The Sunday Star Times da Nova Zelândia entrevista Adam Lambert: “O Fantasma de Freddie Mercury”

No último show realizado em Toronto (Canadá) em 28/07, Grant Smithies do Jornal The Sunday Star Times da Nova Zelândia, entrevistou Adam Lambert antes do show iniciar. Confira como foi a entrevista, publicada no site de notícias Stuff:

PRESENÇA DE PALCO: Adam Lambert cumpre a promessa e substitui Freddie Mercury à altura

O fantasma de Freddie Mercury

Quão estranho é ser Adam Lambert. Ele é uma estrela pop global por mérito próprio, agora está numa turnê, fazendo o papel de substituto de um fantasma.

Em 2009, Lambert foi vice-campeão do American Idol. Desde então, ele chegou ao topo das paradas de singles dos EUA, e fez dois álbuns que venderam alguns milhões de cópias. Sua carreira solo se enraizou em lugares inesperados: em 2012, ele foi o único ocidental convidado para cantar no programa de TV mais popular da China, para 520 milhões de telespectadores. Mas nos últimos anos, ele tornou-se mais conhecido por encarnar o papel de um morto e sair em turnê como vocalista do Queen.

De alguma forma faz todo o sentido. Como um gay extravagante com abundante charme, uma voz de arrasar e uma inclinação para a teatralidade glam, ele já tem três quartos do que é preciso, mas ele não é Freddie Mercury.

“É verdade“, concorda Lambert, nos bastidores em um camarim de Toronto, se preparando para um show esgotado do Queen. “Fiquei extremamente apreensivo nas primeiras vezes em que me apresentei com a banda, porque eu estava muito intimidado por seu legado. Freddie Mercury foi um vocalista tão icônico, uma estrela em vida, e suas músicas são fabulosas. Além disso, você tem Brian [May] na guitarra e Roger [Taylor] na bateria, que são tão grandes músicos. Mas eles me fizeram sentir confortável, e nós nos divertimos. Me apresentar com esses caras é uma aventura incrível. Isso está me fazendo um intérprete melhor ao vivo, e também me faz pensar sobre o tipo de artista que eu poderia vir a ser.”

Como é que ele se juntou a turnê? “Quando eu fiz a final do American Idol, o Queen foi convidado a se apresentar comigo, porque eu tinha cantado ‘Bohemian Rhapsody’ em meu teste inicial. Parece ter sido uma conexão natural muito boa, então mantivemos contato, aí eu fiz o MTV Awards e me apresentei em alguns estádios com eles há dois anos na Europa, incluindo o Hammersmith Apollo, que era um antigo reduto deles. Nós nos divertimos muito e queríamos fazer isso de novo, então aqui estamos nós, na nossa mais longa turnê até agora.”

As reviews têm sido fantásticas, elogiando Lambert por “revitalizar a franquia”, colocando sua própria marca sobre as músicas enquanto canaliza a energia e sagacidade naturais do saudoso Mercury.

Têm-se visto grandes fotos do jovem cheio de sede [de fama] aos 32 anos, a andar pelos enormes palcos e a deitar-se num sofá de veludo roxo, usando uma coroa dourada, em triunfantes, joviais e ágeis poses, ao lado do guitarrista da formação original, agora com 67 anos, com o seu glamouroso cabelo afro de caracóis cinzentos.

Para complementar o show temos Roger Taylor, de 65 anos, com sua bombástica bateria e ao seu lado o seu filho, Rufus Tiger Taylor, de 23 anos, tocando junto. O baixista Neil Fairclough está substituindo John Deacon, que se afastou em 1997.

Ao longo do show, Lambert se transforma através de meia dúzia de mudanças de figurino, em couro, lycra e estampa de leopardo, modas clássicas dos dias de Freddie. Em uma boa noite, com mais luzes do que muitas cidades do terceiro mundo e os hinos familiares cantados um após o outro, imagino que o efeito tenha sido espetacular, especialmente quando visto através dos olhos dos antigos fãs enevoados de nostalgia.

Mas deve ter sido uma apresentação difícil, análoga, talvez, como os shows realizados por The Doors ou INXS uma vez que seus vocalistas já morreram. Nem todo mundo aprova. Alguns fãs permanecem indignados que May e Taylor continuem a se apresentar sob a bandeira Queen, sem Mercury, e a dupla foi muito criticada após turnês anteriores lideradas pelo ex-vocalista da Bad [Company], Paul Rodgers. O que presume-se, coloca muita pressão sobre Lambert.

Como é que Adam prova que os shows não são uma estratégia de karaokê para se ganhar dinheiro?

“Se Freddie Mercury me deixou uma posição fabulosa para assumir? Claro. É por isso que eu uso coisas fabulosas na turnê. Mas, felizmente, Freddie e eu temos algumas coisas em comum. Nós somos cantores, grandes, altos, mas as nossas vozes são diferentes, assim, encontrar a minha própria voz nas canções foi um desafio interessante. É importante colocar a minha própria marca nelas, sem me afastar muito das originais. A chave é ser consciente da intenção original das músicas. Qual é o núcleo emocional desta canção? Que sentimento quer tentar despertar no ouvinte? Eu tento focar nisso.”

Lambert é um dos únicos cantores masculinos da atualidade que consegue se igualar a Mercury vocalmente. Nascido em Indiana, criado na Califórnia, ele tem uma variedade vocal impressionante, mudando de oitavas com pequeníssima perda de energia, e conseguindo atingir notas acima de dó maior. Meat Loaf disse, em 2012, que apenas duas pessoas conseguem igualarem-se a Adam: Aretha Franklin e Whitney Houston.

Ele cresceu participando de teatro musical, ele diz, e tinha apenas nove anos quando Mercury morreu de uma doença relacionada à Aids em 1991. “Quando eu era pequeno, eu não ouvia muito rock, mas me apaixonei por rock por volta dos meus 20 anos, quando eu ouvi os discos antigos do Queen, e me ocorreu o quanto original eles eram. O que os diferencia de um monte de outras bandas icônicas é a sua diversidade. Há músicas funk, alguns heavy blues-rock, melodias pop, cativantes, músicas do glam-rock, teatrais, peças barrocas de opereta – eles realmente diversificam musicalmente”.

Mas durante os anos 80, com o incentivo de seus companheiros de banda, Mercury ficou mais aberto sobre sua homossexualidade, e o Queen ajudou a cultura gay a desbravar o mundo pop musical. Como um dos poucos astros pop da América abertamente gay, Lambert aprovaria a política da banda, assim como a sua música?

“Eu aprovo. Mas a coisa engraçada sobre a conexão gay com Freddie é que, apesar do fato de que há um monte de referências veladas à sua sexualidade em suas letras, a maioria das pessoas estavam totalmente perdidas naquele momento. A única coisa que foi descaradamente ligada à comunidade gay foi um dos looks que ele apresentou, como o chapéu preto de couro, óculos de sol e bigode, que era um look fundamental no início dos anos 80 no cenário gay, em Nova York. Mas um monte de coisas que ele estava fazendo na década de 70 não foram consideradas gay, porque o glam rock já havia sido tocado com um monte de convenções de gênero. Pessoas como David Bowie, Lou Reed e Marc Bolan, todos mostravam looks andróginos, fossem eles gays ou não. Para a maioria deles, era apenas um look.”

O que ele realmente gostava, diz Lambert, era a capacidade de Mercury de ir “ao extremo” sem alienar seu público.

“Às vezes essa ideia de dualidade confunde as pessoas na mídia de hoje. Eles nem sempre conseguem enxergar o fato de que o melodrama pode ser fabulosamente divertido. Mas eu realmente amo artistas que vão por esse caminho, e vão com convicção. Freddie era um mestre nisso. infelizmente, muitas bandas de rock contemporâneas perderam essa habilidade, no entanto, a teatralidade ainda vive com muitos artistas modernos, do sexo feminino com mudanças de figurino, dançarinos, e encenação temática elaborada – que é o que a música pop moderna é, e o Queen ajudou a criar o ambiente para isso.”

Lambert precisa ir. Ele estará no palco em menos de uma hora, e ele tem alguns couros apertados para se contorcer neles. Depois de 30 minutos em sua calma e pensativa companhia, eu fiquei muito menos crítico sobre ele ir para o trono.

Afinal de contas temos de admirar alguém que assume um papel tão controverso sem nenhuma ironia. Lambert parece ter abraçado com sinceridade seu papel como um dos últimos substitutos de Mercury, não tentando copiar diretamente o homem, ao usar sua própria voz poderosa para celebrar a vida de um artista inspirador.

Há ainda um dueto póstumo; em um ponto, no show, Lambert troca versos com imagens em vídeo de Mercury, cantando “Bohemian Rhapsody” ao vivo no Estádio de Wembley, durante a década de 1980.

“Eu digo que vai ser muito bom na Nova Zelândia. A turnê até agora tem sido uma explosão, com o público indo absolutamente à loucura. Há muita nostalgia mas eu não me importo. A ideia desta turnê, realmente, é lembrar ao público do legado desta banda. Mesmo eu sendo um novo vocalista para eles, nós não queríamos fazer uma nova versão do Queen, mas apenas lembrar às pessoas o quanto tudo foi fantástico, sobre eles, em primeiro lugar.”

Fontes: Adam Lambert TV e Stuff

Tradução: Luisa Guedes e Graça Vilar

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