda algumas pessoas a me entenderem melhor” Lambert diz. “Talvez isso ajude a entender meu senso de humor, ou a me colocar em uma categoria similar à de Freddie. Então sim, isso pode dar uma certa permissão para gostar de mim, porque estou sendo comparado a alguém que eles sabem que é aceito. Eu não acho que ser gay é um tabu agora. As pessoas superaram isso.”

Esse certamente não era o caso quando Mercury mudou sua imagem com o álbum dos anos 80, “The Game”: de um roqueiro de cabelo comprido do início da banda para um look mais gay com um bigode. “The Game” foi o último álbum hit nos EUA.

“Nos EUA, a sexualidade de Freddie nos prejudicou” Taylor admite. “Nós víamos as pessoas jogando lâminas de barbear no palco quando o bigode apareceu, o que era um look gay icônico na época. E [em 1984] a MTV não passava ‘I Want To Break Free’ quando estávamos todos de drag. Era uma estação bem conservadora na época.”

May diz que Lambert é “um presente de Deus”, e a única razão pela qual o Queen está tocando agora. Taylor descreve sua voz como “uma em um bilhão”. Seu respeito mútuo aumentou o panorama de novas músicas do Queen. Mas depois de “The Cosmos Rocks”, o par veterano do Queen está sendo cauteloso em relação a essa rota. Quando eu falei com Paul Rodgers em 2014, ele deixou claro sua infelicidade com a experiência. “Politicamente, Brian e Roger decidiam o que seria feito”, ele lembra. “Nós fizemos alguns ótimos shows, e Roger tinha algumas músicas, mas poderia ter sido melhor.”

É acho que sim” Taylor considera. “Eu tive muito a ver com aquele álbum. Foi feito nessa sala. Tinha um material ótimo. Eu acho que é porque Paul é mais blues e soul – e um dos meus cantores favoritos – mas ele não era o vocalista perfeito para nós. Eu senti que o álbum foi mal promovido pela EMI, que estava falindo na época. Nós fizemos uma turnê na Europa, e eu entrava nas lojas de músicas e o álbum não estava lá. E eu lembro de ficar furioso e pensar: ‘Por que fizemos isso?'”

“Isso certamente nos fez pensar duas vezes sobre fazer um álbum do Queen com outro cantor”, ele acrescenta. “Há uma certa resistência do público sobre essa ideia, porque Freddie era muito ligado a nós. Quando você perde a marca, as pessoas perdem o interesse. É por isso que álbuns solo do Freddie, ou do Mick Jagger, ou meus, não baterão nenhum recorde de vendas. As pessoas querem a marca. É uma palavra horrível mas adequada.”

“Eu não sou contra gravarmos novamente,” May diz. “Mas nós não discutimos isso. E nós passamos muito tempo fazendo aquele álbum com Paul Rodgers, passando por muita dor, e eu não acho que o público ficou sabendo disso. Então eu seria cauteloso sobre fazer um grupo chamado Queen sem Freddie. Talvez devêssemos fazer outra coisa com Adam. Talvez devêssemos fazer parte de seu futuro.”

Lambert, com um terceiro álbum solo para terminar e uma carreira de sucesso solo para continuar, assim que a turnê acabar, também reconhece a falta de compromisso. “Eu estou honrado de trabalhar com o grupo”, ele diz. “É um compromisso limitado, único na vida. Ir para o estúdio e criar novas músicas nos chamando de Queen é uma situação diferente.”

“Vou dizer uma coisa. Se tivermos o material, eu não faria com nenhum outro cantor que não Adam, porque ele é perfeito com o Queen. Ele tem o alcance e o talento. Eu não sou contra dar uma chance à isso.” diz Taylor.

Taylor sabe, entretanto, que ele e May nunca terão um colaborador tão forte quanto Mercury novamente. Com o baixista John Deacon aposentado desde 1997, a dupla é o Queen, e com quem eles trabalham não é.

“Você está certo” Taylor conclui. “Com Freddie éramos contemporâneos. Eu não acho que ninguém que entre em nosso grupo será assim. Mas nós respeitamos as ideias de Adam. Ele é incrivelmente musical, e nós levamos a sério tudo o que ele diz.”

A perda de Mercury enfraquece qualquer material novo do Queen no futuro?

“Bom, nós perdemos o melhor e o mais primordial compositor”, Taylor diz. “Nós todos escrevemos músicas, mas Freddie nasceu para isso. Ele nos surpreendia constantemente. Eu ainda não sei de onde algumas de suas letras vieram, elas são inteligentes, quase como Cole Porter. Eu nunca vi Freddie lendo um livro, mas ele sabia de muitas informações. É por isso que Brian e eu não fizemos novas músicas desde sua morte, porque sabemos que não estaríamos trazendo todo o potencial. Eu suspeito de que Adam consegue tapar um pouco desse buraco, mas nós não escrevemos nada com ele ainda. Nós nem chegamos a discutir isso entre nós.”

Taylor acredita que ele e May perderam um pouco da tensão criativa que havia nos anos 70 e 80. “Não é a mesma coisa de quando éramos quatro. Sabíamos quais eram nossos pontos fortes.”

Seus extremos musicais também se foram. “Freddie dizia: ‘Muito longe não é longe o suficiente!'”, relembra Taylor. “Nós gostaríamos de expandir as barreiras do Queen, se pudéssemos. Mas não acho que faremos isso agora. Somos bons no que fazemos. Somos prisioneiros do material que fizemos, eu suponho. E não é uma prisão ruim.”

“Nós não gravamos juntos há muito tempo, não sei como seria agora”, May diz. “O Queen lutava, às vezes destrutivamente, e com isso veio uma grande força. Roger e eu ainda discordamos sobre quase tudo no universo, mas acho que amadurecemos. Nós sabemos a hora de parar, apesar de ser difícil para os dois. Somos como irmãos. Nós temos discussões via email, e a coisa fica feia lá, geralmente sobre música, o que eu acho que significa que ainda nos importamos.”

Enquanto May e Taylor se preparam para outra turnê, décadas após eles acharem que acabou, eles veêm algum fim natural para o Queen? Ou a música que eles fizeram quando jovens se tornou um trabalho para a vida toda?

“Ah, definitivamente”, Taylor diz. “Chega um ponto em que você pensa: ‘Não pense no que vem depois, porque é isso que você faz – é isso que você é.’ Nós somos intrinsecamente ligados a essa música. E eu amo participar da banda. Enquanto estivermos aptos, eu não vejo motivos para pararmos.”

“Durante a primeira metade do Queen”, May relembra, “nós pensávamos ‘Eu estou fazendo isso agora, mas o resto da minha vida pode ser diferente.’ Mas foi isso que fiz com a minha vida. Eu fui um artista, guitarrista, compositor, produtor… e eu estou orgulhoso disso.”

“Eu também virei um ser humano mais balanceado em relação a quando éramos estrelas do rock em turnê durante nove meses do ano e gravando por três”, ele acrescenta. “Eu deixei mais coisas entrarem na minha vida. Agora eu trabalho defendendo animais, e com astronomia e estereoscopia. Mas quando o Queen chama, tudo vai para o segundo plano.

“Eu acho que isso ainda funciona não porque precisamos fazer isso, mas por termos o desejo de fazer grandes coisas. Isso nunca foi embora. Como quando tocamos no telhado do Buckingham Palace [para o Golden Jubilee em 2002]. Freddie não estava lá, é claro, mas isso fez parte do mesmo desejo de fazer coisas fabulosas acontecerem. E nós não conseguiríamos fazer isso com Adam se isso não nos animasse.”

“Brian está envolvido em tantas coisas, e ele protege todo tipo de animal com pelos; nada para os insetos por enquanto”, Taylor ri. “E eu amo andar de barco, dar alguns tiros, onde eu tenho vários outros amigos. Então, de qualquer maneira, minha agenda está cheia. Mas é para ter aquela segurança, para não ser inútil. Mas para tocar você precisa de um grande vocalista. E você precisa de uma arena lotada. Se não, esqueça. Se sentíssemos que estamos lutando e as pessoas estão nos largando, eu não faria isso. Eu odiaria que a banda fracassasse. Esse seria o fim, não seria?

Caso queira conferir o artigo original em inglês mais as fotos deste artigo, clique aqui.

Autoria do Post: Graça Vilar
Tradução: Carol Martins C.
Fontes: Adam Lambert TV e Team Rock

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