Artigo Completo de Adam Lambert da Revista Instinct – Maio/2012

Conforme já publicamos aqui, Adam Lambert é capa da Revista Instinct do mês de Maio. Confira abaixo o artigo completo traduzido sobre Adam:

Adam Lambert convida seus fãs a invadir seu universo como nunca aconteceu antes em seu álbum “Trespassing”…

A vida é boa para Adam Lambert. O candidato ao Grammy continua sendo um dos concorrentes que mais vendem na extensa e variada lista do American Idol. Sua base de fãs, carinhosamente chamados de “Glamberts”, é bem conhecida por sua devoção. Seu currículo é sólido e em pé de igualdade com as divas queridas regularmente divinizadas pela comunidade gay. No entanto, inexplicavelmente, os homens gays não têm exatamente corrido para celebrar uma das nossas representações internacionais mais visíveis com o mesmo fervor dos contemporâneos femininos de Lambert. Com “Trespassing” definido para difundir uma inovadora perspectiva masculina gay nas ondas de rádio, a nível mundial, Lambert se conecta com seu coração como nunca e espera que, por sua vez, a sua música irá se conectar com sua comunidade.

O artista sincero, um dos poucos assumidamente gays a ter assinado com uma grande gravadora norte-americana, não se esquivou de falar sobre como ele vê a ilusória demografia gay, desde o início e sem aviso, quando ele se sentou para bater papo com a Instinct.

“Como uma comunidade, somos um pouco resistentes a aceitar uma estrela pop masculina homossexual”, diz Lambert. Ele está confiante. Sua entrega indica que ele passou algum tempo pensando sobre o assunto. “É muito fácil para as pessoas olharem para minha origem, que é o American Idol, e automaticamente assumir que eu sou um artista com casa lotada ou um fantoche ou um sucesso passageiro. Eu acho que não sou nenhuma dessas coisas.”

Um riso, marinado em tensão, o inspira a ficar um pouco mais pessoal.

“Há algo de estranho nisso. Estamos muito ansiosos por celebrar uma mulher forte.

Mas para celebrar um homossexual semelhante – é malicioso.”

Lambert sempre seguiu seu próprio ritmo, mas em “Trespassing” ele vai além de sua estreia no pop-rock, “For Your Entertainment”, para se juntar a essas célebres “mulheres fortes” nas pistas de dança. Sua jornada evolutiva em direção a um som gay dance mais amigável, não é uma tática de engenharia elaborado por uma equipe de marketing ou grupos focais realizada em Chelsea ou WeHo. É autenticamente Adam.

“Este é o tipo de música que eu escuto. Eu sei que o estilo de vocal que eu tenho é meio grande. Isso traz uma certa vantagem. Sempre gostei de música rock, mas também adoro material “mais groove” [ver nota 1], funky, soul e dance.”

A sua paixão pelo gênero é evidente no momento do four-on-the-floor [ver nota 2] na bateria, presente na sua nova faixa “Cuckoo”, conjugado com a sua voz inconfundível. Com um sabor do que será a aclamada “nova era do Adam Lambert”, o provérbio dos autocolantes dos anos 90 contra a música eletrônica, “Baterias eletrônicas não têm alma”, são rasgados em pedaços. O elevado timbre de tenor do cantor respira agilmente a nova vida na pop/dance, um nicho frequentemente abastardado pelo som manufaturado e com auto-tunes [ver nota 3]. A magia não perde o ritmo com outras ofertas como “Chokehold”, “Never Close Our Eyes” com Bruno Mars, e “Trespassing”, a faixa-título produzida pelo célebre artista de um só nome, Pharrel. Aqui, em “Trespassing” a bateria eletrônica tem alma. E outros gêneros que pensamos ser distintos, como funk e rock – que Lambert ‘casou’ com a música dance – também.

Como em “For Your Entertainment”, a constelação de estrelas reunidas em colaboração para o segundo álbum de Lambert, mostra quem é quem nessa indústria. Mas Pharrel se destaca. Até mesmo Lambert foi pego de surpresa quando a gravadora sugeriu a parceria. “Quando eles confirmaram isso, eu me senti como ‘Eu não sou bom o suficiente para fazer isso. Será que vai funcionar?'”

À medida que os inúmeros fãs fizeram da #equipeTrespassing uma hastag popular no Twitter, no mês passado, demonstrou que isso funciona. Se “For Your Entertainment” foi em grande parte produzida por pop-rock de pesos pesados (como Linda Perry e Pink) que deram ao mundo o Adam Lambert que todos esperavam ouvir, “Trespassing” é rico em talentos, o que ajudou o cantor a fazer aflorar a sua essência. Desta vez, é para seu entretenimento.

Quando Lambert documenta a evolução de seu primeiro álbum para o segundo, a energia cinética que sua voz carrega torna-se explosivamente contagiosa, como sua nova música. “Acho que foi realmente emocionante sair do American Idol, porque eu estava quase sensacionalista de alguma maneira”, diz ele, brilhando. “Felizmente eu tinha um álbum que era forte e tinha uma música como ‘Whataya Want From Me’, que acabou indo muito bem. Se houvesse mais tempo gasto no álbum, provavelmente teria mais singles lançados. Com este álbum, [Trespassing], eu sinto que há singles para dias e há uma gama muito maior. Eu acho que ele irá se conectar mais com as pessoas porque eu fui mais ligado ao material, porque eu escrevi a maior parte dele.”

A profunda conexão que Lambert explora em seu novo trabalho, marca como provavelmente a primeira vez que o mundo ouve a música de um artista gay masculino importante sobre temas gays em canções destinadas ao rádio. Claro, ser pioneiro na caravana estranha através do “West Wild” implacável da indústria musical, não é uma tarefa nova para a estrela, desde quando se revelou publicamente na revista “Rolling Stone”, em 2009, ele enfrentou tudo de cabeça erguida. “Eu sinto que é um caminho desconhecido porque eu não tenho um plano. É emocionante, e de certa forma significa que eu posso escrever minhas próprias regras”. Mas, com lições de seu passado em mente, a transformação “Trespassing” mostra Lambert mais confortável para expressar na música uma clara experiência gay masculina.

“Sobre o álbum é que existem nele músicas e momentos que são muito específicos para a comunidade gay. Se você é um membro da comunidade, você pensa: ‘Sim, eu sei do que ele está falando!’. Mas no final o que eu gostaria de realizar com este álbum é provar que não importa que eu seja gay – todos têm as mesmas esperanças, medos ou desejos. De certa maneira, o álbum é uma espécie de pós-gay, e ele está dizendo: ‘Todos nós nos sentimos dessa forma’.”

O amor é um dos temas universais e a referência em que Lambert baseia seu novo material, mas o tratamento que a sociedade dominante dá ao amor entre pessoas do mesmo sexo ainda não condiz com os padrões “pós-gay” de “Trespassing”. É um novo território para o cantor, presente em sua música e em sua vida.

“Eu estava finalmente feliz em um relacionamento e no amor”, diz ele sobre o encontro de seu namorado, durante a gravação de “Trespassing”. “É muito estranho. Uma vez que você tem a sorte de encontrar o amor – que é bastante difícil, sendo um homem gay, na minha opinião – você pode pensar que é a linha de chegada. Uma vez que você está lá, como sociedade, ainda tem muito trabalho a fazer. Ainda temos caminhos a percorrer. E eu pensei que era difícil o suficiente ser solteiro!”, ele ri.

Lambert – como qualquer um que tivesse um computador com alcance do canal TMZ, no ano passado – encontrou o amor com o astro de um reality Finlandês (o vencedor da versão finlandesa do “Big Brother” em 2007) e personalidade da TV, Sauli Koskinem. O par se encontrou em um bar na Finlândia, enquanto Lambert estava na cidade para uma conferência de imprensa no final de 2010. Eles mantiveram contato depois que ele deixou o país. Lambert recebeu uma mensagem logo após, que parece ter selado o acordo. “Ele me mandou uma mensagem uma semana depois para dizer: ‘A propósito, eu sou uma celebridade na Finlândia’. Então ficamos em contato.”

O casal conseguiu ficar forte, apesar das 24 horas de vigilância dos paparazzi, e isso é a prova de seu vínculo. Em dezembro, os namorados foram alvo de manchetes internacionais quando foram presos por uma briga do lado de fora de um bar de Helsinki. Lambert encarou o dilúvio resultante na imprensa mundial, com uma equação atrevida via Twitter:

Jetlag + vodka = blackout [Jetlag + vodka = apagão] Us / blackout = irrational confusion [Nós / apagão = confusão irracional] jail + guilt + press = learned lesson [cadeia + culpa + imprensa = lição aprendida] Sauli + Adam + hangover = laughing bout it [Sauli + Adam + ressaca = rindo sobre isso]

Quando questionado sobre como Sauli lida com o microscópio de celebridade que apenas poucos casais gays em todo o mundo têm sobre si, Lambert replica que “Ele lida muito bem! Ele tem um ótimo senso de humor e não leva nada muito a sério”.

“Tem sido incrível entrar nesse novo capítulo da minha vida” – acrescenta ele, referindo-se a sua relação – “Eu estava nervoso, porque eu percebi que iria acrescentar uma camada extra de tensão ao meu relacionamento, e uma das coisas que inicialmente me atraiu nele, foi que isso não parece perturbá-lo.”

Apesar do orgulho gay de seu novo álbum, não espere que Lambert explore diretamente o amor compartilhado com Sauli em um vídeo tão cedo. Em um recente “Q&A”, um fã perguntou se o cantor está pronto para lançar um vídeoclip baseado em uma história de amor gay do sexo masculino. “Eu gostaria de acreditar que chegamos lá, mas vamos ser honestos, agora,” – diz ele em uma versão truncada da resposta que ele dispensa ao evento – “nós não chegamos lá ainda.”

A resposta honesta deu a Lambert uma pausa.

“No momento em que eu disse isso, eu pensei: ‘Eu vou me complicar por isso.’ Eu quero que estejamos prontos, e talvez, eventualmente, ainda estaremos. Eu quero trabalhar na direção de algo assim, mas para ser completamente honesto, tem muito caminho a percorrer para isso.”

Ele vivenciou em primeira mão como a maioria da população fica mais machista frente a uma ação televisionada depois de beijar um dos integrantes da banda no AMA, em 2009. Ainda assim, o cantor-compositor compromete-se a continuar forjando o caminho para o abertamente gay.

“Se temos de comparar nossa situação atual para o movimento de direitos civis Afro-Americano, há a metade (da comunidade gay) que faz protestos pacíficos. E há a escola de pensamentos Malcolm X. Às vezes eu quero ser uma Pantera Negra sobre ser um homem gay, e às vezes eu quero ser o Dr. King.”

Isto é exemplificado em uma das seleções mais reflexivas de “Trespassing”, que é, “Outlaws Of Love”. O título pode sugerir Malcolm X, mas a alma da canção invoca Dr. King. Lambert estreou a nova faixa em Agosto para estridentes fãs ávidos por música nova.

Tears all fall the same (Lágrimas caem para todos igualmente)
We all feel the rain (Todos nós sentimos a chuva)
We can’t change (Nós não podemos mudar)

They say we’ll rot in hell (Eles dizem que nós vamos apodrecer no inferno)
But I don’t think we will (Mas eu não acho que vamos)
They’ve branded us enough (Eles nos estigmatizaram o suficiente)
Outlaws of love(Foras da lei do amor)

Escrita no verão de 2010, Lambert confirma que os holofotes da mídia sobre a luta LGBT pela igualdade o compeliu a escrever uma canção franca sobre a comunidade. “Eu me tornei mais consciente com a questão do casamento gay chegando, o assédio moral e todas essas dificuldades que a comunidade enfrenta, esses obstáculos que temos.”

O “bullying” tem sido uma questão bem próxima do coração de Lambert desde o início de sua carreira. Em 2010, ele filmou um dos vídeos com mais visualizações para a campanha “It Gets Better”. Em 2011, ele doou uma parte dos rendimentos com a venda do remix de sua música “Aftermath” para o “The Trevor Project”. Sua fidelidade à juventude gay continua com “Outlaws” e mais além – embora sua paixão pelo assunto venha a ser mais por empatia.

“É difícil para mim porque eu posso me identificar diretamente com isso [ser intimidado]”, diz ele. “Eu estava no armário durante o Ensino Médio. Eu não me sentia confortável transmitindo a minha sexualidade, mas eu acho que as pessoas suspeitavam. Guardei para mim mesmo, exceto para atividades como teatro, coral e programas de arte diferentes, então eu realmente não entendo o que é ser severamente agredido. Isso é uma coisa boa e ruim. Enquanto eu não entendo isso, também não sou afetado por isso. Eu sempre me senti como se tivesse o direito de ser quem eu sou. Eu acho que isso se presta para o tipo de artista que eu sou, o tipo de modelo que eu possa ser.”

Ser adulto como celebridade é uma questão diferente, infelizmente. Desde que se tornou o centro das atenções, Lambert sofre assédio online quase incessantemente. Um dos exemplos mais notáveis recentemente envolve um tweet polêmico da “GQ”, em Dezembro, promovendo a questão “Year in Style”, com uma legenda sob a foto de Lambert com seu bigode experimental: “Regras do Street Style: Se você tem problemas de testosterona, um bigode nem sempre ajuda.” (A publicação divulgou um pedido de desculpas, uma vez que o “GLAAD” se envolveu).

Lambert desembaraçou-se logo da gafe do “GQ” e de incontáveis fontes de “bullying” online e conta como positivo. “A negatividade é muito mais alta na internet que na vida real. Se eles estão falando em você, então você está fazendo algo certo.”

Um tópico que todos comentaram muito nessa primavera foi o retorno ardentemente esperado de Lambert aos palcos como o vocalista da banda “Queen”. A primeira data da apresentação da banda, no Reino Unido, para o festival “Sonisphere Knebworth” foi cancelada em Março, embora o destino de um segundo show agendado para Moscou não tenha sido confirmado até o momento [ver nota 4]. Enquanto a maioria arrasta seus saltos para aceitar totalmente sua sexualidade, o rock clássico parecia ansioso para ter Lambert preenchendo esta grande responsabilidade. Apesar dos inúmeros fãs em todo o mundo estarem prontos para o rock com Lambert e Queen mais uma vez, (ele se apresentou com a banda no ano passado no EMA), alguns, até mesmo na imprensa gay, sugeriram que o microfone só lhe foi oferecido por causa de sua sexualidade.

“Eu não acho que é por isso que eu participei do show”, ele diz, de forma crítica. “Eu acho que se torna um produto ainda melhor por eu ter um estilo de vida semelhante ao que Freddie [Mercury] tinha. É quase como se o fato de que eu seja gay não importasse, porque Freddie também era. Eu cantando com outra banda de rock clássico pode ser mais difícil vender… mas com o Queen, isso não tem importância.”

Lambert espera espalhar esta mensagem, de que orientação sexual não importa, em larga escala mundial em toda a fase “Trespassing” de sua carreira.

“Eu sou apenas uma outra cor da paleta”, diz ele, sua voz diminuindo a uma contemplação meditativa. “Eu não sinto a necessidade de ser separado e segregado, de ser exclusivamente um artista gay. Até pensei que por ser um dos primeiros caras que fazem isso em grande nível, acho que é meu dever ajudar a impulsionar isso e olhar pelo passado. Espero que isso sirva de exemplo para as pessoas, tanto gays quanto héteros.”

Mas não se engane. A devoção de Lambert em permanecer fiel a si mesmo não vai vacilar. “É parte de quem eu sou, e estou orgulhoso de quem eu sou. Eu não me envergonho disso. É apenas sobre o nivelamento dos campos dos jogos.”

Para continuar uma carreira que há muito procurava para nivelar o campo do jogo, ele deve primeiro voltar a enfrentar a própria casa. Desta vez, Lambert está jogando com vantagem em casa, com uma relatividade que os gays ainda não encontraram no campo musical. É uma harmonia que, por natureza, as Madonnas e Gagas do mundo simplesmente não podem executar.

“Espero que eu possa me conectar mais com a comunidade gay, porque é de onde eu venho, e eu tenho orgulho disso. Muitas destas canções são sobre a vida noturna, estar em clubes, sair, transar, beber. Essa é a minha experiência em West Hollywood”, ele ri. “Então, isso é para os meus irmãos e irmãs”.

NOTAS:

[1] Groove é o sentido da propulsão rítmica “sentir” ou sentido de “swing”, criado pela interação da música tocada por uma banda de seção rítmica (bateria, baixo elétrico e contrabaixo, violão e teclados). Groove é uma consideração de outros gêneros, como salsa, funk, rock, fusion e soul. A palavra é usada frequentemente para descrever o aspecto de algumas músicas que dá vontade de mudar, de dança, ou ‘groove’. (Wikipédia)

[2] Four-on-the-floor é um compasso utilizado na música eletrónica e de dança.

[3] Auto-tune é um processador de áudio criado pela empresa Antares Audio Technologies em 1994, que usa uma matriz sonora para corrigir as performances no vocal e instrumental. Ela é usada para disfarçar imprecisões e erros, e permitiu a muitos artistas a produzir mais precisamente suas músicas. Além de ser utilizado para mudar sutilmente a altura do som, com alguns ajustes, pode ser usado como um efeito deliberadamente preparado para distorcer a voz humana. O efeito Auto-Tune está disponível como um plug-in para o profissional de áudio utilizar em um estúdio, que fixa, e como um stand-alone a unidade para o desempenho vivo do processo. O Auto-Tune tornou-se equipamento padrão na gravação estúdios. No seu uso extremo o efeito Auto-Tune ficou conhecido por ter empregado na canção Believe (1998) da cantora norte-americana Cher (efeito Cher). O rapper norte-americano T-Pain é um dos músicos atuais que vem revitalizando o efeito.

[4] Veja mais detalhes aqui pois o show de Moscou está confirmadíssimo.

Fontes: gelly14 / Adamtopia (1) e gelly14 / Adamtopia (2)

Tradução: Graça Vilar

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